MAIS EMPREGO NA PREFEITURA DE GASPAR. ASSOCIAÇÃO DE MÉDICOS OBRIGA A CONTRATAÇÃO DE UM DIRETOR TÉCNICO PARA A SECRETARIA DE SAÚDE. KLEBER QUER UM COMISSIONADO. SILVIO CLEFFI QUER UM EFETIVO E ARMA UM DEBATE - Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

MAIS EMPREGO NA PREFEITURA DE GASPAR. ASSOCIAÇÃO DE MÉDICOS OBRIGA A CONTRATAÇÃO DE UM DIRETOR TÉCNICO PARA A SECRETARIA DE SAÚDE. KLEBER QUER UM COMISSIONADO. SILVIO CLEFFI QUER UM EFETIVO E ARMA UM DEBATE - Por Herculano Domício

05/06/2018

Na sessão da Câmara da terça-feira passada não houve nenhuma apreciação e votação de projeto de lei, como reportei na coluna de ontem. Na de hoje, haverá. Entretanto, na terça-feira deu entrada o Projeto de Lei Complementar 7/2018 que cria mais um cargo comissionado na prefeitura de Gaspar.

A criação dessa função comissionada se disfarçou no título do PLC com linguagem técnica sempre usada para esses casos. Ele diz que “altera e acrescenta dispositivos na lei complementar nº 80, de 02 de agosto de 2017”.

Resumindo: é um cargo de “Diretor Técnico em Saúde”, inscrito no CRM. Detalhe com dez ou 20h de carga horária semanal para ganhar exatos R$ 6.918,73. Ou seja, já começou na origem do projeto a confusão, ou a brecha, para ninguém fiscalizar direito estas dez ou 20 horas a que está obrigado. Ou é dez ou é 20 e ponto final. Daqui a pouco vem a tal isonomia ainda mais se for efetivo...

Mas, esse não é o ponto principal deste artigo, pois esta pegadinha, própria no ambiente público que consome os nossos impostos, é mais comum do que parece ser, devido à fraca fiscalização dos vereadores quando fazem as leis, ou quando elas lastreiam à realidade. Então há tempo para esclarecer e corrigir esse vício, para que não reste a menor dúvida, hoje e principalmente, no futuro.

O cerne da discussão se divide em dois: por que isso não foi proposto na tal Reforma Administrativa do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB? Não viram a necessidade que agora é imposta pela Associação de Médicos? Ou não se tinha quem indicar à época e se “esqueceu” dessa obrigação? Ou sabendo do desgaste, não queria aumentar além dos R$600mil anuais o rombo que a tal “reforma” produziu aos cofres municipais sustentado pelos impostos dos gasparenses?

Para lembrar: a “reforma” foi elaborada pelo seu então supersecretário de Fazenda e Gestão Administrativa e que acumulava duas secretarias nesse ambiente administrativo, o advogado Carlos Roberto Pereira, MDB. A secretaria da Saúde, agora é tocada por ele. E a outra questão é a que tomou conta antecipada do debate desse assunto na sessão da semana passada: por que não um cargo efetivo ao invés de um comissionado?

SEM REGIME DE URGÊNCIA

Para a primeira questão está cada vez mais clara: a tal “Reforma Administrativa” foi feita e aprovada para o poder acomodar amigos da coligação vencedora e ela se nega ou se contrapõe na prática a propaganda governamental, a da “eficiência”. A segunda questão é que desta vez o governo parece estar no caminho certo, todavia já encontrou um adversário corporativista da ideia: o ex-aliado, o funcionário público, o médico, o que interferia na secretaria de Saúde, nem por isso, não a tirou do caos e presidente da Câmara, Silvio Cleffi, PSC.

Na sessão de hoje, Silvio encabeça um requerimento para quebrar o regime de urgência do PLC. Armou a barraca, o discurso e o palanque. Parece que o preenchimento desta vaga não é tão urgente como disse ser, o Conselho Regional de Medicina.

Este debate, como Silvio antecipou da tribuna de terça-feira, é algo corporativo (médico e sindical) e político (situação versus oposição). É para marcar posição de Silvio, PT, PDT e PSD desgastados na guerra que se instalou para aprovar a contratação de um “procurador geral” comissionado com ganhos mensais em torno de R$9 mil para a Câmara. Com uma diferença clara: a do “procurador geral” não é uma obrigação, é uma invenção do presidente da Câmara e seus aliados PT, PDT e PSD. Já a do Diretor Técnico em Saúde é, e estranhamente com participação do próprio Silvio. Explico.

Em meio aos discursos confusos na terça-feira a favor do bloqueio das estradas pelos caminhoneiros, Silvio aproveitou para colocar este PLC no seu radar e se mostrar contrariado com ele. Para Silvio é mais a criação de um cargo comissionado. Já escrevi: não é. E por quê?

O próprio Silvio, que é médico, se contradiz e diz que essa função – a de Diretor Técnico em Saúde - já deveria estar funcionando há muitos anos na prefeitura. Ou seja, ele como um especialista, como defensor da classe, reconhece a necessidade desta função, tanto que foi o CRM, movido por denúncias de gente ligada à classe médica, quem obrigou a prefeitura a cria-la para sanar o que está supostamente irregular por décadas, sob pena de infligir à legislação vigente sobre este assunto.

Ou seja, Silvio, como político pego no contrapé no seu caso do procurador geral, está jogando para analfabetos, ignorantes e desinformados. E ele sabe disso muito bem. Entretanto, é do jogo político, da medição de forças, infelizmente.

EFETIVO OU COMISSIONADO O CUSTO É O MESMO?

Na verdade, Silvio defende que a função de Diretor Técnico em Saúde seja confiada a um médico efetivo, concursado para tal. Ou seja, de uma forma ou de outra, as despesas com a contratação desse médico haverá de qualquer forma e não há hipótese de economizá-la. Então, não é mais um cargo comissionado para acomodação política; é uma obrigação criada pela própria corporação médica.

Mas qual a reclamação que Silvio Cleffi tenta fazer e levar o PT, PDT e PSD a endossá-lo? É que ao tornar esta vaga um cargo efetivo, por concurso, evitaria a troca a titularidade a qualquer momento permitida a um médico comissionado e até mesmo de confiança. A prefeitura, pensa diferente: trata-o como o cargo técnico, mas de confiança, pois ele lidará com a política de saúde do prefeito de plantão. Hoje é Kleber, mas no futuro...

