Alma lavada. Lembram-se daquele caminhão pipa que o ex-prefeito de Gaspar, Pedro Celso Zuchi, PT, alugou sob dúvidas e só aqui serviu de manchete? - Jornal Cruzeiro do Vale

Alma lavada. Lembram-se daquele caminhão pipa que o ex-prefeito de Gaspar, Pedro Celso Zuchi, PT, alugou sob dúvidas e só aqui serviu de manchete?

28/08/2019

A conta do advogado que os gasparenses pagaram para defende-lo na câmara chegou para ele ressarcir o erário público.

É salgada. 

O ex-prefeito Zuchi (à esquerda) que derrotou Adilson (ao c entro), escapou de perder o mandato, mas a conta da improbidade depois de 12 anos, chegou no caso do leasing do caminhão pipa, na foto ilustrativa

Vamos por partes. A história é longa e sempre foi contestada. O pessoal do poder de plantão em Gaspar na época e que intimidava o jornal, o portal e a coluna com processos na Justiça e corte de verbas publicitárias, como acontece hoje – mas que hoje é o único canal para expressar as suas denúncias -, sempre afirmou que se tratava de uma campanha sistemática e organizada para a difamação e disseminação de mentiras. Tudo, segundo os arautos do poder de plantão, para enfraquecer o governo de Pedro Celso Zuchi e do PT na a sua volta ao poder no segundo e terceiros mandatos.

Não era. Sempre sobraram fatos. O tempo foi senhor da razão e lavou a alma do jornal, da coluna e deste colunista.

O discurso intimidador, raivoso e contestador dos petistas vinha de duas constatações: a primeira é a de quem fez a Ação Popular foi o advogado Aurélio Marcos de Souza e segundo os petistas, Aurélio não tinha legitimidade para fazer, pois fazia isso por questões políticas e não por fundamentos técnicos.

É que Aurélio – advogado bem conhecido na cidade - no mandato do ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, eleito em 2003 pelo MDB e hoje sem partido, foi o procurador geral do município daquele governo.

E a segunda desqualificação propagada pelos petistas no poder de plantão era a de que a denúncia sobre um ato ocorrido no primeiro mandato de Zuchi (2001/04), dava vida ao que estava morto e com isso, tentava à impugnação de Zuchi, que foi o candidato vencedor quando Adilson buscou à reeleição e não conseguiu.

A improbidade que pairava sobre Zuchi sempre foi uma ameaça depois que o assunto deu entrada na Câmara e lá foi defendida pelo advogado José Carlos Schramm. Quando o tema chegou ao judiciário por meio do Ministério Público, quase todas as condenações foram rechaçadas. E uma delas, todavia, permaneceu válida: o ressarcimento do pagamento do advogado de Zuchi, para a sua defesa particular, feito com recursos dos pesados impostos dos gasparenses.

Esta era uma das manchete e textos – entre tantas - feitos por este escriba. Eles foram publicados no portal Cruzeiro do Vale, às 16.02, do dia três de julho de 2012, ou seja, há sete anos.

Resumo do primeiro ato:

Contrato do leasing do caminhão pipa com a Embrascol é lesivo aos cofres públicos e deve ser anulado. A decisão unânime do Tribunal de Justiça repetiu o entendimento do ano passado que foi anulado 

O prefeito Pedro Celso Zuchi. PT, acaba de sofrer uma derrota que o deixará fragilizado. O Tribunal de Justiça reconheceu que o contrato que ele fez no seu primeiro mandato com a Embrascol (de Carlinhos Cachoeira) para locar o tal caminhão pipa, foi irregular e lesivo.

Foi isto que demonstrou a Ação Popular patrocinada pelo advogado Aurélio Marcos de Souza. Ela ficou parada por muitos anos aqui na Comarca. Houve há pouco mais de dois anos, uma decisão favorável ao prefeito e ela foi comemorada com champanhe. Aurélio recorreu e ganhou no Tribunal.

O relator Desembargador Vanderlei Romer pronunciou: "Ante o exposto, a Câmara decidiu, por votação unânime, prover o recurso e julgar procedente a pretensão do autor, fixados os honorários advocatícios em 15% sobre o valor da condenação.

O julgamento, realizado no dia 25 de maio de 2010, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Newton Trisotto, com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Subst. Ronaldo Moritz Martins da Silva. Funcionou como representante do Ministério Público o Exmo. Sr. Dr. Plínio César Moreira.
Florianópolis, 29 de junho de 2010.

Mas, sob a alegação de que uma das partes não havia sido intimada regularmente, o Tribunal voltou atrás e iniciou o procedimento para conhecer o recurso novamente. E novamente, o desfecho foi igual. No mês de junho e julho tentou-se adiar este pronunciamento. E na semana passada, o advogado do prefeito Pedro Celso Zuchi, na causa no Tribunal, rui Espíndola, pediu para sair do processo.

Confira a decisão:

Decisão: unânime, prover o recurso; o desembargador relator se posicionou bi sentido de anulação do contrato e da condenação dos réus e; o desembargador Gaspar Rubick votou no sentido da condenação dos réus a ser apurado os danos em liquidação de sentença; o Desesembarcador. Newton Trisotto votou pela anulação do processo para que seja dado prazo na origem, fosse apurada a existência ou não do dano, vencido preliminarmente, no sentido da rejeição da pretensão do autor. Honorários advocatícios fixados em mil reais. Custas de lei.

Resumo do segundo ato:

O que está em Execução de um fato acontecido há 12 anos no lento judiciário brasileiro? O que sobrou desta condenação que ao longo do empo foi “emagrecendo”. O ressarcimento ao erário público dos honorários do advogado José Carlos Schramm. É que o cidadão Zuchi o contratou para defende-lo na Câmara contra a Ação Popular de Aurélio, mas quem bancou de verdade – como se provou- foram os pesados impostos dos gasparenses.

Zuchi teve sorte neste caso. O Ministério Público pedia que ele fosse enquadrado em ato de improbidade administrativa, que fosse cassado no mandato que tinha ganho nas urnas e que perder os direitos políticos por oito anos por causa do uso indevido do dinheiro público. A Justiça resolveu aceitar apenas, e tão somente, transformar esses R$6 mil em multa em triplo como pediu a promotora e esquecer o resto.

E desde então, Zuchi vem fazendo de tudo – por outros advogados e pago pelo próprio Zuchi - para se livrar disso ou adiar o pagamento dessa multa. Não deu certo. Agora, ele vai ter que liquidar esse assunto que somava R$ 55.340,64 em julho do ano passado, mas que a defesa contestou e admitiu ser ela de R$42.226,42, segundo cálculos que apresentou em defesa do cliente.

Resumindo e finalizado. Tinham razão Aurélio Marcos de Souza e Ministério Público, segundo a Justiça no caso da cara compra do caminhão pipa. Por outro lado, o objetivo que se queria de tirar Zuchi do poder e deixá-lo sem condições de disputar eleições, não foi alcançado. Acorda, Gaspar!

Os perigosos e os antigos poderosos de plantão.

Antes costumavam constranger só a imprensa. Agora, fazem a mesma coisa com as vozes das redes sociais. Os poderosos não contavam com a resistência

Na coluna desta segunda-feira, neste espaço, publiquei isto:

 

Acima estão três fotos de destruição (o caminhão causador, uma marquise e um poste quebrado com a fiação espalhada pela rua), sob a complacência do presidente do Samae, o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP. Ela é do motorista Gilberto Goedert, não habilitado para dirigir caminhão MBT 2666. São três acidentes. Quem vai pagar os prejuízos? Os gasparenses.

Pior do que isso. Este assunto zanzou pelas redes sociais. Gilberto não gostou e foi tirar satisfação com um deles. É assim que funciona. Na imprensa isso até é possível pois existem poucos e mecanismos de pressão, mas nas redes sociais? Falta de noção? Acorda, Gaspar!

É um relato do cotidiano da gestão de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, PP e do prefeito de fato, Carlos Roberto Pereira, o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa. Esta “cena da cidade”, antes de ser publicada aqui, percorreu as redes sociais. Eu apenas a repliquei.

E um dos que postou isso na sua conta pessoal do Facebook foi Eder Carlos Muller da Silva, que mora na Rua Frei Solano, no Gasparinho. E por causa dele, a pequena nota que poderia ter se encerrado na segunda-feira, acabou se esticando.

Pois não é que Gilberto e outro funcionário do Samae, chamado Denilson Chechetto, uniformizados, foram à casa de Eder tirar satisfações. Cheio de razões, chamaram Eder de “folgado”, constrangendo-o, filmaram-no com celular e o ameaçaram dizendo que “isso não iria ficar assim” (?).

E pelo jeito essa vergonheira não vai ficar assim. Os tempos mudaram. Os eleitores, os pagadores de pesados impostos, os que pagam serviços e não os recebem, os que pagam as contas da incapacidade e dos erros dos funcionários públicos estão cada vez mais no exercício da cidadania e com menos das intimidações e constrangimentos dos poderosos no poder de plantão.

Era só o que estava faltando.

Volto. Eder resolveu fotografá-los saindo da sua casa, dirigindo-se a pé a um carro da autarquia – numa perda de dinheiro e finalidade - esperando do outro lado da rua. Foto está abaixo. Confira! Avalie! Conclua!

