Autoconfiança, enfrentamento à burocracia e politicalha rasteira retiram do cargo, diretora de colégio estadual eleita pela comunidade - Jornal Cruzeiro do Vale

Autoconfiança, enfrentamento à burocracia e politicalha rasteira retiram do cargo, diretora de colégio estadual eleita pela comunidade

06/05/2019

Meus leitores e leitoras me cobraram sobre à minha ausência neste assunto tão polêmico, o da diretora do Colégio Frei Godofredo, Viviana Maria Schmit dos Santos, irmã do ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt. Então, primeiramente, devo explicações; não justificativas.

texto atualizado às 5.44 de 06.05.2019

Vinha acompanhando o caso por várias fontes. Eis que quando estou pronto para comentá-lo, e não noticiá-lo, e antes de todos, chega-me a informação de que o caso, tardiamente, na minha opinião, foi parar nas mãos do advogado Amilton de Souza Filho. E Amilton é meu advogado para algumas causas em Gaspar.

E a partir daí se estabeleceu um conflito ético e que me fez recuar, pois mesmo não recebendo informações dele, ficava impedido de consulta-lo sobre o acaso, e se publicasse algo, mesmo não falando com doutor Amilton, poderia gerar desconfiança da sua cliente com ele no relacionamento dele para comigo.

Agora, que o fato se tornou público, antes pelas redes sociais e neste final de semana pela mídia tradicional, a qual registrou os movimentos públicos de pais e alunos a favor da volta Viviana ao cargo de diretora do Frei Godofredo, eleita com 86% pela comunidade escolar daquele educandário, sinto-me confortável para opinar sobre o assunto.

Viviana é competente naquilo que faz? É! É agregadora? É! É uma liderança? É! É uma agente de solução? É! Tem ideias e entendimentos próprios? Possui! Pois é. Tudo isso, pontos relevantes e positivos da sua personalidade, habilidades e domínio profissional, podem ter trabalhado também contra ela neste caso.

Viviana estava tão autoconfiante nas decisões que tomava, pedia ou orientava, fundamentada nos 24 anos de experiência nesta área, dez como diretora do Frei Godofredo, sem nenhuma observação dos seus superiores ou na sua ficha funcional contra si, que não percebeu que estava sendo engolida pela própria trama dos que afundam o serviço público ou precisam dele para se servir no ambiente político e de poder.

Viviana errou? Os julgamentos e decisões administrativas mostram até aqui que sim. Tanto que Viviana, autoconfiante, desprezou antecipadamente que tudo pudesse chegar ao ponto que chegou. Só agora resolveu questioná-las na Justiça.

Entretanto, antes, há uma armadilha dos governantes que levaram a diretora Viviana ao erro: o estado que não funciona em favor do cidadão e da comunidade, mas cobra e avalia os resultados dos seus agentes que infligem às regras para corrigir as falhas desse mesmo estado. E a busca da suposta correção, com punição, é combinada, perigosamente, contra a cidadania e com vício: a contaminação da política partidária na educação, que a torna um poleiro para candidatos sem votos. É o caso de Gaspar!

O GOVERNO NÃO TEM DINHEIRO. AS APPs SUPREM PARCIALMENTE AS OBRIGAÇÕES. E QUANDO HÁ DISPUTA NA APP, A FILANTROPIA VIRA RIXA. E A SOLUÇÃO SE TORNA UM PROBLEMA DIANTE LEI PARA QUEM A QUER

A notícia todos sabem e a resumo num parágrafo: a APP do Frei Godofredo locou o espaço para marketing de empresas de crédito; a APP fez pastelada na escola e isso não é permitido; a APP pagou professores temporários para cobrir ausência de titulares que a burocracia do estado não os repôs. Viviana não é a presidente da APP, mas mera conselheira. Entretanto, quem a denunciou, numa guerra de poder dentro da APP, disse que ela induziu o presidente da entidade a fazer tudo isso, ou então, permitiu que o espaço da Escola que ela administra fosse usado “indevidamente”.

Primeiro a APP não é um ente escolar. Segundo: Viviana não é quem define o que a APP deve fazer. Terceiro, então Viviana não pode ser punida, como se a APP fosse do governo do Estado. Não é bem assim! Ela pode ser punida, por ter consentido que a APP infringisse as regras estaduais.

E por que a APP infringiu essas regras usando o espaço público? Porque o estado foi criminosamente omisso e descumpriu a sua obrigação principal como provedor dos recursos para que o Colégio Frei Godofredo pudesse funcionar, com qualidade mínima para professores e alunos. Simples assim!

Estão transferindo a autoria primária do crime. Quem deveria estar sendo punido neste caso? A Gerência Regional de Educação, a secretarias de Regional de Desenvolvimento – um cabideiro em fase de extinção -, a própria secretaria Estadual de Educação e até mesmo o governador do Estado. Também simples assim!

Ora, se não tem dinheiro e não há soluções, emergencialmente, e ao alcance deles, os pais foram à luta pelo melhor ensino dos seus filhos no Frei Godofredo. E lá foi a APP locar espaços para ter dinheiro em caixa; fez pastelada para ter dinheiro em caixa; e quando faltou professor, pegou o dinheiro do caixa, contratou professor temporariamente para substituir os ausentes e que não o estado não repôs no tempo que devia repor. Tudo para dar normalidade aos conteúdos ministrados. Outra vez, simples assim!

Este foi o crime da APP. Como o estado não pode punir a APP, por não ser um ente estadual, está punindo Viviana, diretora do Colégio, que permitiu a APP infringir algumas regras para que os estudantes do seu colégio não fossem punidos pela burocracia e à falta de dinheiro do governo do estado. Está explicado o crime? Mas, quem é mesmo o criminoso nessa história? Valha-me Deus! E depois sou eu quem exagero!

Em outubro a denúncia – fruto de uma rixa na disputa da APP – foi parar na Gerencia Regional de Educação. Ela gerou um processo administrativo. Viviana nem deu muita bola para o assunto. Autoconfiança de que seria compreendida naquilo que parece ser óbvio e necessário. Óbvio e necessário, mas não no ambiente político, contaminado e cheio de interesses.

Com a posse do governador Carlos Moisés da Silva, PSL, o caso ganhou proporções. Saiu da avaliação regional e foi parar na secretaria de Educação, em Florianópolis. O secretário Natalino Uggioni, foi curto e grosso: aplicou há poucos dias a pena de 30 dias de suspensão, e depois dessa pena, avisou que haverá outra: vai exonerar Viviana do cargo de direção para o qual foi eleita em 2016 até este 2019 e que nem chegou ao fim do primeiro semestre deste ano. Ela retornará à origem dela: a sala de aula.

LIÇÕES E VERGONHOSOS EXEMPLOS FORA DA SALA DE AULA

O movimento de pais e alunos que se faz para a volta da educadora Viviana à direção, tem um significado interessante e que não deve ser desprezado ou escondido: o de mostrar às mazelas e à politicalha que envolve a educação no âmbito estadual. Também mostra que alguma coisa precisa ser mais clara e feita em favor dos que tomam iniciativas nas APPs para salvar seus filhos da falta de professores, que buscam condições mínimas de material didático, de apoio e recursos pedagógicos, para um estado ausente na obrigação constitucional que possui com a comunidade docente e discente.

E do lado político partidário? Um imbróglio daqueles para quem se diz o novo na política: o PSL.

Vejam só. Os Schmitt carregam no seu DNA a política. E Viviana não era diferente. Estava no DEM e até marchou com outra professora linha dura, Andreia Symone Zimmermann Nagel, PSDB, na derrota dela à prefeitura em 2016. Saiu do DEM para ir com o PSL.

Estava ativa no novo partido. Estava no PSL Mulher, convidada que foi pelo presidente Marciano Silva e o ex-tucano, Sérgio Luiz Batista de Almeida. E por causa disso, tinha até proximidade com a vice-governadora, Daniela Reinehr, PSL. Mas, não usou essa recente aproximação para “resolver” o seu caso do trabalho, até porque não passava pela cabeça da Viviana, conforme alega aos que a cercam, que o caso pudesse tomar o desfecho que tomou.

Enquanto isso, o PSL de Viviana tramou à ocupação do Frei Godofredo, sem qualquer pudor, às costas de Viviana e da comunidade escolar, com gente de fora. Trouxe para cá e já assumiu na quinta-feira a direção do Frei Godofredo o professor indaialense Clovis Maciel Krüger, como se aqui não tivesse a solução profissional, talvez não dentro do aparelhamento pretendido pelo PSL.

Clóvis foi simplesmente candidato derrotado a deputado Federal pelo PSL e conseguiu 9.409 votos. Então, mesmo não se descartando a sua provável competência profissional, ele como neo militante do partido teve a preferência para a vaga. É isto o novo? Hum!

O que se discute é se esse assunto foi referendado pelo PSL de Gaspar. Se foi, é uma sinalização bem forte da interferência externa na vida de Gaspar e do PSL daqui. Se não passou, fica PSL daqui desacreditado perante a comunidade onde irá pedir votos no ano que vem, exatamente quando está arrebanhando filiados para ser fortalecer a isso. Ai, ai, ai.

A EDUCAÇÃO COMO UM TODO ESTÁ FRATURADA PELOS POLÍTICOS. PERDEM AS CRIANÇAS E JUVENTUDE

Até o momento, o PSL está num obsequioso silêncio sobre o caso. E mesmo que venha a público dar explicações, todas elas serão tardias e apenas vão tentar esconder o que está claro para todos.

Como se vê, a fratura exposta é da educação como um todo e que não é de hoje, mas também é do novo governo estadual que ainda tateia e do próprio PSL que é poder e tenta aparelhar os espaços, incluindo a Educação, sem se difrenciar na solução.

E o que acontecerá à Educação? Não sei. Mas, diante da punição que está sendo aplicada a Viviana, continuarão faltando verbas para o básico, vão se socorrer nas APPs e usá-las como instrumentos de punição onde as regras não estão bem claras.

Por outro lado, as APPs que eram uma válvula de escape para a burocracia, a irresponsabilidade governamental criminosa, terão que colocar as barbas de molho e assistir à decadência do ensino. E o que se diz o novo, que mudaria essa caótica situação? Sinaliza que está tão velho quando o oposto como o PT ou PSOL e tão corroído como o PSD e MDB que substituiu no governo do estado: até na educação, a política partidária para empregar os seus é que dá as regras.

E o que acontecerá depois desse caso do Frei Godofredo e deste artigo? Gente espumando – como sempre - e versões de todos os tipos para se livrar da culpa e transferi-las para outros. Dificilmente o governo de Carlos Moisés da Silva admitirá que vem falhando com as obrigações nas escolas estaduais – onde até bem pouco tempo, faltava até papel higiênico.

Aliás, a APP do Colégio Honório Miranda, 85 anos de história, está fazendo um churrasco para ajudar na penúria dele. Também vai ser punido por buscar soluções comunitárias para suprir à criminosa ausência do estado nas obrigações para com ele? Acorda, Gaspar!

Vereador quer saber como se acolhe e se trata os moradores de rua de Gaspar

 

O vereador Wilson Luiz Lenfers, PSD, morador do Poço Grande e quase às margens da Rodovia Jorge Lacerda, quer saber do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, como em Gaspar se acolhe e que tratamento recebem do município os moradores de rua e andarilhos.

É que lá no Poço Grande, os pontos de ônibus que ainda existem – alguns foram removidos pela morosa obra de revitalização da Rodovia que está sendo feita pelo governo do Estado, ou estão sem conservação pela prefeitura – viraram “albergues” e até “moradias” para os moradores de rua, ou andarilhos que passam, ou ficam em nossa cidade. É cada vez mais frequente vê-los vagando pelas nossas ruas e rodovias.

Ora, se nem os menores vulneráveis são prioridades no atual governo, que por medida de economia, vejam só, quase ele permitia o fechamento da Casa Lar, fato que não aconteceu devido à denúncia feita aqui e à pressão de setores da sociedade, vai Kleber se preocupar com moradores de rua ou andarilhos?

Esta sinalização esteve clara quando Kleber nomeou seu ex-assessor parlamentar, irmão evangélico e presidente do PSC que está na coligação de governo, Ernesto Hostin. Ele não tinha qualquer conhecimento da área. Hostin foi o primeiro secretário de Assistência Social de Kleber. Cobrado, Hostin alegou estar doente. Então saiu da titularidade da secretaria, todavia permaneceu em cargos comissionados na prefeitura. Em resumo, apenas fugiu da linha de tiro de desgastes e cobranças públicas.

Gaspar é uma cidade dormitório. E por ser mais desenvolvida que Ilhota e por estar entre Blumenau, Brusque, Itajaí e os famosos balneários litorâneos, é passagem ou atrai gente atrás de trabalho, oportunidades e sonhos, mas que podem não ser bem-sucedidos nesta busca. E aí vagam, até por problemas emocionais da desesperança. E é nessa passagem que aparecem os desalentados e os errantes. Alguns deles até, admite-se, fazem do caminhar um estilo modo de vida e não estariam interessados em proteção, albergues...

A preocupação de um governo com essa gente não é apenas um gesto de solidariedade e de humanidade, mas devia, antes, ser também de segurança com a cidade e os cidadãos. Como são políticos...