Um efetivo, estaria em tese, sujeito a interferências políticas externas, inclusive da própria corporação médica, travestidas de técnicas, exatamente para criar dificuldades ao governo de plantão, incluindo cumprimento de horários.

O que não o prefeito Kleber não justificou no PLC para a criação desse cargo, terá que fazer no embate da Câmara.

Finalizando: a criação de mais esse custo para os gasparenses pagarem, neste caso, não foi exatamente “inventado” pelo prefeito Kleber e seu secretário de Saúde e prefeito de fato, Carlos Roberto Pereira, mas pela legislação, pelos médicos que adornam à causa de Silvio Cleffi de interferir num governo que ele próprio traiu e foi à oposição e de lá, tenta influir na política de Saúde. Acorda, Gaspar!

ADILSON VOLTA A GASPAR. O RECOMEÇO POLÍTICO, A PRINCÍPIO, SERÁ COMO MÉDICO VETERINÁRIO. É QUE ELE NÃO DISSE QUE DESISTIU DA POLÍTICA

Adilson Luiz Schmitt, ex-prefeito de Gaspar, médico veterinário, não é mais Gerente Operacional de Apoio na Fesporte, em Florianópolis, onde estava desde 2015. Ele entregou o cargo ontem e anunciou isso na sua rede social. Este cargo é político e é da cota do deputado Aldo Schneider, MDB, no governo do estado, hoje presidente da Assembleia e adoentado – tenta se recuperar de um câncer na coluna.

Adilson estava de férias e o que fez ontem já era uma decisão tomada como antecipei aqui nesse espaço, há semanas. Adilson já teve um cargo melhor no status e remuneração na cota de Aldo no governo do estado: a de gerente de Bens Móveis, da secretaria de Administração (2011 a 2014).

Adilson fazia jornada dupla: trabalhava no governo de Raimundo Colombo, PSD, percorrendo o estado e nos finais de semana, em Gaspar, fazia o atendimento veterinário na Clínica Trinca Ferro. Agora, Adilson jura que vai se dedicar exclusivamente à profissão. Poucos acreditam. Natural! Até porque ele não anunciou a sua retirada da vida política, apesar dela estar meio sem rumo.

Quando jovem, na velha prática de se anunciar como o “novo” à política, muito por insistência dele próprio, Adilson se tornou a grande aposta do MDB de Gaspar depois do governo de Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho, ter sido o único até agora na história da cidade a não terminar o mandato. Entretanto, pouca coisa deu certo para Adilson desde então, incluindo a suposta “benção” que teria do seu sogro e ex-prefeito também pelo MDB, Osvaldo Schneider, o Paca.

No fundo, Adilson não teve fôlego, paciência, sabedoria, estratégia e principalmente gente para gerir as dificuldades naturais e as “criadas” pelo partido, coligação, familiares e do próprio governo em si. Esteve rodeado de gente fraca; enxergava traição em todos os lugares – apesar delas existirem e sempre vão acontecer. Adilson ou trabalhou com gente obediente e pífia resultado, ou com gente feita de interesses passageiros enquanto ele detinha o poder e centralizava tudo como poucos. Salvou-se em parte e por tempo limitado pela paciência do seu vice, o empresário Clarindo Fantoni, PP, e pelo hábil e temido procurador geral, Aurélio Marcos de Souza. O que escrevo já falei pessoalmente para ele e algumas vezes.

Adilson chegou ao poder numa aliança da cobra e o sapo (MDB e PP como hoje acontece com Kleber e Luiz Carlos) de 2005 a 2008. Não vou repetir aqui a história contada, recontada e algumas vezes, desmentida. Entretanto, ainda prefeito, o MDB de Gaspar e Adilson se divorciaram. Foi litigioso e com marcas profundas arte hoje.

Adilson tentou ainda o PSB e PPS com os seus fiéis ou os da hora. Tudo ruiu. Hoje está sem partido. Isolado e desgastado, Adilson não se reelegeu em 2008 e até perdeu uma outra tentativa à prefeitura em 2012. Um sintoma desse passado se refletiu no presente e passa despercebido. Adilson sai do governo do estado, exatamente quando se instala o governo do MDB, de Eduardo Pinho Moreira. Adilson, apenas antecipou àquilo que o MDB de Gaspar na vingança, manobrava nos bastidores para tirar a vaga dele. Juntava-se os interesses do vereador Ciro André Quintino, MDB, outro cabo eleitoral de Aldo Schneider.

A insistência de Adilson pela vida política tem duas vertentes: a primeira é que Adilson gosta do assunto e de ter poder; a segunda, é que derrotado, Adilson, praticamente só, procurou caminhos para dar a volta por cima, provar aos outros – e não a ele mesmo - que tinha forças que seus adversários teimavam em diminui-las por todos os meios e circunstâncias.

E nesse caminho, apareceram os deputados Aldo Schneider (estadual) e Mauro Mariani (Federal e hoje presidente do MDB estadual). Adilson foi cabo de ambos, desconhecidos por aqui. Teve sucesso. E como paga parcial do resultado, Aldo o recompensou com cargos no poder em Florianópolis, exatamente os do MDB onde não mais estava de fato, mas sonhava com uma volta triunfante.

Entretanto, a disputa de Adilson no caso de Aldo com sua cria polícia e seu ex-subordinado na Ditran, hoje vereador Ciro Quintino tornou toda essa relação muito difícil. Ciro, Kleber e o MDB de Gaspar fecharam todas as possibilidades há muito tempo. Nem morto politicamente o querem. É parte do jogo.

Aldo sabia de tudo isso e não tomou partido. Adilson então, antecipou-se. Ele, na verdade, está oficializando a separação já pré-anunciada há dois anos na campanha que elegeu Kleber Edson Wan Dall, MDB. Naquela campanha, há relatos do impedimento da simples presença de Adilson em reuniões públicas a favor de Kleber.

Duvida-se, todavia, que Adilson não continuará na função de cabo eleitoral. Assim, o gesto de ontem tornará livre Adilson para medir forças novamente com suas crias e ex-parceiros a favor de desconhecidos sendo eles ou não do MDB. Só isso. E a prática da medicina veterinária? Ele poderá continuar a ser um bico. Ele jura que não, mas... Acorda, Gaspar!

 

TRAPICHE

As recém retomadas sessões noturnas da Câmara de Vereadores, mostraram-se mais atraentes à presença dos munícipes ao auditório do Legislativo gasparense. É visível e os próprios vereadores constatam nos seus próprios discursos.