E Injuriado com tal petulância dos “intocáveis” funcionários do Samae inundado de problemas permitidos pela gestão política do mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP, e pelo jeito de respeito ao consumidor, Eder foi à Delegacia de Polícia para registrar um Boletim de Ocorrência. Esta é a Gaspar acordada, que detesta os seus donos e pede transparência com o que se faz com os recursos públicos. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Alguma coisa realmente diferente está acontecendo em Blumenau. Há poucos dias um comissionado em posto de mando do Meio Ambiente foi preso pedindo propina para lucrar com o ilegal. Em seguida, um efetivo teve o mesmo destino quando pediu um trocado para facilitar um “habite-se” sem o necessário para tal.

E para completar, tudo virou caso de polícia. Ontem vários mandados foram cumpridos para esclarecer fatos de crimes, conluios e procedimentos viciados entre os agentes da Faema e várias empresas de terraplanagens. Gaspar e Ilhota passaram longe. Lá a iniciativa não é do Ministério Público, mas da própria prefeitura. Se o prefeito Mário Hildebrandt, sem partido, fizer escola...

Por enquanto é um aviso. Há um punhado de prefeitos catarinenses enrolados e até perdendo cargo ou os direitos políticos devido à improbidade administrativa, em algo que se muito conhece por aqui e principalmente ligado à área ambiental, afrontar o Plano Diretor, constrangimento de funcionários, licitações fora dos conformes e outras espertezas próprias de políticos ou do entorno para quem ele se subordina.

Se a moda pegar... Quer mais um exemplo, além de vários que já destaquei anteriormente neste espaço.

O prefeito de Alfredo Wagner, Naudir Antônio Schmitz, conforme relata Dyovana Koiwaski, do site OCP, foi condenado à perda da função pública e à suspensão dos direitos políticos por cinco anos. O Ministério Público de Santa Catarina sustentou na ação que ele cometeu ato de improbidade administrativa ao descumprir ordem judicial. A decisão é de primeiro grau e não tem aplicação imediata.

Segundo a Promotoria de Justiça da Comarca de Bom Retiro, ao descumprir uma sentença e deixar de fiscalizar o crescimento urbano e demolir construções irregulares, o prefeito desrespeitou os princípios constitucionais da legalidade, da moralidade, da boa-fé e da eficiência, o que configurou ato de improbidade.

A sentença determinava ao município demolir uma obra clandestina nas margens do Rio Itajaí do Sul, em área de preservação permanente e de risco. Em vez de cumprir a determinação da Justiça, Schmitz ingressava com petições protelatórias em ação já transitada em julgado, solicitando novos estudos e justificando a omissão por estar o imóvel clandestino habitado.

Assim, passados seis anos entre a ordem judicial e o ingresso da nova ação, a construção clandestina permanecia de pé. Somente após o ajuizamento da ação civil pública é que, finalmente, Schmitz obedeceu à decisão da Justiça, o que não impede a responsabilização pelos atos a ele imputados.

Em Nota Oficial, o PSL catarinense diz que vai tentar recomeçar. Então, mais uma vez estou de alma lavada. Ou seja, não era intriga da oposição como se esbaldavam os fanáticos da legenda nas redes sociais, e muito menos era falta de assunto deste espaço como se discutiu entre alguns daqui de Gaspar. Contra fatos, não há narrativa que os esconda.

Diz a Nota: “Em ação conjunta com o Diretório Nacional, o PSL de Santa Catarina vai iniciar nos próximos dias um intenso trabalho de reorganização em todo o Estado. Para isso, todas as comissões provisórias municipais tiveram vigência suspensa, a fim de permitir a efetivação de uma reavaliação caso a caso, em especial para averiguação da situação legal de cada órgão.

A inativação das comissões já homologadas não significa que automaticamente serão promovidas alterações em todas elas, mas, seguindo, orientação dom órgão nacional, se faz necessária a suspensão completa, até para que os mandatos de todas as municipais sejam coincidentes e completem o período eleitoral vindouro.

Nosso objetivo fortalecer ainda mais o partido, por isso é imperiosa a participação de todos os filiados neste momento de definições tão importantes, não só para o pleito de 2020, mas em especial para o futuro do PSL catarinense”, Deputado Federal Fábio Schiochet, presidente do PSL SC

Pensando bem o que significa verdadeiramente o tal “Avança Gaspar”: O Anel de Contorno Viário Urbano do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, só está avançando naquilo que a iniciativa está bancando com os próprios recursos compensatórios que a lei permite, bem como na propaganda paga do governo com o dinheiro dos gasparenses. Nem o projeto dele está pronto. Só em outubro, e olha lá se a Iguatemi não pedir mais prazos. Acorda, Gaspar!

 

Comentários

Herculano
29/08/2019 18:23
MBL, que ajudou nas ruas na vitória de Jair Messias Bolsonaro, PSL, está se divórcio, e com litígio
Genesio
29/08/2019 18:19
Olha! Sou servidor do Samae, coloquei um nome fictício por razões óbvias... Mas esse Gilberto, além de puxa saco é um metido. Numa conversa com ele, em dois segundos, ele te enoja,pois sempre sabe de tudo, entende de tudo, fez tudo... Mas a única coisa que realmente sabe é se dar bem em quer gestão,independente do partido. Como? Se fazendo de bom moço pro chefe, dedurando os colegas de trabalho, fazendo o errado quando ninguém mais o faz. Mas o que os gestores não sabem é que esse Gilberto fala mau deles pelas costas, incentivando inclusive a ir contra suas decisões ou mesmo, ensina a como provacar a irá dos chefes para depois colocar processo de danos morais. Esse Gilberto é muito do esperto, de tanto entender de tudo, logo logo vai pegar o lugar do Melato... Kkkk
Aglar Silverio
29/08/2019 13:51
Herculano e Jorge


Gilberto Goedert, nunca teve partido, é cria de Adilson. Portanto o partido dele, é o mesmo de quem estiver no poder.Alem de incompetente, metido e grosso.
Herculano
29/08/2019 13:05
SAMAE INUNDADO

Ao que se identifica como Jorge

1. O problema do Gilberto ser ou não PT, pouco importa neste caso e está fora de qualquer questão.

2. O fato relatado nas redes sociais e replicado aqui, mostram dois problemas graves.

O primeiro deles, claramente, é de gestão: Gilberto está fazendo algo que não é da sua competência e só faz isso porque tem o aval ou então à complacência dos dirigentes do Samae.

Então, a culpa é do presidente da autarquia, José Hilário Melato e por tabela do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB e do prefeito de fato, o secretário de Fazenda e Gestão administrativa, Carlos Roberto Pereira. Ninguém colocou Gilberto no quadrado dele dentro do Samae. Só isso.

Segundo, o que se questiona, foi o comportamento inadequado de intimidação e constrangimento feito a um pagador de impostos que revelou os fatos na sua rede social - e foi replicado aqui- que são frutos da irresponsabilidade da liderança e do próprio servidor por não conhecer exatamente os seus limites.

3. Resumindo: este não é o único, mas é um retrato do atual governo feito de concessões aos amigos, aos políticos sem competência que estão mamando nas tetas - que não é o caso do Gilberto - e principalmente, da vingança, constrangimento, perseguição e intimidação para quem não pactua com essa esbórnia. Acorda, Gaspar"
Jorge
29/08/2019 11:51
Referente ao funcionário Samae Gilberto Goedert, que é encanador/motorista porém é formado em história, mas como não tinha capacidade para fazer concurso na sua área, acabou fazendo concurso para outro cargo, fez para encanador, bem tipinho dos petistas.

O sujeito recebe um dos salários mais altos da Samae, recebe como encanador e vários adicionais, entre eles 1/10 de comissão, insalubridade, progressão horizontal e gratificação.

No governo do Zuchi foi para o obras, onde se achava muito importante, pilotava patrolas sem treinamento colocando em risco os seus colegas e danificando os equiapmentos, inclusive foi motivo de reportagem nessa coluna.

Com a mudança do secretário Solly para o planejamento ele foi junto como seu assessor. Achava que dominava o plano diretor, mas só fazia burrada.

Não adianta é um incompetente que deveria fazer o seu serviço e não ficar se metendo no que não sabe fazer.

Mesmo sendo um petista roxo ele é protegido da atual administração e nem vai processo administrativo.

Cabe ao ministério público se interessar no assunto.

Herculano
29/08/2019 08:26
DEMOCRACIA EM TEMPOS DE CóLERA, por Fernando Schüller, professor do Insper e curador do projeto Fronteiras do Pensamento. Foi diretor da Fundação Iberê Camargo.

A gritaria e a irrelevância se tornaram o novo normal; o que me surpreende é a figura do chefe de Estado como protagonista da algazarra digital

A tormenta ainda não passou, mas já é possível retirar algumas lições da crise vivida pelo país. A primeira delas é que sabemos muito pouco sobre o que exatamente aconteceu na Amazônia, nos últimos meses.

A procuradora Raquel Dodge fala em uma "ação orquestrada longamente cultivada para chegar a este resultado" e há informações bastante vagas sobre sindicalistas e fazendeiros promovendo o "dia do fogo". Tudo soa um tanto inverossímil.

Há perguntas reais que precisam ser feitas. Houve relaxamento da fiscalização, por parte de órgãos de Estado? Trata-se de um problema de governança, de omissão criminosa, ou um reflexo perverso do quase "shutdown" da máquina pública, provocado pelo esgotamento fiscal (o mesmo que levou ao corte nas universidades, ao virtual fim do investimento público e vem paralisando a máquina federal).

