O governo de Gaspar aposta no ?corpo fechado? diante dos órgãos de fiscalização - Jornal Cruzeiro do Vale

O governo de Gaspar aposta no 'corpo fechado' diante dos órgãos de fiscalização

27/05/2019

Sucessivos erros e dúvidas sugerem que tudo é intencional e calculado

PRIMEIRA PARTE

Da esquerda para a direita. O vereador Anhaia, MDB, comemora uma punição da Justiça dada ao governo Kleber; Roni Muller novo chefe de gabinete causa um embaraço familiar para a gestão Kleber; e o vereador Cícero pergunta: “estão comemorando o quê?”

A “reforma” do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Luiz Carlos Spengler Filho, PP, anunciada na segunda-feira passada, estampou um espantoso declínio de qualidade da atual gestão. Ela assustou, e até constrangeu, os seus próprios aliados.

E como comentei na sexta-feira, na coluna feita especialmente para a edição impressa do jornal Cruzeiro do Vale – o mais antigo, de maior circulação e credibilidade em Gaspar e Ilhota -, a emenda serviu apenas para enfraquecer Kleber e explicitar para a cidade quem manda de fato no governo: o presidente do MDB, o advogado Carlos Roberto Pereira. Alguma dúvida?

Vamos começar pela antepenúltima – haverá mais outras, pois se trata de uma prática – decorrente do o anúncio de segunda-feira. Roni Muller saiu da Gestão Compartilhada e foi parar na Chefia de Gabinete. Isso é irregular diante da lei contra o nepotismo e em vigor em Gaspar. E por que? O seu tio Gelásio Valmor Muller, o Daco, com quem Roni possui lá suas diferenças, está no cargo comissionado como Diretor de Serviços Gerais, na secretaria de Obras e Serviços Urbanos.

Um corre-corre depois que eu escrevi aqui isso. Particularmente, eu não acredito que só descobriram isso depois de ler a informação aqui. A cidade inteira sabia. Não é possível que o RH, o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, tanto o ex como o que reassumirá a pasta, bem como a penca de advogados da Procuradoria Geral não soubessem disso. E o culpado sou eu que relatei o ponto fora da curva? E se não relatasse, tudo ficaria errado? É isso?

A correção já está a caminho para que a formalidade das nomeações não consagrem juridicamente o erro. Estão arrumando uma vaga para o Daco num gabinete de um deputado. E provavelmente, de Luiz Fernando Vampiro, MDB. E com isso, até o líder do governo Francisco Solano Anhaia, MDB, que acusou o golpe, sentir-se-á minimamente aliviado e Daco se tornará seu cabo eleitoral para o ano que vem, se houver eleições municipais, no curral eleitoral dos Muller e de Anhaia: a Margem Esquerda.

COMEMORAÇÃO SEM SENTIDO

Na terça-feira, numa clara evidência da ressaca causada pelo anúncio da tal “reforma” que andou para trás, os governistas ficaram em silêncio sobre ela. Era para ser comemorada. Dizia-se ser uma “nova fase”. Um avanço. Um passo seguro para a reeleição.

Ao contrário. O que se viu na Câmara foi a bancada governista na defensiva sobre as dúvidas e questionamentos a que estão obrigados nas explicações. Mais uma vez, até Francisco Hostins Júnior, MDB, apesar de sensato e comedido, comeu a isca e entrou na pilha para contestar Cícero Giovane Amaro, PSD, naquilo onde não, aparentemente, há defesa.

Pior mesmo foi o líder do governo, que comemorou a liberação do prédio construído irregularmente na Avenida Duque de Caxias, no Centro, e que vai ser um local de aulas presenciais da Uniasselvi, como se fosse uma vitória do governo Kleber. Como assim? Outro deboche contra a lei, contra o Ministério Público e a assunção de que foi o autor da trama?

Comemorar o que? A multa de R$250 mil por exatamente infringir os dispositivos legais e que poderiam fazer com que o prédio até fosse derrubado como pediu e recuou o MP, porque a prefeitura não fez o papel dela, ou seja, o de fiscalizar o que diz ter autorizado legalmente e quando questionada pelo Ministério Público afirmou que tudo estava certo? Comemorar à obrigação de restringir à ocupação e recuperar duas áreas como penalidade por ter avançado sobre Área de Preservação?

Comemorar o erro? Ou está se tripudiando publicamente contra as instituições que estão obrigadas à fiscalização, denúncia e julgamento, a quem asseguram ter sob controle? É isso? Acorda, Gaspar!

O governo de Gaspar aposta no 'corpo fechado' diante dos órgãos de fiscalização

Sucessivos erros e dúvidas sugerem que tudo é intencional e calculado

PRIMEIRA PARTE

O secretário da Saúde (a esquerda), que é advogado, deixa funcionária lotada na prefeitura de Blumenau com duplo emprego público em Gaspar responder em nome da secretaria requerimento do vereador Silvio Cleffi, PSC (centro). Vereador Cícero (a direita) denuncia à irregularidade e cobra explicações do prefeito Kleber neste novo caso.

Não vou me esticar em casos de dúvidas dos projetos de drenagem que tomaram espaços generosos aqui; nem vou rememorar os pagamentos antecipados de produtos e serviços provados aqui pelos próprios links do Portal da Transparência da prefeitura; também não vou repisar na contratação do ex-secretário de Planejamento Territorial, Alexandre Gevaerd, pego em dois empregos públicos – o outro era o de professor titular concursado na Furb -;nem vou me prolongar em provar que isso são práticas continuadas à vista dos vereadores, do Ministério Público, do Tribunal de Contas e da população que paga tudo isso com os pesados impostos, numa aposta de que tudo são fatos menores e longe de qualquer punição.

Vou apenas mostrar mais um caso recente desse tipo de desvio gerencial e contra a legislação, com aval do governo do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB e do vice, Luiz Carlos Spengler Filho, PP.

Na coluna de segunda-feira passada, com o título, “Prefeitura debocha e mente em resposta a requerimento de vereador sobre atendimento de não residente em Gaspar em Posto de Saúde”, provei como se desrespeita um poder e uma instituição constitucionalmente com mandato expresso para a fiscalização ao Executivo. No mesmo título perguntei: “além de desrespeito, o que o documento assinado pelo prefeito quer verdadeiramente esconder?

Eu me referi naquele artigo à forma como o prefeito Kleber – em última instância, pois foi ele quem assinou o ofício com as respostas de seus subordinados e as remeteu para o Legislativo - respondeu o requerimento do vereador Silvio Cleffi, PSC, médico e funcionário público municipal, “esclarecendo” como uma paciente, não moradora de Gaspar, “dando” o endereço do posto de Saúde do Centro, conseguiu ser atendida no sistema municipal de Saúde e por esse atendimento, fazer exames laboratoriais e de mamografia.

Mostrei, com documentos, como mais uma vez se mentia e debochava do vereador e principalmente da Câmara de Gaspar na obrigação dela de pedir explicações ao Executivo.