Então desmancha-se as argumentações e votos dados em 2017 quando essa matéria foi rejeitada pelos vereadores Silvio Cleffi e José Ademir de Moura ambos do PSC, Franciele Daiane Back, PSDB, além de Francisco Hostins Júnior, Francisco Solano Anhaia, Ciro André Quintino e Evandro Carlos Andrietti, todos do MDB.

É notório o desconforto e senso de vingança do presidente da Câmara de Gaspar, Silvio Cleffi, PSC, diante da minoritária bancada governista a qual pertenceu, antes de ser eleito presidente com os votos e dar maioria ao PT, PDT e PSD contra o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB.

Há duas sessões e este fato a imprensa gasparense não registrou, Silvio Cleffi, PSC, encerrou a sessão sem dar a palavra ao líder do governo, o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB. Silvio, estaria amparado pelo regimento interno. As sessões ordinárias têm um tempo de duração e em função disso, ela pode ser interrompida.

Foi o que Silvio fez para surpresa de Júnior e os da minoritária bancada governista. Mais surpreso, foi a passividade de Júnior que não interpelou o presidente pela suposta “cassação” da palavra. O governo passou a sessão inteira malhada pela oposição, inclusive pelo Silvio que ocupou a tribuna, e não teve oportunidade de se defender por meio do seu líder. Este gesto de Silvio mostra a animosidade das partes.

O presidente da casa e não o vereador Silvio, poderia, como gestor da sessão, revelar o que está no regimento interno e encerrá-la. Não o fez. Poderia fazer mais: revelar o que está no regimento interno, mas como presidente estadista da Casa, anunciar que numa decisão excepcional, concederia oito minutos ao líder do governo para justificar o que lhe foi questionado.

Desconhecimento. O vereador Roberto Procópio de Souza, PDT, afirmou recentemente na tribuna da Câmara de Gaspar, de que a Bunge é argentina. Não é. Nunca foi. É uma multinacional de origem holandesa, hoje com sede administrativa em White Plains, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, com várias filais no mundo, como a Argentina e Brasil onde está há mais de 100 anos.

Triste imagem. Ontem o Hospital de Gaspar anunciou a “contratação” de mais médicos para o seu corpo clinico. A suposta boa notícia e que deveria ser comemorada, mas divulgada nas redes sociais, recebeu majoritária desaprovação. Os gasparenses estão inconformados com o que qualificam péssimo atendimento dos médicos do hospital: vivem no celular, estão de mau humor... Ai, ai, ai.  A boa notícia, é que há oportunidade de melhoria. Acorda, Gaspar!

 

Edição 1854 - terça-feira

Comentários

Herculano
05/06/2018 19:09
AGU PEDE AO STF PARA APLICAR MAIS R$ 506,5 MILHõES EM MULTAS A 46 EMPRESAS TRANSPORTADORAS, por Gerson Camarotti, no G1

A Advocacia Geral da União (AGU) pedirá ao Supremo Tribunal Federal (STF) para aplicar mais R$ 506,5 milhões em multas a 46 empresas transportadoras.

O valor se refere a multas de R$ 100 mil por hora determinadas em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

A decisão do ministro foi tomada quando a AGU pediu ao Supremo que declarasse ilegal a greve dos caminhoneiros.

Na semana passada, a AGU já havia pedido R$ 141 milhões em multas a 96 empresas.
Herculano
05/06/2018 19:00
CORRUPÇÃO NÃO É "CRIME MENOR" AFIRMA BRETAS EM OFÍCIO A GILMAR MENDES

Conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo. O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, enviou ofício ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em que afirma que a corrupção não pode ser vista como um "crime menor".

A manifestação foi anexada ao processo de habeas corpus do ex-presidente da Fecomércio-RJ Orlando Diniz, solto por Gilmar na sexta-feira. Ele havia sido preso em fevereiro pela Operação Jabuti, desdobramento da Lava Jato. Diniz foi uma das 19 pessoas liberadas por Gilmar no último mês, todas presas por ordem de Bretas.

"Também foi defendido que casos de corrupção e delitos relacionados não podem ser tratados como crimes menores, pois a gravidade de ilícitos penais não deve ser medida apenas sob o enfoque da violência física imediata", diz Bretas no documento. O magistrado afirma ainda que os casos de corrupção cometidos por agentes públicos "têm enorme potencial para atingir, com severidade, um número infinitamente maior de pessoas".

Nas últimas semanas, além de envolvidos na Operação Jabuti, Gilmar mandou soltar presos da Operação Pão Nosso, da Operação Rizoma (como o lobista Milton Lyra), e da Operação Calicute (dois integrantes do governo de Cabral).
Herculano
05/06/2018 18:53
EM AUDIÊNCIA, JUÍZA MANDA PRENDER ADVOGADO, QUE MANDA PRENDER JUÍZA

Conteúdo do site Jota, especializado em assuntos jurídicos. Texto de Guilherme Pimenta. No Maranhão, magistrada teria impedido defensor de ver processo que seria julgado. OAB e TJMA apuram episódio

Em audiência ocorrida na manhã desta terça-feira (5/6) no 1º Juizado Criminal do Fórum Sarney Costa, em São Luís (MA), a juíza Andréa Permulter teria dado voz de prisão ao advogado Tufi Maluf que, na sequência, deu voz de prisão à magistrada.

As informações são do blog do Diego Emir. Segundo o advogado, a juíza teria lhe impedido de acessar o processo que seria julgado nesta terça-feira. Revoltado, ele teria reagido e, então, recebido a voz de prisão.

Em vídeo, é possível ouvir o advogado dizer que "ela [juíza] me mandou calar a boca". "Se a senhora me dá voz de prisão, eu dou voz de prisão na senhora por abuso de autoridade", falou o defensor. "Eu não admito ela me mandar calar a boca. A senhora me respeite."

Em outro vídeo, policiais militares tentam acalmar o advogado. "Chame o major e mandem me prender. Prendam o advogado aqui dentro", diz Tufi Maluf aos policiais. A audiência é encerrada na sequência sem ninguém ser preso.

O Tribunal de Justiça do Maranhão, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que está apurando os fatos e ainda não conseguiu contato com a juíza.

Ao JOTA, o presidente da OAB-MA, Thiago Roberto Moraes Diaz, disse que a entidade, por meio de sua Comissão de Prerrogativas, está investigando o ocorrido que, confirmado, poderá levar a uma representação contra Permulter no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Herculano
05/06/2018 18:44
ALCKMIN ACHA QUE BOLSONARO NÃO VAI PARA O SEGUNDO TURNO

Conteúdo de O Antagonista. Geraldo Alckmin, que nesta manhã participou de um encontro da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base, disse que Jair Bolsonaro não vai para o segundo turno.

