13/02/2020
Sempre escrevi: o tempo é o senhor da razão. E depois de três anos, o governo do eleito Kleber Edson Wan Dall, MDB, do vice Luiz Carlos Spengler Filho, PP e do prefeito de fato, presidente do MDB, ex-coordenador da campanha vencedora e atual secretário de Fazenda e Gestão Administrativa de Gaspar, Carlos Roberto Pereira, lavou, outra vez, a minha alma. Na terça-feira da semana passada Kleber – ex-vereador e ex-presidente - foi à Câmara prestigiar a primeira sessão ordinária deste ano. Fez isso em 2017, 2018 e 2019. Desta vez, entretanto, dois fatos chamaram a atenção. Ele tinha 15 minutos para palanque eleitoral na tribuna – como registrei na coluna de segunda-feira escrita especialmente para o portal Cruzeiro do Vale -; usou menos de cinco. Mais. Kleber, o que transformou Gaspar num canteiro de obras, esqueceu-as. Preferiu uma outra faceta: a do gestor exemplar. E para isso, está percorrendo o Brasil para mostrar tal façanha. A nova narrativa, entretanto, não estava nos discursos dos seus vereadores.
Kleber voltava de uma apresentação na Associação dos municípios Mato Grosso do Sul. Foi caravana mostrar o tal Modelo de Excelência em Gestão Pública e que se propaga por aqui, não se entende e cola. Primeiro é preciso explicar aos leitores que a equipe – e sem demérito nenhum à ela – está fazendo apenas uma obrigação: o de preencher corretamente o novo modelo de prestação de contas de dados exigidos pelo governo de Jair Messias Bolsonaro, sem partido, e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo, a mudança de discurso ocorre por dois motivos: é que à falta de transparência está corroendo à imagem do candidato Kleber perante à nova exigência do eleitorado. Outubro de 2018 foi sinalizador. E para complicar as obras estão sob dúvidas e podem não terminar a tempo para se comemorar e trocar por votos. Terceiro: o MS e outros municípios não vão eleger Kleber, mas podem alavancar a propaganda por aqui, se bem-feita, por aqui. Até nisso, estão falhando desde o primeiro dia de governo.
Ao invés de firulas na propaganda, os “çabios” que rodeiam Kleber e ele próprio, deveriam assumir que possuem uma equipe ruim, feito de amigos, com gente vingativa e que está devendo à cidade. A Controladoria, a Procuradoria Geral e a Secretaria da Fazenda e Gestão Administrativa, por exemplo, deveriam ter preenchido corretamente a prestação de contas de 2017 e 2018 e que enviaram ao Tribunal de Contas do Estado. Elas foram merecedoras de longas reparações, incluindo queixas de que, instados a se explicarem, fizeram-se de surdos. Os próprios vereadores são testemunhas da falta de transparência do governo. Seus requerimentos atrasam-se nas respostas, a tal ponto de que alguns deles só foram respondidos e parcialmente, mas na marra e só por mandado de segurança. A Comissão Parlamentar Processante em pleno funcionamento, é resultado da dúvida que se instalou e da banana que um ex-presidente da Câmara e o do Samae, governado, vejam só, pelo mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, mandou para Legislativo. E a lista é longa, muito longa. A cidade sabe. E agora, talvez, tardiamente, Kleber se deu conta que pode ser cobrado nas urnas em outubro por práticas da velha política em um político tão jovem. Entre esta prática está a de dizer que o preenchimento de um documento oficial para Brasília substituiu todos os erros que insistiu em outros formulários como para o TCE.
E para piorar, o mais novo gestor exemplar de Gaspar admitiu no discurso que fez na Câmara, de que não é só de obras visíveis e necessárias que vive um político. Ufa! Gabou-se, por exemplo, que depois da duplicação da BR 470, a maior obra de infraestrutura é o tal Anel de Contorno que faz. Menos, prefeito! O que se aprontou até agora foi feito pela iniciativa privada usando à correta legislação compensatória. Daquilo que depende da prefeitura, no ritmo de hoje, nada deverá ser entregue até outubro. E se não bastasse, o projeto executivo do Contorno ainda não foi entregue pela Iguatemi. É que nas Águas Negras, há um loteamento aprovado no meio do caminho. Então e só para relembrar: o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, foi quem primeiro testou para Kleber de que não é só de obras visíveis e necessárias que vive um político para ser reconhecido e receber votos. Zuchi construiu a Ponte do Vale e seu secretário de Obras, Lovídio Carlos Bertoldi, PT, candidato, perdeu para Kleber. O eleitor queria mudanças. Agora, também!