DUPLO EMPREGO? OUTRA VEZ?

Mas quem respondeu pela secretaria de Saúde os questionamentos do requerimento vereador Silvio como superintendente de Saúde? Lizandra Haeffner Junges. Ela na verdade é funcionária efetiva e concursada da prefeitura de Blumenau como Assistente Social desde 2002. E lá está de licença-prêmio. Foi uma laranja, para enrolar na resposta e “livrar” formalmente o secretário da Saúde, Carlos Roberto Pereira, dessa obrigação.

Tudo orquestrado desde o atendimento da paciente, da resposta manca e quem foi escolhida para o sacrifício.

Eu poderia esticar o meu textão, que tanto incomoda o poder de plantão – em Gaspar e Ilhota - e me deixa pasmo como essa gente acha que, censurando este espaço, conseguirá enganar ou abafar no Ministério Público, Gaeco, Tribunal de Contas e até na Justiça as irregularidades claramente tipificadas ou cheias de provas.

O requerimento 105/2019 do vereador – e funcionário público, no Samae, Cícero Giovani Amaro, aprovado na sessão de terça-feira passada, colocou o dedo em mais esta ferida e reproduzo-o, para não ter que trabalhar tanto no óbvio.

A prefeitura de Gaspar, através do Decreto nº 8598, de 28 de janeiro de 2019, nomeou como Superintendente de Saúde, Lizandra Haeffner Junges. Ocorre que a nomeada também é servidora pública efetiva do quadro da Prefeitura do Município de Blumenau e apenas se encontra em gozo do benefício de Licença Prêmio, no período de 01 de janeiro a 31 de maio de 2019, conforme se verifica em documentos fornecidos, sendo assim, questiona-se:

1. Por que a Secretaria de Saúde nomeou a servidora, para o exercício de tão importante função, sabendo que a mesma não iria permanecer no cargo?

2. Tal situação remete à acumulação remunerada de cargos, prática irregular vedada pela legislação municipal, estadual e ofende frontalmente o art. 37, XVI, da Constituição Federal, que prevê punição aos gestores públicos responsáveis. A administração municipal tinha conhecimento da irregularidade?

3. Quem de fato é o responsável pela nomeação irregular da referida servidora?

Quem são os deputados catarinenses que não querem combater a criminalidade dentro e fora do ambiente político?

A votação aberta na Câmara para retirar o Coaf de Sérgio Moro foi reveladora para três fatos importantes

O deputado catarinense Rogério Peninha Mendonça, MDB, (à esquerda) não aguentou à ironia do vereador carioca Carlos Bolsonaro, PSL, e fez um duro desabafo público nas redes sociais.

O primeiro fato revelou à falácia de sempre.

As lideranças partidárias tentaram esconder dos seus eleitores os votos dos deputados – a pedido da maioria deles, pois nada é ingênuo - e não conseguiram, quando venceu o pedido de verificação de voto, para ver quem realmente tinha bananas para vender.

E quando os deputados tiveram que mostrar a cara no painel eletrônico de votação da Câmara, percebeu-se que a ideia do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, PSL, e de seu ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, tinha mais votos do que esses “líderes” apregoavam para proteger os deputados, criminosos de todos os tipos e ao mesmo tempo constranger o governo: 210.

E por muito pouco, a ideia tão massacrada por gente que deve à sociedade que segue a lei, ou no ritual de encurralar o atual governo para as vantagens de antes, foi a vencedora.

O segundo fato era o que se esperava de partidos como o PT – o da esquerda do atraso - e o PP – do chantageador Centrão -, o especialista em se vender para os do poder de plantão, os dois mais envolvidos na Lava Jato: por sobrevivência e coerência eles seriam contra o Coaf nas mãos de Moro. E pelos motivos óbvios, além da vingança e marcação do território para até, no caso do PP, troca de vantagens.

Então os catarinenses Pedro Uczai, PT, com o voto contra, e Ângela Amim, PP, com à sua ausência na votação, cumpriram o papel deles na saga contra os crimes bilionários movidos pelo dinheiro sujo.

O terceiro fato, é o que mostro aqui diariamente de como o governo de Bolsonaro não precisa de oposição, cria suspense todos os dias contra o Brasil e os brasileiros.

Ele próprio é uma bomba explosiva com os radicais insanos, militantes virtuais doentes, filhos incorrigíveis e um guru astrólogo-boca suja. Nasceram e se juntaram para destruir dentro do próprio ambiente onde eles estão e lutaram para estar. Desconfiam de tudo e todos, a todo instante. É uma fábrica de intrigas e de criar cacos. Incrível!

A bancada catarinense na Câmara possui 16 representantes. Deles, 13 votaram a favor de Bolsonaro e Moro [Carlos Chiodini (MDB), Carmen Zanotto (Cidadania), Caroline de Toni (PSL), Celso Maldaner (MDB), Coronel Armando (PSL), Daniel Freitas (PSL), Darci de Matos (PSD), Fabio Schiochet (PSL), Geovania de Sá (PSDB), Gilson Marques (NOVO), Hélio Costa (PRB), Ricardo Guidi (PSD) e Rodrigo Coelho (PSB)]. Um deputado votou contra (Uczai, PT) e dois estiveram ausentes: (Ângela, PP) e o deputado Rogério Peninha Mendonça, MDB, estranhamente, o mais Bolsonaro de todos.

TIROTEIO

E por se ausentar na hora da votação que Peninha – um defensor das armas - entrou na linha de tiro do filho de Jair, o maluco Carlos, que quase sempre é a voz disfarçada do pai. E é aí que as coisas se complicam para os que recebem as pedradas de Carlos.

A troca de farpas foi pública. Vou reproduzir apenas a resposta de Peninha, onde ele se queixa que a fidelidade dele para com o amigo e presidente Bolsonaro esteja sendo colocada à prova pelo filho do presidente. Ai, ai, ai.

Olhando o que se passou neste final de semana antes, durante e depois das manifestações, é de se perguntar: e quem não está sendo submetido a este tipo de paredão no governo Bolsonaro pelos filhos e milicianos das redes sociais? Concluam vocês mesmos.

“Carlos, gosto muito de você, mas algumas atitudes suas não ajudam em NADA o governo do seu pai.

Ontem cancelei todos os meus compromissos em Brasília para cumprir uma só missão: articular, voto a voto, a aprovação da MP. Quando começamos o serviço, de manhã, tínhamos cerca de 100 votos.

Com o trabalho de convencimento que eu, outros vice-líderes e a líder do governo Joice Hasselmann fizemos, alcançamos 210. Infelizmente não foi o suficiente.

Talvez você não saiba, mas em outubro sofri um acidente e rompi o tendão de Aquiles. Toda noite, depois das votações, vou para casa com dores.

Ontem tive que caminhar muito além do normal aqui dentro da Câmara. No final da tarde a dor era tão insuportável que precisei ir ao Departamento Médico e não consegui voltar ao plenário. Conversei com a Joice a respeito.

