15/03/2019
Até aqui, ela foi usada na Câmara pelo governo Kleber, MDB E PP. Se está resignada, os discursos tardios e a ameaça recente serão poucos para sensibilizar seus eleitores à reeleição
Poderá ser tarde. Mas, nunca tarde demais. A mais jovem vereadora eleita em Gaspar, Franciele Daiane Back, dá os primeiros sinais de desconfiança sobre o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e que apoia pessoalmente, mesmo antes da posse de ambos. Franciele com o gesto, arriscou-se em voo solo e contrariou à orientação do seu PSDB. O partido em Gaspar sinalizou claramente para ela ser oposição ou, negociar com o time. O PSDB, inclusive, com o DEM, teve candidato a prefeito, a ex-vereadora Andreia Simone Zimmermann Nagel, hoje presidente dos tucanos gasparenses, posto que Franciele também manobrou para tê-lo; não conseguiu. Kleber e seu grupo usaram exaustivamente Franciele à maioria apertada no primeiro ano de governo na Câmara. Fizeram-na instrumento das mudanças, aumento de taxas e vinganças contra a oposição. O uso foi tão acintoso e arrogante que comprometeu visceralmente à busca dela pela presidência do Legislativo. O cargo caiu no colo da oposição, com a traição do governista Silvio Cleffi, PSC. Ele pressentiu antes e melhor, o jogo feito para poucos pelo MDB e PP no poder de plantão, enfraquecendo novos aliados ou partidos nanicos.
Consertar com o carro andando. A desastrosa derrota de Franciele à presidência da Câmara de Gaspar naquele dezembro de 2017 não foi suficiente para abrir os olhos dela de que a política não é algo para iniciantes. É antes para quem possui estômago, cartas na manga, perseverança, time, estrutura e poder. É um jogo com blefes e dissimulados. Nem Kleber, nem os seus vereadores, nem o MDB articulado pelo prefeito de fato e então presidente do partido, Carlos Roberto Pereira – depois se licenciou e retornou há pouco -, nem o PP do mais longevo vereador José Hilário Melato, exilado no Samae e pivô do desfecho da derrota de Franciele, nem a candidata, diga-se, articularam e pediram votos à presidência. O resultado não poderia ser outro. Agora é da história. Tudo começou errado quando na noite da apuração de outubro de 2016, o vitorioso Kleber, sabedor que não tinha maioria na Câmara para implantar o governo projetado por seu guru Pereira, apareceu na casa da vereadora. Fez dela sua aliada, independente de uma obrigatória consulta ao seu partido e ao DEM - os que deram os votos para ela ser vereadora. Kleber prometeu espaços na administração, jurou cuidar do Distrito do Belchior, curral eleitoral da vereadora, bem como, fazê-la presidente da Câmara.
Ensaio de quem não tem asas para voar. Sem a força partidária, como no tráfico, Franciele ficou deslumbrada pelas joias, status, perspectivas e foi adotada pelo poder político de plantão. Quando perdeu a corrida à presidência da Câmara, chegou a tirar do ar o canal da rede social que administrava para o partido. Trocou de assessoria várias vezes e se mostrava autossuficiente. Foi tragada pelos fatos, pela inexperiência, pela negação ao assessoramento e pela falta de time. Está sendo engolida pela maldição dos vereadores residentes e eleitos pelo Belchior, quando mudam de banda depois da eleição: não conseguem a reeleição. Cito apenas dois: o barbeiro Joceli Campos Lucinda, PSD e o professor, Jaime Kirchner, MDB, de quem Franciele foi assessora parlamentar. Franciele fez um “acordo” com Kleber, mas não “aparelhou” com os seus minimamente o governo – apesar do seu voto ter sido o de minerva e decisivo para Kleber. Isso deveu-se à ingenuidade. A primeira exigência e natural, era a de ter a gestão do Distrito. Isso foi parar na mão do ex-vereador Raul Schiller, MDB, sem identidade com o Belchior. Ele enrola Franciele há quase três anos. São os requerimentos e os discursos dela que dizem isso, não eu. Qual foi a conta que vereador Roberto Procópio de Souza, PDT, mandou para Kleber neste ano quando abandonou a oposição depois de organizá-la para o trampolim e o negócio político? A segunda: a de não negociar o seu voto decisivo para o governo à cada votação com as contrapartidas para o Distrito do Belchior. Preferiu os desgastes para ela no passado votando matérias ásperas para o governo. Não recebeu o bônus. Há desgastes agora e se não tomar tento, ficará outra vez só com os desgastes. Ainda que tarde, Franciele, com sorte, terá nova chance.
É hora de trocar as penas qual o Condor. Novamente, mas se ela não percebeu, Franciele é o voto decisivo e minerva para a maioria precária na Câmara que o governo de Kleber, MDB e PP armaram para este terceiro ano de mandato. Dos 13 votos, em tese, são caixão, os três do MDB, um do PP enquanto for ocupado pelo suplente José Ademir Moura, PSC, no lugar de Melato, e o do PDT, de Procópio, bem como o de Franciele. Não será caixão se ela tomar a atitude política para salvar o mandato. E de lambuja, Franciele livrará a cara do presidente Ciro André Quintino, MDB, na obrigação de desempatar alguma disputa. Para lembrar, Ciro também não era o candidato de Kleber, MDB e PP à presidência da Câmara. Era o até então oposicionista Procópio que recebeu no voto de Franciele. Ciro foi eleito com os votos da oposição (PT, PSD, Silvio e dele Ciro).
Resumindo e concluindo: Franciele está com a faca e o queijo na mão para ter as obras que quer para o seu Belchior; ser minimamente respeitada pelo governo Kleber, MDB, PP e a superintendência do Belchior que a enganaram até agora; bem como salvar o seu mandato da maldição dos que trocam de lado. Basta usar o poder de voto que possui na Câmara e deixar de repetir os discursos ameaçadores e até mesmo o palanque – apesar de justo e necessário - que quer montar com a Audiência Pública no Belchior para arrumar culpados pela inércia da reurbanização da Rua Bonifácio Haendchen ou ainda ser engolida pelo poder de plantão. Cão que muito ladra, não morde, diz um ditado popular. Mas, para isso, Franciele precisará se arriscar, ter estômago, ter um time e jogar com as cartas certas neste baralho marcado desde a noite que Kleber apareceu na cada dela para ela trair o PSDB, ou qualquer outro partido a que pertencesse e usado para ser eleita. Acorda, Gaspar!
Nas redes sociais a vereadora Franciele, inconformada distribuiu recados e até foi curtida pelo presidente do MDB de Gaspar. Como ela não encontrou nenhum tucano para se apoiar, usou Ulisses Guimarães (1916/92) para tal.
“É claro que a política não é o ofício da bagatela, a pragmática da ninharia. Quem cuida de coisas pequenas, acaba anão”.
É do mesmo Ulisses e pincei esta citação para ampliar o artigo: “o poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder. O homem é o grande poluidor, da natureza, do próprio homem, do poder. Se o poder fosse corruptor, seria maldito e proscrito, o que acarretaria à anarquia”.
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