Se as entidades empresariais buscam transformar a Companhia de Polícia Militar em um Batalhão para se ter mais efetivo e supostamente, “mais segurança”, outras ações preventivas e que estão plenamente ao alcance da prefeitura, e são raízes, vêm antes da cara repressão – que é obrigação estadual.

O olhar social, todavia, não pode ser excluído por desleixo, pela falta de prioridade e planejamento, por falta de políticas públicas de governo, por economia financeira e mesmo diante de clara omissão, num ambiente de empreguismo político na área de assistência social municipal. Elas são fundamentais no propósito de mitigar os problemas como os levantados pelo vereador Wilson.

O QUE É FEITO EFETIVAMENTE?

Afinal, é preciso saber não só quem está dormindo nas ruas de Gaspar, mas principalmente à razão disso, para ajudá-los, integrá-los e até monitorá-los se ficar constatado que podem ou são fontes de perigo – no presente e futuro - à integridade dos cidadãos gasparenses. Antes da polícia vem a ação social, algo técnico e que não é barato e simples, mas muito mais caro quando feito sem planos claros para resultados mínimos à sociedade, realizados por curiosos, políticos e serve apenas de cabide de empregos aos amigos e correligionários do poder de plantão.

O que o vereador Wilson quer saber do prefeito? O mínimo! Exemplo: “existe algum cadastro das pessoas em situação de rua? Se resposta positiva, citar a quantidade de pessoas que se encontram nessa situação. Há no município algum local disponível para essas pessoas ficarem e passarem as noites? Caso exista, informar o local e o respectivo endereço. Existe algum projeto sendo elaborado, visando a construção de uma casa de passagem? Caso exista, qual a previsão para o início das obras? Encaminhar cópia do projeto. Caso não exista, há possibilidade de ser elaborado tal projeto?

Não basta apenas espantá-los – moradores de rua e andarilhos - da porta da prefeitura na Praça Getúlio Vargas, como fez Kleber. O problema continua em outras portas e mais gravemente.

Qual é o maior problema para o político com os menores vulneráveis e os maiores desafortunados? Ambos não possuem votos para lhes dar.

Entretanto, obrigados ou tratado como párias da sociedade, eles comprometem o bem-estar da comunidade, geram custos, podem colocar em risco à integridade do cidadão. Há prejuízos evidentes diante da omissão governamental na ação efetiva sobre a raiz do problema.

Quando o complexo assunto social se torna policial, normalmente, é porque ele fugiu do controle, tornou-se irreversível e com um custo multiplicado para a sociedade pagá-lo com seus pesados impostos. Disso, o governo Kleber parecer não entender. E não é de hoje. Acorda, Gaspar!

Falta a sansão do prefeito.

Agora, Gaspar possui um Projeto de Lei aprovado na Câmara – e de origem legislativa – que obrigada a rede municipal de ensino a implantar o plano de evacuação de risco à vida das pessoas.

E precisava ser tão tardiamente diante de tantas evidências?

Da esquerda para a direita. A preocupação do Cicero é antiga e se tornou um projeto de lei aprovado na Câmara. Vem desde quando na boate Kiss, 242 pessoas sem informações para fugir do fogo, morreram. A ex-vereadora Andreia tentou a solução. Foi combatida. Agora, falta o prefeito Kleber tornar esse PL, lei.

A notícia é esta e um tanto velha: foi aprovado por unanimidade, na terça-feira, na Câmara de Vereadores, o Projeto de Lei 08/2019 de autoria do vereador Cícero Giovane Amaro, PSD, que dispõe sobre o plano de evacuação em situações de risco nos estabelecimentos da rede municipal de ensino de Gaspar.

A repercussão na imprensa, nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens foi mínima. Estranho em algo que lida com a vida de milhares das nossas crianças. Na prefeitura houve quem coçasse a cabeça diante de tal obrigação mínima que pode virar lei. E se isso acontecer, ela valerá só para o ano que vem.

Sintomático a reação dos políticos. Não é a primeira vez que isso acontece. Essa preocupação com a vida das pessoas em ambientes públicos vem desde 2013. Lá a ex-vereadora Andreia Symone Zimmermann Nagel, PSDB, diante da tragédia daquele 27 de janeiro, 242 jovens, basicamente, morreram e outras 680 pessoas se feriram no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Andreia fez discursos contundentes e propôs ações práticas para obrigar o poder público a sinalizar, ter equipamentos preventivos e a dar o mínimo de segurança nas rotas de fugas nos prédios públicos daqui.

Uma barulheira sem tamanho do então governo de Pedro Celso Zuchi, PT. Alegou demagogia, custos e tudo porque não foi ele o proponente da ideia mínima, óbvia e necessária, ou seja, um remendo na sua própria casa. Pareceu que preferia o risco. Agora, em contradição com as manobras da legislatura passada quando eram governistas, mas acertadamente, os vereadores do PT apoiaram a iniciativa de Cícero.

O vereador Cícero, funcionário público municipal (Samae) casualmente – como era Andreia - é adversário do poder de plantão, que também não gosta da ideia dos outros, mesmo elas sendo boas. Esta iniciativa mínima, óbvia e necessária medida precisava ser – não que ela não possa – do Legislativo, exatamente num governo que se diz eficiente, que avança, contudo, não consegue colocar as pessoas em primeiro lugar?

Espera-se que o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e os seus – que já aparelharam a Defesa Civil ao jeito político de governar e não o técnico que deve ser e que prevalecia até a posse de Evandro Mello do Amaral – não embaralhe as obrigações e encontre pelo no ovo, para dificultar a sanção por ele desse PL.

O que basicamente o Projeto de Lei de autoria do vereador Cícero dispõe na ação conjunta com a secretaria de Educação, Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, revisada a cada quatro anos? De um plano para evacuação onde minimamente estão as atribuições e condutas a cargo dos professores, alunos e funcionários da unidade de ensino diante dos avisos e alertas de emergência; planta baixa do estabelecimento de ensino, com detalhamento de, no mínimo, portas, janelas, localização dos extintores de incêndio, rotas de fuga e saídas de emergência; procedimentos específicos para garantir a segurança de crianças e pessoas com deficiências; previsão de alarmes sonoros em toda área de circulação e acomodação de pessoas, como ginásios, auditórios e lanchonetes; bem como o responsável técnico pelo conteúdo do Plano de Evacuação.

E se quer mais para torná-lo vivo, ativo e atualizado para os que frequentam o ambiente de cada prédio escolar: deverá ser ele do conhecimento de todos os que frequentam a instituição de ensino, por meio de divulgação em aulas e palestras, bem como pela exposição de uma cópia em local visível e de fácil acesso. Mais do que algo teórico e para inglês ver, como sempre acontece nos ambientes públicos e tocados pela irresponsabilidade: é obrigatório ser executado um treinamento simulado para exercitar à prática sistemática das técnicas e procedimentos adotados ao menos uma vez por semestre.

Então. Tudo muito simples e óbvio. Por que isso não existia? Num município onde o prefeito faz propaganda das suas obras sem Equipamentos de Proteção Individual, testemunha operários trabalhando em situação degradante e em risco, não notifica as empresas que contrata e não atua para reverter esse quadro, preferindo reclamar da imprensa livre que comenta isso e publica as fotos desses atos inseguros, tudo é permitido para deixar expostos os cidadãos ao perigo. Espera-se que desta vez ao menos livre as crianças dessa incerteza. Acorda, Gaspar!

O Stammtisch de Gaspar ocorreu com outras promoções e se reafirmou como um dos três eventos comunitários de maior atração popular daqui

O tempo bom colaborou mais uma vez e sempre arriscado para esta época do ano. Sobraram calor, confrarias animadas, comidas, bebidas, músicas, alegria e comemorações às amizades.

A cidade – e especialmente à juventude que renova o evento a cada ano - se encontrou mais uma vez na Arena Multiuso, na Margem Esquerda. Houve, em alguns momentos, até fila para se entrar lá entre o meio-dia e as 13h. E o Stammtisch de Gaspar organizado pelo jornal e o portal Cruzeiro do Vale demonstrou força comunitária, organização e superação.

Foi um sucesso, segundo os participantes. E para os organizadores, Gilberto e Indianara Schmitt, o maior até aqui nas 13 edições. Quem o perdeu, agora só no ano que vem.

O Stammtisch de Gaspar está entre os três eventos que mais atraem comunitários gasparenses. Não necessariamente nesta ordem, são eles: a festa de São Pedro – apesar de ser católica, ela ultrapassa o senso religioso – e a ExpoGaspar, por mostrar a pujança empreendedora, quando ela acontece. No tempo do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, ela deixou de ser realizada. O Stammtisch só é superado por eventos de cunho regional como o rodeio crioulo organizado pelo CTG Coração do Vale e que neste ano também ocupará a Arena Multiuso, e pelo Festival Brasileiro de Aeromodelismo estruturado pelo Clube Asas do Vale há 34 anos, na sua sede na Rodovia Jorge Lacerda, no Poço Grande. O evento começou no antigo Paraíso dos Pôneis, no Bela Vista.

Um parêntesis. Neste ano o Festival concorreu diretamente na data com o Stammtisch e nem por isso, ele deixou de ser divulgado intensamente pelo jornal e o portal Cruzeiro do Vale, os mais antigos e líderes no seu segmento. Ao contrário. A concorrência mostrou que ambos têm público cativos, diferentes, e que os dois podem ser realizados simultaneamente nos seus focos de interesses. Outros eventos comunitários se somaram na preparação no sábado ou na realização no domingo, e que envolveram pessoas que estavam no Stammtisch. A outra concorrência foi o próprio tempo de pagamento e compras do mês e do Dia das Mães. Ufa!

Estive lá por três horas ouvindo os meus leitores e leitoras. Reconfortante ouvi-los e perceber a grande repercussão das minhas ideias e das que reproduzo aqui.

GASPAR PRECISA URGENTEMENTE DE UM LUGAR PARA OS SEUS EVENTOS DE GRANDE PORTE

De tudo o que vi, duas observações.

A primeira. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, percorreu o evento e esteve, inclusive, no espaço bem concorrido do jornal e portal Cruzeiro do Vale, que no seu no seu jornalismo e aqui, tem sido rigoroso com os erros da sua administração.

O comportamento de Kleber, registre-se, tem sido bem diferente do seu antecessor Pedro Celso Zuchi, PT, que não conseguindo frear à exposição, ou questionamentos de seus erros administrativos, preferiu nem ir ao evento – onde o PT chegou a ter um espaço dele próprio para interagir com a comunidade -, muito menos, Zuchi esteve na barraca do Cruzeiro do Vale para se relacionar com os leitores e leitoras do jornal e do portal. Ausentes foi o secretário de Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Renda, Celso de Oliveira, do MDB, e o seu diretor de Turismo, o sumido Norberto Mette, logo ele, que se diz especialista em Stammtisch. Sintomático.

A segunda observação: é o lamentável estado de conservação da Arena Multiuso criada pelo ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, num lance de ousadia, mas ao mesmo tempo, de vingança e que o atual prefeito já a descartou de ir adiante no projeto, devido à tanta confusão e o preço que possivelmente a Justiça vá arbitrar para Gaspar – na verdade, os gasparenses - se ele insistir nesse negócio malconduzido desde do início.

Eu sempre defendi a Arena Multiuso, entretanto, não à forma pela qual se deu à quase expropriação do imóvel do seu dono. E o tempo provou eu estar certo.

Kleber já mapeou um “parque municipal” para entre outras, abrigar eventos semelhantes ao Stammtisch, ExpoGaspar e até o Rodeio Crioulo, no bairro Sete de Setembro, entre a Avenida Francisco Mastella e a Frei Godofredo – a rodovia Gaspar-Brusque, na integração do então futuro Anel de Contorno.

Fará isso, mais uma vez, para ter uma marca de governo e não de cidade. Fará isso, para não dar corda para Zuchi, o mal criador da Arena Multiuso. E quem perderá? A cidade, os cidadãos.

ESTÁ MAIS DO QUE NA HORA DE DEFINIR O LOCAL DE GRANDES EVENTOS DE GASPAR

Por enquanto, temos um espaço público, onde muitos investimentos com o dinheiro dos gasparenses foram feitos lá e pode dar até improbidade administrativa a quem os fez. A localização da Arena Multiuso é exemplarmente estratégica – perto do Centro de Gaspar e com saída rápida para a BR 470 para quem quer ir a Blumenau ou ao litoral. É ampla e virou um ponto de referência para os gasparenses.

Este local, ao que parece condenado na sua finalidade inicial, está comendo dinheiro para manutenção e ao mesmo tempo está abandonado, ou seja, gera prejuízos aos gasparenses. Ele concorre no jogo político e administrativo, com um outro que está no papel, e que vai demandar muita grana, e um bom tempo que não se sabe quando – se for avaliado que as obras por aqui demoram para começar e quando começam, se alongam muito além das previsões-, ele sairá do sonho para a realidade.

Temos dois locais, ao mesmo tempo, não temos nenhum.