É evidente que, para os donos da verdade de sempre, já está tudo explicado. Para quem detesta o governo, o que houve foi um "sucateamento do Ibama", como li em uma publicação aparentemente séria. De uma jornalista influente, li que tudo foi causado pelas falas do presidente, que subliminarmente "incentivaram" os madeireiros e agricultores a tacar fogo na mata.

O governo não fica atrás no campeonato de chutes na Lua. Tudo começou com a negação pura e simples dos dados do Inpe. Nada disso teria acontecido se o governo tivesse simplesmente levado os dados a sério e agido com rapidez. É exatamente para isto que temos um governo.

O que veio depois é apenas loucura. Da culpabilização genérica das ONGs, feita por Bolsonaro, até a criativa provocação de que voltando as demarcações de terras indígenas "o fogo acaba na Amazônia daqui a alguns minutos".

Vejo nisso tudo uma espécie de fracasso coletivo. A constrangedora incapacidade, nestes tempos de cólera, de se fazer um debate minimamente racional sobre um tema complexo como este.

É um quadro semelhante, ainda que em outra escala, ao que vem acontecendo na educação e no tema dos cortes orçamentários. A truculência de um lado, a irracionalidade e oportunismo político, de outro.

Para quem quiser aprender alguma coisa, a crise nos dá uma aula prática sobre os riscos da democracia digital. Tenho dito e repito aqui: a internet deu poder aos cidadãos e fez explodir o nível de informação disponível e transparência do sistema político, mas definitivamente envenenou a democracia.

O ruído permanente, as fotos fake, o mapa mostrando a Amazônia queimando até o Paraguai, o achismo generalizado, a retórica de fim de mundo. Tudo vindo não apenas do cidadão comum, mas por parte de quem deveria lidar profissionalmente com a informação. Vai aí um quadro sem volta.

A gritaria e a irrelevância se tornaram o novo normal da democracia. O que me surpreende, neste episódio, é a figura do chefe de Estado como protagonista da algazarra digital. O líder latino de traço populista, de um lado, e o líder europeu de centro, aparentemente "racional", de outro. Suspeito que não deveria me surpreender.

Por último, fica uma lição sobre o comportamento do presidente Bolsonaro, que vai se afirmando, na boa definição de J.R. Guzzo, como uma "máquina de produzir atritos, problemas de conduta e confusões inúteis".

Não há manual, na ciência política, para explicar onde tudo isso termina, e não se trata aqui de imaginar que teremos, em algum momento, um presidente politicamente correto.

Não elegemos Justin Trudeau, elegemos Jair Bolsonaro. O ponto é que tudo passou um pouco do limite.

Para os apoiadores incondicionais do presidente, não há problema nenhum em seu estilo trombador e suas piadas de gosto discutível, dado que tudo que o grande líder faz está, de antemão, justificado. Para seus odiadores profissionais, tudo já se perdeu.

Como bem disse Noam Chomsky, em uma divertida entrevista a esta Folha, Bolsonaro e Trump são piores que Hitler, que só queria "matar todos os judeus". Eles querem é "matar toda a sociedade, destruir tudo e ter lucro". Não entendi exatamente como ter lucro, depois de matar todo mundo, mas deu para perceber o tom da crítica.

Os dois grupos são perfeitamente iguais e não valem nada para o bom debate público, mas a questão prossegue no ar: qual é exatamente o custo político que teremos ainda que pagar pelo destempero e pela instabilidade permanentemente provocada pela retórica presidencial.

E quem sabe, numa versão mais otimista da mesma questão, dirigida não apenas para o presidente: há alguma chance de que esta crise nos ensine alguma coisa??
Herculano
29/08/2019 08:22
da série: a prova evidente da insegurança jurídica, ou Justiça de ocasião para poderosos, famosos, endinheirados...

PLENÁRIO DO STF JÁ NEGOU ANULAR CONDENAÇÃO SEMELHANTE À DE BENDINE, por Por Renan Ramalho, de O Antagonista.
Leia mais sobre este assunto

Em 2016, por 10 votos a 1, o plenário do Supremo rejeitou anular a condenação de dois soldados que foram ouvidos antes da acusação num processo penal.

Isso aconteceu porque o próprio Código de Processo Penal Militar prevê que um oficial deponha no início do processo.

No julgamento, a maioria dos ministros entendeu que, para garantir a ampla defesa, deveria ser aplicada a regra do Código de Processo Penal comum, que deixa o réu se defender por último.

Mas ficou decidido que isso só iria valer para casos futuros e não para aqueles já julgados, com condenações proferidas ?" situação dos próprios soldados que recorreram ao STF.

Ao anular anteontem a condenação de Aldemir Bendine, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia agiram da forma totalmente inversa: aplicaram ao passado um entendimento não previsto em qualquer lei e nunca antes admitido.
Herculano
29/08/2019 08:18
E ESSE É UM MINISTRO DO SUPREMO... GENTE DE BOTEQUIM TEM ANALISES MAIS FUNDAMENTADAS QUANDO NÃO ADMITE OUTRO PONTO DE VISTA...


"A república de Curitiba nada tem de republicana, era uma ditadura completa. (...) Assumiram papel de imperadores absolutos. Gente com uma mente muito obscura. (...) Que gente ordinária, se achavam soberanos". - Gilmar Mendes enfeitando a sessão de ontem da 2.ª Turma do STF.
Herculano
29/08/2019 08:15
PARA QUE SERVE A LEI - QUE SUPOSTAMENTE IGUAL TODOS OS CIDADÃOS DIANTE DELA - SE JUÍZES, DESEMBARGADORES E MINISTROS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES, POSSUEM AS SUAS PR?"PRIAS LEIS E PRAZOS PARA OS SEUS FAMOSOS E PODEROSOS

De Felipe Moura Brasil, no twitter:

Para quem, como o suposto "Lewan...", fatiou votação de impeachment para salvar direitos políticos de uma suposta presidente, anular condenação de bandido alegando uma razão processual qualquer é só mais uma manifestação de vassalagem.
Herculano
29/08/2019 08:09
LÍDERES POPULISTAS AVANÇAM E A POLÍTICA REAGE, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

Britânicos e italianos mostram como democracia deve parar delírios autoritários

Líderes populistas não gostam de conviver com instituições democráticas por uma razão simples: elas servem como anteparo à concentração de poderes nas mãos desses indivíduos. Num só dia, a Europa deu duas lições de como a saúde da política é crucial para evitar alguns delírios de autoritarismo.

A manobra de Boris Johnson para atar as mãos do Parlamento e forçar a saída do Reino Unido da União Europeia foi recebida com protestos nas ruas e até no partido do primeiro-ministro. A decisão de suspender parte do Legislativo por cinco semanas foi chamada de "profundamente antidemocrática" pelo ex-ministro conservador Phillip Hammond.

Eleito em julho, Johnson assumiu a missão de aplicar o brexit a qualquer custo. A interrupção do trabalho do Parlamento, sob pretexto de ganhar tempo para elaborar uma nova agenda para o país, é vista como uma virada de mesa violenta.

A ruptura com a União Europeia foi aprovada em plebiscito por um placar de 52% a 48%, mas não houve acordo entre os políticos sobre os parâmetros dessa saída. O primeiro-ministro argumenta que o Parlamento impediu os últimos governos de levarem a cabo a vontade popular.

Alguns políticos britânicos chamaram o movimento de Johnson de "tentativa de golpe". Agora, eles ameaçam aplicar um voto de desconfiança para derrubá-lo.

Também nesta quarta (28), a Itália deu uma resposta aos avanços de Matteo Salvini. O político de extrema-direita dissolveu uma aliança com o governo e pediu novas eleições para que a população lhe desse "plenos poderes". Dois partidos rivais fizeram um acordo, até então considerado improvável, para barrá-lo.

Muitos líderes tentam se vender como os únicos e mais fervorosos defensores do povo, escreveu o cientista político Yascha Mounk sobre o caso britânico. Eles agem para deslegitimar instituições que podem limitar seus poderes. "É por isso que populistas se voltam tantas vezes contra tradições democráticas duradouras", completou.
Herculano
29/08/2019 07:56
TCU DETECTA QUADRILHÃO DE 1 MILHÃO DE FRAUDES, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) detectou chocantes 1 milhão de fraudes contra o Tesouro Nacional, por meio de pagamentos ilegais de aposentadorias, Bolsa Família, seguros desemprego e outros benefícios obtidos fraudulentamente. É uma espécie de quadrilhão de 1 milhão de brasileiros que recebem benefícios do INSS acima do teto, sócios de empresas ricas roubando Bolsa Família, paga a pessoas com renda superior à permitida e até seguro desemprego pago a mortos.

COLETIVO DE CORRUPTOS

O relatório aponta 660 mil benefícios suspeitos com número de registro inválido ou ausente, além de indícios de pagamentos acima do teto.

CÚMULO DO ACÚMULO

Cerca de 34 mil benefícios possuem indícios de acumulação ilegal e outros 25 mil têm "erros graves" como números de registro idênticos.

DESEMPREGO DE ARAQUE

Apenas com seguros desemprego para quem já arrumou trabalho, os pagamentos irregulares em 2018 chegaram a R$89,8 milhões.

ATÉ LÁ, ROUBO CONTINUA

O paciente TCU deu prazo de 2 meses a 1 ano de para o INSS mostrar como fará para solucionar as múltiplas fraudes detectadas na auditoria.