"Acho que ele [Bolsonaro] não chega no segundo turno. Vocês se impressionam com pesquisa antes da hora."

O pré-candidato do PSDB acrescentou:

"Depois de acabar a Copa do Mundo e depois de umas duas semanas de televisão e rádio, aí você esta mais perto e a população está interessada. Aí é que começa a corrida eleitoral."
Herculano
05/06/2018 18:43
DE BRETAS PARA LULA: "É RELEVANTE SUA HISTóRIA PARA TODOS NóS"

Conteúdo de O Antagonista. Terminou o depoimento de Lula como testemunha de defesa de Sérgio Cabral no âmbito da Operação Unfair Play.

O juiz Marcelo Bretas, que conduziu a audiência, disse no fim, referindo-se ao condenado:

"É uma figura importante no nosso país, é relevante sua história para todos nós. Para mim inclusive, que, aos 18 anos, estava aqui num comício com um milhão de pessoas e usando um boné e a camiseta com seu nome."

Lula o interrompeu:

"Pode usar agora. Quando eu fizer um comício agora vou chamar o senhor para participar."
Herculano
05/06/2018 18:30
MANIFESTO FEITO PARA UNIR O CENTRO DIVIDE O CENTRO, por Josias de Souza

Concebido com o propósito de unificar as forças políticas de centro, o manifesto 'Por um polo democrático e reformista' já produziu sua primeira consequência prática: acentuou a divisão do centro. Presidenciável do DEM, Rodrigo Maia enxergou na iniciativa um movimento mal disfarçado em favor da candidatura tucana de Geraldo Alckmin. E passou a torpedear o manifesto, arrastando a solidariedade do seu partido e de parte do chamado centrão. A desavença explodiu nesta terça-feira, dia do lançamento do manifesto.

Subscreveram o texto da hipotética unificação algo como três dezenas de pessoas. Em meio a assinaturas de congressistas do PSDB, MDB, DEM, PPS, PTB, PSD e PV, o documento traz a rubrica de acadêmicos e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Anota a certa altura: "Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral." A reação de Maia revela que as interrogações e as perplexidades do centro são maiores do que as oportunidades.

O manifesto prossegue: "Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade." Nada mais radical e instável no momento do que um bloco autoproclamado de centro que se divide como se estivesse a serviço dos rivais que avançam à esquerda e à direita.

Chama-se Marcos Pestana o principal articulador do manifesto. Deputado federal por Minas Gerais, ele é secretário-executivo do PSDB. Daí o pé atrás de Rodrigo Maia. Hoje, trafegam pelo centro sete candidaturas, todas na casa de um dígito nas pesquisas - ou nem isso: Flávio Rocha, João Amoêdo, Rodrigo Maia, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Alvaro Dias e Paulo Rabello de Castro.

Pestana despediça saliva informando que o manifesto não é pró-Alckmin. Sustenta que todas as candidaturas são "legítimas". O que se pretende no momento, segundo ele, é estimular a "reflexão", para impedir que a desunião empurre o "centro" para fora do segundo turno, transformando a sucessão presidencial numa disputa entre "a catástrofe e o desastre", como ele se refere às opções de esquerda e à direita paleolítica representada por Jair Bolsonaro.

O manifesto apregoa: "Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo". Antes de dialogar com o eleitorado, os animadores do centro terão de convencer gente como Rodrigo Maia de que o "dialogo" sugerido pelo manifesto não tem o objetivo de fazê-los calar a boca para que o bico de Alckmin deixe de ser ignorado. Por ora, o manifesto serviu apenas para revelar que a união do centro faz a farsa.
Herculano
05/06/2018 11:53
UM NOVO CICLO DA POLÍTICA, por Murilo Aragão, advogado e sociólogo, para o jornal O Estado de S. Paulo

Caminhamos para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário

Independentemente de quem venha a ganhar as eleições presidenciais deste ano, algumas questões já estão postas. A primeira é que o próximo governo manterá o presidencialismo de coalizão.

Afinal, sem uma grande coalizão o presidente da República não conseguirá governar, já que o polo central da política se deslocou do Planalto para o gabinete do presidente da Câmara dos Deputados. Portanto, sem uma identificação política entre governo e presidência da Câmara a administração funcionará aos soluços e dependente de medidas provisórias que poderão ser rejeitadas in limine.

Outra questão posta e assegurada é que a Operação Lava Jato e seus sucedâneos continuarão a produzir efeitos e a emparedar o mundo político. Em consequência, a imprensa - que nunca nutriu simpatia pelo establishment político - continuará sua faina diária de desinstitucionalizar o universo político. Independentemente do tamanho e da gravidade da culpa de seus atores.

A terceira questão posta é que o mundo político, entre cético e acovardado, assiste à sua destruição institucional sem esboçar reação. Aceita a perda de terreno para o Judiciário, não se rebela contra o seu ativismo de forma consequente e não constrói uma narrativa minimamente coerente.

Políticos caminham em meio aos destroços como se as bombas atiradas pelo Ministério Público e pela Justiça não os atingissem. Engana-se o mundo político, pois vivemos tempos em que praticamente tudo na política foi criminalizado e a presunção da inocência deu lugar à certeza antecipada de culpa.

Assim, as eleições de 2018 vão marcar apenas mais um passo rumo ao fim da política conforme estabelecida após o fim do regime militar.

Após os fracassos iniciais de Sarney e Collor, uma aliança rentista-burocrática promoveu o aumento da taxa de juros e da carga tributária para pagar a conta fiscal e controlar a inflação, em meio a uma alegoria democrática. Ao lado de certa disciplina fiscal, permitia-se uma bacanal partidária sustentada por três pilares: cargos públicos, verbas orçamentárias e intermediação de negócios. A estabilidade da aliança rentista-burocrática dependia, também, de bons salários para os cargos no Estado dos quais se executavam as políticas vigentes.

A equipe econômica era minimamente blindada para fazer política fiscal e monetária, e o mundo político era financiado para ajudar ou, ao menos, não atrapalhar. Sob a vista grossa de todos, políticos e empresários exploravam a intermediação de obras públicas e a venda às estatais. E a máquina pública impunha uma perversa política tributária, além de sufocar o federalismo.

Paradoxalmente, o ex-presidente Lula - o líder operário e esquerdista - foi o ápice do "novo-republicanismo", ao conciliar a manutenção da aliança rentista-burocrática com a expansão da classe média baixa e o aprofundamento do capitalismo tupiniquim de vendas ao governo. E uma expressão perversa do conservadorismo retrógrado de nossas esquerdas.

