06/02/2018
Há 17 anos, um Termo de Ajustamento de Conduta no Ministério Público Estadual delimitou a atividade de extração de areia no Rio Itajaí Açú, em Gaspar. Foi briga de “cachorro” grande, pois envolvia interesses políticos, empresariais e práticas inadequadas de décadas que não levavam em conta os danos ambientais e os prejuízos a terceiros ribeirinhos.
Esta atividade em locais próximos as barrancas, colocavam em risco as residências ribeirinhas, “comiam” terrenos, muitas dessas propriedades, únicas e de gente simples.
Este assunto que parecia resolvido, voltou ao noticiário de agora. As preocupações aumentaram e exatamente nos dias de hoje quando há uma suposta maior conscientização ambiental, quando aparentemente há estruturas de fiscalização e maior rigidez da legislação específica. Iniciou-se uma guerra surda entre empresas extratoras, políticos e moradores ribeirinhos que se sentem ameaçados e mostram por fotos e vídeos as atividades em supostas áreas proibidas para tal.
Esta prática pode estar escondendo um afrouxamento da política nesta área ambiental pelo governo de Kleber Edson Wan Dall, PMDB. Especialistas estão coletando provas para denúncias.
Estariam sendo autorizados desmatamentos e aterros em várias partes do município como nunca se viu, na quantidade e rapidez, nestes últimos meses. A licença é para uma área, estende-se para além do autorizado; o aterro é para uma área, amplia-se para além do autorizado. Concede-se a licença, a autorização e depois ninguém fiscaliza o cumprimento delas. Este é o jogo. E parecem serem cartas marcadas. Acha-se no ambiente da autoridade do governo de Kleber, que ninguém será responsabilizado no governo pela concessão, a omissão, mesmo convivência nos supostos “erros” de terceiros.
SINAIS DE ALERTA
O primeiro sinal de alerta de que algo tinha mudado nos procedimentos na área ambiental no governo de Kleber foi dado pelo vereador Cicero Giovane Amaro, PSD, no ano passado. Num requerimento que pedia explicações, ele denunciou um aterro que “engravidou” a barranca na foz do Ribeirão Gaspar, aqui no Centro e bem à vista de todos, inclusive de ambientalistas, do prefeito e outras autoridades, incluindo a Polícia Ambiental e o Ministério Público. O desatino é inacreditável.
No final do ano passado, o vereador Francisco Solano Anhaia, MDB, morador da Margem Esquerda e da própria base do governo de Kleber, aprovou na Câmara um requerimento ao Executivo, “solicitando informações referentes às empresas que realizam extração de areia no Rio Itajaí-Açu, em Gaspar: “quem são elas e o respectivo alvará de funcionamento; como e quem faz a fiscalização; e quais os trechos autorizados pelo Meio Ambiente em que cada extratora pode retirar areia do Rio”.
Um bom começo, mas burocrático. É de quem joga o cisco apenas no olho infrator para ele tomar mais cuidado. É preciso ir mais a fundo.
O problema pode estar dentro do próprio governo que Anhaia representa e a relação com alguns empreendedores dessa área. Se Anhaia vai querer colocar na linha, mais uma vez e acertadamente, os extratores de areia de Gaspar, é preciso não fechar os olhos para as outras dúvidas sobre licenças ambientais, autorização de desmatamentos e aterros.
Enquanto o requerimento ganha caminhos para respostas dentro da prefeitura, três fatos acontecem: empresas sérias na extração levam a culpa do que não fazem e daquilo que respeitam; a população ribeirinha e público alvo de votos do vereador, continuam à mercê dos que exercem a atividade irregularmente, os quais colocam em risco o patrimônio e a vida de terceiros; e as licenças de desmatamento, terraplanagem e aterros – na mesma área que não fiscaliza à extração de areia - continuam sendo concedidas, e não fiscalizadas na prefeitura. Ou seja, há um mesmo vício de origem.
As queixas dos moradores e o requerimento de Anhaia, mostram que há problemas; de que a fiscalização da prefeitura e outros órgãos ambientais não funcionam a favor da sociedade. Feita a denúncia, a extratora deveria ser proibida de exercer a atividade imediatamente, ter uma multa elevada e paga com antecipação, para retornar ao trabalho exatamente na área concedida e que prometeu executar, mas fez com negligência ou esperteza, esperando o silêncio oficial.
Engenheiros que contatei – e não ambientalistas -, dizem que esta atividade extrativa deveria ser, na verdade, extinta no Rio Itajaí, ou permitida, apenas num plano geral de desassoreamento do Rio. Hoje, a areia de todos os tipos e granulações, deveria ser substituída por granulados de rocha ou material reprocessado de construções demolidas. O impacto e o dano contra a natureza seriam bem menores.
Há relatos que, em alguns trechos, por vários motivos naturais e técnicos, na falta de areia no leito do Rio, as dragas sugam áreas próximas às barrancas sabendo que aquilo provoca o desbarrancamento das margens com as cheias, exatamente para se criar uma nova possível mina a ser extraída em local quase regular. Acorda, Gaspar!
Os vereadores de Gaspar, finalmente voltam hoje ao trabalho, dia seis de fevereiro, das férias e que eles iniciaram em 20 de dezembro do ano passado. É a primeira reunião da Câmara da 2ª sessão legislativa. O resto são explicações ao eleitorado impaciente com a atuação dos políticos.