Hoje faço exames e é possível que eu tenha que ser submetido a uma nova cirurgia. E não me diga que foi apenas uma pergunta inocente feita em rede social, Carlos. Se você quisesse mesmo saber, teria feito contato comigo. Seus objetivos são outros.

Tenho sido um soldado do seu pai há muitos anos. Pelas minhas mãos ele foi diversas vezes a SC, muito antes da campanha. E foi para ajudá-lo a mudar o Brasil, que aceitei a incumbência de ser vice-líder do governo no Congresso.

Não ponha em dúvida minha fidelidade, vereador. Use o seu bom enganjamento na Internet para ajudar o governo. Para atrapalhar, já tem gente demais. Um abraço”.

Volto para pontuar esse desabafo feito em tempo de paz, mas que sinaliza à difícil convivência entre os do governo, sem liderança capaz de compreender às diferenças e às razões dela.

Eu preciso escrever mais alguma coisa, além daquilo que sempre escrevo – ou reproduzo em artigos assinado por outros - sobre este maluco vereador Carlos, gente afinada com ele nas redes sociais e no PSL, um ente político ausente de uma cidade falida, tomada por bandidos – inclusive políticos -, milicianos, traficantes, bicheiros e todos imáginários de igual espécie, e que ainda teimam de chama-la de “maravilhosa”?

O deputado Peninha tem muitos defeitos, como todos nós, mas nesta, à sua experiência deu uma sova no desorientado Carlos, um vereador ausente do Rio de Janeiro.

Peninha sabe que está metido num beco sem saída se não se posicionar firme pode virar o bagaço de um suco sem sabor. Afinal, Peninha quase não foi reeleito, o MDB para ele é uma peça decorativa e na aposta que fez, está sendo sabotado por escrotos, que não conseguem reconhecer o trabalho em equipe, ou alheio, para a mesma finalidade.

SIGA O DINHEIRO E VOCÊ ENCONTRARÁ A SUJEIRA E OS SUJOS

Para encerrar esse assunto de Coaf e mostrar como ele é vital para combater a bandalheira e até à sonegação. Quem trabalha contra a lavagem de dinheiro, sabe que uma das poucas formas eficazes que há para combater a bandidagem, é a de “seguir” o dinheiro (follow the money). É uma premissa mundial. É apenas isso o que o Coaf faz. É o que faz sentido. E os políticos sabem disso como ninguém.

É verdade, que o Coaf precisa ser um aparelho técnico e não de perseguição política do estado contra grupos e pessoas não afinadas com os no poder de plantão. Mas, desqualificá-lo simplesmente e até enfraquece-lo como querem em nosso nome os políticos, é também coisa que cheira à bandidagem.

Tanto os políticos como os bandidos – estelionatários, milicianos, traficantes, assaltantes, ladrões, corruptos, golpistas, bicheiros, contrabandistas, cambistas, banqueiros, doleiros, sonegadores, empresários do entretenimento, empreiteiros, igrejas, novos ricos etc e tal - que sustentam os políticos, sabem muito bem que um Coaf técnico é um perigo às suas ilicitudes e armações ilimitadas.

É essa gente organizada no crime que não quer o Coaf agindo de forma estruturada e, principalmente, com inteligência. E os políticos fazem o jogo em causa própria ou a mando dessa gente. Foi assim que a Lava Jato se estabeleceu como uma arma ou um “mecanismo” contra os políticos, mas também contra os ladrões dos ladrões.

Alguma dúvida?

Veja a manchete da sexta-feira da semana passada: polícia civil do Rio de Janeiro faz operação contra esquema de lavagem de dinheiro do tráfico no Rio e mais dois estados.

Ação aconteceu no Rio, em São Paulo e no Paraná. Investigação começou a partir da tentativa de suspeitos depositarem quase R$ 100 mil em caixa eletrônico com notas que estavam com cheiro de maconha.

Resumindo. Os bandidos ao colocarem o dinheiro vindo dos seus mais variados crimes em “circulação legal”, usam empresas de fachada, ou até mesmo legais, entre eles, postos de gasolina, comércio, distribuidoras, atacadistas, construtoras, oficinas, indústrias, consultorias, off shores, casas de câmbio, transportadoras....

Os que na Câmara Federal votaram contra o Coaf no ministério da Justiça e Segurança para levá-lo de volta para o ministério da Economia, fizeram o serviço para os bandidos de todos os tipos. Então desconfie dessa gente e das suas argumentações. Wake up, Brazil!

A desigualdade está nos pequenos gestos e na força de como gente poderosa protege o erro.

O guinchamento de um carro no pátio do Hospital de Gaspar – cheio de problemas graves – virou instantaneamente uma comoção pública nas redes sociais. UAU!

Gaspar é mesmo uma cidade diferente. Ou ela não percebeu que cresceu, que os seus problemas são outros, com novas dimensões e dentro num novo contexto?

Enquanto estamos debatendo o caos e até mortes decorrentes de consultas que geraram dúvidas no Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar, as redes sociais foram tomadas pelo debate lateral devido ao guinchamento legal, repito, legal, feito pela Ditran – Diretoria de Trânsito – de um carro estacionado num local não permitido para quem não tivesse a necessidade especial, devidamente identificado para tal.

Enquanto isso, o verdadeiro problema do Hospital saiu do foco, do debate para alívio dos políticos e gestores públicos obrigados às respostas para as denúncias graves, pois o Hospital está sob intervenção municipal – e isso, sim, verdadeiramente, torna os defeitos dele, ainda mais grave na responsabilização.

A notícia era: um veículo de passeio, estacionado, reiteradamente, por prolongado tempo durante o dia, em vaga demarcada para deficiente ou idosos, no pátio do Hospital de Gaspar, foi guinchado, após denúncia anônima à Ditran.

Ato um: o guichamento foi filmado e tomou as redes sociais, com o relato indignado de quem filmou, culpando o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o recém-provisório nomeado titular da Ditran e que nada entende do assunto, Salésio Antônio da Conceição. Nada a ver!

Ato dois: começou a partir de então o debate insano. Na prefeitura pressão política para não só revogar o ato de guinchamento, mas, vejam só, como também, condenar e punir exemplar e publicamente, os agentes de trânsito que apenas cumpriram a lei (art 46 da lei 13.146/2015). Como não tinha gente poderosa envolvida, a prefeitura desta vez não entrou na pilha e mais do que isso, deu satisfação pública numa comunicação oficial no seu site para mostrar que a ação foi legal e por isso, estava dando apoio ao ato dos agentes da Ditran. Ganhou a cidade. Ponto para o governo Kleber e a Ditran.

Ato três: quem estava estacionado tirando a vaga especial ou de um doente? Uma funcionária do Hospital. Que ruim, heim! Se não aprendeu isso na autoescola, aprendeu na prática. Os demais gasparenses, pelo mau exemplo que se espalhou no debate, também estão advertidos da possibilidade de respeitar as vagas especiais sinalizadas na cidade, nos pátios de igrejas, comércio, supermercados, hospital, escolas ou estacionamentos.

