23/11/2018
Condenados ou protegidos I
Cada vez mais estaremos condenados à exposição das catástrofes ambientais severas como a que se abateu sobre o médio Vale do Itajaí, especialmente Blumenau (24 mortes), Gaspar (20 mortes), Ilhota (32 mortes) naquele novembro de 2008 de 106 vítimas em Santa Catarina. Avisados já fomos. As perguntas que não querem calar são: qual a lição que extraímos daquele episódio real, triste e doloroso sob todos os aspectos? A partir dele quais as proteções mínimas construímos para todos e principalmente aos mais vulneráveis de sempre? Se estamos esperando pelos governantes, gestores públicos e políticos, receio lhes afirmar que uma nova catástrofe de igual ou em pior proporção causará mais estragos e dor do que a que o jornal Cruzeiro do Vale, o mais antigo, líder em circulação e credibilidade em Gaspar e Ilhota registrou e lhes relembra nesta edição especial como agente social líder e comunitário que é.
Condenados ou protegidos II
Até então, as Defesas Civis eram montadas – quando estruturadas, como nunca foram as de Gaspar e Ilhota - para as cheias dos rios que recolhem as águas das chuvas do Vale do Itajaí: barragens, disseminações de informações, orientações organizadas, prevenção com base nos dados e experiências, maneiras de acudir, abrigar, evacuar, dar logística alternativa, bem como o de recomeçar em algo previsível (as cheias) e “quase” rotineiro, ou ao menos, aceito. A catástrofe ambiental severa de 2008 incluiu como obrigação aos governantes via as secretarias de Planejamento, Defesas Civis e à sociedade como um todo - a que padece, a que sustenta os governos e paga à recuperação de tudo nos pesados impostos e economias – serem vetores na ocupação responsável, técnica e segura dos morros, dos vales; no estudo e conhecimento dos solos e sua instabilidade; bem como à cobertura vegetal e nas ações protetivas ordenadas por leis ou determinações preventivas mínimas para as pessoas –, normalmente expostas economicamente e menos conscientizadas para o risco diante das cruéis realidades.
Condenados ou protegidos III
Não vou tocar em Ilhota que é um pior espelho de Gaspar onde o desastre se perpetuou. Lá, até um ícone das vítimas do complexo do Baú, o mais afetado na nossa região, Tatiana Richard Reichert se tornou ativista e por isso, reconhecida com uma vaga de comissionada na gestão pública municipal. E mesmo no poder tudo ficou como antes. Então, outra pergunta necessária: o que se evolui em Gaspar de lá para cá? Nem para as enchentes. Imagina-se então para mitigar e enfrentar catástrofes tão tenebrosas como as de 2008. O prefeito da época e já derrotado na reeleição daquele ano, Adilson Luiz Schmitt, PPS, já tinha um senso melhor de Defesa Civil do que o seu sucessor por oito anos, Pedro Celso Zuchi, PT. Não vou repisar no retrocesso nessa área tão vital à proteção da sociedade nas cheias e outras catástrofes naturais (onde podem se incluir as simples enxurradas de verão, as quais dão à dimensão do descaso do poder público – incluindo as simples drenagens - e da conscientização comunitária).
Condenados ou protegidos IV
O atual prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan-Dall, MDB, na teoria evoluiu ao antecessor Zuchi. Em novembro de 2008, Kleber era um mero vereador eleito; Zuchi um prefeito eleito. Viraram espectadores. A superintendência da Defesa Civil de Kleber é, hoje, ao menos, ocupada, por um técnico, capaz, bem-intencionado, o bombeiro militar, Rafael Araujo de Freitas. É uma ilha da tal eficiência. Todavia, isolado nas prioridades de um governo político. Esta ilha é quase nada se comparada ao que se exige ao mínimo necessário e ao que se tem em Blumenau, Brusque e Itajaí, por exemplo. Para os políticos que cercam Kleber, a Defesa Civil é um lugar para empreguismo, votos e não de prevenção e proteção à vida. Técnicos não têm votos. São chatos. Impertinentes. E a prova desta falha contra a cidade e os cidadãos dos que cercam Kleber está na secretaria de Planejamento Territorial, ocupada por outro técnico de reconhecida competência, de origem petista e por isso, testemunha como poucos neste assunto em Blumenau, o engenheiro e professor universitário Alexandre Gevaerd. Até hoje, ele sequer se motivou a contratar o estudo das cotas de enchentes para Gaspar e assim suportar à obrigatória atualização do Plano Diretor, o qual fatia espertamente. Ele é vital para orientar às ações da Defesa Civil. E um geólogo? Não temos. Incrível!
Condenados ou protegidos V
Eu poderia parar por aqui. Mas, encerro com duas derradeiras questões. Não ao prefeito de plantão e que perdeu a oportunidade de dar uma resposta firme, consciente e cidadã à sociedade nestes 10 anos daquela terrível catástrofe. As perguntas são para todos nós, os expostos. Da dolorida lição, qual o aprendizado? Zero! Então, o que estamos revivendo, afinal? A nossa condenação? A proteção não é! O que penso sobre tudo isso? A auto-proteção é a melhor arma de conscientização e prevenção coletiva. Sou fã do modelo japonês. A estrutura é técnica para estudos, levantamentos, treinamentos, gestão de comando, avaliação e resultados. Entretanto, a execução é comunitária com comunitários. Afinal, os eventos são extemporâneos. Não é possível ao governo e aos cidadãos suportar uma estrutura, cara, por anos à espera de uma catástrofe com contornos e agressividades diferentes. E é esse modelo comunitário que obriga à consciência do perigo, do dever de auto-proteção e da prevenção por uma maioria, permanentemente. E esse é o papel político e de liderança de um governo”.
Em Gaspar, há 58 áreas de riscos mapeadas em 2008. Dez anos depois, nenhum geólogo, nenhum estudo. A CPRM – Serviço Geológico do Brasil – e ligado ao Ministério das Minas e Energia, está procedendo os estudos. Quando concluído, estas áreas deverão diminuir e livres para a reocupação.
O Sertão Verde é a mais emblemática dessas áreas interditadas, até por ser a que mais estava urbanizada na época. Ali morreram sete e de uma mesma família. Os políticos – atrás de votos fáceis - fazem discursos forçando à liberação dela. Quando houver um novo desastre irão oferecer as condolências aos parentes sobreviventes?
Exemplo bom. A ex-presidente da Petrobrás, mas na época na condição de diretora, Maria da Graça Foster, PT, esteve em Gaspar para ver os estragos causados pelo estouro gasoduto. Prometeu recuperar áreas públicas e particulares afetadas, bem como parcialmente danos às vítimas. Cumpriu.
Mau exemplo. A torre da Vivo no morro do Samae pendia e ameaçava desabar para interditar a Avenida das Comunidades. A empresa resistia. A Justiça mandou derrubá-la.
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).