Hoje, para eventos que marcam a cidade como o Stammtisch, o Rodeio GTG Coração do Vale e até a ExpoGaspar, precisamos da boa vontade do proprietário de fato da Arena Multiuso, o ex-empresário e ex-dono da exemplar Fazenda Juçara, Gerhard Horst Fritzsch. Precisamos do bom humor do Ministério Público, que está de olho em tudo isso. E ao fim, do gesto político de boa vontade do poder de plantão que a qualquer hora pode não dar infraestrutura mínima para esses eventos, por ser o local público, não tão público assim, pressionado pela divergência que se estabeleceu na Justiça.

Estamos fragilizados. E tudo pode ser um problema ou pior do que isso: desculpas esfarrapadas para negar apoio ou transformar este jogo em moedas de trocas de favores políticos.

Na pendenga judicial, pela cidade, Fritzch tem autorizado o uso das suas terras que se discute na jurisdição, para os eventos. Mas até quando essa insegurança dependente da boa vontade do proprietário de fato, do MP e do próprio prefeito de plantão? Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Os católicos do Poço Grande, em Gaspar, estão confiantes que poderá ser de lá, o próximo presidente da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros-, uma entidade sempre progressista, mas desta vez, nos debates, há possibilidade de ares de renovação com um viés mais conservador. É uma esperança de alto risco.

O franciscano Jaime Spengler, 58 anos, é arcebispo de Porto Alegre e ordenado bispo aqui na Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo, no dia cinco de fevereiro de 2011, à época do Papa Bento XVI, conservador, hoje Papa Emérito.

É em Dom Jaime que os católicos daqui estão de olho. Oficialmente, Dom Jaime não é candidato. Seu nome surge como alternativa e conciliação entre as alas progressistas e conservadora da CNBB. Todavia, pouco se sabe externamente de como de conduzem esses processos durante a longa reunião da CNBB, a qual traça as diretrizes evangélicas da Igreja Católica no Brasil para até 2023.

Dos cinco bispos católicos da Igreja Apostólica Romana nascidos em Gaspar, dois são do Poço Grande. O outro, é o também franciscano Evaristo Pascoal Spengler, 60 anos, primo em segundo grau de Dom Jaime. Dom Evaristo foi ordenado bispo também aqui em Gaspar no dia seis de agosto de 2016 e foi nomeado pelo Papa Francisco para atuar da Prelazia do Marajó, no Pará. Ambos rezaram a sua primeira missa como bispos na Igreja Santa Clara, no enclave dos seus familiares no Poço Grande.

A CNBB está reunida desde o dia Primeiro de Maio, no Santuário de Aparecida, no estado de São Paulo, para as deliberações da 57ª da Assembleia Geral. Dos participantes, 309 bispos da ativa têm direito a voto. Os 171 eméritos, não. A posse dos eleitos acontecerá no término da Assembleia, na sexta-feira dia 10, pela manhã.

A implantação da UTI no Hospital de Gaspar voltou a ser bandeira do médico cardiologista, servidor público municipal e vereador, Silvio Cleffi, PSC. Com uma diferença: agora Silvio já admite que uma UTI dá prejuízos, fato que sempre escrevi aqui. Todavia, ele assegura, ouvindo outros médicos, que isso é plenamente “compensado” em outros serviços médicos decorrentes da existência de uma UTI no Hospital.

Esta cantilena é antiga. Já ouvi e também estudei, quando estava na comissão que reconstruiu o Hospital de Gaspar, tocada pela Acig do ex-presidente Samir Buhatem, com apoio da Bunge Alimentos, quando o presidente era o Sérgio Roberto Waldrich. Por isso, posso afirmar aos leitores e leitoras, que falta aos defensores dessa ideia de “compensação” provar como se faz essa mágica.

O certo é que diante dessa perspectiva teórica de “compensação” e da real necessidade de uma UTI para Gaspar, cria-se uma despesa que se torna irreversível, complicando ainda mais a vida financeira de um Hospital, vejam so, sem dono e mal gerido por terceiros, todos descomprometidos com a propriedade do Hospital. Pior, perigosamente estão se estabelecendo em interesses político-eleitorais.

Sílvio mal compara o Hospital de Gaspar com o Hospital Santa Isabel, de Blumenau, que admite ser a UTI um centro que gera déficit em si. Contudo, o Hospital Santa Isabel tem dono conhecido, especializado em gestão de hospitais, a Associação Congregação de Santa Catarina, há mais de 120 anos no Brasil - a origem é Congregação das Irmãs de Santa Catarina, V.M., surgida em 1571, em Braunsberg, Alemanha (hoje, Braniewo, Polônia) - que tudo bem controla.

E o crescimento do Hospital Santa Isabel, de Blumenau, deu-se de modo contínuo e de forma sustentável, sob rédeas curtas do seu dono primário, as Irmãs da Divina Providência, para se tornar a referência que ele é hoje em dia não só aqui no estado catarinense. Além disso, há um grupo de voluntários que age fortemente na comunidade para suprir as eventuais deficiências financeiras, principalmente para a sua manutenção física e modernização de equipamentos. Incomparável, então com o que acontece aqui, onde o Hospital de Gaspar, está sob intervenção municipal desde o governo petista de Pedro Celso Zuchi, depois que o prédio foi modernizado pela ação liderada da Acig, sem a participação do poder público.

A UTI no Hospital de Gaspar é necessária? É! Eu também a defendo e não é de hoje. Entretanto, antes, é preciso saber quem é juridicamente o dono do Hospital, um Hospital possui um rombo milionário – que alguns dizem “impagável -, mas quer ter uma outra atividade notoriamente deficitária, até para hospitais bem estruturados e gerenciados? O "dono" do Hospital de Gaspar quer isso? Ele vai assumir mais essa responsabilidade? Ou seja, antes há um grave problema a ser resolvido: quem é o dono do Hospital de Gaspar? 

A idéia do médico e político Silvio Cleffi é necessária para Gaspar e o Hospital, mas como num prédio, ele está querendo levantar as paredes sem a legalização da obra e sem as fundações do prédio.

Câmara de Gaspar vai ter novo veículo as vossas senhorias. A autorização de compra foi dada pela mesa diretora, mas no site do Legislativo, a área de licitação não possui nada – seja do passado e do presente - para os cidadãos gasparenses acompanharem o certame.

A procuradoria da Câmara já tem a resposta pronta para o questionamento do Ministério Público, no caso de suposto acúmulo de cargos do assessor parlamentar Nilton Osmar Isensee Júnior, do líder do governo na Câmara, o vereador Francisco Solano Anhaia, MDB.

Vai fundamentar que não há incompatibilidade ou ilegalidade alguma na denúncia, até que a empresa do qual Nilton é sócio-gerente, faça algum negócio com a Câmara. Será? Isso poderá ir longe. Acorda, Gaspar!

 

Comentários

Miguel José Teixeira
07/05/2019 17:10
Senhores,

Prá não dizer que não falei das supremas lagostas:

"Assassinaram o camarão
Assim começou a tragédia no fundo do mar
O caranguejo levou preso o tubarão
Siri sequestrou a sardinha
Tentando fazer confessar

O guaiamu que não se apavora
Disse: Eu que vou investigar
Vou dar um pau nas piranhas lá fora
Vocês vão ver, elas vão ter que entregar
Vou dar um pau nas piranhas lá fora
Vocês vão ver, elas vão ter que entregar

Logo ao saber da notícia a tainha tratou de se mandar
Até o peixe espada também foi se entocar
Malandro foi o peixe galo
Bateu asas e voou

Até hoje eu não sei como a briga terminou
Malandro foi o peixe galo
Bateu asas e voou
Até hoje eu não sei como a briga terminou"

Tragédia No Fundo do Mar - Os Originais do Samba
Renato
07/05/2019 17:06
Já tem data a abertura dos envelopes da compra do carro novo do presidente Ciro, será no dia 22/05.
A bagatela de 100 mil reais para o novo carro.
Deste jeito não vai sobrar um real para o tal fundo do dr. Silvio.
A gastança do atual presidente é grande.
Herculano
07/05/2019 13:06
De Augusto Nunes, de Veja, no twitter:


Os min. do Supremo, q são os funcionários públicos + bem pagos do país, têm de rasgar o cardápio q ameaça transformar a instituição em templo gastronômico. Se ñ conseguem viver longe de pratos refinados, q reservem mesas em restaurantes de luxo e usem o cartão de crédito pessoal
Herculano
07/05/2019 13:04
UM BOM RETRATO DA MÉDIA DOS ELEITORES DE BOLSONARO ESPANTADOS COM O JOGO CONTRA, DENTRO DO PRóPRIO GOVERNO QUANDO O DESAFIO É O DE GERAR MAIS DE 13 MILHõES DE EMPREGOS CAPADOS PELA DESASTROSA GESTÃO DO PT, DE REERGUER A ECONOMIA VIA AS REFORMAS DE PAULO GUEDES E DE RECUPERAR OU EVITAR A CORRUPÇÃO DE BILHõES CONTRA OS PESADOS IMPOSTOS DOS BRASILEIROS, ALÉM DE BUSCAR SEGURANÇA, SAÚDE, OBRAS E EDUCAÇÃO...

No twitter, Henrique Olliveira, escreve:

BOLSONARO está lutando com todas as forças para fazer um bom governo.

Confio nele.

Me REVOLTA a quantidade de "aliados" jogando contra.

Todo dia é uma declaração infeliz ou desnecessária.

Deveriam aprender com MORO e PAULO GUEDES, que fazem seus trabalhos e falam pouco.
Herculano
07/05/2019 12:54
"QUEM USA A CONDIÇÃO FÍSICA PARA ATACÁ-LA VIVE NUM CÁRCERE MENTAL"

Conteúdo de O Antagonista. A senadora Mara Gabrilli (PSDB) comentou no Twitter o nojento comentário que Olavo de Carvalho fez sobre o general Villas Bôas.

"Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas [com uma doença degenerativa]. Nem o Lula seria capaz de tamanha baixeza." (Olavo de Carvalho)

"Estar em uma cadeira de rodas não é uma prisão. Ao contrário, a cadeira é o que garante o ir e vir. Sinônimo de liberdade para quem é bem resolvido consigo mesmo, como o general Villas Bôas, exemplo de grandeza, lucidez e produtividade." (Mara, que é cadeirante, tretaplégica, ou seja, com mobilidade muito limitada)

E mais:

"É lamentável que num país onde há grandes exemplos de pessoas com deficiência, ainda escutemos falas nocivas que ferem a dignidade humana. Quem usa a condição física de uma pessoa para atacá-la vive num cárcere mental, que ao contrário da cadeira de rodas, limita e desconstrói."
Herculano
07/05/2019 09:10
A CRISE NO ESTADO-MAIOR, por Carlos Azedo, no jornal Correio Braziliense, Brasília.

"Todas as crises no governo foram criadas pela própria corte de Bolsonaro, pois, desde as eleições, a oposição perdeu a capacidade de iniciativa política"

As tragédias na política costumam acontecer quando os governantes não conseguem formar um estado-maior e deixam se aprisionar numa "jaula de cristal", na qual pululam os áulicos da corte, que são aqueles que realmente têm acesso à sua personalidade. O presidente Jair Bolsonaro tem um Estado-Maior predominantemente formado por generais acostumados ao planejamento estratégico, a partir de construção de cenários, definição de objetivos e construção de alternativas, mas sua corte é formada pelos filhos e áulicos, com um guru sem papas na língua, o escritor Olavo de Carvalho, que zela pela "pureza" ideológica do governo.

Via de regra, um governante é um homem sem vida privada, na vitrine da opinião pública, que não pode aparecer perante os cidadãos como é realmente nem deixar transparecer seu estado de ânimo. Aparentemente, durante a semana, Bolsonaro não tem muito como fugir dos protocolos, da agenda oficial, da rotina imposta pelos generais que controlam o Palácio do Planalto; no fim de semana, porém, a família e os áulicos se encarregam de "libertá-lo" desse esquema de quartel. E é aí que o circo pega fogo. Na maioria das vezes, o fogaréu é provocado pelo escritor Olavo de Carvalho. Não foi diferente no último fim de semana, quando o amigo e ideólogo do governo novamente direcionou sua metralhadora verbal de baixo calão para o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, aprofundando a disputa entre os militares e o grupo político do clã Bolsonaro.

A diferença, desta vez, foi a reação do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas, que hoje ocupa uma discreta assessoria no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, mas é uma eminência parda no governo. Apesar de gravemente enfermo de uma doença degenerativa, com seu estoicismo e capacidade intelectual, Villas Boas ainda é o grande líder das Forças Armadas. Foi duríssimo com Olavo de Carvalho: "Verdadeiro Trotski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país".

A comparação com Trotski é até injusta, pois o líder comunista foi o responsável pela formação do Exército Vermelho e teve um papel na história muito mais relevante, pois rivalizou com Stálin na disputa pelo comando da antiga União Soviética, enquanto Olavo de Carvalho é escritor radicado nos Estados Unidos que ganhou fama e influência com a eleição de Bolsonaro, mas não ocupa nenhum cargo no governo. Com essa declaração nas redes sociais, porém, acentuou a principal contradição do atual governo: como Carvalho, Bolsonaro aposta na divisão ideológica do país, num momento em que a nação precisa de coesão política para enfrentar seus desafios.