Para encerrar, devo mostrar que o discurso do gestor exemplar para o atual prefeito ainda não chegou ao líder do governo na Câmara, Francisco Solano Anhaia, MDB, ex-petista. É preciso combinar com ele. Anhaia, na mesma sessão em que Kleber esteve para discursar, tentou provar à incoerência das narrativas e práticas da oposição, que as chama de esquerdistas. Ela acusa o governo Kleber de alto endividamento, comprometendo futuras gestões, inclusive a dele se for reeleito. Só de empréstimos, em três anos, Kleber conseguiu perto de R$140 milhões, ou seja, quase três e meia pontes do Vale. Zuchi, em oito anos de administração tomou emprestado, conforme números do próprio Anhaia, R$29 milhões. Então onde está´, verdadeiramente, a incoerência e os incoerentes apontados por Anhaia que tentava desqualificar o discurso de Zuchi. O ex-prefeito, por jogada e relacionamentos, fez a Ponte do Vale ao custo de R$44 milhões, sem praticamente dinheiro direto dos pesados impostos dos gasparenses.
O fator Ciro. Os emedebistas de Gaspar apostam em oito por dez que o presidente da Câmara, Ciro André Quintino não sairá do MDB. E que os seus ensaios de bastidores, na verdade são para sair da porta do ônibus do partido onde está pendurado e pegar uma poltrona mais confortável.
Já escrevi na coluna de segunda-feira, feita especialmente para o portal Cruzeiro do Vale: a direita e os conservadores de Gaspar ou estão como baratas tontas ou jogam juntos para o reeleger o poder de plantão. PSL, Aliança pelo Brasil, PRTB e agora o PL estão disputando o mesmo naco, sem verdadeiramente se diferenciarem do que aí está.
Manchete no dia 11 de fevereiro do gestor exemplar: “prefeitura de Gaspar tem crescimento econômico de 17,2% [em 2019]”. Não é econômico, e sim de receitas. Verdadeiro. Tanto que no dia 23 de janeiro, ou seja, 20 dias antes, fiz esta manchete aqui: “o orçamento de Gaspar continua sendo uma peça de ficção no atual governo. Despesa estoura de 2019 e receita dependeu de recursos externos e financiamentos”.
O que a manchete do gestor exemplar esconde e que esmiucei em 23 de janeiro? Que a outra parte da conta está embrulhada. “O orçado das despesas em R$256,8 milhões foi afogado pela assustadora cifra consolidada de R$317 milhões (receitas reais R$ 221,6 milhões). Dos empenhados R$261,4 milhões durante o exercício, só R$221,2 milhões foram pagos.”
Segunda-feira prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, anunciou a saída do seu chefe de Gabinete, Roni Muller. Ele veio promovido da tal Gecom – Gestão Compartilhada e que no tempo do PT tinha o apelido de Orçamento Participativo. Roni já foi assessor parlamentar de Ciro André Quintino, MDB. Mas, não convidem os dois para o mesmo café.
Houve uma troca e um claro desprestígio. Jorge Luiz Prucinio Pereira, evangélico, amigo de Kleber, até então titular da Fundação Municipal de Esporte e Lazer, presidente do PSDB, foi promovido. Vai para a chefia de gabinete – o lugar que sempre pleiteou - e Roni para a Fundação, segundo Kleber, área que ele sempre queria. Notoriamente Roni foi rebaixado.
A verdade. Jorge não tinha a chefia de gabinete porque o prefeito de fato e presidente do MDB, o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira, não o queria lá. Roberto perdeu.
Roni era o “espião” do secretário Roberto no gabinete e não deu conta do recado. Como está na hora das amarrações políticas para se perpetuarem no poder, é melhor perder os anéis agora dos que os dedos em outubro. Outra: Jorge Luiz não tinha mais motivos para viajar com tanta frequência a Brasília. Agora, tem. Nem mais, nem menos. Acorda, Gaspar!
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).