Ato quatro: alegaram-se várias coisas inúteis. Entre elas, a de que o pátio do Hospital é particular. Não é: o Hospital está sob intervenção pública. E mesmo que fosse particular, se há uma denúncia e há consentimento do proprietário, é possível a ação dos agentes públicos de trânsito para o cumprimento da lei. Já testemunhei isso, em duas oportunidades, em shoppings em São Paulo.

Pois é. Este assunto não é novo em Gaspar e aqui na coluna. No Samae, a área de estacionamento para clientes é tomada pelos funcionários, principalmente os mais graduados e pasmem, comissionados.

Denunciada esta situação várias vezes aqui, com fotos, todos ficam putos e até ameaçam ir à Justiça como simples retaliação. Falta é vergonha na cara e respeito não só à lei, mas principalmente do direito do consumidor, dos clientes, dos cidadãos.

Trata-se de privilégios, esperteza ou simplesmente falta de educação, pois a nenhum motorista habilitado, que frequentou às aulas e passou nos testes é permitido desconhecer esta obrigação. Acorda, Gaspar!

Um copo meio cheio, meio vazio. Depende da sede de cada um.

A manifestação de Gaspar no domingo pró Bolsonaro foi política ou cidadã a favor da reforma da Previdência e do pacote anti-crime?

Não vou escrever sobre as manifestações de ontem. Vou reproduzir alguns comentários da mídia nacional na área abaixo.

Entretanto, devo olhar para o que aconteceu ontem, aqui em Gaspar. Houve quem dissesse estar decepcionado pela pouca participação popular. Eu, não fiquei decepcionado e vou dar três razões para isso.

A primeira. O “Fora Dilma” por aqui só vingou porque MDB e PSD disputavam a primazia do palanque e faziam parte das mobilizações. Quando disseram para eles que isso não teria dono para alavancar os palanques das eleições de 2016, o negócio esvaziou-se de tal forma, que houve até atos que não aconteceram por aqui. Muitos gasparenses foram engrossar os protestos em Blumenau.

Então, não temos tradição de protestos, mobilizações e a deste domingo é um fato excepcional e raro. Ou seja, quem disse que se decepcionou, errou.

A segunda. Esses movimentos possuem uma lógica suprapartidária. E este teve apenas confusão. Começou como um ato anti-democrático pelo fechamento do Congresso e do STF. Quando corrigiram a favor da nova Previdência e do pacote anti-crime, foi tarde. E para complicar, misturou-se numa pauta com apoio ao presidente Bolsonaro. É aí que perderam gente que mobiliza as ruas nestes atos como o MBL e Vem prá Rua.

Então, além do erro estratégico, não temos MBL e Vem prá Rua organizados para a mobilização em Gaspar, como já aconteceu no passado. E se comparar, Gaspar foi proporcionalmente maior que Blumenau.

A terceira. A Gaspar política tem donos. E se a manifestação atraísse à maciça participação popular para Bolsonaro, o crédito seria do PSL, que engatinha numa comissão provisória por aqui. E os donos de Gaspar – alguns que estão no poder de plantão e podem ser ameaçados por esse suposto “novo” - não quiseram passar esse recibo.

Os donos da política de Gaspar preferiram conferir o aviso. Por outro lado, os donos do poder de plantão se sentiram aliviados. Estão se auto-enganando, mais uma vez. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Na segunda-feira houve o anúncio da “reforma” do governo de Kleber. Na terça-feira, a base aliada na Câmara, ficou num silêncio só, inclusive os neo-alinhados, como o mais opositor de todos nos dois primeiros anos de governo, Roberto Procópio de Souza, PDT.

Oposição e situação, mediram forças na última sessão num requerimento do petista Dionísio Carlos Bertoldi que pedia a descaracterização da urgência do PL. Ele cria a função de Diretor Técnico na secretaria da Saúde, como quer o Conselho Federal de Medicina.

Hoje esta função é acumulada pelo Médico Regulador. O titular só daria explicações na quinta-feira sobre o assunto para complementar as informações dadas pelo Executivo. Ciro André Quintino, MDB, sinalizou que o poder de desempatar será sempre dele. E deu maioria à base governista. Derrotou o requerimento dos oposicionistas. O assunto continuou em regime de urgência como queria o governo.

Decadência. A “Semana Municipal de Proteção e Defesa Civil”, promovida pela prefeitura revelou como a Defesa Civil voltou tão rapidamente ao estágio de indefesa civil dos governos de Pedro Celso Zuchi, PT. Caiu assustadoramente o voluntariado e a capacidade de mobilização do órgão.

O vereador Silvio Cleffi, PSC, que é médico e funcionário público municipal, voltou a tocar numa tecla já desgastada. Parece não compreender como funciona uma economia aberta e livre. Nela quem determina as regras é a competição de mercado. Ele quer farmácias privadas de plantão à noite, por rodízio em Gaspar. E que isso seja uma determinação de lei municipal. Isso já esteve em pauta na Câmara e foi rejeitada. É também inconstitucional.

Há custos – quem vai bancá-los? Há problemas de segurança – quem vai garanti-los? É a mesma coisa de se obrigar estar aberto ou ficar num plantão noturno, incluindo finais de semana e feriados, o consultório particular do cardiologista, só pela simples razão, que alguém poderá ter um sintoma que obrigue à uma consulta.

Afinal, o Belchior ainda é um bairro ou um distrito de Gaspar? Vira e mexe ele é rebaixado na Câmara de vereadores, e por gente que diz representa-lo.

Dia 22, aconteceu a adiada compra do carro da Câmara. Tinha cheiro de direcionamento tanto que a licitação foi refeita e adiada no dia dois de maio. A ata e a homologação mostram que só um fornecedor apareceu. Bingo. E a venda se deu por R$93.900 um sedam Toyota. Mas, não diz qual o tipo e o modelo. Questionei o presidente Ciro André Quintino, MDB, na sexta-feira. Não sabia (?). Ia ver com o pessoal da licitação. Até o fechamento desta coluna, nada.

O CTG Coração do Vale está guardando vários equipamentos seus num container para a próxima edição do Rodeio Crioulo de Gaspar. Faz isso, devido a desproteção da Arena Multiuso na Margem Esquerda. Gasta-se com segurança durante o ano todo, mas fios e até transformador, ou tudo que é metal é roubado de lá.

Então, o melhor investimento é esconder o que tem valor.

O pessoal da prefeitura de Gaspar ainda está tonto com o sucesso do JASTI, os Jogos Abertos da Terceira Idade. Depois que percebeu tardiamente estar transformando um cisne em patinho feio, ela tentou esconder, por exemplo, que 15 dias antes quis cancelar o evento. Aliás Gaspar recebeu do governo do estado, R$100 mil para ajudar na organização do evento, além de dois patrocínios privados de R$10 mil cada.