Rentismo e popularismo deram algum resultado. Os miseráveis viravam pobres. E os pobres viravam devedores das Casas Bahia! Por sua vez, a alta burocracia ganhou mais privilégios e aumentos salariais generosos, enquanto os ricos ficavam milionários.

O ocaso de Lula vem com o naufrágio da Nova República, cujo féretro está sendo conduzido por uma República que ainda não tem um nome, mas que arrisco chamar de República Judicialista.

Estamos caminhando para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário, e não necessariamente aos ditames das leis e da Constituição. Algo que, tempos atrás, chamei de "novo tenentismo".

Obviamente, o naufrágio da Nova República ocorre por contradições inerentes ao sistema, que, se por um lado permitiu a farra de verbas públicas, por outro aboliu a disciplina partidária, institucionalizou a corrupção e doações por dentro e por fora, fragilizou o federalismo e permitiu que o governo fosse capturado por corporações burocráticas.

O episódio do mensalão iniciou um processo irreversível de mudanças. Pela primeira vez o sistema político foi incapaz de se proteger no Judiciário. Mas como nada vem sozinho, a cretinice do mundo político veio acompanhada de outras transformações que retroalimentaram o processo.

Por conta da dificuldade de chegar a consensos políticos importantes, recorreu-se à Justiça para arbitrá-los. Abrindo mão de decidir, o Legislativo estimulou o Supremo Tribunal Federal a assumir o papel de terceira câmara legislativa. Não só julgando, mas também legislando sobre temas relevantes.

Isto posto, proponho que estamos vivendo o naufrágio da política conforme estabelecida no fim do regime militar, como já dito, e reconheço a emergência de uma nova política, exposta tanto pelos índices de rejeição aos políticos quanto pela evidente supremacia do Judiciário sobre os demais Poderes.

As eleições não devem mudar significativamente o universo da política em termos de renovação. O judicialismo prosseguirá emparedando o mundo político e, aqui e ali, pondo algum político importante na cadeia. A política continuará criminalizada. Já que nem políticos nem imprensa, muito menos o Judiciário, conseguem e/ou desejam separar o joio do trigo.

Duas consequências estão claras: a ascensão do Judiciário como Poder e a dependência, cada vez maior, da validação do Judiciário às políticas públicas. Nada estará fora do escrutínio do judicialismo. Até mesmo o que não deveria ser judicializado. Novos tempos já estão em vigência e não poderão ser mudados nem sequer pelas eleições de 2018. Caberá ao Supremo Tribunal Federal conter excessos e, minimamente, tentar restabelecer o império da lei, ora ameaçado por um ativismo muitas vezes desenfreado.
Herculano
05/06/2018 09:56
A RECEITA DOS SINDICATOS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

A contribuição sindical continua existindo. Ela apenas deixou de ser obrigatória

A reforma trabalhista alterou significativamente as receitas dos sindicatos. Antes, uma vez por ano era descontado do salário do funcionário o equivalente a um dia de trabalho a título de contribuição sindical. Não havia escolha. Todos os empregados eram obrigados a repassar parte da sua renda ao sindicato da sua categoria profissional. Com a entrada em vigor da Lei 13.467/2017, que alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as contribuições sindicais tornaram-se voluntárias. Elas só podem ser descontadas do salário "desde que prévia e expressamente autorizadas", diz o novo art. 578 da CLT.

O caráter facultativo da contribuição sindical fez despencar as receitas dos sindicatos. Em reação, várias entidades recorreram à Justiça com o objetivo de relativizar a necessidade de autorização do empregado. Almejam, por exemplo, que a autorização individual possa ser suprida por uma aprovação coletiva em assembleia. Tal manobra, como é obvio, fere o que está previsto na Lei 13.467/2017 e cabe à Justiça dar o devido rechaço a essa liberalidade com o salário do empregado.

A voracidade dos sindicatos parece, no entanto, não ter limites. Recentemente, foi noticiado um novo arranjo para avançar sobre o salário do empregado sem o seu consentimento. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins (Stefem) firmou com a Vale um acordo que, entre outros pontos, cria uma nova contribuição a ser feita pelo empregado, chamada de "cota negocial", para custeio das despesas do sindicato. A empresa fará um desconto anual, equivalente a meio dia de trabalho, do salário de cada empregado.

Na tentativa de dar à "cota negocial" uma aparente conformidade com a reforma trabalhista, o acordo estabeleceu que os funcionários não sindicalizados não serão obrigados a contribuir com o valor previsto. Para tanto, eles terão de manifestar expressamente que não estão de acordo com a cobrança. Essa exigência é uma inversão em relação ao que prevê a Lei 13.467/2017, que fala em autorização prévia do empregado. Além disso, o acordo não prevê que os funcionários sindicalizados possam manifestar sua oposição à nova cota.

O mais estranho nessa história é que o vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Renato de Lacerda Paiva, referendou o tal acordo, como se ele não contivesse patentes ilegalidades. Segundo o ministro, "o acordo é resultado de várias negociações, fruto de um consenso entre trabalhadores e empresa, com anuência do Ministério Público do Trabalho". Este, pelo visto, também não se deu conta de que a CLT tem agora novos requisitos para a cobrança de contribuição em favor do sindicato.

Com a Lei 13.467/2017, o trabalhador tem o direito de decidir se deseja ou não contribuir com o sindicato. Não existe acordo capaz de extinguir ou relativizar o exercício desse direito. Vale lembrar também que esse direito do trabalhador não é uma afronta ao sindicato. Antes, deve ser um poderoso estímulo para que essas entidades assumam a sua verdadeira missão, que é representar o interesse dos empregados.

A reforma trabalhista não extinguiu a fonte de receita dos sindicatos. A contribuição sindical continua existindo. Ela apenas deixou de ser obrigatória. É um equívoco, portanto, pensar, como às vezes se diz, que a Justiça do Trabalho teria agora de se preocupar em criar fontes alternativas de renda para essas entidades. O que é necessário é uma mudança de atitude dos sindicatos, para adequar-se à lei e também ao seu próprio caráter de órgão de representação. Em primeiro lugar, eles têm de perceber que o equívoco não está na situação atual, mas no regime anterior, que forçava o trabalhador a contribuir, em confronto com a liberdade de associação sindical prevista na Constituição.

