12/09/2019
“O único negócio com certeza de lucro é o transporte coletivo. A mercadoria é paga antecipadamente. Carrega e se descarrega sozinha. Como pode uma empresa de transporte coletivo falir ou não respeitar o produto que é o passageiro?” pergunta o leitor desta coluna, o gasparense Roberto Basei, depois de ler o que escrevi na coluna do dia quatro de setembro no portal Cruzeiro do Vale e que tinha como título: “Sem passageiros, os preços das tarifas no Sistema Coletivo Urbano tendem a aumentar e afastar ainda mais os usuários. É um ciclo vicioso. E em Gaspar, esta já é uma tendência em curso que fez a antiga concessionária do serviço correr daqui com a promessa de cobrar na Justiça os prejuízos”. Na verdade, aquela coluna baseava-se no que acontece em Joinville, era também uma continuação da que eu tinha escrito na edição impressa Cruzeiro da sexta-feira, 30 de agosto: “o novo modelo do transporte coletivo de Gaspar é tão velho que passageiro será matéria de segunda para os políticos que dizem ser a voz do povo sofrido”.
O que me traz ao tema pela terceira vez em algo que já está marcado para morrer antes mesmo de nascer? Três fatos. O primeiro é que tardiamente, a Câmara resolveu fazer uma audiência pública sobre a concorrência que está na praça para outubro. A iniciativa foi Cícero Giovane Amaro, PSD. Será na noite do dia 25 de setembro. Sinceramente? Será para inglês ver. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, já demonstrou estar surdo para este assunto, tanto que, por falta de iniciativa inovadora está permitindo o palanque de Cícero. O vereador também não mostrou nenhuma luz. O segundo é de que pelo modelo apresentado é talhado para o certame dar deserto pela terceira vez. Parece até proposital (?). E o terceiro fato, é que a manifestação de Basei não foi à única. Estamos num mato caçando sem GPS, sem cachorro e sem drones como se exige nos dias de hoje.
Quem é o empresário, verdadeiramente conhecedor do ramo, que vai dar R$174 milhões para a prefeitura encher os seus cofres; vai dar ônibus novos; cobrar menos do que se cobra hoje de passagens; sustentar linhas comprovadamente deficitárias; concorrer com linhas intermunicipais e sem qualquer comutação com os sistemas de Blumenau e Brusque, por exemplo? Ou é doido, ou é mágico, ou é um investidor mal-intencionado: vai entrar na parada para mais adiante pedir da prefeitura àquilo que ela lhe prometeu no edital e não cumpriu: passageiros. Aliás, antes de prosseguir: você já percebeu que a prefeitura ganha duas vezes sem investir um tostão? Na concessão de um serviço que ela deveria bancar e ainda recebe uma parte do que o sistema produz. Na verdade, o mundo não apenas mudou. Ele está mudando. Rapidamente. Pior, não se sabe onde isso vai dar. A mobilidade coletiva e individual está neste contexto. Só aos políticos, os gestores sem visão do futuro que infestam à prefeitura de Gaspar não enxergam o que acontece entre nós. Ora, se a prefeitura e os vereadores sequer conseguiram regular os aplicativos de passageiros como podem pensar que estão no século 21? A licitação do transporte coletivo é do século passado. E ainda cobram um passe de 20 anos como se tudo parasse hoje? Incrível!
As cidades estão discutindo como compartilhar e regular os patinetes elétricos que são alugados por aplicativos em qualquer ponto; igualmente as bicicletas; tudo concorre diretamente com o transporte coletivo e Gaspar está pensando em ônibus tradicional, para linhas tradicionais, para horários tradicionais, com cobradores tradicionais. Se você pedir um Uber, além do conforto, você em alguns casos pode andar mais, pagar qual uma passagem e no horário que você quiser. Há tecnologia, há conceitos novos no ar. Por que não pensar fora da casinha ou então imitar o que já se evoluiu? Por que não pensar em horários diferenciados, preços diferenciados por rotas e horários, horários diferenciados, ou até trechos com preços diferentes, terminais com bicicletários, patinetes, ou espaços para carros, ônibus menores, comutação, além das tradicionais (e antigas, que aqui ainda não existem) pistas exclusivas para dar velocidade aos coletivos? Até que ponto linhas e horários rentáveis são obrigados a subsidiarem linhas e horários sem lucro. Até o socialismo por aqui é antigo. Então, Basei, o único que quer lucrar nesse negócio é a prefeitura, mas ela não entendeu que pode estar se metendo numa armadilha com sua ganância e ignorância. Os resultados políticos eleitorais poderão ser desastrosos quando tudo for compreendido. Velhos disfarçados de jovens. Acorda, Gaspar!