BENDINE É 'BODE NA SALA' PARA DEPOIS SOLTAR LULA

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal nem mesmo discutiu as provas dos crimes de corrupção que condenaram Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil. Mesmo sob risco de abrir as portas da cadeia para ladrões indiscutíveis, a Segunda Turma se apegou a tecnicalidades processuais para anular o processo e devolvê-lo à estaca zero. E deu grande alento à velha impunidade.

SEGUINDO O SCRIPT

Horas depois da decisão que livrou o "bode na sala" Bendine, com insultos à força-tarefa da Lava Jato, Lula já apresentava seu recurso.

PARECE TUDO ARMADO

Agora faz sentido o aviso categórico de Paulo Okamoto a petistas, em intrigante visita a Brasília, sexta (23): "Lula será solto em dois meses".

JUCÁ DEU O CAMINHO

Em gravação de 2016, o ex-senador Romero Jucá apontou "grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo", para anular a Lava Jato.

NOME JÁ TEM

Caso o presidente substitua mesmo o diretor-geral da Polícia Federal, o escolhido para o cargo deve ser o delegado federal Anderson Gustavo Gomes, atual secretario de Segurança Pública do governo Ibaneis Rocha, no DF. Bolsonaro gosta de Anderson e confia nele.

RECUANDO 13 CASAS

Ainda ontem, o ministro Edson Fachin (STF) já mandou reabrir o prazo à defesa de Lula para apresentar suas alegações finais no caso da documentadíssima propina de R$12,5 milhões para Lula.

ELE TEM A FORÇA

Como sempre, mais um recurso de Lula vai tramitar na velocidade da luz. Diferentemente de todos os demais réus da Lava Jato. E dos cerca 3.500 que estão na fila do Supremo Tribunal Federal.

CHANCE À HISTóRIA

A reabertura do caso da bomba do Riocentro, apesar da Lei da Anistia e das penas prescritas, vai reabrir feridas, 38 anos depois. Mas vai dar também chance à História de confirmar e até afastar velhas suspeitas.

JOGANDO A TOALHA

Ao declarar moratória, Maurício Macri poderia até desistir da reeleição e entregar o cargo à turma de Cristina Kirchner, que levou a Argentina ao fundo do poço. Será humilhado nas urnas.

BANDEIRAS TÊM DONOS?

Autor da proposta que prevê índios explorando comercialmente suas terras, o deputado Vicentinho Junior (PL-TO) ironizou políticos de esquerda que, por manterem "índios guardados em apartamento", para usar em manifestações, eles se acham donos das causas indígenas.

FALTA CRIATIVIDADE

A estratégia de "autorreforma" do PSB pode vir a produzir resultados, mas a apresentação hoje, em Brasília, contará com um show de clichês como "Socialismo Criativo" e desafios da "Quarta Revolução Industrial".

ELA APARECEU

A histeria em massa relativa a incêndios na Amazônia serviram para tirar a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva da hibernação. A maioria dos brasileiros só esperava vê-la novamente nas eleições de 2022.

PENSANDO BEM...

...onde passa um Bendine passam Lula lá e também os 40 ladrões.
Herculano
29/08/2019 07:50
BOLSONARO, O PRESIDENTE DA MANGUEIRA, por Roberto Dias, secretário de Redação do jornal Folha de S. Paulo

Suas aparições na saída do Palácio do Alvorada foram se tornando um pequeno circo

Os jornalistas adoramos cobrar que presidentes deem entrevistas. Pois falar com a imprensa é dos principais exercícios republicanos de um chefe de governo.

Jair Bolsonaro está aí para acabar também com esse mito. Suas aparições na saída do Palácio do Alvorada foram se tornando um pequeno circo. O que acontece ali até entretém, mas mais confunde do que explica.

Bolsonaro parece crer que bom dia não é coisa para usar todo dia. Aparece quase sempre sem assessores que lhe possam ajudar na memória dos nomes ("conversei com o chefe lá da Espanha", contou) ou na precisão das informações ("não sei, não vou falar mais nesse nível com vocês, impossível ter tudo na cabeça", respondeu a quem lhe perguntava um número). Tudo isso com os presentes em pé, embaixo de uma mangueira, dividindo atenção com alguma claque bolsonarista.

A crise com a França só fez aumentar o contraste desse, digamos, protocolo. Às declarações desetiquetadas de Bolsonaro se contrapunha um Emmanuel Macron em púlpito com local e data da fala presidencial.

O problema extrapola a forma.

As saidinhas do Alvorada desmentem de manhã o que o Planalto confirmou à noite ("eu falei isso?", retrucou quando questionado sobre rejeitar o dinheiro do G7).

Ecoam ideias com obsessão dignas da psicanálise e, no linguajar publicitário, fazem a ativação de posts das redes sociais. Mostram como ele mimetiza Donald Trump em tudo, inclusive ao atacar jornalista pessoalmente.

Numa dessas ofensivas, ameaçou, dedo em riste: "Se não fizerem matéria escrita amanhã nos jornais, não tem mais entrevista para vocês aqui, tá legal?" Pois não teve matéria. Ele voltou ao mesmo lugar, reclamou e falou sem direito a perguntas. Um dia depois, tudo igual a dantes, como se promessa não fosse dívida.

De tão pesadas, as palavras de Bolsonaro ficaram mais leves. Saem do portão do Alvorada e voam fácil com o vento do cerrado, soltas como pipas que perderam a direção.
Miguel José Teixeira
28/08/2019 20:00
Senhores,

Vejam o que aconteceu depois que a 2ª turma do stf, anulou a sentença de um juiz da Lava-Jato. . .

"Mas pega fogo cabaré / Hoje eu não arredo o pé / Pode vir que eu to no ponto / Só filé, só filé, , ,"

O reino da toga preta está em festa! E. . . paga por nós "burros-de-cargas"!
Miguel José Teixeira
28/08/2019 19:36
Senhores,

Para não dizerem que não falei do beija-flor. . .

Na mídia:

"BC apresenta moeda de R$1 em comemoração aos 25 anos do Real ... "

- Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/08/28/bc-apresenta-moeda-de-r1-em-comemoracao-aos-25-anos-do-real.htm?cmpid=copiaecola

Se alguém conseguir identificar na matéria, o custo de cada moeda de 1 real comemorativa, informe ao presidiário lula, que está louco para "impichar" a Casa da Moeda, que, URGENTEMENTE deve ser privatizada!
Herculano
28/08/2019 14:21
da série: em pleno século 21 principal assessor do governador catarinense é um burocrata coletor de impostos, especializado em derrama

AUMENTO DO ICMS:EMPRESÁRIOS DÃO PRAZO AO GOVERNADOR, por Moacir Pereira, no Diário Catarinense, da NSC Florianópolis

Terminou em clima de apreensão, esperança e cobrança a reunião na Casa da Agronômica, dos presidentes de quatro entidades do turismo, bares e restaurantes, com o governador Carlos Moisés da Silva.

Preocupação, porque no dia 1o. de setembro entrarão em vigor aumentos nas aliquotas do ICMS de vários produtos da cesta básica, em especial de alimentos de consumo da populaçao, onerando os mais pobres. Esperança, pelo crédito de confiança dado ao governador, que prometeu uma decisão favorável à pretensão de isonomia do comércio. E de cobrança, pela disposição de luta dos empresários de mais uma vez recorrerem à Assembleia Legislativa, buscando a pretendida isonomia com outros Estados, caso não haja a decisão favorável.

A exemplo do que ocorreu com a crise com os agricultores, com alíquota de 17% sobre os defensivos agrícolas, produtos de largo consumo terão flagrantes desigualdades. A farinha de trigo misturada, por exemplo, terá ICMS aqui de 12%, enquanto o Paraná cobra 7% e o Rio Grande do Sul 8%. Os derivados do leite passam de 7% para 12%. O leite em pó vai pular de 7% para 17%. Além disso, outros derivados do leite terão cancelado o crédito presumido.

Estes aumentos atingirão o bolso dos consumidores, já penalizados com outra estatística: Florianópolis tem a terceira cesta básica mais cara do Brasil. E a alimentação é a mais cara do país.

O título da nota da Abrasel, Fórum do Turismo, CDL e Acif diz tudo: "Governador Moisés tem três dias para reverter o aumento de ICMS na alimentação". O prazo termina dia 30, sexta-feira.
Herculano
28/08/2019 14:07
SOBERANAMENTE SUSTENTÁVEL, por Eduardo Felipe Matias, no jornal Folha de S. Paulo

Se Brasil descuidar da área ambiental, dará espaço a pressões de setores protecionistas europeus

A crise ambiental na Amazônia traz uma lição. Nos dias de hoje, a lógica da globalização prevalece sobre a lógica da soberania.

Isso não significa o fim da autodeterminação dos povos ?"apesar da provocação de Macron ao final da reunião do G7, a soberania brasileira sobre seu território não está em questão. Quer dizer apenas que, em um mundo interdependente, esta é cada vez mais condicionada por forças externas.

A limitação à liberdade de adotar determinadas políticas econômicas é algo que muitos países puderam sentir na pele em sucessivas crises financeiras internacionais nas últimas décadas. A novidade é que isso vale cada dia mais para a área ambiental. Economia e sustentabilidade estão interligadas, e esta última passou, nos últimos anos, a ser encarada como um imperativo.