A receita continua disponível aos sindicatos, mas, para obtê-la, eles devem necessariamente se aproximar do trabalhador e defender claramente os seus interesses. De outra forma, parece impossível que alguém se disponha a dar parte do seu salário a entidades interessadas primordialmente na boa vida de seus dirigentes.
Herculano
05/06/2018 09:55
TRABALHOS-BOSTA, por João Pereira Coutinho, escritor e sociólogo português, para o jornal Folha de S. Paulo

Muitos trabalhadores-bosta florescem no narcisismo dos pequenos poderes

Tempos atrás, fui convocado para uma reunião "importantíssima". Disse que iria e perguntei a que horas começava. "Nove da manhã", responderam. E a que horas terminava?

Silêncio do outro lado da linha. Cinco segundos depois, a réplica: "Terminar? Como assim?". Entendo o pasmo.

Na cultura laboral reinante, a reunião pode começar a uma hora definida; mas só acaba quando Deus quiser.

A ideia de que as pessoas têm trabalho (verdadeiro) para fazer e uma vida (pessoal) para viver não passa pela cabeça do burocrata moderno. Ele acredita genuinamente que reuniões intermináveis ?"aquelas reuniões de 15 minutos que acabam durando duas ou três horas?" são prova de excelência e produtividade.

Fui. A reunião durou três horas, quando teria sido possível tratar do assunto pelo telefone. Mas devo acrescentar, em minha defesa, duas coisas: primeiro, que não voltarei a pôr os pés em martírio semelhante; e, segundo, que esses martírios não fazem parte das minhas rotinas, embora façam parte da rotina do trabalhador comum.

Vamos por partes: existem "trabalhos de bosta" ("shit jobs"), "trabalhos-bosta" ("bullshit jobs") e "trabalhos que acabam virando bosta" ("jobs that were bullshitised"). Essas categorias filosóficas pertencem a Eliane Glaser em ensaio para o Guardian que merece ampla divulgação.

"Trabalhos de bosta" são trabalhos duros e necessários. Como limpar as ruas para que as nossas cidades não se convertam em antros fétidos e pestilentos. São trabalhos mal pagos que deveriam ser regiamente pagos.

"Trabalhos que acabam virando bosta" são trabalhos que não são bosta (originalmente), mas que se convertem em bosta pela burocracia demencial em que se afundam.

A academia é um excelente exemplo: em teoria, um professor universitário ensina e faz pesquisa; mas ensinar e pesquisar são hoje atividades marginais da profissão. O essencial está em mil tarefas burocráticas que transformam os acadêmicos em profissionais de "trabalhos-bosta". E o que são esses trabalhos?

Simplificando, são aqueles trabalhos que, se desaparecessem hoje, você não sentiria falta. São trabalhos sem sentido, normalmente de natureza "administrativa", que ocupam uma parcela cada vez maior do mercado laboral.

O antropólogo David Graeber, analisado por Eliane Glaser, escreveu um ensaio (que agora virou livro: "Bullshit Jobs") que resume o essencial: em 1930, J.M. Keynes profetizou que os avanços tecnológicos acabariam por permitir aos seres humanos 15 horas de trabalho semanal. Azar: nunca estivemos tão ocupados como agora. Mas ocupados a fazer o quê?

Nos Estados Unidos e no Reino Unido, escreve Graeber, diminuiu drasticamente o número de trabalhadores domésticos, industriais e agrícolas. Tradução: não estamos trabalhando em casa, na fábrica ou no campo.

Ao mesmo tempo, subiu vertiginosamente o número de trabalhadores no "setor administrativo". Isso se explica por razões econômicas?

Nem por isso, defende Graeber: a maioria dos "trabalhos-bosta" não tem qualquer racionalidade econômica. A razão é moral e política: as pessoas trabalham 40 ou 50 horas semanais, e não as 15 que seriam suficientes, porque é do interesse dos poderes estabelecidos que uma multidão de gente não dedique o seu tempo e os seus esforços a cogitar um mundo melhor.

Sim, a última parte do raciocínio de Graeber não me parece convincente: no seu cripto-marxismo, Graeber parte da premissa otimista de que a multidão, sem "trabalhos-bosta", estaria devotada à construção da utopia.

Além disso, confesso, eu preferia ter um "trabalho-bosta" a um "trabalho de bosta", que era o tipo de trabalho fatal dos nossos infelizes antepassados.

Mas a inquietação continua: como explicar a profusão de "trabalhos-bosta"?

Arrisco uma hipótese descartada por Glaser e Graeber: é preciso não subestimar a militância de "trabalhadores-bosta". Falo de trabalhadores que não deploram o tipo de trabalho que têm - mas, pelo contrário, encontram na burocracia infinita um sentido que me transcende e uma marca de distinção face aos restantes.

Não se queixam. Eles existem para que os outros se queixem. Adaptando uma expressão freudiana, há muitos trabalhadores-bosta que florescem no narcisismo dos pequenos poderes.

Basta lembrar a minha reunião: três horas escutando bosta - e que belos sorrisos naquelas caras em transe!
Herculano
05/06/2018 09:51
AUDITORIA VÊ BALANÇO E CONCLUI: CORREIOS QUEBRARAM, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

A auditoria independente BDO RCS nas contas dos Correios foi direto ao ponto: prejuízos, custos assistencial e previdenciário de funcionários e ações cíveis, fiscais, trabalhistas e criminais põem em dúvida a "continuidade operacional da empresa". De acordo com o documento, as únicas chances de salvação dos Correios se resumem a um "plano reformador" ou a solução de sempre: dinheiro público tapando o rombo.

PLANO MIRABOLANTE
A proposta de salvação da empresa é mais do mesmo: atuar em transporte, logística, serviços financeiros e serviços governamentais.

ALTERNATIVA INVIÁVEL
Alternativa ao "plano de salvação", os aportes de dinheiro público estão cada vez mais distantes, pois o governo já tem seus próprios rombos.

MARAJÁS
Apesar dos constantes prejuízos, a ECT não mexe nos altos salários do presidente e diretores, R$ 40,6 mil e R$ 34,5 mil, respectivamente.

ORDEM É CORTAR
A ECT afirma que começou a cortar custos com pessoal e a revisão do plano de saúde, além de ter "lucro contábil de R$667 milhões em 2017".