O deputado Ivan Naatz, PV, que é advogado, foi traído por um ato falho e de confiança. Assessor seu na Assembleia, negro, acusou e o denunciou por injúria racial. O caso está no Ministério Público e sendo apurado num inquérito policial. Complicado.

O golpe do Centrão. O senador Esperidião Helou Amim Filho, PP, disse hoje pela manhã à CBN que vai propor um requerimento para votar em separado a volta do Coaf ao Ministério de Justiça e Segurança, e retirando-o do Ministério da Economia, como decidiram pelo voto os deputados Federais na Câmara contrariando o projeto original do governo.

Parece uma boa ação, mas não é. A volta do Coaf para o ministério da Justiça pela decisão do Senado, obriga a matéria votar à Câmara para nova votação. E lá corre-se o risco dela caducar e a partir de três de junho, o governo ter a forma de Michel Temer, MDB.

Por que é golpe orquestrado do Centrão, onde está o presidente da Câmara Rodrigo Maia, DEM e o próprio Amim? Perguntado por Milton Jung se não estava ouvindo apelos do governo para que não se alterasse mais a matéria no Senado, Amim, disse desconhecer esses apelos. “Não recebi nada. Só conhecerei o apelo se receber isso formalmente do governo. E aí ele terá que se desgastar”. Entenderam?


Registro. Quatro ex-prefeitos alunos do Colégio Honório Miranda foram comemorar neste final de semana os 85 anos do educandário estadual: Evaristo Spengler, Osvaldo Schneider, Luiz Fernando Poli e Adilson Luiz Schmitt.

Apareceram por lá também referendando a importância da comemoração, os deputados Jerry Comper, MDB, Ricardo Alba, PSL e Ismael dos Santos, PSD. Isto mostrou o contorno histórico da data e do educandário para Gaspar. O Honório Miranda é hoje dirigido pelo professor Antônio Mercês da Silva.

Comentários

vlad
29/05/2019 08:04
Direita nas Ruas:

Tirou a Dilma, tirou Renan, garantiu a Lava Jato, levou Lula à Prisão, elegeu Bolsonaro. Manifestações aos domingos.

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Esquerda nas Ruas:

NÃO segurou a Dilma, NÃO tirou o Temer, NÃO evitou reformas, NÃO legalizou a maconha, NÃO evitou prisão do Lula, NÃO conseguiu soltar o Lula, NÃO elegeu Haddad. Manifestações em dias de semana.
Jean Marcos Leandro
28/05/2019 15:19
Gostaria DE DESEJAR, BOA SORTE AO AMIGO JEAN LAURINDO EM SEU NOVO DESAFIO.QUE É FAZER PARTE DA EQUIPE DE REP?"RTER DO DIÁRIO CATARINENSE. (DC) O JEAN LAURINDO INÍCIO SUA CARREIRA DE REP?"RTER NO JORNAL CRUZEIRO DO VALE. BOA SORTE
Herculano
28/05/2019 15:10
O LIMITE ENTRE AS RUAS E O GOVERNO, por Míriam Leitão, no jornal O Globo

As ruas são livres para gritarem o que quiserem, mas o governo não pode ecoar ou estimular os discursos extremos e antidemocráticos

Quem foi para a rua, mesmo para criticar as instituições democráticas, tinha o direito de estar lá. Na democracia, essa liberdade é consagrada. A questão a discutir não é o ato em si, mas toda a ambiguidade que está presente em alguns atos e palavras das autoridades. O presidente Jair Bolsonaro que considerou legítimas as manifestações de domingo chamou de "idiotas" os que fizeram os protestos do dia 15. São dois pesos, duas medidas. Ele não foi, mas deu um mote enviesado quando divulgou, dias antes, texto em que sugere que está sendo impedido de governar, e ontem ao falar que o movimento fora "um recado contra aqueles que teimam nas velhas práticas".

Bolsonaro deixa subentendidos demais quando fala sobre a relação com o Congresso. Dá a entender que seus problemas são derivados de os políticos o estarem pressionando para usar a moeda da corrupção nas negociações para formar uma coalizão. E essa mensagem esteve presente nos atos de domingo, personificada no ataque direto ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Já as críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) estiveram presentes até na boca de parlamentares do partido. O deputado estadual Filippe Poubel (PSL-RJ) repetiu a frase do terceiro filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro: "Para fechar o Supremo só precisa de um soldado e um cabo." O senador Major Olímpio (PSL-SP) ameaçou: "Nos aguarde STF."

Isso não quer dizer que a maioria dos que foram às ruas tinha esse objetivo, mas o fato de ser dito em alto e bom som por parlamentares do partido do presidente não pode ser subestimado. A democracia aceita protestos contra as instituições que a sustentam, mas essas falas, entre tantas outras, mostraram que o governo Bolsonaro flerta frequentemente com a ameaça à democracia.

O país está diante de uma situação difícil. A economia não deslancha, a confiança dos empresários e operadores de mercado está em queda livre, as contas públicas estão com forte déficit. Além disso, é necessário passar pelo Congresso matérias complexas, como a reforma da Previdência, o crédito suplementar de R$ 248 bilhões, a mudança na lei de teto de gastos para permitir o acordo com a Petrobras e a distribuição dos recursos. Se não tiver um bom diálogo com o Parlamento, o Executivo pode enfrentar derrotas e alterações indesejáveis nos projetos.

A manifestação não foi tão grande que tivesse dado a Bolsonaro o capital político extra com o qual ele sonhava. Mas foi relevante. E poderia até fortalecer as reformas, se Bolsonaro demonstrasse empenho em construir uma maioria para aprová-las. Ele estimulou a ida às ruas para dar uma resposta aos protestos contra os cortes na educação. Não foi por entusiasmo com a mudança da Previdência. Como ele já disse várias vezes, se pudesse, não faria a reforma.

O grande problema tem sido a dificuldade de o presidente Bolsonaro entender que quem é eleito governa, quem não tem maioria tem que negociá-las, quem comanda o Executivo precisa defender seu projeto diariamente. Que as redes sociais sempre serão uma forma subsidiária de comunicação e que o tempo de suas declarações irresponsáveis ?" quando era apenas um parlamentar de desempenho pífio ?" encerrou-se quando foi escolhido para liderar o país nas últimas eleições.

Nas manifestações de domingo havia pessoas defendendo suas convicções. Excelente. Foi para isso que o país lutou contra o período ditatorial que por tanto tempo reprimia, muitas vezes com violência, qualquer passeata, e que editou um Ato Institucional que proibia reuniões políticas. A democracia aceita até que se manifestem os saudosistas do tempo em que a liberdade foi cerceada. Mas cabe às lideranças do país tomarem precauções para não incentivar um tipo de ataque às instituições como algumas que foram vistas nas ruas de domingo. Pedir o fechamento do Supremo, demonizar qualquer negociação política como sendo pressão pela "volta das velhas práticas", afirmar, como fez Bolsonaro, que é preciso "libertar" o país é atravessar uma linha que não deve ser transposta numa República que teve duas ditaduras nos últimos 90 anos. Que as ruas falem sempre o que quiserem, mas que os governantes tenham a lucidez de não ecoarem os extremos.
Herculano
28/05/2019 08:40
da série: os dinossauros e as lagartixas estão se acomodando no mundo político. Muitos fatos serão testemunhados até outubro: mágoas, oportunismo e senso para a nova realidade eleitoral

DESFILIAÇÃO SEM ALARDES DE MERISIO DO PSD FOI ESTRATÉGICA, por Moacir Pereira, no Diário Catarinense, da NSC Florianópolis.