Crises internasPor pura ironia, como aconteceu com Trotski, porém, Bolsonaro faz história, mas não tem consciência de que não controla as circunstâncias em que isso ocorre. Por isso, a divisão entre seus generais e os políticos que o cercam está se tornando um fosso cada vez mais profundo, ainda que o presidente da República tente minimizar o problema. No fim da tarde de ontem, mais uma vez, pôs panos quentes na crise: "Não existe grupo de militares nem grupo de olavos aqui. Tudo é um time só", disse.

A declaração serviu para acabar com os boatos de que Santos Cruz estava demissionário. O general havia se reunido com Bolsonaro no domingo e saiu do encontro sem dar entrevistas. "O que eu tenho falado é que, de acordo com a origem do problema, a melhor resposta é ficar quieto. Essa orientação que eu tenho falado", disse o presidente da República, resumindo a conversa com o ministro. Segundo afirmou, Santos Cruz segue prestigiado no cargo e saberá lidar com a situação: "Estamos em uma guerra. Eles, melhores do que vocês, estão preparados para uma guerra", disse Bolsonaro, a propósito dos ataques de Olavo de Carvalho nas redes sociais tanto a Santos Cruz quanto ao vice-presidente Hamilton Mourão, alvo constante de ataques de Olavo e do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República.

Mas que guerra é essa? Bolsonaro é um governante com metas ambiciosas de diferenciação política. O que está sendo posto à prova é sua capacidade e a de sua equipe para alcançar essas metas. Uma das maneiras de dissimular as próprias dificuldades e justificá-las é a linguagem bélica, atribuindo os fracassos aos inimigos. Todas as crises no governo foram criadas pela própria corte de Bolsonaro, pois, desde as eleições, a oposição perdeu a capacidade de iniciativa política. Um governo não pode ser melhor do que o gabinete do presidente da República.
Herculano
07/05/2019 09:08
GRANDES ALIADOS OBJETIVOS DA ESQUERDA: OLAVO, WEINTRAUB E, CLARO, BOLSONARO, por Reinaldo Azevedo, no Uol

Abraham Weintraub: ele tem tudo para ser o grande gênio do fortalecimento do movimento estudantil de esquerda. E sem ninguém com coragem para enfrentá-la e defender o indefensável! Está de parabéns! Naquele seu boletim cheio de zeros, uma nota 10

Já afirmei aqui algumas vezes que o governo Bolsonaro faz pelo renascimento moral das esquerdas o que elas não têm conseguido fazer por si mesmas, ainda um tanto atônitas e paralisadas pelos resultados das eleições de outubro.

Nesse sentido, seus aliados objetivos mais importantes hoje são Abraham Weintraub, Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo e, claro!, o trio do barulho da Família Bolsonaro: o próprio presidente e dois dos filhos: Carlos e Eduardo.

Leiam o que informa o Painel da Folha. Volto em seguida:

Cresça e apareça
O fato de as manifestações de estudantes terem ocorrido, ainda em que em pequeno porte, em diversas cidades das regiões Sudeste e Nordeste impressionou parlamentares da oposição. Isso seria, na avaliação deles, sinal de que há margem para dar amplitude aos atos.

Erva daninha
A oposição debate a crise na educação, nesta quarta (8), com as lições tiradas das jornadas de 2013 na cabeça. Naquele ano, quando os partidos entraram em campo, primeiro, foram rejeitados. Depois, perderam o controle da pauta ?"nascedouro da ruptura que desaguou na queda de Dilma Rousseff.

Registre-se
O despertar do movimento estudantil ocorre às vésperas de greve convocada pelos professores, dia 15.

Retomo: Olavo de Carvalho tem a sua importância porque é a inspiração da porra-louquice de extrema-direita que faz a cabeça de alguns. Mas o mais eficaz em criar uma rede de mobilização contra o governo é mesmo o espetacular Weintraub, aquele que, como ministro, é um excelente aluno de economia da USP...

O mais espetacular em seu anúncio de corte de verbas das universidades e outras áreas da educação ?" deixando claro, inicialmente, que se tratava de uma iniciativa que obedecia a um "viés ideológico" ?" é que conseguiu unir todas as correntes contra o governo.

Ora, nas instituições federais, sempre houve descontentamentos com a hegemonia de correntes de esquerda que comandam a representação docente e discente. Mas me digam: quem se atreveria, sendo estudante ou professor das federais, a defender a ação de Weintraub e Bolsonaro?

Vélez Rodríguez era de tal sorte incompetente que nem reação negativa conseguia gerar. Weintraub não! Ele demonstrou ser um homem de ação. Se é que me entendem.

Com Weintraub é diferente: naquele seu boletim cheio de zeros na Faculdade de Economia da USP, ele mereceria acrescentar uma disciplina em que é nota 10: tiro no pé.
Herculano
07/05/2019 08:15
PACIÊNCIA TEM LIMITE, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

Como Bolsonaro prefere ficar 'quieto', militares destacam Villas Bôas para falar grosso

Muitos perguntam o que está por trás da guerra entre "olavetes" e militares, ou melhor, de "olavetes" contra os generais do governo. Simples. Trata-se da velha disputa de poder, mas também a disputa pelo coração, a mente e a tutela do presidente Jair Bolsonaro. Quanto mais fraco, mais ele se torna refém dos dois lados.

Segundo Bolsonaro, "não existe grupo de militares nem de olavos. O time é um só". Isso não é exatamente verdade. Se a mídia tradicional não serve, basta uma busca nas postagens do tal Olavo de Carvalho, dos filhos do presidente e suas tropas nas redes sociais. Os ataques de um time e a defesa do outro são estridentes.

Os militares do Planalto e arredores se contorciam e apanhavam calados, mas tudo tem limite. O vice-presidente Hamilton Mourão reagiu e agora calou. O ministro Santos Cruz também reagiu e entrou no alvo da enxurrada de palavrões como "bosta engomada".

Ficou claro que a fila de generais agredidos não teria mais fim. Após Mourão e Santos Cruz viriam Augusto Heleno (GSI), Floriano Peixoto (Secretaria Geral), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Edson Pujol (comandante do Exército). Tiro ao alvo.

Foi por isso que o ex-comandante Eduardo Villas Bôas entrou na guerra. Ele tem força e liderança, como várias vezes já dito aqui neste espaço, e ninguém como ele para dar um basta e repor as coisas nos seus devidos lugares, já que o capitão Bolsonaro não faz nada e ainda permite (ou estimula?) o apoio dos seus filhos aos desaforos aviltantes dos olavistas aos generais.

Bolsonaro diz que "a melhor resposta é ficar quieto", mas agraciar Olavo de Carvalho com o grau máximo da Ordem de Rio Branco (condecoração do Itamaraty) não significa ficar "quieto", mas sim tomar partido. E a paciência dos disciplinados militares foi se esgotando e, com Villas Bôas, a reação mudou de patamar. Ele é o principal líder militar e tem respeito nas Forças, no meio político, na opinião pública e até em setores da esquerda. Isso é uma virtude e um trunfo, não um defeito, como quer fazer crer o tal Olavo.

Segundo o general, o "filósofo da Virgínia", como é chamado, não passa de um "Trotski da direita", apoiado no seus "vazio existencial" e na "total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de humildade".

Importante é que, na reação, Villas Bôas ratifica um alerta insistentemente feito pelos de bom senso, que não são obcecados por ideologia e querem que o País melhore e entre nos eixos: "Substituir uma ideologia pela outra não contribui (...) para soluções concretas para os problemas brasileiros".

Só falta acusarem o ex-comandante de esquerdopata... Aliás, não falta mais. O próprio Olavo já partiu para essa baixaria e quem quiser se irritar leia os comentários da turba à manifestação do general. Uma saraivada de ironias e críticas misturando ignorância com má-fé, bolsonaristas radicais com o que parece uma tropa de robôs esquerdistas. Tem de tudo, menos inteligência e bons propósitos.

Se Bolsonaro falou efetivamente algo relevante ontem, após os palavrões de Olavo de Carvalho, de uma conversa de mais de uma hora com Santos Cruz e da reação de Villas Bôas foi que... "há coisas muito mais importantes para discutir no Brasil". Ninguém discorda.

A lista é longa: a previsão de crescimento cai pela décima semana consecutiva, o desemprego cresce, Bolsa e dólar voláteis, violência insana, o MEC investe contra universidades, incerteza sobre a reforma da Previdência... Querem mais?

Bolsonaro, porém, está tão "quieto" diante das infâmias do guru do seu governo como diante dos grandes problemas nacionais. "Olavetes" atacam os generais porque os dois lados disputam quem vai tomar conta da bagunça.
Herculano
07/05/2019 08:13
GOVERNO ACERTA COM MEDIDAS PARA ELIMINAR A BUROCRACIA, editorial do jornal Valor Econômico

Enquanto a reforma da previdência passa por sua via crucis no Congresso, a equipe econômica começa a colocar em prática a sua agenda microeconômica - reduzir a parafernália de leis, decretos, regulamentações e papelório, que deu poderes indevidos à burocracia e transformou a vida de quem dela depende em um inferno. Essa agenda é essencial.

No arsenal de propostas, muitas delas idealizadas já na época de formação da equipe de transição de governo, está a Medida Provisória (MP) 881, que cria a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, divulgada na semana passada, não por acaso no Dia do Trabalho. A expectativa do governo é que ela ajude a destravar negócios e a criar emprego. A MP foi apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro como iniciativa para restringir "o papel do Estado no controle e na fiscalização da atividade econômica". Segundo o presidente, a MP tem o compromisso de incentivar o desenvolvimento da atividade econômica de baixo risco para o sustento próprio de famílias, a produção e geração de renda e de não restringir a liberdade do empreendedor para definir o preço de produtos e de serviços.

À parte a contradição frente às recentes tentativas do próprio presidente de interferir no preço do diesel e nos juros dos bancos, a MP estabelece garantias para o livre mercado e o amplo exercício da atividade econômica, com foco nos pequenos empreendedores e startups. Permite que empreendimentos considerados de baixo risco sejam desenvolvidos sem depender de qualquer ato de liberação pela administração pública. Com mudanças no Código Civil, dispensa atividades econômicas que não oferecem risco sanitário, ambiental e de segurança de obter licenças, autorizações, registros ou alvarás de funcionamento.

Um dos principais alvos da MP 881 é reduzir a burocracia, que geralmente coloca o Brasil entre piores países para se empreender e de produtividade mais baixa. A MP dispensa qualquer tipo de licença, incluindo alvará de funcionamento, sanitário e ambientais para atividades de baixo risco, independentemente do tamanho do empreendimento. As empresas poderão desenvolver atividade em qualquer horário ou dia da semana desde que não causem danos ao meio ambiente, poluição sonora ou perturbem a vizinhança. Todos os papéis poderão ser digitalizados e descartados A empresa terá liberdade para definir preços, em ambiente competitivo e favorável ao surgimento de novos modelos de negócio. Estabelece isonomia no tratamento dado pelos fiscais.

Startups são especialmente apoiadas uma vez que nenhuma licença poderá ser exigida enquanto estiverem testando, desenvolvendo ou implementando um produto ou serviço que não tenha riscos elevados. A MP ainda contém medidas não diretamente relacionadas, como o fim do fundo soberano, que havia sido tentado pelo governo de Michel Temer, mas foi barrado pelo Congresso. Há também dispositivos que dependem da regulamentação, como a simplificação da legislação das Sociedades Anônimas, que deverá ser feita pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), franqueando o acesso de pequenas empresas ao mercado de capitais, prometendo que as "empresas brasileiras não precisarão mais ir ao exterior fazer ofertas iniciais de ações".

Outros projetos na mesma direção estão sendo elaborados pelo governo. Um deles é o Marco Legal das Startups, que deve ampliar as conquistas garantidas pela MP 881 e abrange os aspectos de ambiente de negócio, tributação, relações trabalhistas, compras públicas e facilitação de investimentos. No fim de abril, foram lançados a Empresa Simples de Crédito (ESC), que pode fazer empréstimos, financiamentos e desconto de títulos, exclusivamente com recursos próprios, para microempresas e empresas de pequeno porte e ao microempreendedor individual (MEI); e o Inova Simples, regime diferenciado para abertura e fechamento de startups. Está sendo desenhado o desconto de recebíveis para pequenas empresas. O governo ainda promete para este mês o pacote de 50 medidas.

Toda essa hiperatividade não deve se limitar apenas a anúncios midiáticos destinados a alardear que o governo está fazendo alguma coisa. É preciso cuidar para colocar as providências em pé. A MP 881 tem 60 dias para ser regulamentada e 120 dias para ser aprovada pelo Congresso. Além disso, as medidas microeconômicas sozinhas não fazem mágica. É preciso continuar insistindo nas reformas fundamentais da previdência e dos tributos.
Herculano
07/05/2019 08:10
O QUE MOTIVA A BLITZ CONTRA SANTOS CRUZ, por Carlos Andreazza, editor de livros

A entrevista do general Santos Cruz a Vera Magalhães é de 5 de abril ?" e ele absolutamente não diz o que lhe é ora atribuído. Para que fique claro: não fala em controlar a internet; não fala em regular mídias. É importante ressaltar isto - a deturpação e o requentamento de conteúdos - porque nada é mais expressivo do bolsonarismo do que o fato de seus agentes estarem explorando o que o ministro NÃO DISSE em uma entrevista dada HÁ UM MÊS.

