por Gilberto Schmitt - Jornal Cruzeiro do Vale

Escrever sobre Raul Carlos Spengler é um pouco difícil e ao mesmo tempo muito fácil.
O difícil é relatar tudo o que esse grande homem foi para o município de Gaspar. O fácil é se espelhar no seu exemplo de vida, de homem de garra e personalidade, aquele que soube cair e ao mesmo tempo se levantar nos degraus da vida. Um guerreiro que fez sua história em nossa cidade.
Raul nasceu no Pocinho, no interior de nosso município. Lá deu seus primeiros passos, aprendeu a falar e escrever. Aprendeu a capinar, tirar leite, trabalhar na roça, tratar dos animais. Aprendeu os desafios da vida com seus pais e familiares.
Como profissão, Raul optou por ser motorista de caminhão. As estradas esburacadas da época e a cabine do velho caminhão eram companheiros inseparáveis. A luta para conquistar o pão de cada dia fazia com que Raul cortasse noites e dias na boleia de seu caminhão. Certa vez me contou que viajou para Chapecó e sua esposa Elza ficou em Gaspar. Ela estava grávida de nove meses. Ele viajou achando que a viagem iria durar apenas 8 dias, porém, demorou 32 dias. Foi a viagem mais longa de sua vida. Quando chegou em casa, seu filho já tinha nascido.
Mais tarde Raul deixou a vida de caminhoneiro e comprou um engenho de arroz, onde ficou muito conhecido em Gaspar. Era um empresário bem sucedido e criou o gosto pela política, tanto que foi candidato a prefeito no ano de 1976. Perdeu as eleições por apenas 11 votos. Naquela época a política de Gaspar era disputadíssima.
Raul adquiriu o Hotel e Churrascaria Testoni, na rua Itajaí, que hoje leva seu nome e tornou-se um dos maiores empreendimentos do ramo em nossa cidade.
O Hotel e a Churrascaria sempre foram a paixão de seu Raul, sua esposa e dos seus filhos. Raul vivia intensamente cada dia no ofício de bem servir e acomodar seus clientes. Ele era o último a dormir e o primeiro a se levantar para bem atender.
Fazia questão de preparar o café da manhã para seus clientes. Na Churrascaria, estava sempre presente para recepcionar e bater um papinho com os clientes e amigos. Era preocupado com tudo e fazia até questão de picar a lenha  utilizada no fogão da cozinha. Na churrasqueira a carne tinha que estar sempre bem preparada e deliciosa. Na cozinha dificilmente um gasparense deixou de saborear sua comida.
Nos últimos anos a doença fez com que Raul se afastasse de seu trabalho. Porém, mesmo a família tendo assumido a administração dos negócios, sempre esteve presente até os últimos minutos de sua vida.
Raul, tenho certeza que estás partindo em paz. Gaspar ficará com saudades de sua pessoa, de seu exemplo de vida. As centenas de amigos que foram se despedir mostram claramente quanto tu eras querido em nossa comunidade.
Quero que me desculpes por não ter ido à Casa Mortuária me despedir. Prefiro ficar para sempre com a sua lembrança e imagem de um grande amigo presente em minha vida, com o sorriso aberto, homem guerreiro e exemplar.
Descanse em paz, velho amigo.