A decisão do ex-deputado Gelson Merísio de cancelar filiação no PSD, de forma suave, sem alardes, foi estratégica. Não convocou coletiva a imprensa, não concedeu entrevista e não avisou a nenhuma liderança que iria entregar a carta de desfiliação ao vice-presidente do Diretório o prefeito Antônio Ceron. Ele deixa, também, a presidência do Diretório Estadual.

Merísio procura manter a liderança entre prefeitos, vereadores e dirigentes municipais e regionais do partido que deixou. Fica claro que suas divergências e as razões principais da saída estão na presidência nacional do PSD, exercida pelo ex-ministro Gilberto Kassab, e suas fortees relações com o ex-senador Jorge Bornhausen, que não integra o PSD, mas tem influência decisiva no partido.

Kassasb e Bornhausen chegaram a arquitetar intervenção no Diretório Regional, presidido por Gelson Merísio, no inicio de 2018, antes, portanto, da definição de candidaturas. Denunciada, a manobra iria trazer graves prejuizos ao partido, aos candidatos e ao então governador Raimundo Colombo, que estava apoiando a jogada politica.

Naquela ocasião, enfrentar estes poderosos do PSD interessava a Merísio para viabilizar sua candidatura ao governo, comandar o processo de alianças e partir para a campanha. Mas, no grupo de Bornhausen, ficou a marca da resistência e, até mais, de reparos a sua liderança.

Como Merísio não pretende disputar as eleições municipais de 2020, deixa o PSD para construir nova opção partidária. Vai examinar os cenários e decidir o futuro após minuciosa análise de conjuntura.
Herculano
28/05/2019 08:25
"VAMOS VIRAR UMA VENEZUELA! VAMOS DISPUTAR ARROZ NO TAPA"

Conteúdo de O Antagonista. "Não há dúvida de que ou aprova a reforma da Previdência ou todos nós vamos para o buraco", disse o general Augusto Heleno, em entrevista para o Valor. "O Brasil está à beira do abismo".

Ele descreveu o abismo:

"Subida violenta do dólar, queda abrupta das ações das empresas brasileiras, desabastecimento. Vamos virar uma Venezuela! Vamos disputar arroz no tapa, vamos disputar feijão no tapa! Venezuela é um exemplo típico que continua a ser a menina dos olhos de algumas pessoas nesse país. Isso não dá para entender. Desabastecimento foi uma das principais causas do regime militar. Eu vivi isso porque eu já era nascido, tinha 16 anos, estava no colégio militar. Minha mãe ia para fila às 5 da manhã para comprar 3 quilos de arroz. aí quando estava na fila há 3 horas avisavam que não era mais no mercado Mundial, que o arroz ia chegar na Casas da Banha. Saia todo mundo correndo para o outro mercado. Vivemos uma crise de desabastecimento seríssima no país, e até hoje os caras querem esconder isso, contar uma história diferente."
Herculano
28/05/2019 08:22
5 TRIBUTOS POR 1, editorial do jornal Folha de S. Paulo

Proposta engenhosa de reforma do sistema de impostos dá 1º passo na Câmara

Se o Congresso de fato estiver disposto a assumir maior protagonismo na condução da agenda do país, poucas contribuições seriam tão essenciais quanto um redesenho do sistema nacional de impostos. Poucas, também, são tão difíceis.

Nesse sentido, convém celebrar com cautela o avanço do projeto de reforma tributária recém-aprovada, por iniciativa dos parlamentares, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

A votação simbólica, com oposição apenas do PSOL, pode dar a impressão enganosa de que há razoável consenso em torno da proposta de emenda à Constituição.

Entretanto os deputados pretendiam, naquele momento, demonstrar autonomia em relação ao governo Jair Bolsonaro (PSL). O mérito do texto deve ser objeto de renhido debate daqui para a frente.

Não que haja maiores objeções técnicas ou políticas ao intento central da PEC 45, apresentada pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP) com base na estratégia elaborada pelo Centro de Cidadania Fiscal, com adeptos à esquerda e à direita.

Identifica-se corretamente a anomalia mais gritante do sistema tributário ?"o excesso de impostos e contribuições incidentes sobre o consumo e sua legislação quase impenetrável, repleta de regras particulares para setores e regiões, que distorcem decisões de negócios e criam enorme custo com burocracia e processos judiciais.

Propõe-se, assim, substituir cinco tributos ?"os federais PIS, Cofins e IPI, o estadual ICMS e o municipal ISS?" por um único Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), cuja receita seria repartida entre todos os entes federativos. A União poderia ainda instituir um imposto extra sobre produtos como bebidas alcoólicas e cigarros.

O IBS seria cobrado no local de consumo, à diferença do ICMS, cuja maior arrecadação se dá no local de produção. Com isso, acabam as políticas estaduais de concessão de benefícios fiscais para a atração de investimentos, que corrompem a busca das empresas por eficiência.

A tão desejada simplificação do sistema, porém, enfrenta resistência tenaz dos beneficiados pelo statu quo, da Zona Franca de Manaus a órgãos públicos que contam com parcelas carimbadas da receita dos impostos a serem extintos.

Acrescentem-se governadores e prefeitos receosos de perder arrecadação ou a capacidade de conceder incentivos, além de conflitos previsíveis e legítimos em torno da fixação das alíquotas do novo imposto. Obstáculos do gênero fizeram naufragar as reformas tentadas desde os anos 1990.

Sabiamente, a nova PEC estabelece um prazo de dez anos para a implantação passo a passo do IBS e de meio século para o ajuste da repartição federativa dos recursos. Ainda assim, não se podem subestimar os percalços da tramitação.

O texto não dá conta de todas as mazelas tributárias do país; deixa de lado, por exemplo, a injusta distribuição da carga entre ricos e pobres. Mas merece, sem dúvida, o apoio e o engajamento das forças políticas nacionais - a começar pelo Executivo federal.
Herculano
28/05/2019 08:20
O BOLSONARISMO EXISTE, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

A existência do bolsonarismo projeta o antibolsonarismo e até o seu líder: Rodrigo Maia

O principal resultado das manifestações de domingo foi confirmar que a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência não foi só um episódio e que o bolsonarismo vingou. Ocupou um vácuo político na campanha e se consolida com a rejeição ao que o próprio presidente chama de "velha política" e os seus filhos e os olavistas desdenham como "establishment", mas tem um nome: instituições, à frente os Poderes da República.