O Ministério Público da Comarca de Gaspar quer saber como e porquê o Samae de Gaspar está misturando os recursos financeiros – os quais alegou estar “sobrando” no seu caixa, por única competente gestão do mais longevo dos vereadores, o presidente da autarquia, José Hilário Melato, PP – decorrentes da aprovação do Projeto de Lei Complementar 03 (que virou a Lei Complementar 103/2018) do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB.
Este PLC deu entrada na Câmara em abril 2018 em “regime de urgência”. Mas, devido às controvérsias e polêmicas, só foi aprovado por maioria mínima, em meados de novembro daquele ano. As dúvidas e a mistura de recursos foram temas recorrentes basicamente só aqui neste espaço.
Lara Zapepelini Souza, da terceira promotoria da Comarca, mandou um ofício ao prefeito no dia 22 de agosto. E deu prazo de 20 dias para ele se explicar sobre as denúncias feitas pela bancada do PT na Câmara (Mariluci Deschmps Rosa, Dionísio Luiz Bertoldi e Rui Carlos Deschamps, este funcionário aposentado do Samae, onde foi seu diretor técnico). Na imprensa um silêncio só sobre esta denúncia, apesar de pública e espalhada nas redes sociais.
Apenas o líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, há três sessões, mostrou-se indignado com ela e culpou a oposição por supostamente atrasar ainda mais Gaspar ao questionar o cumprimento da lei. Por enquanto, a promotora está pedindo só explicações. E nisso, a prefeitura tem sido uma craque.
Já houve casos mal explicados – até porque o atual poder de plantão se diz de corpo fechado e acha que qualquer explicação serve. Esses assuntos enroladas se transformaram em problemas, como foi o caso do prédio construído aqui no Centro. Ele invadiu uma Área de Preservação Permanente do Ribeirão Gasparinho. E nas primeiras explicações, a prefeitura jurava que estava tudo regular. Quando o assunto bateu na Ouvidoria do MP, tudo mudou.
O que a denúncia que está no MP tenta demonstrar? Que a prefeitura não está cumprindo um acordo judicial que firmou nos autos da Ação Civil Pública nº 025.09.007471-2. Ou seja: Gaspar já está em dívida neste assunto e parece que não aprendeu.
Esta ação tramita na Comarca e obriga entre outras à Elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico; elaboração de projetos para a execução do serviço de esgotamento sanitário; implantação, operação e prestação do serviço público de coleta, transporte e tratamento de esgoto sanitário.
Os denunciantes entendem que o prefeito e o Samae estão fazendo pouco caso de algo sério, fazendo remendos e como já se provou em assunto que também está no Ministério Público, há dúvidas na contratação, execução diferente ao licitado e até falta de projetos como na drenagem da Rua Frei Solano, no bairro Gasparinho;
Para os vereadores denunciantes, o descumprimento do acordo judicial, além de grave e uma afronta à Justiça, causará ainda mais prejuízos à cidade e aos cidadãos
Por fim, além da irresponsabilidade, os vereadores – e que sempre foi tema dos debates quando o assunto esteve em pauta na Câmara– a abertura, limpeza de valas e a drenagem de áreas urbanizadas, que na verdade são de esgotos - sob a responsabilidade do Samae, traz uma sobrecarga financeira. Ela compromete os serviços geradores de caixa da autarquia como o tratamento e distribuição de água, bem como a coleta de lixo orgânico e reciclável.
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