É a primeira a ser presidida este ano pelo vereador Silvio Cleffi, PSC. Ele é (ou era?) da suposta situação (MDB, PP, PSC), mas foi eleito presidente unicamente com os votos dele e da oposição (PT, PDT e PSD). Com todo esse tempo de férias, a longa pauta – provavelmente pelo regimento interno não haverá tempo para tudo - só saiu ontem pela manhã.
O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, disse que estará presente e poderá discursar na abertura dos trabalhos. Não é tão normal o prefeito de plantão discursar na abertura dos trabalhos legislativos em Gaspar.
Contudo, diante das circunstâncias criadas com a eleição de Silvio para a presidência da mesa, no lugar da apadrinhada pelo prefeito, a derrotada Franciele Daiane Back, do PSDB do MDB, o ato pode se revestir num gesto de aproximação necessário. Ele sinalizaria uma mudança da postura que o Executivo terá com o Legislativo este ano e a dita oposição. Bem diferente da 1ª sessão legislativa.
Resta saber se esse gesto foi combinado com o prefeito de fato, o presidente do MDB e secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira. Foi dele, as imposições, a negação ao diálogo e as derrotas que infligiu à oposição.
É que teoricamente, com a eleição de Silvio à presidência da Câmara de Gaspar, Kleber ficou em minoria no Legislativo – onde precisa passar projetos interesses do seu governo e barrar outros que contrarie as prioridades do governo.
Ou seja, por essa lógica, também na teoria, a oposição, agora, está em maioria e pode impor a pauta dela na Câmara. Isso diminuiria as margens de manobras do Executivo, que até então apenas estava se incomodado com a explorações dos assuntos não do seu agrado na imprensa, e principalmente nas redes sociais.
Se a perda da maioria na Câmara por Kleber e seu governo, é ruim ou boa, não se sabe ainda. Entretanto, força-o a negociações e logo num ano de eleições gerais, onde ninguém é de ninguém e todos são de todos.
Como perguntei na coluna de sexta-feira feita especialmente para a edição impressa do jornal Cruzeiro do Vale, o mais antigo, o de maior circulação em Gaspar e Ilhota: “qual será a surpresa da Câmara esse ano”?
As dúvidas pairam no ar. Então, pelo sim, pelo não, Kleber tenta com o gesto de hoje, seja no comparecimento, ou eventualmente num discurso, distender ao máximo essa relação para favorecer o seu governo e sua coligação política de poder. Ainda mais num ambiente de poucos resultados para se comemorar, muitas queixas acumuladas além dos erros estratégicos praticados até aqui.
Mas, vale lembrar que no dia da eleição de Silvio – o que marcou o início das férias dos vereadores -, Kleber também, inusitadamente, estava Câmara. E a assistiu por inteiro. Foi lá para festejar com Franciele. Ao final, teve é que consolá-la. Naquele dia, ouviu de Silvio, seu afilhado político, membro da mesma igreja evangélica, que não seria oposição ao governo do prefeito Kleber, se o prefeito trabalhasse por Gaspar.
Pelo sim, pelo não, a dita oposição já colocou as barbas de molho com o vereador Silvio. E vai testá-lo, diariamente. Quem traiu uma vez na política, perdeu a virgindade, aprendeu e não custa repetir gesto ao sabor do melhor momento e poder. É assim que funciona a política e os políticos, mesmo o que se dizem novos nela, na prática. O resto é discurso pra enganar analfabetos, ignorantes e desinformados.
A primeiro embate entre situação e oposição será hoje. Será na composição das comissões. É nela que ser aferirá como estão as feridas abertas com a eleição de Sílvio para presidente. As comissões são decisivas para Kleber para mitigar a sua teórica minoria. Se não houver acordo, será no voto. E no voto secreto, poderá ser mais uma derrota para Kleber, ou então vai se revelar novas traições. Ai, ai, ai.
Vem problemas pela frente ou uma negociação.
Os vereadores de oposição, Dionísio Luiz Bertoldi, PT e cujo irmão Lovídio Carlos Bertoldi, foi secretário de Obras de Gaspar e então deve conhecer o assunto, e Roberto Procópio de Souza, PDT, querem da prefeitura um relatório dos serviços prestados por empresas terceirizadas e com maquinário próprio da prefeitura em relação à prestação e realização de serviços de limpeza de tubulações, travessas e laterais de ruas.
Os vereadores estão pedindo os empenhos, notas fiscais com relatórios dos serviços com assinatura do fiscalizador ou responsável (quantidade de horas e locais em que foram prestados) de caminhão hidro jato no ano de 2017; se existe algum cronograma de serviços a ser realizado neste ano de 2018; e quais as ruas e bairros que receberam os serviços de limpeza de caixa de inspeção ao longo do ano 2017.
Eles querem mais: quantas horas-máquina foram utilizadas para limpeza das canaletas e laterais das estradas? Quais os maquinários foram utilizados? A apresentação dos empenhos, notas fiscais, e relatórios com assinatura do fiscalizador ou responsável; e qual o valor investido nestes serviços de limpeza que auxiliam a prevenção de inundações nas moradias e comércios? Hum! Acorda, Gaspar!
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