O bolsonarismo fecha os olhos, os ouvidos e a razão ao despreparo e aos erros crassos de Jair Bolsonaro em nome de "algo maior": uma ideologia, o conservadorismo de costumes, as reformas liberais (que, aliás, vários outros candidatos defendiam) e o combate ao crime (que eles também pregavam), mas a liga mais poderosa é a rejeição contra o Congresso, o Supremo, a mídia. Ou seja, o "sistema".

A economia derrete, mas o presidente dá prioridade a armas e transforma suas crenças pessoais em política de Estado, contra a defesa do meio ambiente, as universidades, as pesquisas, a área de Humanas. E ele rechaça os políticos, mas dá um excesso de poder nunca visto aos próprios filhos ?" aliás, políticos, um deles enrolado com um esquema no Rio que pode ser tudo, menos uma saudável "nova política".

Bolsonaro já derrubou ações da Petrobrás, criou sobressaltos na CEF, assustou a comunidade internacional, gerou temores na China e no mundo árabe e se mete despudoradamente nas eleições da Argentina.

O bolsonarismo, porém, não está nem aí para isso. Prefere acreditar, e alardear pelas redes sociais, que é tudo fake news, perseguição de uma imprensa esquerdista e mal-intencionada. O que importa para o bolsonarismo não é Bolsonaro, é o que ele representa. Bolsonaro é fraco, mas a simbologia (ou o marketing) dele é forte.

Quem foi às ruas no domingo, em mais de 150 municípios, de todas as unidades da Federação, comprou a ideia de que ele é como um Dom Quixote contra os males e os maus do Brasil. Mas eles precisam tomar cuidado. A existência do bolsonarismo automaticamente projeta o antibolsonarismo. Manifestações a favor (aliás, inéditas em início de governos) chamam manifestações contra. Isso significa uma polarização perigosa: o "nós contra eles" da era do PT, com o sinal contrário.

As multidões de domingo foram uma demonstração de força e produziram fotos poderosas, mas elas já lançam até os potenciais líderes de hoje e do futuro. Quem desponta entre os bolsonaristas é Sérgio Moro, mas ele é muito além disso: rechaçado por petistas, é endeusado por diferentes frentes e setores da sociedade.

E quem surge no horizonte para comandar o antibolsarismo? O presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Quanto mais o bolsonarismo eleger Maia como inimigo número um, mais ele ganha força no antibolsonarismo, difuso e ainda confuso, mas real.

Maia e o DEM, porém, devem se descolar o quanto antes do Centrão, que Jair Bolsonaro chama de "palavrão" e transformou, habilmente, na síntese de tudo o que há de ruim, de podre, de execrável na política. Apesar de ter sido filiado a siglas que são, ou bem poderiam ser, desse bloco, como PP, PTB, PRB e o próprio PFL, que deu origem ao DEM de Rodrigo Maia.

Outra ironia nessa história é que Centrão e bolsonarismo estão unidos em torno de pelo menos uma bandeira: a reforma da Previdência. Nunca se viu manifestação a favor da reforma, só contra. Pois, agora, os bolsonaristas nas ruas e o Centrão no Congresso é que vão aprovar a reforma e garantir não apenas a aposentadoria das novas gerações, mas também as chances de recuperação econômica do País. Tudo o que Bolsonaro precisa fazer é não atrapalhar. Ou parar de atrapalhar.
Herculano
28/05/2019 08:17
O PLEBISCITO PERMANENTE DO BOLSONARISMO, por Carlos Andreazza, no jornal O Globo

Não acredito, por óbvio, na viabilidade desse norte plebiscitário

Não importa o volume das manifestações governistas de domingo. Avalio que foram de porte razoável e de caráter nacional tanto quanto expressivas de uma mentalidade autoritária, resumida no ataque direto ao Parlamento - motor original dos atos e ímpeto antidemocrático cujo propósito, apesar da competente campanha que tentou limpar a barra pesada das convocações, não se conseguiu disfarçar: o de esmagar o Legislativo sob a convicção de que o Congresso, o inimigo, sindicato do crime, seja poder menor destinado a mero despachante dos desejos do governante popular, um imperador eleito, um guerreiro de todos os lados acossado pelo monstro chamado establishment.

O tamanho e a representatividade dos protestos, porém, sempre independerão dos fatos, matéria que são para guerra de versões. Como escrevi: não importa. O que interessa tampouco deriva do sucesso populacional das manifestações e da qualidade de suas pautas - e pode ser resumido numa pergunta: em que os atos contribuem para a agenda de um governo que se vende como reformista e que, para ter êxito na empreitada, necessitará de mínima estabilidade? Mais precisamente: qual a aposta contida em dar vazão - com estímulo oficial desde o Planalto, inclusive do presidente - a uma estratégia de intimidação contra um Poder da República do qual o Executivo precisará?

Nesta altura, só uma questão resta - dado que o erro político está cometido: o quanto tamanha burrice atrapalhará. Como recado ao ingênuo que espera alguma perspectiva de equilíbrio para se planejar, a estupidez patriota é clara: o governo, dirigido pela força reacionária bolsonarista, escolheu a campanha permanente e não perderá chance de plantar polarizações. É caminho tomado por quem desconhece a história ou se julga habilitado a desafiá-la: um governo que se move sob linguagem de oposição, ainda aos cinco meses, apostando em apoio popular constante, é um que cansa e se cansa.

O bolsonarismo investe na fundação de uma cultura plebiscitária como mecanismo para esvaziar-desqualificar o Congresso e anabolizar um canal de comunicação direta entre líder carismático e povo. É fetiche totalitário antigo e que tem exemplo recente na Venezuela ?" um país de instituições devastadas pela imposição populista dos governantes e que expõe sua paralisia em disputas tribais sobre quem reúne mais esfomeados na rua.

Não acredito, por óbvio, na viabilidade desse norte plebiscitário: porque o Brasil não é a Venezuela e tem a faca afiada (e prática) de um mercado que compra (pagou caro por Bolsonaro) tão rápido quanto vende (barato) se diante de uma alternativa de negócio; porque a população, saturada de discurso político-eleitoral, elegeu Bolsonaro, um forte, para resolver o problema, e não para se apregoar vítima e pedir socorro; porque o povo não tarda a perceber que essa batalha partidária nas ruas equivale a país travado (um que não gera empregos); e porque não há quem, não sendo fanático ou estando a serviço, cegue-se longamente em fumaça que pretenda camuflar incompetência.

O governo Bolsonaro tem natureza - a imprevisibilidade - avessa ao princípio básico do que seja governar, o que é agravado pela alarmante incapacidade de gestão. E o investimento permanente em conflitos, essa verdadeira forja de crises institucionais que anima o bolsonarismo, apenas radicalizará o que é óbvia constatação: a de que um programa de reformas liberais, como o de Paulo Guedes, não tem meios de prosperar, senão modestamente, num ambiente de instabilidade como regra.