Essa constatação é amparada por uma ampla rede de proteção e promoção do meio ambiente composta não só de leis nacionais ?" a Constituição brasileira, inclusive ?" mas também de acordos internacionais e regras privadas de caráter transnacional.

Internacionalmente, a primeira ameaça que pairou sobre o Brasil foi a de bloqueio ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Apesar de alguns dos líderes europeus, como a alemã Angela Merkel, terem se oposto a isso, a possibilidade não está descartada, uma vez que o acordo ainda precisará ser aprovado pelo Parlamento Europeu e ratificado pelos Estados que integram a UE.

Durante esse longo processo, caso o Brasil descuide da área ambiental, dará espaço a pressões de setores protecionistas europeus que tentarão frustrar esse acordo. O mesmo vale para outro acordo recém negociado, entre Mercosul e os países da EFTA ?"Suíça, Islândia, Liechtenstein e Noruega, o qual também terá disposições voltadas a garantir o compromisso das partes com o desenvolvimento sustenta?vel, o que mostra a imbricação hoje existente entre comércio internacional e respeito ao meio ambiente.

Na frente transnacional, uma reação negativa deve preocupar ainda mais, por ser difícil de controlar. O risco é que empresas e consumidores estrangeiros deixem de comprar do Brasil por falta de compliance ambiental ?" lembrando que hoje muitos contratos preveem condições socioambientais a serem respeitadas por grandes corporações, e que há uma crescente preocupação das pessoas em conhecer a origem dos produtos que consomem. A sustentabilidade é boa para os negócios. Ao não preservar a floresta, poderíamos perder mercados.

Tratar como questão ideológica o que na verdade consiste em fato - caso da globalização ou, no âmbito da sustentabilidade, das mudanças climáticas- gera más decisões por parte dos poderes públicos.
Na área econômica, os países que optaram por adotar modelos que os alienavam da globalização pagaram um preço por isso.

Desde seu início, o governo brasileiro parece ter entendido essa realidade, deixando de lado o nacionalismo e procurando promover reformas e acordos de livre comércio com o objetivo de melhorar o ambiente de negócios e aumentar a inserção brasileira na economia mundial.

Também na área ambiental, é necessário reconhecer que a sustentabilidade é uma tendência que não pode ser ignorada, não só pelo risco de prejudicar as exportações brasileiras e os investimentos no país. No caso da Amazônia, há inúmeras atividades que podem ser desenvolvidas de forma sustentável a fim de aproveitar o potencial da região e de sua biodiversidade, trazendo benefícios para o país como um todo - simplesmente queimar a floresta, para proveito de poucos, é o pior uso que se pode fazer dessa riqueza.

Há dezenas de motivos de caráter ético e estético para se abraçar a sustentabilidade, mas não é de se esperar que estes convençam a todos. No caso da Amazônia, não é preciso se tornar ecologista para fazer a coisa certa. Basta entender que a destruição da floresta é ruim para o bolso da maioria. Soberanamente, o governo brasileiro deveria se empenhar em combater o desmatamento pelo mesmo motivo pelo qual tem buscado modernizar a economia: porque, no final das contas, isso é bom para o Brasil.
Herculano
28/08/2019 14:00
da série: um governador que não não conhece a economia, não entende de desenvolvimento e não leu a história econômica de Santa Catarina

PAULO ELI NO CENTRO DA POLÊMICA, por Roberto Azevedo, no Makingof

A falta de um assunto palpitante, como a reinstituição da política de incentivos fiscais ou o ICMS sobre os agrotóxicos, não tirou o secretário Paulo Eli (Fazenda) da mira dos deputados estaduais, mesmo na véspera em que ele apresentará os dados da execução orçamentária do primeiro semestre e o relatório de gestão fiscal do primeiro quadrimestre.

Em discussão no plenário, nesta terça (27), uma moção de repúdio ao secretário pelas declarações de Eli sobre uma eventual sonegação generalizada de ICMS no setor de bares e restaurantes, teve lances hilários.

O deputado João Amin (PP), autor do pedido, que aparece na foto principal, assinalou que, em se tratando de Paulo Eli e do governo, "não se sabe quem será a próxima vítima", ao se referir aos diversos setores que tiveram mudança na tributação.

O líder do governo, deputado Mauricio Eskudlark (PL) disse que a moção era desnecessária pois o secretário já havia pedido desculpas públicas sobre o fato e o que se desenhava, naquele momento, era a continuação de um debate que sugeria "vão matar o hômi (sic) ou fazer o quê?".

O RESULTADO

Em determinado momento, o próprio Eskudlark disse que votaria 1, o sim, pela moção, enquanto Amin pediu que a votação fosse nominal.

No painel, o líder do governo votou 2, o não, e provocou a reação do proponente da moção, que exigia o cumprimento da promessa feita ao microfone. Eskudlark retificou, mas a moção foi rejeitada.

AS REAÇõES

Não satisfeito com a celeuma, o deputado Kennedy Nunes (PSD) pôs lenha na fogueira, exigiu a recontagem e mudança do resultado, ao alegar que os 10 a 9, mais duas abstenções, deram a vitória à aprovação da moção.

O sempre perspicaz presidente da casa, Julio Garcia (PSD), saiu-se com duas homéricas: primeiro saudou Kennedy por estar no Brasil e a fazer o aparte (o deputado tem viajado muito em função da presidência da Unale), e, segundo, disse que a solução era "simples, basta saber contar até 11 (maioria simples dos presentes) para determinar o resultado", mesmo com a reversão do voto de Eskudlark.

LONGE DALI

O secretário Paulo Eli reuniu-se com representantes da Abrasel, Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e CDL da Capital para tratar do mal-entendido da suposta sonegação.

Panos quentes na situação e uma conversa boa em que Eli reforçou o pedido de desculpas.

FUTURO

A coluna já deu esta informação, porém vale relembrar.

A fiscalização é o melhor remédio para separar o bom pagador de tributos do sonegador, e, provavelmente a partir do ano que vem, a Fazenda ganhará uma nova ferramenta: as compras a crédito ou débito serão avisadas via eletrônica à Secretaria a partir dos bancos ou das operadoras de cartões, o que tornará muito difícil dizer que o pagamento não foi feito.

CAFEZINHO, ESTE VILÃO!

A campanha deliberada contra o cafezinho nas repartições públicas ganhou proporções inimagináveis em reportagens em que até o uso do pó da iguaria, no país que mais o produz, é questionado em nome da economia do dinheiro do contribuinte, como se fosse o maior problema do planeta ou o responsável por agravar os problemas de caixa.

É bem verdade que foi o governador Carlos Moisés da Silva que deu luzes a este elemento capaz de desestabilizar as contas públicas, o cafezinho, mas agora o centro da discussão aponta para as máquinas de café alugadas na Assembleia, cada uma no valor de R$ 7 mil por ano, gasto que seria de R$ 280 mil se multiplicado pelos 40 gabinetes, o que não é mais a realidade do Legislativo.

UM "ESCÂNDALO" LÍQUIDO

Alguns deputados chegaram a interditar as máquinas em seus gabinetes com fita de isolamento de investigação policial, ou seja, o artefato e o produto são comparados a elementos criminosos.

Só que quem convive no dia a dia da Assembleia sabe que tem muita gente saindo de um gabinete sem máquina e indo a outro que ainda a possui para filar o líquido proibido.

OS CÁLCULOS DE WEBER

Todos concordam ou deveriam que dinheiro público não é capim, o que não tira o exagero de cálculos mirabolantes sobre alguns itens, como o cafezinho. O deputado Volnei Weber (MDB), ex-prefeito de São Ludgero, fez as contas na defesa de manter a tal máquina de café em seu gabinete. Dividiu os R$ 7 mil anuais pelo número de meses de utilização, um custo mensal em torno de R$ 600. Depois cruzou com o número de pessoas que vêm do interior e o visitam. O resultado foi menos de R$ 1 (isso mesmo, um real) por copo servido. Então, Weber indaga: em que lugar vou comprar um cafezinho abaixo deste valor?

NO OÁSIS

A mesma pesquisa do IBP que captou números positivos para a administração do governador Carlos Moisés da Silva (42,08%, entre ótima e boa; 27,41%, regular; e com aprovação de 67,58%) deu contornos de desempenho bem acima da média nacional ao presidente Jair Bolsonaro em Santa Catarina.

No levantamento feito entre 10 e 20 de agosto, em 30 municípios, com 2.400 entrevistas, Bolsonaro, em queda na avaliação em outros estados, teve avaliação da administração de 50,04% entre ótima e boa; e de 20,08% regular, enquanto 71,04% aprovam as ações de governo. De fato, aqui Bolsonaro continua em alta.

NÃO DEU

Tribunal Superior Eleitoral não concedeu o pedido do recurso do ex-deputado João Rodrigues (PSD) para o registro da candidatura dele à Câmara dos Deputados, em 2018, fosse formalizado.

Cabe recurso, mas no entendimento dos ministros é necessária a outra decisão do Judiciário que ratifique a condição de apto a concorrer de João depois que a pena que ele cumpriu foi considerada prescrita.

DUAS FRENTES

Com a decisão do TSE, o deputado Ricardo Guidi (PSD) continua no cargo.