Isto, a rigor, é a essência do bolsonarismo. A campanha contra Santos Cruz, aliás, é a exata ilustração do que seja o bolsonarismo, conforme escrevi em meu último artigo em O Globo:

Forja de crises e de inimigos, força iliberal, à margem de qualquer política pública, que atua desde dentro da máquina estatal para localizar e explorar qualquer projeção de instabilidade onde carcomer o equilíbrio institucional, o bolsonarismo, também uma linguagem, está no comando, espaço ocupado a partir da campanha, e é o agente condicionador do governo, daí por que jamais se deveria esperar - sob tal conformação - que Bolsonaro pudesse encarnar a urgente pacificação política nacional.

Este, tragando Santos Cruz, não se trata de movimento na cruzada contra um general em si, mas contra o grupo militar do qual ele é parte. É operação - blitz - claramente orquestrada, de natureza artificial, forjada e coordenada, regida pelo endosso do presidente da República e tocada por integrantes do governo, alguns com lugar no Planalto, contra uma entre as forças que o bolsonarismo considera não submissas a seu esquema de poder; e uma, no caso, que controla muitos recursos, alvo preferencial.

Porque há também o componente aditivo particular que justifica acionar as milícias virtuais: esse ataque, não nos enganemos, é desdobramento ostensivo da investida bolsonarista pelo domínio da SECOM e de seus muitos milhões, uma área estratégica para o projeto da autointitulada ala anti-establishment do governo.
Herculano
07/05/2019 07:29
CRIAR UM FUNDO PARA PAGAR OS FORNECEDORES DE MEDICAMENTOS DA SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE PARA OS HOSPITAIS NÃO PARAREM?

Antes precisavam ser respondidas as seguintes perguntas

Por que o governo de Raimundo Colombo, PSD, escondeu estas dívidas?

Como elas foram contraídas? Compras sem licitação e mesmo sendo licitadas, qual o preço pago por esses remédios, serviços e equipamentos se comparados aos praticados no mercado à época?

Foram efetivamente entregues?

Venceu, mais uma vez, o lobby dos grandes negócios. E como funciona? Primeiro fornece, acumula a dívida, e depois, ameaça cortar o suprimento. E ai, a correria... a chantagem

Herculano
07/05/2019 06:02
BRASIL É O ÚLTIMO EM PESQUISA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

O Brasil está em vexatório último lugar, no mundo, entre os 44 países que publicaram ao menos mil trabalhos científicos ao longo de 2017, ano do levantamento mais recente. O número de artigos foi razoável, 73,6 mil no total, mas os 5,1 mil trabalhos na área de ciências sociais não produziram impacto minimamente relevante: apenas 711 citações, de acordo com índice mundial de Citações Por Publicação (CPP), segundo estudo divulgado pela Scimago Journal & Country Rank.

BANHO EM PESQUISAS
Meca do "capitalismo opressor e insensível", os Estados Unidos fizeram 64,5 mil pesquisas sociais, quase 13 vezes a mais que o Brasil.

À FRENTE DO BRASIL
A produção acadêmica da Suíça em ciências sociais é metade da brasileira, mas tem mais que o dobro em citações (CPP): 1,5 mil.

NÚMEROS Só PIORAM
Considerados os 158 países cujas pesquisas em ciências sociais foram mais relevantes, o Brasil, oitava maior economia, está em 78º lugar.

PARA ONDE FOI O DINHEIRO
Estudo do professor Marcelo Hermes-Lima mostrou que 70% das pesquisas em ciências sociais no Brasil tratam de gênero (LGBT etc).

DAMARES DEMITE TIA ERON, QUE QUERIA SER MINISTRA
A ministra Damares Alves (Família etc) demitiu a ex-deputada Tia Eron (PRB-BA) da Secretaria de Promoção Social. A ministra não divulgou suas razões, mas fontes próximas dizem que ela atribui à ex-secretária as fake news sobre sua suposta saída do cargo. Eron e o ministério citaram "improdutividade" e "nomeação de petistas" como motivações, mas no ministério afirma-se que Tia Eron queria o lugar de Damares.

A SUBSTITUTA
O cargo de Tia Eron vai ser ocupado pela ex-deputada Rosinha da Adefal (Avante-AL), que atualmente é secretária-adjunta.

FUTURO INDEFINIDO
Tia Eron não garantiu uma vaga na Câmara no ano passado. O partido agora discute o que fazer com a ex-deputada, que presidia o PRB-BA.

AMC NETO NÃO QUER
Segundo veículos de notícias da Bahia, "a única hipótese descartada é a volta da ex-deputada para a administração de ACM Neto".

JÁ LÁ SE VAI A PRIMEIRA
O governador do DF, Ibaneis Rocha, deflagrou a privatização do Metrô de Brasília. Ao cabo de quatro meses de governo, ele resgata um dos compromissos: promover a concessão de empresas públicas.

OTIMISMO EM ALTA
Levantamento Paraná Pesquisas mostrou que alheio às polêmicas bestas envolvendo o filósofo da Virgínia, o Brasil se mantém otimista: 53,1% acreditam que o País está no rumo certo. Mesmo no Nordeste, reduto da oposição, os otimistas superam os pessimistas.

CHEGOU CHEGANDO
O contra-almirante Sergio Ricardo Segovia Barbosa chegou chegando na Apex Brasil: ao assumir, nesta segunda (6), demitiu os ex-diretores Letícia Catelani e Marcio Coimbra. Antes de escolher os substitutos.

ALGO MUDOU
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro foi ao gabinete do ministro Paulo Guedes (Economia) para conversar e despachar. No governo de Dilma, o ministro da Fazenda era chamado ao Planalto só para ouvir gritos.

OLHO NAS MENINAS
Seguranças da Presidência da República participam da rotina do colégio particular de Brasília onde a filha e a enteada do presidente foram matriculadas. Discretos, fazem de tudo para não incomodar.

TRADIÇÃO SOCIAL
A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, vai à Câmara debater políticas públicas para doenças raras. Depois de inovar na posse presidencial, Michelle continua tradição de primeiras-damas atuarem na área social.

AQUI PRIMEIRO
O governo oficializou o que os leitores desta coluna sabem desde 20 março: medida provisória vai dar transparência total, como no modelo chileno, à relação entre lobistas e autoridades.

BEM ENTRE EMPRESÁRIOS
Pesquisa BTG/Pactual junto a empresários e executivos de empresas mostra que 59% avaliam o governo Bolsonaro como "ótimo ou bom" e só 10% classificam a nova administração como "ruim ou péssima".

PENSANDO BEM...
...com o início da comissão especial da reforma da Previdência, nesta terça (7), há finalmente uma chance de o Congresso iniciar trabalhos em 2019.
Herculano
07/05/2019 05:53
AÇÃO DE BOLSONARO NA EDUCAÇÃO EXIGE UMA REAÇÃO À ALTURA, por Ranier Bragon, no jornal Folha de S. Paulo

Gestores aloprados e cruzada contra universidades mostram a real balbúrdia

Dado o conjunto de equívocos e trapalhadas, mal não faria se Paulo Guedes acrescentasse a privatização do Ministério da Educação à sua lista do Estado minimalista.

O que tem sido feito até aqui lembra um elefante em loja de cristais. A ideia é que não sobre caco sobre caco. O primeiro ministro, Ricardo Vélez, ao menos tinha a qualidade, nesse caso, da inação - mas sua reinação foi breve. O substituto, Abraham Weintraub, comunga dos mesmos ideais. A diferença é que representa maior ameaça de realizá-los.

Não fosse a massa silenciosa de técnicos, o colapso já teria se instalado.

O que Bolsonaro e seus ideólogos produziram até agora? Cartas patéticas a escolas, reedição de tacanhices da ditadura, esvaziamento de mecanismos de avaliação, menosprezo pelas ciências humanas, revisionismos históricos sem pé nem cabeça, estímulo às obscurantistas Escola sem Partido e educação domiciliar.

Uma postura anti-intelectual que afeta toda a gestão, vide o desmonte do imprescindível Censo 2020.

Agora, tenta-se asfixiar financeiramente as universidades federais - disparadas, as melhores do ensino superior, em todos os rankings.

Em um vídeo, Weintraub tentou explicar por que usou o termo balbúrdia para se referir não ao próprio gabinete, mas a universidades. Para ele, ou investimos no ensino básico ou no superior. Se a moda pega, em breve o ministro da Saúde irá às redes: "Maternidades ou leitos de UTI? Combate à dengue ou ao sarampo?"

No vídeo, Weintraub pergunta: "O que você faria no meu lugar?". Por assumida incompetência, eu pegaria meu boné e iria ostentar minha petulância e despreparo em outro canto.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do "esquerdopata" DEM, criticou bandeiras bolsonaristas para a educação, em artigo no jornal Valor Econômico - o que dá a esperança de que talvez seja possível evitar a reedição das Invasões Bárbaras.

É preciso que a lucidez, da direita à esquerda, reaja a tempo. A longo prazo, isso será muito mais importante do que qualquer reforma.
Herculano
07/05/2019 05:08
BAIANO MODERADO É ESCOLHIDO PRESIDENTE DA CNBB

Terminou ontem no final da tarde as esperanças dos católicos de Gaspar que o franciscano Dom Jaime Spengler pudesse ser eleito presidente da CNBB. Como comentei no Trapiche, "era uma esperança de alto risco". E foi.

O arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, 65 anos, nascido em Cocos (BA), indicado bispo pelo Papa João Paulo II em 1998, foi eleito nesta segunda-feira, 6 de maio, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O novo presidente foi escolhido pelos episcopado brasileiro que participa, em Aparecida (SP), da 57ª Assembleia Geral da CNBB no terceiro escrutínio, após receber a maioria absoluta de votos do total de 301 bispos votantes.

A Igreja Católica no Brasil com a eleição de Dom Walmor, depois de décadas de gestões evangélicas progressistas, sinaliza uma mudança no tom.

O eleito é considerado moderado - não confundir com conservador -, tem evitado a polarização nos debates políticos, ao mesmo tempo que luta pela tolerância zero dentro da Igreja Católica contra os crimes de pedofilia. Era essa mudança de tom que colocava Dom Jaime como um dos postulantes à presidência da CNBB

Hoje serão eleitos os dois vices-presidentes.

Giovania Maria Schmitt
06/05/2019 23:05
Herculano sou sua leitora assídua de muitos anos, irmã da Viviana Maria Schmitt dos Santos e com muita clareza, e coerência fez uma verdadeira explanação do fato ocorrido no afastamento da Viviana do cargo de professora. Sobre seu trabalho, e dedicação ao Colégio Frei Godofredo toda comunidade vem trabalhado para sua volta. Mas a politicagem de Gaspar não muda e quem se destaca é retirado de cena cruelmente. E assim vamos aguardar os fatos.
Tony Silva
06/05/2019 19:59
Conheço a Professora Vivi a muitos anos, sei do seu caráter e comprometimento com a Educação. Infelizmente, prevaleceu a politicagem baixa. Esse assunto vai render.
Acredito que possa haver tempo para corrigir essa injustiça. Manifestações de apoio já começaram. Convenhamos, 86% de aprovação - no caso das eleições - são para poucos.
Herculano
06/05/2019 17:29
da série: sem saídas

CHEFES DE PODERES DE SC DEFINEM MEDIDAS PARA ESTANCAR CRISE NA SAÚDE

Uma das propostas foi levada pelo presidente da Alesc, deputado Júlio Garcia (PSD), que propôs a criação de um fundo específico para quitação das dívidas

Conteúdo do jornal Diário Catarinense, da NSC Florianópolis. Texto de Leonardo Thomé. O risco de interrupção no fornecimento de insumos hospitalares e a necessidade de pagamento de dívidas milionárias da saúde foram os pontos centrais de uma reunião entre os chefes dos poderes catarinenses na manhã desta segunda-feira, no gabinete da procuradoria-geral do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Do encontro, saíram alguns planos para estancar a crise, em especial relacionados a duas frentes: as causas do problema, como o histórico de más gestões na área, e outro para atacar no curto e médio prazo o passivo de dívidas que ultrapassam R$ 334 milhões.

Uma das propostas foi levada pelo presidente da Alesc, deputado Júlio Garcia (PSD), que propôs a criação de um fundo específico para quitação das dívidas que prejudicam o atendimento em hospitais do Estado. A intenção é criar o fundo através de lei estadual. Uma minuta do projeto foi apresentada na reunião por Garcia.

O texto ficou com o governador Moisés, pois o Executivo será responsável por formalizar a proposta e encaminhá-la ao Legislativo, já que é um projeto que gera gastos aos cofres públicos. Na Alesc, o projeto ainda teria que ser aprovado pela maioria dos parlamentares.