DISTRIBUIDOR DEFENDE LIVRE MERCADO QUE NÃO O AFETA
O dono do grupo Cosan, sócio da Raízen, Comgás e ALL, Rubens Ometto, que lidera a distribuição de combustíveis, garantiu lugar no anedotário dos que defendem o livre mercado desde que isso não atrapalhe os próprios negócios. Disse em entrevista ser contra liberar a venda do etanol aos postos, que chama de "populismo". Tudo porque o setor perderia o belo negócio presenteado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), e a gasolina finalmente teria a concorrência do etanol.

CARTóRIO SEM-VERGONHA
A ANP criou o cartório que obriga 400 produtores a venderem o etanol às distribuidoras, e os proíbe de vender o produto direto aos postos.

CARTóRIO INDECOROSO
Distribuidores viraram atravessadores, graças ao cartório da ANP: compram etanol a R$1,54 e o vendem ao posto a R$3,30 o litro.

FINALMENTE COMPETITIVO
A venda direta aos postos e consumidores reduziria muito o preço final, tornando o etanol muito mais atraente que a gasolina nos carros flex.

QUEM PAGA A CONTA
Quem paga o prejuízo de R$88 bilhões do País provocado pela revolta dos caminhoneiros, em razão da política de reajustes diários adotada pela Petrobras, nos tempos de Padro Parente? Nós, os otários.

ALMA DO NEGóCIO NO RN
Causou espanto a licitação da Funpec, fundação cultural potiguar, para contrato com agência de propaganda de R$50 milhões, maior que a verba publicitária de todo o Ministério do Esporte. Pior: o dinheiro é de convênio do Ministério da Saúde com a UFRN para? combate a sífilis.

O BEIJO DA MORTE
Perdeu feio a candidata de Lula na eleição do Tocantins: Kátia Abreu (PDT) ficou em 4º lugar. O vexame se consolidou com o vídeo da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pedindo votos nas redes sociais para Kátia Abreu, em nome do ex-presidente preso por corrupção.

JÁ VÃO TARDE
O TCU aprovou no dia 30 o edital que permite vender, tirando das nossas costas, as distribuidoras de energia Amazonas Energia, Boa Vista Energia (RR), Ceron (RO), CEA (AC), Ceal (AL) e Cepisa (PI).

COMPORTE-SE, ANEEL
A italiana Enel vai investir R$5,5 bilhões pelo controle da Eletropaulo. Resta-nos esperar que a Aneel, sempre tão sensível aos interessas das empresas, não aumente tarifas para compensar o investimento.

ALOPRADOS À SOLTA
Enquanto alinhava sua artilharia contra os postos, o governo Temer esquecia os aloprados da Petrobras e das distribuidoras, que vendiam diesel aos revendedores, no fim de semana, com apenas 19 centavos de desconto, ignorando o acordo oficial com os caminhoneiros.

ASSÉDIO CRIMINOSO
A TV por assinatura Sky atormenta dia e noite clientes que cancelam contratos. Há queixas de gente importunada por ligações até domingo à noite, depois das 22h, há quase um ano. A Anatel se finge de morta.

PALANQUE
A viúva de Marielle foi à parada gay em São Paulo para subir no palanque puxar o coro "Fora Temer". Ué, e sobre os bandidos que assassinaram covardemente a vereadora?

PENSANDO BEM...
...com sua derrota no Tocantins, após Gleisi pedir votos em nome de Lula, Kátia Abreu certamente vai avaliar melhor as companhias.
Herculano
05/06/2018 09:47
BRASIL PERDE PARA A TAILÂNDIA LIDERANÇA NA VENDA DE FRANGO PARA UNIÃO EUROPÉIA

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Operações do PF são pretexto para bloco impor restrições ao produto brasileiro

O Brasil, líder mundial nas exportações de carne de frango, está dando um passo atrás neste ano. Principal exportador para a União Europeia, está perdendo a liderança do mercado europeu e cedendo o lugar para a Tailândia.

As exportações brasileiras de frango somaram 69,4 mil toneladas de janeiro a março deste ano, 43% menos do que em igual período de 2017. Já as dos tailandeses subiram para 76,4 mil toneladas, 11% mais do que no primeiro trimestre do ano passado.

A União Europeia gosta de colocar entraves nas importações, e as operações da Polícia Federal no setor de proteínas foram o filé que os europeus precisavam para ampliar as barreiras.

Em março do ano passado, o mercado foi abalado pela Operação Carne Fraca, que teve uma segunda fase em março deste ano.

Para evitar retaliações dos europeus, o Ministério da Agricultura fez uma lista de autossuspensão de vários frigoríficos brasileiros até então habilitados a exportar para o bloco europeu.

A União Europeia também fez uma lista própria, o que interrompeu o curso normal das exportações brasileiras.

A queda nas vendas externas deve continuar. No período da greve dos caminhoneiros, no fim do mês passado, a indústria de carne de frango deixou de exportar pelo menos 135 mil toneladas, devido à interrupção de abate e bloqueio nas estradas.

Os números são da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que prevê dificuldades no abastecimento de carne de frango nos próximos meses devido à morte de 70 milhões de aves.

O ritmo lento de exportações afetou também a indústria de carne bovina, que deixou de exportar 40 mil toneladas no período da greve.

Na sexta-feira (1º), o setor tinha 1.400 contêineres que aguardavam embarque externo, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).

O Brasil perde lugar nas exportações para países da América do Sul. O Chile elevou em 67% as vendas de frango para a Europa no primeiro trimestre deste ano, enquanto a Argentina aumentou em 50%. Até os chineses ganharam espaço no mercado europeu, ao exportar 42% mais no período.
Herculano
05/06/2018 09:42
SEM COMANDO, BRASIL É EMPURRADO COM A BARRIGA, por Josias de Souza

Você já deve ter ouvido alguma dessas três frases: 1) Nada de relevante será votado no Congresso porque os parlamentares estão em campanha; 2) Só no próximo governo será possível discutir o que fazer com o rombo da Previdência; 3) Só depois de eliminar por completo o foro privilegiado vai-se conseguir colocar todos os corruptos com mandato na cadeia. Essas frases possuem dois elementos em comum: elas são tão difundidas que parecem verdadeiras. Mas são falsas.

Quem tem vontade, trabalha. Dizia-se que só depois do fim do mandato Michel Temer poderia ser processado por crimes anteriores à sua chegada ao Planalto. A procuradora-geral Raquel Dodge argumentou que a investigação poderia, sim, ser feita desde já. O Supremo concordou. E os inquéritos avançam de tal forma que os operadores de Temer já receiam que ele receba a visita dos rapazes da Polícia Federal quando descer a rampa Planalto.