Ocorre que, depois de um pedido de vista, é a deputada Ana Paula Lima (PT) que pode assumir a cadeira na Câmara caso o TSE considere válidos os votos da candidata Ivana Laís da Conceição (PT), impugnados, e cuja maioria dos ministros já votou a favor. Só João Rodrigues desempata este imbróglio.
Herculano
28/08/2019 13:51
GRUPO JBS SE TORNA LÍDER EM ALIMENTOS PREPARADOS NA EUROPA

Conteúdo de O Antagonista. A JBS divulgou hoje que a empresa Pilgrim's Pride, controlada pelo grupo, comprou a concorrente Tulip Company por cerca de US$ 354 milhões.

A Tulip é líder na produção de carne suína e alimentos preparados na Europa. Com a compra da empresa, o grupo JBS ganha o status de líder global na produção de aves e alimentos preparados e primeiro lugar na Europa na produção de carnes suína e alimentos preparados.
Herculano
28/08/2019 13:48
DUPLICAÇÃO DA BR 470, COMO COM LULA E DILMA, AGORA PODERÁ FAZER ÁGUA COM BOLSONARO

OPERAÇÃO SALVAMENTO, por Cláudio Prisco Paraíso

Coordenador da bancada federal catarinense, o deputado Rogério Peninha Mendonça está empenhado em delicada operação política no Planalto Central. O pivô da celeuma é o PLN 18/2019, que prevê cortes orçamentários que podem chegar a R$ 54 milhões para Santa Catarina.

Peninha vai recorrer primeiro à líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, com quem ele já solicitou reunião de urgência para tratar do assunto.

Os congressistas do estado vão cobrar explicações sobre a tesourada federal, que atinge as áreas de Educação, Rodovias e Equipamentos.

A reunião estava sendo articulada para ocorrer entre o final da tarde de ontem e a manhã desta quarta-feira. Caso não haja avanços na conversa com a deputada, Peninha poderá recorrer, novamente, da abertura que tem junto ao presidente da República. Ele e Bolsonaro são amigos há mais de 30 anos.

O dito projeto pode ser votado ainda nesta quarta, por isso a pressa dos líderes de Santa Catarina.

FRASE

"Se isso acontecer (aprovação do PLN 18/2019), todo o trabalho que temos feito desde o início do ano, com planejamento e uma lista de prioridades estará em perigo. Esse PLN não pode ser aprovado." Rogério Peninha Mendonça, coordenador do Fórum Parlamentar Catarinense
Herculano
28/08/2019 13:36
A VERGONHA DA JUSTIÇA. CRIA LEIS PARA OS PODEROSOS

De Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do Ministério Público de Contas que atua perante o TCU, no twitter.

Parece que encontraram o tão procurado caminho da impunidade. Há países que escolheram ser paraísos fiscais. Nós escolhemos ser paraíso criminal, paraíso da corrupção. Vamos anular condenações corretas com regras processuais criadas posteriormente. Não somos atrasados por acaso.
Herculano
28/08/2019 13:33
PINDAÍBA NO GOVERNO VAI CAUSAR CONFLITO POLÍTICO TAMBÉM EM 2020, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

Falta de dinheiro no governo vai continuar a ser motivo de disputa no Brasil do ano que vem

O governo tem um teto de despesas para cumprir, mas tem gasto menos do que permite esse limite constitucional aprovado em 2016 pelo Congresso, por sugestão de Michel Temer. No entanto, como se sabe, está à beira de faltar dinheiro para pagar bolsas de pesquisa científica, universidades ou o serviço de computação da Receita; o dinheiro para investir em obras cai, tendendo a zero.

Note-se logo que não se trata de decisão de livre arbítrio deste governo. A situação vai melhorar em 2020? Por vários motivos, provavelmente quase nada.

O governo federal gasta menos que o limite permitido porque não arrecada o suficiente nem para chegar ao limite do teto de gastos (porque, de resto, tem outra meta, de limitar o déficit primário), como sabe quem acompanha o noticiário do assunto.

Neste ano, por ora, a previsão é de que o governo gaste pelo menos uns R$ 36 bilhões a menos do que o limite, por falta de receita. Trata-se do valor de um ano de Bolsa Família inteiro ou de dois terços de toda a despesa federal em obras, investimentos, nos últimos 12 meses.

Caso o país crescesse um tico mais em 2020 (e assim a arrecadação de impostos) e/ou o governo possa contar com o dinheiro extraordinário da venda de direitos de exploração de petróleo ("cessão onerosa"), haveria como gastar mais no ano que vem, um meio de diminuir a asfixia. Isto é, haveria como aumentar as despesas além daquelas que são obrigatórias (benefícios previdenciários em geral, salários, seguro-desemprego, mínimos de saúde e educação etc.). Voltar a gastar um tico mais em ciência, por exemplo.

Só que não.

Em 2020, as despesas obrigatórias devem crescer a ponto de comer quase toda essa "folga" fiscal, impedindo o aumento de outros gastos. Então, o teto será o problema, com o que será difícil diminuir de modo relevante essa asfixia de despesas que vemos agora. O governo deve apresentar essas contas detalhadas até o final do mês, quando apresenta o projeto de Orçamento de 2020. Mas, grosso modo, o problema é esse.?

A fim de evitar colapsos, as providências são política ou economicamente difíceis. Por exemplo, não aumentar o valor real do salário mínimo (já proposto pelo governo). O ministro Paulo Guedes (Economia) discute com o Congresso a hipótese de acabar com gastos mínimos obrigatórios em itens como saúde e educação ou reajustar tal despesa por menos do que a inflação. São projetos praticamente inviáveis até o final do ano.

Guedes é, pelo menos até hoje, contra a ideia de mexer no teto. Quer, repita-se, que o Congresso decida o que fazer com os recursos limitados (flexibilizando todos os gastos, como aqueles em saúde e educação). Obviamente, não resolve em nada a tensão política, apenas coloca mais gente na briga pelo pirão escasso.

Qualquer ideia de reduzir a carga de impostos torna-se ainda mais demente nesta situação (mesmo mexer com eles, como no IR, ideia fixa de Jair Bolsonaro, é um risco alto).

A fim de evitar o pior neste ano, paralisia crítica, o governo vai fazer umas gambiarras, adiantar receitas e alguma outra mágica e milagre. Enfim, a receita de impostos reage um tico. Dada a situação crítica, é um troco que apenas evita o fechamento, de fato, de partes do governo. Seria um regime de fome, de mera subsistência, se tanto, que continuaria no ano que vem. Também por causa da escassez vai continuar amargo o conflito político - ou daí para baixo.
Herculano
28/08/2019 13:31
O VELHO TRUQUE DO INIMIGO EXTERNO, por Cezar Motta, em Os Divergentes

O problema é que, como dizia o velho McLuhan, o meio é a mensagem. Tudo que vem da boca do Bolsonaro soa sujo, descabido, idiota e impróprio. E realmente é. Não tem a mínima postura de chefe de estado. Porém, o Macron tem invólucro bonitinho, mas atacou antes, chamando o Bolso de mentiroso.

Na verdade, o francês joga para o público interno: os produtores rurais da França, que defendem reserva de mercado e não querem a União Europeia com acordo comercial com o Mercosul: os ambientalistas, que não gostam dele, Macron; o povão que lhe derrubou a popularidade pós-eleitoral por causa da reforma da previdência.

Para ele, é providencial a crise. Está posando de bom moço às custas do nosso jumento. A França é um cruel país colonialista até hoje (Guiana, Martinica, Polinésia Francesa, Nova Caledônia etc.); que fazia testes nucleares devastadores em paraísos ecológicos até pouquíssimo tempo; que ameaçou declarar guerra ao Brasil para pescar lagostas em nossa costa há pouco mais de 50 anos.

Os franceses deram grande contribuição humanística, cultural, científica e intelectual ao Ocidente, mas também exemplos de crueldade e racismo. E o Macron também foi útil a Bolsonaro. Os militares, que andavam putos com o Bolso, voltaram a se alinhar a ele, contra o inimigo externo.
Herculano
28/08/2019 12:59
RÉPLICA:BNDES AGE COMO ROBIN HOOD ÀS AVESSAS AO PUNIR TRABALHADOR E FINANCIAR EMPRESA, POR Armínio Fraga Neto
Vinicius Carrasco, no jornal Folha de S. Paulo

Economistas respondem a artigo de Joseph Stiglitz sobre papel de banco de desenvolvimento

Joseph Stiglitz é um dos maiores economistas da história, conhecido por contribuições seminais em várias áreas da teoria e por sua posição progressista, que compartilhamos. Um de nós (AF) foi aluno dele, um luxo. Escrevemos esta nota em linha com o que cremos ele teria feito se melhor conhecesse o caso do BNDES.

O BNDES nasceu BNDE, para apoiar a fase inicial da industrialização por substituição de importações do Brasil, por meio da provisão de financiamento de longo prazo na moeda nacional, uma lacuna de mercado à época.

Embora o preenchimento dessa lacuna se justificasse plenamente, vinculá-lo a política industrial não é consenso (somos do time dos que discordam). Já à época havia consciência de que se tratava de estratégia temporária, de proteção à indústria nascente. Os anos foram passando, e a rodinha ficou para sempre: a criança ficou velha e nunca aprendeu a andar de bicicleta.

A introdução do S ao seu nome poderia tê-lo levado a resolver uma falha de mercado: viabilizar projetos cujos retornos sociais superassem custos privados, com esses maiores, por sua vez, que retornos privados (o que inviabilizaria provisão privada).

Mesmo não sendo necessariamente a melhor resposta (uma alternativa mais transparente seria usar subsídios vindos direto do Tesouro, em orçamento aprovado pelo Congresso Nacional), valeria a pena.