Intitulado de Fundo Especial de Amparo à Saúde (Feasc), a proposta tem a finalidade de saldar débitos da Secretaria da Saúde constituídos e contabilizados até 31 de dezembro de 2018. Esse recurso, prevê a minuta, devem ser aplicados exclusivamente na quitação de dívidas da pasta da Saúde com fornecedores e prestadores de serviço, sendo vedada a utilização do dinheiro para pagamento de pessoal e encargos pessoais.

- A criação de um fundo para saldar a dívida com os fornecedores seria através de critérios de ordem pública, para que possamos priorizar aqueles fornecedores que concordem em oferecer maior desconto na quitação da dívida ?" revela Fernando da Silva Comin, procurador-geral do MPSC, para dizer que os recursos dos fundos viriam de diferentes fontes, como antecipação de valores oriundos de superávit dos poderes, de transferências orçamentárias, de doações efetuadas por contribuintes tributários em contrapartida a benefícios fiscais, entre outros pontos previstos no texto da minuta.

Dívidas no curto prazo são as mais volumosas

Já o governador Carlos Moisés explicou que as principais dívidas no curto prazo são também as mais volumosas, com credores cobrando dívidas que variam entre R$ 10 e R$ 20 milhões. Segundo o pesselista, a dívida é um problema de Estado e a saúde padece "de más gestões" ao longo dos últimos anos. Para mudar o quadro, diz, os hospitais que quiserem recursos públicos terão que mostrar o que produzem e entregam para pleitear o investimento.

Questionado se há um cronograma para o pagamento das dívidas com fornecedores, Moisés disse que ao longo do ano isso será definido, mas ressaltou que a eventual criação de um fundo "esse cronograma pode ser acelerado" e os pagamentos feitos até o final deste ano.

Moisés diz que aproximação com credores minimiza risco de interrupção do fornecimento

A reunião dos chefes dos poderes em SC acontece em meio a mais um capítulo da crise na saúde, que gerou inclusive a instauração de um inquérito civil para apurar a ameaça de fornecedores de insumos hospitalares de interromperem o abastecimento em função dos pagamentos em atraso de débitos relativos a 2017 e 2018, que somam cerca de R$ 334 milhões.

Caso a situação não seja resolvida e a ameaça seja concretizada, a estimativa da Secretaria da Saúde é de que em nove dias os centros cirúrgicos de todo o Estado tenham que paralisar as atividades e em 14 dias também as UTIs tenham os serviços comprometidos. Para o governador Carlos Moisés, porém, a própria união de forças entre diferentes órgãos do Estado serve para sinalizar aos credores a intenção e vontade do governo em quitar os débitos.

- Se preciso for, nós vamos buscar fornecimento de insumos em outras fontes, mas a aproximação com esses credores, traz o entendimento de um Estado idôneo, que assume que deve e se compromete a pagar essa dívida. Por isso, estamos chamando todos os credores para conversar - conclui o governador.

Algumas das fontes de onde viria o dinheiro do fundo

- Doação voluntária de recursos oriundos da participação dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público de SC e do Tribunal de Contas do Estado na receita líquida disponível não utilizada e doada ao Poder Executivo;

- Transferências orçamentárias, inclusive de outros fundos e rubricas;

- Metade dos recursos arrecadados a título de transferências de instituições privadas, fonte de recursos 0129, oriundas das taxas recolhidas pelas empresas beneficiadas por quaisquer espécies de Tratamento Tributário Diferenciado;

- Auxílios, subvenções, contribuições e doações de pessoas naturais ou entidades públicas e privadas, nacionais ou estrangeiras.
Herculano
06/05/2019 17:22
da série: com tantos desafios para ser superado omo arruma empregos para milhões de trabalhadores colocados na rua pelo petismo, Bolsonaro fratura o seu próprio governo. Não passa um dia sem confusão boba e ideológica interna.

GENERAL VILLAS BOAS: OLAVO DE CARVALHO É "TROTSKI DE DIREITA"

Conteúdo de O Antagonista. O general Eduardo Villas Bôas entrou na briga de Olavo de Carvalho com os militares - obviamente, do lado dos militares. E armado do bom senso que lhe é característico.

Ele escreveu no Twitter:

"Mais uma vez o Sr. Olavo de Carvalho a partir de seu vazio existencial derrama seus ataques aos militares e as FAA demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia. Verdadeiro trotski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas Brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade Brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país. A escolha dos militares como alvo é compreensível por sua impotência diante da solidez dessas instituições e a incapacidade de compreender os valores e os princípios que as sustentam."

O recado foi dado. Villas Bôas é bom na arte de dar recados. Espera-se que Jair Bolsonaro e os seus filhos entendam.
Herculano
06/05/2019 12:16
BOLSONARO, RÁPIDO NO GATILHO, por Fernando Gabeira, no jornal O Globo

Ele diz tantas coisas polêmicas que, ao cabo de sete dias, ninguém se lembra das que abriram a série

Bolsonaro deu um passeio no lado íntimo, falando de sexo, definindo o que pode ou não pode, sobre o número de pênis amputados.

Pensei em comentar o assunto, mas Bolsonaro é tão rápido no gatilho que desatualiza um cronista semanal. Diz tantas coisas polêmicas que, ao cabo de sete dias, ninguém se lembra das que abriram a série.

Bolsonaro disse que o turismo gay deveria ser proibido, por causa das famílias. Os gays lembraram a ele que não nasceram de chocadeiras, mas são filhos de família.

Os jornais enfatizaram que o turismo gay cresceu mais que os outros e ele acaba ajudando lugares arruinados como o Rio.

Bolsonaro disse que vir transar com a mulher brasileira pode. Recebeu críticas. Afinal, um presidente não deveria se meter em relações sexuais de adultos, nem para proibir nem para elogiar.

O que mais me surpreendeu em Bolsonaro é o fato de ter escolhido o tema e deixado de lado algo que realmente tem nos preocupado ao longo dos últimos anos: a prostituição infantil.

Com muitas campanhas, conseguimos reduzi-la. Já estive documentando isto em Fortaleza. Mas ainda assim um presidente deveria estar em sintonia com aquilo que realmente interessa e é fruto de trabalho conjugado de várias instituições.

Sobre o número de pênis amputados, Bolsonaro afirmou que se perdem por falta de água e sabão. É um tema que o preocupa pela sua experiência militar, vendo o drama de soldados pobres.

Mas Bolsonaro perdeu o ponto, embora água e sabão realmente sejam importantes. Não falou do saneamento básico, cujo marco legal deveria ser votado ainda neste semestre.

Reacendida a crise da Venezuela, tudo isso foi esquecido. Bolsonaro disse que a decisão de intervir militarmente ali seria, em última instância, sua.

Deve ter havido um ruído na comunicação. Ele mesmo sabe que a última palavra é do Congresso. Até para enviar tropas ao Haiti, em missão de paz, o Congresso foi consultado. É a lei.

Essa questão da Venezuela é muito complicada. Seria interessante um amplo debate. Bolsonaro destinou mais R$ 240 milhões para atender os refugiados. Creio que a esta altura já gastamos mais de meio bilhão com o tema.

O quanto não custaria uma intervenção militar? E quem garante sua eficácia? É grande a possibilidade de perdemos fortunas com ações militares e, simultaneamente, gastar mais ainda com os refugiados.

Maduro precisa cair. Tem de cair. Entre essa certeza e a prática, há uma longa reflexão tática e estratégica. Bolsonaro talvez não se lembre da invasão da Baía dos Porcos, no tempo em que Kennedy dirigia os EUA.

O fracasso da invasão acabou consolidando o poder dos Castro. Maduro anda mal das pernas, mas quase todas as tentativas precipitadas de derrubá-lo acabam renovando seu fôlego.

Faz tempo que não entro na Venezuela porque certamente vão confiscar minha câmera, prender ou expulsar. Mas creio que uma intervenção armada encontrará vários obstáculos.

A força aérea da Venezuela tem sido equipada pelos russos. Parte das missões militares russas pode ser até um gesto político. Mas existe uma base material para afirmar que, apesar da penúria econômica, seriam um duro adversário.

Milhares de venezuelanos foram armados pelo governo. Milícias motorizadas, treinadas pelos cubanos, atuam reprimindo manifestantes. E todo o sistema de inteligência também foi estruturado pelos castristas.

Essas condições não tornam impossível uma derrota militar dos bolivarianos. Mas, certamente, eles podem prolongar a guerra, torná-la mais cara não só em dinheiro, mas em vidas dos invasores estrangeiros. Estamos preparados para segurar essa onda? Os próprios americanos que viveram tantas experiências traumáticas topariam uma aventura desse tipo no começo de um período eleitoral?

Essa tese de que todas as opções estão sobre a mesa pode ter algum significado psicológico. Mas uma visão sensata do quadro afasta uma intervenção armada. O que não significa que a sensatez não possa ser vencida.

Ainda estou para dar um balanço. Mas creio que o fator crise da Venezuela é isoladamente o que mais atrasou o Brasil em termos externos nos últimos anos. Não só pelo custo do fluxo de refugiados, mas pela instabilidade e desconfiança que gera nos investidores interessados na América do Sul.

Não somos os atores principais nesse drama. Precisamos apenas reduzir os danos.
Herculano
06/05/2019 12:15
LIBERDADE PARA EMPREENDER, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Com a edição da MP 881, o governo procura melhorar a imagem do País junto aos investidores, especialmente os internacionais.

Até agora, a atividade de costureira, mesmo desenvolvida em casa, seria considerada ilegal se não dispusesse de alvará prévio. A autorização prévia de autoridade pública não será mais exigida. Esta é uma das medidas de desburocratização incluídas na Medida Provisória (MP) n.º 881, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro na terça-feira passada. A MP 881 institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, com normas que buscam proteger e estimular a iniciativa privada e o livre exercício de atividade econômica, por meio da redução da atuação do Estado, reduzindo ou eliminando exigências prévias para o início de um negócio, controle sobre as atividades e punição em caso de irregularidades apontadas pela fiscalização, entre outros atos que inibem a atividade econômica privada.

Com a edição da MP 881, o governo procura melhorar a imagem do País junto aos investidores, especialmente os internacionais. Essa imagem tem sido caracterizada por pouca liberdade econômica em decorrência do excesso de controle estatal e de exigências burocráticas para a atividade empresarial. Medidas para facilitar a abertura e o encerramento de um negócio, reduzir os controles administrativos e estimular investimentos e inovação vêm sendo prometidas e algumas anunciadas e implementadas nos últimos anos. Mas o quadro geral sobre competitividade da economia brasileira e ambiente para a atividade empresarial continua ruim.

A equipe do Ministério da Economia citou, entre as pesquisas internacionais nas quais o Brasil é mal classificado, os relatórios de liberdade econômica da Heritage Foundation (150.º lugar), da facilidade de realização de negócios aferida pelo Doing Business do Banco Mundial (109.º lugar) e o relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial (72.º).

As medidas, que entram em vigor imediatamente, serão especialmente favoráveis para pequenos negócios e startups, empresas iniciantes com grande potencial de crescimento e que necessitam de ampla liberdade de iniciativa. As startups não mais necessitarão de alvará de funcionamento para testar novos produtos e serviços, desde que obedeçam a determinados critérios de saúde e segurança pública.

Estão isentas de licenças, alvarás e outras exigências prévias as atividades consideradas de baixo risco, de acordo com a definição legal para essas atividades a ser feita pelos Estados ou pelas prefeituras, conforme o caso. Essas atividades não serão, porém, dispensadas de registros e cadastros tributários e previdenciários.

Outras exigências para atividade econômica são eliminadas ou fortemente reduzidas pela MP 881, como o horário de trabalho, desde que não haja danos ao meio ambiente ou desrespeito a normas de direito de vizinhança.

A MP procura impor maior eficiência e presteza ao setor público, sempre que sua ação for necessária no que se refere à atividade empresarial. A administração federal, por exemplo, terá prazos para responder a pedidos de autorização; se não se manifestar no prazo, o pedido será considerado aprovado. A interpretação de fiscais e de outros agentes públicos em casos de autorização de atividade econômica será padronizada, de modo que a decisão em determinada situação se estenderá a outras similares. Como diz a nota do Ministério de Economia, a medida "impede que fiscais tratem dois cidadãos em situações similares de forma diferente, estabelecendo efeito vinculante e isonômico".

Nos casos em que a norma permitir interpretação dúbia ou não seja clara, o agente público deve "sempre recorrer à interpretação que mais respeita a autonomia do cidadão". Assim, segundo o Ministério da Economia, haverá "maior segurança e previsibilidade".

A MP assegura a liberdade de fixar e flutuar preços de acordo com a oferta e a demanda, o que já está previsto em outras normas legais e mesmo na Constituição. Curiosamente, o governo que reafirma o respeito à liberdade de preços é o mesmo que defende o tabelamento do frete rodoviário ?" para tentar agradar aos caminhoneiros que tanto o assustam ?", que nada mais é do que um preço.
Herculano
06/05/2019 12:14
ÉTICA MÉDICA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

Nova versão do Código de Ética Médica é atualização necessária

Entrou em vigor no país uma nova versão do Código de Ética Médica. O novo diploma, que não traz reviravoltas dramáticas em relação ao texto anterior, de 2009, pode ser mais bem descrito como uma atualização necessária.