As frases protelatórias são como artigos invisíveis de uma Lei não escrita: a Lei do 'Empurra-com-a-barriga'. O Brasil vive uma emergência: o governo se esfacela, a economia claudica e larápios pedem votos como se nada tivesse sido descoberto sobre eles. Mas o dito poder público aciona a barriga para empurrar o segundo semestre pela janela.

Triste o país que, sem lideranças, enfrenta com tempos extraordinários sob o comando de personagens tão ordinários. Enquanto isso, os 13 milhões de desempregados cuidam dos minutos, porque as horas passam. E a geladeira continua vazia.
Herculano
05/06/2018 09:41
É RIDÍCULO, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo

Minhas viagens ao sítio em um veículo a diesel estão sendo subsidiadas pelo governo

Do meu carro eu já me livrei, mas conservamos um veículo na família, que minha mulher usa para trabalhar diariamente e que nos leva ao sítio aos fins de semana. É uma caminhonete a diesel.

Confesso que experimentei um prazer meio perverso quando, na sexta-feira, paguei menos para encher o tanque, mas isso não me impede de constatar que é ridículo que minhas viagens ao sítio estejam sendo subsidiadas pelo governo. Para dar mais concretude ao caso, é a família que ganha dois salários mínimos e compromete quase 50% de sua renda com o pagamento de tributos que está ajudando a financiar meu lazer. E essa conta agora deve ficar ainda mais salgada.

Subsídios sempre introduzem distorções. Basta lembrar que um bom pedaço dos infortúnios dos caminhoneiros teve origem nos subsídios para a compra de veículos pesados oferecidos principalmente durante o governo Dilma. Só em 2015, foram R$ 34 bilhões. Tamanha facilidade para comprar um caminhão acabou criando a superoferta de serviços de transporte que agora joga no chão o preço do frete.

Encontramos deturpações desse gênero onde quer que olhemos: Simples, Zona Franca de Manaus, sem mencionar outros desvirtuamentos como universidades públicas que não cobram mensalidades etc. Como mostrou reportagem da Folha publicada domingo, nos últimos 15 anos, o país gastou R$ 4 trilhões (em torno de 60% do PIB) com subsídios. É bastante provável que alguns desses incentivos se justifiquem. O problema é que não sabemos disso, pois não há uma política consistente de avaliação dos programas.

Num país com uma estrutura tributária regressiva como o Brasil e no qual categorias mais organizadas não têm dificuldade de arrancar prebendas do governo, subsídios são no mais das vezes tirar dinheiro dos mais pobres para dar aos mais ricos. É o Robin Hood ao contrário que pega do caixa comum para encher o meu tanque de combustível.
Herculano
05/06/2018 09:39
EXTREMA-DIREITA E ESQUERDA SÃO ESTATISTAS; Só AS DIFERENCIA USO DO TRABUCO; CADA UMA DELAS ADVOGA PARA SEU GRUPO MONOPóLIO DA VIOLÊNCIA, por Reinaldo Azevedo, na Rede TV

Não é impressionante? O país quase foi levado à lona pelo locaute das empresas de transportes. No centro da questão, está a política de preços da Petrobras. Na verdade, deveria estar o monopólio que a empresa detém sobre o refino. Mas não há a menor chance de o assunto entrar em pauta. A extrema-direita e a esquerda são ambas estatistas. O que as diferencia é só a licença para portar pistolas. Cada uma delas acha que seu grupo deve ser o monopolista da violência. Fora isso, são idênticas. PT e Bolsonaro querem a mesma coisa para a Petrobras - tão logo Bolsonaro consiga dizer, afinal de contas, que diabo ele quer.
Herculano
05/06/2018 09:36
O MELHOR E O PIOR DO BRASIL SÃO OS BRASILEIROS, por Nabil Bodunki, arquite e urbanista, para o jornal Folha de S. Paulo

Manifestações de egoísmo e intolerância são frequentes, mas elas não representam o todo

Generalizar comportamentos em um país com 209 milhões de habitantes, com tanta diversidade étnica, religiosa, ideológica e de orientação sexual e desigualdades socioeconômicas e regionais, gera uma visão distorcida sobre os brasileiros.

Por isso, causou desconforto a coluna de Mariliz Pereira Jorge "O pior do Brasil é o brasileiro". Manifestações de egoísmo e intolerância são frequentes, mas elas não representam o todo; o Brasil está repleto de bons exemplos da cidadania.

Quem, em um país em que a maioria é semianalfabeta, está no limite da pobreza e não tem carro, pode esnobar um turista, recusando-se a dar uma informação em inglês, conhecendo a língua, comprar as duas últimas bandejas de tomates a R$ 10 o quilo ou completar o tanque, já parcialmente cheio, em meio à crise de combustível?

As situações relatadas por Mariliz são reais, mas vêm de um segmento social privilegiado e mesquinho, que quer tirar vantagens de tudo e ver as "pessoas diferenciadas" longe de casa, como alguns paulistanos que lutaram contra uma estação de metrô no seu bairro. Mas o Brasil é muito mais que isso.

Não se trata, de forma alguma, de enaltecer o já superado mito do "homem cordial", conceito que Sérgio Buarque de Holanda e Ribeiro Couto desenvolveram nos anos 1930 e que serviu para escamotear o racismo e a opressão de classe no país.

Mas são inúmeros os exemplos de solidariedade e tolerância, assim como as ações coletivas e de voluntariado, sobretudo entre os mais pobres, mas também na classe média, como coletivos que cuidam de praças ou de hortas urbanas.

Na moradia popular, a ajuda mútua é imensa. Segundo o Censo, quase 4,5 milhões de famílias vivem em domicílios cedidos, como cômodos nos fundos dos lotes, lajes sobre as casas ou a cessão de parte da própria moradia.

Nesta última situação, há 1,8 milhão de famílias, que só não estão na rua porque o proprietário abre mão do exíguo espaço que dispõe para dividi-lo com quem não tem alternativa.

A maioria das moradias populares resulta de um processo de ajuda mútua, sem o apoio do Estado ou do mercado. Familiares, amigos e conterrâneos se reúnem para autoconstruir as casas, ação coletiva que explica porque 73% dos domicílios do país são próprios, ainda que precários.

O egoísmo, a intolerância e o individualismo crescentes de alguns brasileiros precisam ser combatidos e contrapostos ao que há de melhor, que é a capacidade do povo de encontrar, mesmo na adversidade, soluções coletivas para seus problemas.

Superar a baixa estima que tomou conta do país e aproveitar o que existe de melhor nos brasileiros é uma das saídas para reagir à crise que vivemos.

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