Seria de todo essencial que o desempenho do BNDES fosse avaliado a partir desse critério, mas tal nunca ocorreu. Há, no entanto, evidências claras de que a prática do banco combinou ineficiência econômica e concentração de renda.

A seguir um resumo do caso.

A principal fonte de financiamento do BNDES são os recursos do FAT, historicamente remunerados a taxas abaixo de mercado acessíveis aos trabalhadores.

Para financiar o PSI (Programa de Sustentação do Investimento), o Tesouro injetou quase R$ 500 bilhões no BNDES e arcou com a diferença entre o custo de seu financiamento e as taxas cobradas do banco.

A essas fontes de financiamento correspondeu, portanto, uma taxação de trabalhadores (FAT) e de todo cidadão brasileiro (o resto).

E para onde vão esses recursos? Para financiar i) projetos que ou não seriam levados a cabo não fossem os subsídios concedidos ou que poderiam ser financiados por alternativas de mercado e ii) aquisição de máquinas de produção nacional e estímulo a "conteúdo local".

Projetos que não tenham retorno social maior que privado e que e são só viabilizados por subsídio geram ineficiências: de estaleiros quebrados a projetos de infraestrutura superdimensionados (Viracopos é um exemplo), o BNDES foi pródigo em contribuir para a péssima alocação de capital que responde por parte relevante do crescimento medíocre de nossa economia nos últimos anos.

Financiar máquinas produzidas localmente inibe, por um lado, que produtores comprem máquinas de melhor qualidade de outros países, e, por outro, insula produtores locais da força competitiva que os estimularia a serem mais eficientes.

Para projetos que teriam condições de serem financiados por alternativas de mercado, a atuação do BNDES corresponde a transferência de trabalhadores e contribuintes aos acionistas das
empresas financiadas.

Essa atuação concentradora de renda também ocorre de outra forma: o BNDES usa, quando financia aquisição de máquinas, os bancos comerciais para emprestar. É como se os bancos comerciais tomassem emprestado do BNDES para emprestar para o tomador final. Portanto, o crédito barato também é em parte apropriado pelos bancos.

Concluindo: o BNDES pune os trabalhadores e contribuintes que subsidiam seu custo de captação e oferece empréstimos subsidiados a empresas que, na maioria dos casos, deveriam se financiar sem subsídios. Trata-se, portanto, de uma política de Robin Hood às avessas.

Recentemente, financiamento pelo BNDES foi amplamente substituído por fontes privadas, desarmando argumentos de que crédito do BNDES é indispensável ao bom funcionamento da economia.

Estímulo à competição (como nas agendas BC+ e #, do Banco Central) e melhoras institucionais aprofundarão esse processo e gerarão, via democratização do acesso ao crédito e inclusão financeira, crescimento maior, mais estável e equitativo.

Stiglitz, em artigo publicado na Folha, acerta ao dizer que instituições importam. Faltou dizer que são aquelas que estimulam o empreendedorismo, a eficiência e a disseminação da riqueza na sociedade as que geram desenvolvimento.
Herculano
28/08/2019 12:52
'COLETIVAS NA GRADE' SÃO RUINS, MAS PAUTAM A MÍDIA, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

O presidente Jair Bolsonaro sempre se sai muito mal das declarações à saída do Alvorada, onde mora, ou à chegada no Planalto, onde trabalha, e cumpre o papel de pautar a mídia, mas a um custo elevado. Ele reage mal e de maneira desrespeitosa a repórteres perguntadores, passa a impressão de falar sem refletir, o que é ruim para presidente, e tenta desqualificar notícias e jornalistas, mas os valoriza. Antes de abrir a boca, precisa lembrar que tudo o que afirma será usado contra ele.

PRESIDENTE USA DUBLÊ

As "coletivas na grade" são fonte permanente de desgaste. Bolsonaro tem até "dublê" para esse papel: o ótimo porta-voz Otávio Rego Barros.

Só DE CASO PENSADO

Se o presidente quer reagir a alguma notícia ou anunciar, esclarecer, festejar, que o faça de maneira correta, tranquila, pensada. Gravada.

'QUEBRA-QUEIXO', JAMAIS

Presidente não se sujeita a "quebra-queixo", ou seja, a entrevistas com uma dezena de microfones roçando as bochechas do entrevistado.

O JOGO É OUTRO

O presidente parece se mirar no Bolsonaro candidato: usou as redes sociais com maestria, mas muito agressivo. Presidência é outro jogo.

MORAES SEGURA NO STF JULGAMENTO DE CENSURA A TV

O ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu a Rede Tiradentes de rádio e TV, do Amazonas, de citar o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, várias vezes citado da Lava Jato. O senador obteve a censura apesar de os direitos à liberdade de expressão e à informação serem garantidos pela Constituição. Talvez por isso o ministro Moraes não permita que o processo seja julgado.

VIOLÊNCIA VETADA

Decisões do STF consagram decisões que impedem a decretação de censura prévia aos veículos de comunicação.

SENTADO NO PROCESSO

O processo já começou a ser julgado duas vezes pelo chamado "plenário virtual" do STF, mas estranhamente foi retirado de pauta. Questionado, o STF confirmou a retirada de pauta, "sem data para retorno".

CENSORES

O temor dos defensores da censura é que o STF respeite o próprio entendimento e anule o ato de violência contra a Rede Tiradentes.

AMEAÇA DE 'TOCAR FOGO'

Há ministros sustentando no Planalto a ideia de que foi para valer a ameaça do líder porralouca do MST, João Pedro Stédile, no ano passado: "Se Bolsonaro ganhar, vamos botar fogo neste País".

REFORMA RUIM

Pela proposta de reforma tributária no Congresso, obra de tecnocratas que não têm pai nem mãe, vai demorar dez anos, sem reduzir a alíquota, a transição que transforma cinco tributos no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). É bom para o governo, ruim para a população.

ÁRVORE NO PESCOÇO

Além de oportunista, proposta de CPI do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), cujo estado tem 99% da floresta intactos, chove no molhado: pretende "investigar" o que já está sendo investigado.

MAUS COLONIZADORES

O ministro Augusto Heleno (GSI) disse ontem durante a reunião com governadores, que, como colonialistas, a França deixou rastro de miséria e destruição. "Eles não podem dar lição em ninguém", disse.

TRETA ELEITORAL

Carla Zambelli (PSL-SP) questiona a ausência de Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo, em três manifestações pró-Bolsonaro. "O que está havendo?", provocou. É o post com recorde de comentários.

NA MAIOR REDE

O deputado Marco Feliciano (Pode-SP), aquele da boca que é um tesouro, tem 4,3 milhões de seguidores no Facebook. O campeão no Congresso. O senador Marcos do Val (PPS-ES) tem 3,9 milhões.

A VIDA COMO ELA É

O Paraná Pesquisa revelou que o desfecho do sequestro do ônibus na ponte Rio-Niterói foi acompanhado por 88,3% dos brasileiros e 76,3% acreditam que a polícia agiu certo ao matar o sequestrador. Entre os homens, a aprovação da ação do atirador de elite foi de 83,5%.

INFERNO TRIBUTÁRIO

A proposta de reforma tributária que está na Câmara contém trechos do relatório Doing Business 2019, do Banco Mundial, que identificou que uma empresa brasileira leva 1.958 horas para pagar tributos. O 2º colocado (Bolívia) leva 1.025 horas. A média em 190 países é de 206h.

RECEITA DE MULHER

Até a divertida sentença de Vinicius de Morais, no poema "Receita de Mulher", foi demonizada pela patrulha: "As muito feias que me perdoem. Mas beleza é fundamental".
Herculano
28/08/2019 12:47
BOLSONARO USA FOGO COMO CAVALO DE TROIA PARA PAUTA ANTIAMBIENTAL, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

Presidente explora Amazônia em campanha contra áreas protegidas e terras indígenas

Jair Bolsonaro deve ter apagado da memória o texto que leu no teleprompter há cinco dias. O pronunciamento do presidente na TV, no auge da tensão em torno das queimadas da Amazônia, falava com orgulho da conservação da vegetação nativa do Brasil e elogiava a "lei ambiental moderna" do país. Agora, ele acha que isso é um problema.

O presidente chamou governadores da região a Brasília para discutir a devastação das florestas. Se algum deles esperava dinheiro ou projetos de preservação, teve que se contentar com o papel de figurante na cruzada antiambiental do Planalto.

O encontro foi motivado pelas queimadas, mas Bolsonaro preferiu fazer um ato para vender sua agenda contra a cooperação internacional e a favor de mudanças na legislação das unidades de conservação. Com apoio de alguns governadores, ele reforçou suas críticas à demarcação de terras indígenas e lançou a ideia de rever reservas ambientais.

O fogo na Amazônia virou um cavalo de troia para a pauta do presidente, nas palavras de um participante da reunião. Bolsonaro explorou um nacionalismo mal-acabado para fazer propaganda de suas obsessões contra áreas protegidas.

Para quem buscava medidas concretas contra o desmatamento, Bolsonaro era um personagem inconveniente na sala. Lá pela segunda hora da reunião, ele interrompeu uma explicação técnica sobre o Fundo Amazônia para reclamar pela sétima vez de áreas indígenas e quilombolas, que "inviabilizam" o agronegócio.