Um bom exemplo de adequação ao espírito dos tempos atuais é a explicitação dos direitos dos médicos que padeçam de deficiências físicas ?"as quais passaram, ao lado da raça e das posições políticas, a ser elencadas como um dos motivos pelos quais o profissional de saúde não pode ser discriminado.

Questões de cunho mais sindical, como as situações em que o médico está autorizado a recusar-se a trabalhar, seja por falta de condições, seja por objeções de consciência, também foram disciplinadas com um dose adicional de detalhe.

No que provavelmente constitui a novidade mais relevante, o Código autoriza médicos a realizarem pesquisas retrospectivas em prontuários, desde que autorizados por uma comissão de ética em pesquisa. Nesta era de "big data" em que vivemos, os arquivos de hospitais e clínicas escondem informações valiosíssimas na forma de correlações das quais nem suspeitamos.

Tudo isso está enterrado nos discos de memória dos computadores ou nos mais antiquados arquivos mortos, mas pesquisadores não tinham acesso a esse conhecimento porque era na prática impossível obter o consentimento informado de todos os pacientes envolvidos.

Também no campo da pesquisa, manteve-se a proibição do uso de placebo isolado quando existem tratamentos efetivos disponíveis. Como regra geral, faz todo o sentido ?"e são poucas as comissões de ética que autorizariam uma investigação com essa característica.

Talvez tivesse sido sábio, entretanto, permitir exceções no caso de investigação não sobre drogas ou tratamentos mas sobre o próprio efeito placebo. Há muito que desconhecemos sobre esse fascinante mecanismo psicofisiológico.

Por fim, há que lamentar pelo que os médicos deixaram de fazer nessa revisão. O disciplinamento da telemedicina, exigência dos tempos modernos, foi jogado para resoluções do Conselho Federal de Medicina. Pela amostra que tivemos no início do ano, o tema se afigura mais polêmico do que deveria.

Pena também que não se tenha avançado mais no reconhecimento da autonomia dos pacientes maiores de idade e em pleno gozo de suas funções mentais"que deve ser plena, e não limitada.
Herculano
06/05/2019 12:12
PROCURADORA DE ESQUERDA QUER BARRAR COLEGA CONSERVADOR EM COMISSÃO QUE INVESTIGA DITADURA, Renan Barbosa, no Gazeta do Povo, Curitiba PR

Os grupos de aplicativos do Ministério Público Federal (MPF) estão pegando fogo novamente. No centro da polêmica, expoentes dos setores à esquerda e à direita na instituição, em mais um trailer do que será a disputa renhida que se avizinha pelo cargo de procurador-geral da República (PGR). O mandato da atual PGR, Raquel Dodge, termina em setembro - e o meio de campo está mais que embolado.

A subprocuradora-geral Deborah Duprat, que comanda a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), enviou ao Conselho Superior do Ministério Público (CSMPF) uma manifestação contrária à indicação do colega Ailton Benedito Souza, do MPF em Goiás, para a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH). A questão será debatida no CSMPF nesta terça-feira (7).

Duprat é uma das líderes do bloco "progressista" do MPF. No curto período em que exerceu interinamente a PGR em 2009, ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) as ações que acabaram liberando a marcha da maconha, o aborto de fetos anencéfalos e a possibilidade de mudança de nome e sexo no registro civil de pessoas trans sem necessidade de cirurgia ou laudo médico. Já Benedito ganhou fama nos últimos anos por sua atuação forte e abertamente conservadora nas redes sociais e por sua atuação contra a "censura branca" de Facebook e Twitter contra perfis de usuários.

Benedito foi convidado para compor a CEMDP do MMDFH no último dia 15 de abril, mas sua designação por decreto presidencial depende da prévia indicação formal da PGR. Diz a lei que é função da PGR "designar membro do Ministério Público Federal para funcionar nos órgãos em que a participação da instituição seja legalmente prevista, ouvido o Conselho Superior". Foi nessa fase que a procuradora Deborah Duprat - que não faz parte do CSMPF ?" resolveu usar seu cargo como chefe da PFDC, que é um dos três grandes braços do MPF, para se manifestar contrariamente ao nome de Benedito.

Fora a disputa política, há uma questão jurídica importante: pode uma instituição MPF barrar uma nomeação que compete ao presidente da República? Se a PGR não assinar a designação de membro do MPF, o presidente não poderá nomeá-lo por decreto? Até o ponto que consegui perguntar a membros do MPF, a situação seria inédita e poderia gerar um impasse.

"A manifestação da PFDC é pela incompatibilidade do Procurador da República Ailton Benedito de Souza para integrar uma comissão cujo propósito principal é, a partir do reconhecimento da culpa do Estado brasileiro por atos cometidos por seus agentes no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, acolher os familiares dos desaparecidos políticos e empreender esforços que lhes permitam chegar aos seus corpos ou, ao menos, à verdade dos fatos", escreveu Duprat em manifestação do dia 26 de abril.

Benedito manifestou-se neste sábado (4). "Destarte, no âmbito do MPF, não se pode pretender punir, ainda que dissimuladamente, membros que veiculam pontos de vista dissonantes no espaço público, a pretexto de se praticar uma 'censura do bem' contra o 'herético'; fenômeno que esconde o medo de que o outro possa provocar 'dissonância cognitiva' nos imunizados", escreveu o procurador. "Em nenhuma disposição relativa à matéria se enuncia que a PFDC deve opinar sobre a indicação de membro do MPF para integrar a CEMDP. Talvez, no afã de opinar, expedir notas técnicas, recomendações etc., sobre tudo, independentemente de suas atribuições, a PFDC acabe se esquecendo de que o ordenamento jurídico serve para regular inclusive a sua atuação", afirmou ainda.

Duprat elenca as seguintes razões para defender sua tese:

O convite partiu do secretário de Proteção Global do MMFDH, Sérgio Queiroz, e não do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ?" o que, é preciso dizer, é rotineiro e regra na administração pública;

Benedito não faz parte do grupo de trabalho "Direito à Memória e à Verdade" e do "Grupo de Trabalho Justiça de Transição" da instituição;

Benedito atuaria muitas vezes contra "providências da PFDC e de seu GT DIREITO À MEM?"RIA E À VERDADE";

Benedito divulgou em seu perfil do Twitter uma nota do portal O Antagonista repercutindo que o MMFDH ignorou outra recomendação de Duprat, desta vez contra a portaria que instituiu os novos membros da Comissão de Anistia;

A presença de postagens com "opiniões sempre críticas às providências que são ou devem ser tomadas na perspectiva de uma justiça de transição" no twitter do procurador.

Benedito contesta que não tenha experiência na área da Comissão, citando um inquérito que presidiu em 2009 para investigar mortos e desaparecidos em Goiás, mas pontua que sua "atuação na matéria em questão não está vinculada obrigatoriamente a entendimentos dos mencionados Grupos de Trabalho, para os quais, inclusive, não costumam ser designados membros do MPF que, de antemão, possam ter opiniões que se vislumbram divergentes das predefinidas".

"Com efeito, não pode a PFDC arvorar-se detentora de competências e prerrogativas do Conselho Superior do Ministério Público Federal nem do Procurador-Geral da República, muito menos do Congresso Nacional e do Presidente da República, e inovar a ordem jurídica, criando requisitos ideológicos e, consequentemente, ilegais para integrantes da CEMDP", conclui Benedito.

Não é a primeira vez que a PFDC tenta garantir para si uma reserva de mercado. Quando a atual PGR teve de recuar na sua intenção de criar os Ofícios Especializados indicados diretamente pela cúpula do MPF ?" apelidados de "procuradores biônicos" e que atraíram a repulsa de mais da metade dos membros ativos do MPF ?", veio à tona a tentativa da PFDC de criar, no seu ramo do MPF, a mesma iniciativa, em que os procuradores dos ofícios seriam indicados diretamente pela chefe da PFDC. No caso, a mesma Deborah Duprat, que fica no mandato até maio de 2020.

Com os sinais cada vez mais claros de que o presidente da República pretende indicar um PGR alinhado a suas convicções ?" e sem a clareza sobre se respeitará ou não a lista tríplice que a categoria vai votar em junho, observada desde 2003 por todos os presidentes ?" a disputa por espaço no MPF não vai acabar tão cedo.
Herculano
06/05/2019 11:56
COLôMBIA: TÃO PERTO E TÃO LONGE DA VENEZUELA, por Vinicius Mota, secretário de Redação do jornal Folha de S. Paulo


País que recebe mais refugiados do chavismo marcha para a prosperidade

A Colômbia é o país que mais recebe refugiados da diáspora venezuelana. Segundo as Nações Unidas, mais de 1 milhão, do total de 3 milhões que preferem ver o ditador Nicolás Maduro pelas costas, acabou em terras colombianas.

A julgar pelo contraste entre as trajetórias das duas nações nas últimas décadas, a fronteira entre elas parece um daqueles portais de filmes de ficção conectando dois universos distintos. Ao cruzá-la, deixa-se uma sociedade em colapso para outra que marcha para a prosperidade.

No último decênio, a economia da Colômbia cresceu à taxa anual de 3,5%, ritmo que tende a no mínimo manter nos próximos anos. É quase o triplo da velocidade brasileira (1,2%), que periga declinar ainda mais conforme se aproxima o fecho da segunda década do século 21.

Falta pouco para a renda por habitante colombiana se igualar à brasileira. Em 1980, cada morador da nação vizinha ganhava menos de 60% do que se obtinha no Brasil. A desigualdade aqui parou de cair. Lá não.

Enquanto uma erupção de violência urbana assolava a Venezuela chavista - e um fenômeno de menor intensidade fazia piorar as taxas brasileiras -, os assassinatos declinavam na Colômbia. As marcas de 70 mortes por 100 mil habitantes, atingidas no final da década de 1990, deram lugar a cifras em torno de 25. Ainda ruins, mas menores que as do Brasil e bem distantes das venezuelanas.

O desempenho de estudantes colombianos na prova internacional Pisamelhora seguidamente e supera o dos brasileiros, embora aqui se gaste mais com ensino. Em outra avaliação mundial, sobre facilidade para fazer negócios em 190 países, a Colômbia fica na 64ª posição, a melhor da América do Sul. O Brasil aparece no 109º lugar, e a Venezuela, no 188º.

Hipóteses para explicar o sucesso relativo da Colômbia? Adesão a valores como estabilidade, abertura, racionalidade econômica, pacificação nacional, segurança pública e alternância no poder sem que isso signifique aniquilação de adversários.
Herculano
06/05/2019 11:55
STF CURVA-SE PERANTE ERDOGAN, por Demétrio Magnoli, geógrafo e sociólogo, no jornal O Globo

Ato de Fachin converte o sistema judicial brasileiro em tentáculo da repressão do regime autoritário turco

Ali Sipahi era, até um mês atrás, um homem comum. De lá para cá, por um ato do STF, tornou-se o único preso político do Brasil. No 6 de abril, cumpriu-se sua prisão preventiva para fins de extradição, determinada pelo ministro Edson Fachin, sob a acusação de terrorismo. Kafka passeia entre nós: a prova do "crime" de Sipahi, brasileiro naturalizado de origem turca, foi depositar, em 2014, uma ínfima quantia no Banco Asya, então um banco legal na Turquia. Caímos baixo: o ato de Fachin converte o sistema judicial brasileiro em tentáculo da repressão do regime autoritário turco de Recep Erdogan.

Narro uma história que, a essa altura, Fachin teria o dever de conhecer. A cisão entre Erdogan e o clérigo Fethullah Gulen, seu antigo aliado, em 2013, provocou o declínio do experimento democrático na Turquia. A perseguição ao Hizmet, movimento dirigido por Gulen com centenas de milhares de aderentes, ganhou as dimensões de um expurgo colossal desde a tentativa de golpe militar de julho de 2016, atribuída sem provas a seu inimigo político. Sipahi está preso por pertencer à Câmara de Comércio Turco-Brasileira e ao Centro Cultural Turco-Brasileiro, instituições inspiradas pelo Hizmet. Ele é um prisioneiro de consciência feito pela nossa precária democracia, que presta vassalagem judicial a um tirano.

Fachin não está só no pátio da vergonha. Tem a companhia do vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, que assina um parecer do MPF contrário à revogação da prisão preventiva. Conto o que os dois doutores fingem não saber.

Erdogan qualificou o frustrado golpe de 2016 como um "presente de Deus" que propiciaria a "limpeza social" da Turquia. O Hizmet, uma rede de sociedades filantrópicas, escolas, centros culturais e instituições financeiras (como o Banco Asya), prega a economia de mercado, o empreendedorismo e a conciliação do Islã com os valores democráticos. Diante da onda repressiva de Erdogan, cerca de 250 turcos ligados ao Hizmet encontraram no Brasil um pátria alternativa. Eles imaginaram emigrar para uma nação que respeita os tratados internacionais de direitos humanos e sua própria Constituição. O "novo" Fachin, um desmemoriado que se esqueceu de suas decisões recentes, não podia fazer parte do cálculo deles.