O debate sobre a atividade econômica nessas regiões pode até interessar às comunidades, mas o presidente já deixou claro que está mais empenhado em favorecer ruralistas e mineradoras americanas.
Bolsonaro mostrou também que não aprendeu nada com os últimos episódios. Ele continua desprezando dados oficiais. Na reunião, militares mostraram imagens de satélite para comprovar o resultado do combate às queimadas. Mais tarde, o presidente insistiu que a situação foi "potencializada" pela imprensa.
Herculano
28/08/2019 12:44
FUMAÇA NOS OLHOS, por Carlos Brickmann

As queimadas na Amazônia foram politicamente boas para todos os lados: o presidente francês Macron se mostrou preocupado com a floresta, com a ecologia, e ganhou também com a grosseria de Bolsonaro, que foi atingir a primeira-dama da França; e Bolsonaro, que comprovou ter apoio de Trump, e obteve também o suporte de Japão, Canadá, Alemanha, Inglaterra. De certa forma ganhou o Brasil, já que a política de preservação da Amazônia acabou entrando em discussão, prós e contras. Mas que Bolsonaro não permita que a fumaça da Amazônia prejudique sua visão política: tem a popularidade em baixa, e o motivo, obviamente, não é queimada nenhuma. É a economia.

Estão no forno algumas reformas importantes, mas nenhuma tem efeito imediato no que importa: na baixa do desemprego, no desenvolvimento, no aumento do poder de compra. Há muito menos gente interessada na floresta do que nas contas a pagar, no emprego, nas necessidades da família.

Por isso a pesquisa da Confederação Nacional de Transportes, CNT, está tão ruim para o Governo: Bolsonaro é avaliado como ruim ou péssimo por 39,5% dos pesquisados, enquanto 29,4% o consideram bom ou ótimo. Se os índices são ruins, ficam piores quando se nota que estão em queda. Em fevereiro, 39% o avaliavam como bom ou ótimo. Velhos tempos, belos dias.

Brigas internas, insultos externos, embaixador chamando o presidente de meu paipai, tudo é teatro. Mas quem vota é o bolso. A Argentina é o exemplo.

QUEM DIRIA

A imprensa europeia mostrou uma jovem que, estarrecida pelo incêndio, foi à Amazônia e salvou uma girafa, bicho que ali nunca houve. Bolsonaro criticou a Noruega num vídeo que mostrava a caça de baleia por dinamarqueses. Macron disse que a Amazônia é o pulmão do mundo (não é: plantas adultas consomem o oxigênio que geram). Para Bolsonaro, a menos que se reduzam reservas indígenas e quilombolas, e áreas de preservação, não haverá espaço para a agropecuária.

Haverá: o Projeto Jari, monumental, preserva 90% da mata, é produtivo e dá lucro. A Alemanha protesta contra o incêndio, mas uma indústria pertencente ao Governo alemão, a Volkswagen, promoveu há tempos o que chamou, em anúncios, de "a maior queimada da História", na Amazônia, em sua Fazenda do Vale Cristalino. Uma empresa cujo capital é 30% da Noruega, a Norsk Hydro, tem na Amazônia uma imensa jazida de bauxita, que só poderá explorar se tirar a floresta de cima.

BRASIL BRASILEIRO

Há anos, o Incra leiloou terras na Amazônia. Os vencedores investiram para cercar as terras, instalar-se, aí veio a Funai e os tocou de lá, porque era região de índios. Cadê os índios? Eram poucas dezenas, chefiados pelo cacique Manuel. Se eram poucos, por que tanta terra? Os índios perambulavam, disse a Funai.

Bom, este colunista fez as contas: andando dia e noite, a tribo levaria seis meses para ir de uma ponta a outra da reserva. E quem comprou a terra do Governo, pagou e investiu? Talvez pudesse recorrer ao papa, porque a lei vedava saídas judiciais. Como a reportagem foi publicada, o Incra ofereceu aos vencedores do leilão terras de valor equivalente, em outro local. E toca a fazer o investimento de novo, gastando mais tempo e mais dinheiro. Segurança jurídica? A expressão é bonita.

A VERDADE, ENFIM

Falou-se muita bobagem - como atribuir a atual queimada a uma só causa, quando a Amazônia brasileira é do tamanho da União Europeia. Há várias causas: a seca própria da época; queima dos rejeitos da colheita; o crime, que desmata para criar fazendas clandestinas, ou ampliar fazendas (legais) já existentes. E os malucos: o grupo paraense Sertão (este a Polícia deve pegar), combinou por WhatsApp provocar incêndios no Dia do Fogo, 10 de agosto, para ocupar uma reserva florestal de 1,3 milhão de hectares. Contrataram motoqueiros para botar fogo no capim seco à beira das estradas e operadores de motosserras para que nada sobrasse. No grupo há garimpeiros, grileiros, fazendeiros interessados em expansão, gente da cidade que quer virar fazendeiro sem se dar ao trabalho de comprar terra.

Talvez haja também fanáticos políticos, como os que encheram de pragas os cacaueiros baianos. A culpa só é do Governo porque passou uma ideia errada, de que não era lá muito importante preservar o meio-ambiente. Isso acabou no liberou geral.

ATENÇÃO

Fique atento aos movimentos do ministro da Justiça, Sérgio Moro: apesar da pesada campanha contra ele, da troca de mensagens com os procuradores, do mau gosto de tantas mensagens (como ridicularizar o luto de Lula pela morte de seu irmão, de sua esposa, de seu sobrinho ?" que coisa feia!), apesar de estar no Governo apenas decorativamente, Moro continua sendo o mais popular dos ministros. Talvez espere ir para o Supremo (embora não seja, como quer Bolsonaro, "terrivelmente evangélico"). Mas, se não for, pode sair candidato à Presidência, com Bolsonaro ou contra Bolsonaro. Ainda falta tempo, talvez até lá ele se enfraqueça. Mas hoje é um nome de peso.
Herculano
28/08/2019 12:41
DE E.GEISEL@EDU PARA BOLSONARO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

Como diz o Médici, esfrie a cabeça, a Viúva de Caxias nos paga para aturar sacripantas e engolir sapos

Capitão,
O senhor pode detestar o Emmanuel Macron, mas seus sentimentos em relação a ele são suaves se comparados à malquerença que eu tinha pelo presidente americano Jimmy Carter. Ele assumiu em 1977 e eu sabia que teríamos encrenca.

No telegrama de felicitações que o Itamaraty redigiu para sua posse, puseram que ele assumiria um "honroso encargo". Mandei cortar o "honroso".

Quando ele se meteu nos nossos assuntos com um relatório sobre a situação dos direitos humanos no Brasil, denunciei o acordo militar que tínhamos com os Estados Unidos. Os diplomatas americanos paparicavam políticos oposicionistas e ele chegou ao ponto de dar asilo ao Leonel Brizola, que havia sido expulso do Uruguai.

O que me envenenou foi o Carter mandar a mulher dele ao Brasil para uma espécie de viagem de inspeção. A dona Rosalynn tinha um caderno de notas e sentava-se comigo fazendo perguntas.

Num jantar do Alvorada ela foi impertinente e a conversa ia azedando, a ponto da mulher do embaixador ter feito um sinal para que as duas fossem ao banheiro. Que direito ele tinha de mandá-la tratar comigo? Ela não havia sido eleita coisa alguma.

Eu nunca disse uma palavra sobre Jimmy Carter, nem deixei que meus ministros falassem mal dele em público. Se nós não fazemos isso, os bajuladores radicalizam as posições para nos agradar.

O senhor deve saber que alguns ministros gostam de papaguear o que ouvem dos presidentes, mesmo quando dizemos bobagens. Papagueiam, são criticados e acreditam que ganham prestígio conosco. Às vezes ganham, mas bobagens continuam sendo bobagens. Eu, por exemplo, proibi um programa de televisão com um vídeo do balé Bolshoi. Os papagaios justificavam a decisão com argumentos malucos.

Quando Carter visitou o Brasil oficialmente, recebi-o com toda cordialidade. Fizemos um programa austero, mas ele acabou armando um encontro com o cardeal Paulo Evaristo Arns, que eu considerava um sacripanta. Imagine que ele gostaria de vê-lo eleito papa.

A Viúva de Caxias nos paga salários para aturar situações horríveis. Lidar com o Carter foi uma delas, andar de carruagem em Londres com uma cartola apertando-me a cabeça foi outra.

Sei que o Carter me achou um velho militar, franco, frio e direto. Mesmo assim, disse que gostou de mim. Pois eu nunca gostei dele.

Anos depois, quando ambos havíamos deixado os governos, ele visitou o Brasil e manifestou o desejo de me ver. Não aceitei o encontro. Ele achou que poderia falar comigo por telefone e ligou para Teresópolis. Não o atendi. Pode-se achar que fui grosseiro, mas eu não estava mais na folha de pagamento da Viúva e podia fazer o que achasse melhor.

Outro dia almocei com dois barões. O Rio Branco me disse que não se defende soberania com bate-boca. Ele expandiu as nossas fronteiras, inclusive na Amazônia, sem discussões públicas. Estava também o barão de Penedo, que enfrentou os ingleses ao tempo em que eles queriam acabar com o nosso tráfico de escravos. Penedo não batia boca com os abolicionistas.

Repito-lhe o conselho que o presidente Médici deu aos oficiais que queriam me depor quando tirei o general Sylvio Frota do Ministério do Exército: "Põe água na cabeça. Põe água para esfriar a cabeça".

Cordialmente,

Ernesto Geisel?

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