Faz só três anos que o STF revogou, por unanimidade, a prisão preventiva de um extraditando solicitado pelo regime chavista de Maduro. O relatório, escrito por Fachin, apontava as violações de direitos humanos, a perseguição de opositores e a submissão do Judiciário ao Executivo na Venezuela. O cenário turco assemelha-se, sob os três aspectos, ao venezuelano. Qual é a conveniência oculta, extra-judicial, que explica o contraste entre as duas decisões?

Sipahi não se chama Cesare Battisti. Jamais matou alguém. Nunca foi condenado por nenhum tribunal independente. Cidadão brasileiro, com filho brasileiro, residência fixa e 16 funcionários em São Paulo, ele não é uma "causa célebre", da esquerda ou da direita. O descaso conjunto do STF e do MPF com os princípios dos direitos humanos o transformou em vítima de um regime que se nutre dos serviços de um cortejo de juízes vergados diante do poder de turno.

Stalin instaurou sua ditadura totalitária a pretexto de limpar a URSS dos "trotskistas". Na sua cruzada autoritária, Erdogan substituiu "trotskistas" por "gulenistas". Os expurgos turcos produziram a prisão de 50 mil opositores, inclusive cerca de 300 jornalistas e 600 advogados, a exoneração de 150 mil funcionários públicos e de 4,2 mil juízes e procuradores, a demissão em massa de professores universitários e o fechamento de 166 veículos de comunicação.

As garras persecutórias do regime turco estendem-se pelo mundo todo, por meio das embaixadas. Nas democracias, os magistrados protegem os exilados turcos da fúria do tirano. Na Rússia, juízes que não merecem esse título mandam prendê-los. Fachin, que permanece sentado sobre a sua decisão insensata, empurra o Brasil à vala de Putin. Até quando aguardarão os demais ministros do STF para dar um basta à marcha do arbítrio?
Herculano
06/05/2019 11:55
LARANJAL E BALBÚRDIA, por Leandro Colon, diretor da sucursal de Brasília do jornal Folha de S. Paulo

Bolsonaro teve dois encontros privados com ministro envolvido em esquema de laranjas

A Polícia Federal sob o governo de Jair Bolsonaro avança cada vez mais nas investigações do esquema de desvio de verba pública por candidatas laranjas do PSL, partido do próprio presidente.

O inquérito foi aberto após esta Folha, em uma apuração realizada pelos repórteres Ranier Bragon e Camila Mattoso, revelar que mulheres foram usadas pelo PSL em Minas para burlar a regra que destina 30% de recursos para uma cota feminina nas eleições.

E quem dirigia o PSL local na época? O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, deputado eleito. Empresas ligadas a assessores dele receberam recursos das chapas. Uma candidata acusou o ministro de participação na falcatrua.

A deputada Alê Silva, também eleita pelo PSL de Minas, afirma ter sido ameaçada de morte por Álvaro Antônio pelo fato de ela ter contribuído na descoberta do escândalo que envolve a sigla do presidente.

O que fez Bolsonaro até agora? Prometeu tomar uma decisão quando acabar a investigação policial. Curiosamente, o presidente teve dois encontros privados com o ministro do Turismo nas duas últimas semanas.

Trocaram figurinhas sobre o laranjal do PSL? Bolsonaro repassou ao seu ministro algum tipo de informação sigilosa que tem recebido de seus subordinados? Ou as duas reuniões oficiais no gabinete do Palácio do Planalto serviram para o presidente e o ministro discutirem estratégias de combate ao turismo gay no país? O que de fato a dupla tem conversado tanto reservadamente?

Nas buscas feitas há uma semana, a PF não encontrou evidências de que as gráficas citadas pelas candidatas laranjas à Justiça prestaram o serviço pago com verba pública eleitoral.

De nanico a força na Câmara catapultada pela onda bolsonarista, o PSL é uma balbúrdia (palavra da moda) política. É suspeito de desviar dinheiro de campanha, tem um ministro inexpressivo e enrolado até o pescoço e pouco contribui para o sucesso da agenda governista no Congresso. Um fiasco até aqui.
Herculano
06/05/2019 11:52
STF PODE GANHAR O DIREITO DE JULGAR O QUE QUISER, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Seguindo o exemplo de cortes de outros países, o Supremo Tribunal Federal (STF) pode ganhar um novo e valioso instrumento, que é uma evolução do critério de "repercussão geral" adotado atualmente. A proposta tornará mais rigoroso o filtro de recursos a serem examinados no STF. A proposta agrada aos ministros, atolados em milhares de processos, e em especial o presidente do STF, ministro Dias Toffoli.

DIREITO DE ESCOLHA
Mas os ministros do STF propõem mais: como na Suprema Corte dos Estados Unidos, o STF quer escolher os casos a serem julgados.

NOVA TENTATIVA
A ideia é que o autor de uma demanda recusada possa reapresentá-la decorrido um ano desde a decisão inicial.

REPERCUSSÃO GERAL
Os ministros são obrigado a apreciar tudo, desde que resultem em "repercussão geral" nas demais instâncias judiciais.

BOAS CHANCES
Dias Toffoli tem tido conversas animadoras com parlamentares sobre essa mudança histórica no papel do Supremo.

REFORMA REDUZ DÉFICIT DA SEGURIDADE EM R$110 BILHõES
Relatório do Instituto Fiscal Independente (IFI), divulgado pelo Senado, revelou que a desvinculação de receitas de contribuições sociais (cujo fim está previsto na reforma da Previdência) é responsável pelo aumento do déficit da seguridade social em 64%, apenas em 2018. Segundo o documento, o rombo de R$280,6 bilhões verificado no ano passado cairia para R$171 bilhões sem a desvinculação das receitas.

DE MAL A PIOR
A desvinculação de receitas da União (DRU) foi fixada no governo FHC em 20%, prorrogada no governo Lula e elevada a 30% com Dilma.

NÃO RESOLVE
O fim da desvinculação ajuda, mas não reverte o déficit da seguridade. "Mesmo sem a DRU, teria havido déficit nos últimos 11 anos", diz o IFI.

IMPACTO MÍNIMO
Enquanto o impacto na seguridade social é grande, o IFI ressalta que o déficit previdenciário também diminuiria sem a DRU, mas em só 0,4%.

GASTANÇA DOBROU NA CÂMARA
Renovou, mas novatos e veteranos são igualmente gastadores no Congresso Nacional. Em janeiro e fevereiro o "ressarcimento se despesas" dobrou: de R$13 milhões em 2018 passou a R$26 milhões.

PAÍS DE EXPLORADOS
O Brasil foi o 9º maior produtor de petróleo do mundo em 2017, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), da OCDE. Mas são 101 os países onde a gasolina é mais barata que no Brasil.

BRASÍLIA, A MAIS AFETADA
Após anúncio de que cancelaria voos, a Avianca, que está quebrada, provocou um aumento médio de 70% nas passagens aéreas oferecidas para Brasília. Foi a cidade mais afetada pela companhia aérea.

LIVRE INICIATIVA
O STF retoma nesta quarta (8) o julgamento sobre a absurda pretensão de proibir Uber, Cabify e etc. Os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso votaram favoráveis aos aplicativos, mas o julgamento foi adiado em dezembro por pedido de vista de Ricardo Lewandowski.

PROJETO PRESIDENCIAL
A Apex ajudará a organizar a agenda empresarial do governador de São Paulo na viagem à China, em agosto, com Jair Bolsonaro. João Doria quer abrir na China um escritório para atrair investimentos.

OS CÚMPLICES DE MADURO
Países do Grupo de Lima, incluindo o Brasil, reiteraram apoio a Juan Guaidó e apelaram aos militares venezuelanos a retirar apoio o Nicolás Maduro. Ingenuidade: a queda do ditador cessaria os privilégios dos generais que tudo controlam, de negócios lícitos ao narcotráfico.

NA ROTA CERTA
A redução do ICMS do combustível de aviação, que levou ao anúncio de novas rotas de Brasília para Santiago, Assunção e Lima, pode fazer retornar voos diretos da capital para outros países, inclusive europeus.

AGENDA DE CANDIDATO
Após o Mato Grosso e Minas Gerais, o economista e ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, vai ao Ceará no dia 11. Fará palestra sobre sua experiência de planejamento do Estado do Espi?rito Santo.

PENSANDO BEM...
...depois de mais de uma semana de folga, o Congresso volta ao batente. Mas só amanhã.
Herculano
06/05/2019 11:52
MACAQUINHOS LIVRE E RESPONSÁVEIS, por Luiz Felipe Pondé, ensaísta e filósofo, no jornal Folha de S. Paulo

Veganos sexuais recusam fazer sexo oral em quem coloca um bife na boca. Que nojo!

O mundo contemporâneo é ridículo. No futuro, nossos descendentes olharão para nós e rirão de nosso ridículo. Querem alguns exemplos, para começar a semana bem?

Existem pessoas que sonham com um mundo em que a alimentação seria tão pura que as frutas disponíveis para venda seriam colhidas por macaquinhos ?"disse certa feita um amigo meu filósofo amador e corintiano. Imaginem que coisa mais linda: toda uma indústria de alimentação cuja fonte fossem colônias de macaquinhos livres colhendo livremente frutas livres!

Aliás, essa ideia surgiu numa conversa em que o tópico era uma manifestação de veganos em frente a uma grande catedral numa cidade europeia muito chique. Um telão mostrava imagens de animais sendo mortos em matadouros. Ao lado, barraquinhas trabalhavam pela causa dos macaquinhos livres colhendo frutas livres e acima um banner de uma importante marca de tecnologia. As pessoas, todas europeias chiques, do tipo que salva o mundo plantando uma horta orgânica na sua varanda, pareciam não saber que o veganismo é uma indústria gigantesca cujo objetivo é ter lucro com essa gente riquinha. Veganismo é big business.

Uma derivação desse grupo são os veganos sexuais. Estes, enojados com pessoas que são cruéis o bastante para chacinar vaquinhas inocentes, recusam fazer sexo oral em quem coloca um bife na boca.
Olhe lá o que você anda colocando na boca, tá?!

Outro exemplo do mundo contemporâneo ridículo: campanha contra mulheres fazerem sexo de quatro. Sim, você leu certo. Já tivemos a chance, noutro momento, de prever esse movimento contra mulheres fazerem sexo de quatro. Como sempre digo, basta imaginar coisas ridículas e você tem uma enorme chance de virar profeta hoje. A ideia é que ficar de quatro no sexo é submissão. No pé que as coisas vão, o desejo sexual será colocado na lista de coisas ruins como o tabaco e o bife. Pedir pra puxar o cabelo, então, nem pensar. Seria transar de quatro uma violência de gênero?

Nossa lista avança. Coaching de gratidão financeira. Se já não bastasse o povo que fala "gratidão", ou pior, "gratiluz", e que afirma que aprendendo a ser grato você dormirá melhor à noite, agora surge no mercado de coaching o pessoal que ensina a gratidão financeira. Segundo nossos profissionais que ensinam a você ser uma pessoa bem-sucedida berrando fórmulas, dizendo "obrigado" ao dinheiro (será mesmo? Custo a crer...), você ganhará mais dinheiro.

Veja: devemos sim ser gratos a quem nos dá a chance de trabalhar e ganhar dinheiro. Devemos sim saber que, mesmo sendo competentes, existe uma dimensão de contingência que depende da sorte, do azar e de pessoas com boa vontade para nos ajudar.

Devemos ser gratos. Mas, se alguém te cobra pra te ensinar a ser grato e diz que sendo grato você ganhará mais dinheiro, cuidado! Você deve estar diante de alguém que fará você perder dinheiro. Ele deverá sim agradecer a sua ingenuidade. E o "tricoaching"? Coaching com tricô...

Semelhante ao absurdo acima é você gastar dinheiro para aprender a se despedir de camisas, calcinhas, cuecas e sapatos. E não se esqueça dos cintos, coitados! Se você não consegue jogar fora coisas velhas que não servem mais para nada, contrate um coach que ensinará a agradecer tudo o que sua calcinha fez por você. Reconheça, antes de jogá-la fora, o quanto ela foi essencial para você descobrir que gostava, antes de proibirem, de fazer sexo de quatro. Seja sincero com sua cueca ao reconhecer que você brochou tantas vezes na vida, mas que nada disso foi culpa dela, coitada. Chore sinceramente diante do saco de lixo em que você está a ponto de jogá-la.

E, para completar nossa seleção de coisas ridículas desta segunda-feira, vamos refletir um pouco sobre um novo conceito fundamental para a vida afetiva: responsabilidade afetiva. Conhece? Se não conhece, você deve praticar com frequência irresponsabilidade afetiva.

Ser responsável afetivamente é não fazer ninguém sofrer por amor. Sei. Sendo você uma pessoa inteligente, e com experiência de vida, já sacou que ninguém ama sem sofrer. Desde o alto paleolítico, naquela época em que as pessoas de 15 anos não achavam que entendiam mais das coisas do que as de 50, já se sabia que amar é sofrer. Responsabilidade afetiva é você ter uma desculpa chique pra projetar sobre o outro suas neuras afirmando que, se ele não faz o que você quer, ele é um irresponsável afetivo. Uma forma de covardia afetiva gourmet. Ridículo.

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