A reforma da Previdência já passou, será aprovada, e será razoável, independentemente de governo - e essa também é mensagem captada por quem gira a roda do dinheiro. Mas: e depois? Qual a força política - para concretizar a retórica reformista estrutural - de um governo que veste a antipolítica, que se pensa eleito para ser uma nova etapa da Lava-Jato e que considera a formação de base de apoio parlamentar uma atividade criminosa, o que significa informar ao mundo que fará "articulação" (com quem considera bandido) caso a caso, projeto a projeto, multiplicando confrontos como os vistos até agora? Não é sustentável.

O mercado financeiro, fiador de Bolsonaro como alguém domável pela razão produtiva, já mediu e pôs preço na limitação incontornável do presidente, e está ávido por embarcar na engenharia que se projeta para minimizar o prejuízo e tocar a canoa da administração de danos até 2022: o parlamentarismo informal que parece unir "governo Guedes" e o poder moderador em que consiste o Congresso, uma costura que se dedicaria a um pacote enxuto de reformas econômicas e que ceifaria - ceifará - a agenda de costumes que dá identidade ao bolsonarismo.
Herculano
28/05/2019 08:14
"CENTRÃO LIDERA UMA BOA REFORMA TRIBUTÁRIA, APESAR DO GOVERNO, por Pedro Menezes, no site Gazeta do Povo, Curitiba.

República do Congo, Bolívia, República Centro-Americana, Chade, Venezuela e Somália. Esses 6 países, e nenhum outro, tem um sistema tributário pior que o do Brasil no ranking Doing Business, do Banco Mundial. É a nossa pior classificação. Mesmo nesse G6 da vergonha, nenhum país exige mais horas de trabalho para que se entenda como os impostos devem ser pagos. Somos campeões mundiais em burocracia tributária, os piores entre os piores.

Está tudo errado nesse front. Nossa carga tributária é alta e penaliza os mais pobres. Os impostos brasileiros desagradam capital e trabalho, sem preconceito ideológico. Pior: esse atraso nos condiciona a mais atraso. No Brasil, barganhar uma tributação especial junto ao governo é mais lucrativo do que produzir mais por menos. Cada hora de trabalho navegando pela burocracia poderia ter ido para a inovação, para o preço e qualidade que chegam ao consumidor.

O problema não é de hoje e motivou Bernard Appy a buscar uma solução. Ainda no governo Lula, ele ?" um economista remanescente da equipe liberal de Palocci ?" formulou uma reforma tributária em 2008, que fracassou no Congresso. O governo Lula desistiu do projeto. Bernard Appy, não.

Ao invés de sair da Fazenda para receber um gordo salário na Faria Lima, como é comum entre seus pares, Appy fundou um think tank, o Centro de Cidadania Fiscal, para entender o que deu errado na proposta de 2008 e aprimorar o projeto. Como o problema já era insustentável, uma reforma parecia inevitável.

Em pouco tempo, o projeto de Appy se tornou o mais discutido pelos interessados no assunto. No desenho, ele buscou corrigir problemas que travaram seu projeto no governo Lula, como atritos políticos gerados junto aos governadores.

A proposta do Centro de Cidadania Fiscal, em resumo, prevê a união de cinco impostos em um. IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS se fundiriam no IBS, o Imposto sobre Bens e Serviços. A proposta aproxima o Brasil do resto do mundo, onde a tributação do processo produtivo se dá por um imposto de valor agregado, o mesmo para todos setores.

Um trecho particularmente revolucionário da proposta é o que extingue os regimes especiais de tributação, responsáveis por muita burocracia e corrupção em nosso país. Com a facilidade para criação de regras especiais, fica difícil até saber qual regra se aplicada a cada empresa, e a atividade empreendedora é demasiadamente influenciada pela legislação. A proposta de Appy faz parte do que o economista Marcos Lisboa costuma chamar de "agenda republicana", aquela que trata iguais como iguais.

Surpreendentemente, o sistema político convergiu pela proposta de Appy. Nas eleições do ano passado, todos os principais candidatos defenderam a criação de um imposto sobre valor agregado nestes moldes. Sim, leitor: a concordância unia Bolsonaro, Guedes, Haddad e o PT. Feito raro.

O governo poderia ter confirmado as expectativas da campanha, mas preferiu confiar sua reforma a Marcos Cintra, especialista respeitável e desatualizado que segue sonhando com o inviável imposto único federal. O pior erro da boa gestão de Guedes até o momento.

Felizmente, Rodrigo Maia viu a bola pingando e quis marcar. Um aliado, deputado Baleia Rossi (MDB), propôs uma PEC de conteúdo bastante similar à de Appy. A inspiração é livremente admitida. Acadêmicos e empresários já conheciam a proposta e deram apoio a ela. Sem a marca do governo, a resistência dos partidos de esquerda tem sido menor.

A CCJ da Câmara já aprovou a reforma tributária de Appy, Baleia Rossi e Maia. Sem a confusão vista nos debates da Nova Previdência, os parlamentares parlaram mais do que xingaram. O projeto está caminhando com certa celeridade.

O texto em discussão tem pontos que merecem discussão mais profunda, mas em geral é muito bom e superior às especulações de Marcos Cintra. A reforma tributária do governo nem chegou a sair do Planalto, portanto dificilmente chegará ao plenário do Congresso a tempo de derrotar a versão do Centrão. O que é bom, porque a reforma formulada por Appy foi melhorada por anos de debate da sociedade civil e é bem vista por economistas e políticos de vários partidos. Agora, o governo se vê com o calção no gramado, assistindo ao avanço de Maia e seus aliados que, depois do drible, querem comemorar o gol sozinhos em frente à TV. Bolsonaro ainda pode abraçar o projeto para tentar colar sua imagem. O importante mesmo é aprovar a reforma antes de correr para o abraço. Depois, os políticos que se digladiem pela paternidade dela. Só espero que alguém se lembre de agradecer a Bernard Appy."
Herculano
28/05/2019 08:07
da série: o impressionante o governo paralelo do STF que se afoga em lagostas e vinhos premiados, é estatizante e defensor dos salvaguardas do atraso pedido pelo sindicalismo pelego, mas pagos com sacrifícios, desempregos e pesados impostos de milhões para cobrir prejuízos e privilégios de poucos.

STF SUSPENDE PROCESSO DE VENDA DE GASODUTOS DA PETROBRÁS

Liminar traz insegurança para processos de privatização, avaliam especialistas

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto de Ivan Martínez-Vargas, da sucursal de Brasília. O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu uma liminar que suspende a venda da TAG (Transportadora Associada de Gás) pela Petrobras. O negócio, fechado em abril deste ano, envolve cerca de R$ 33,1 bilhões.

Para especialistas, a decisão, que poderá ser revista pelo plenário do Supremo, traz incertezas sobre a transação e insegurança jurídica em processos de privatização em geral.

Fachin entendeu que o negócio deve ter autorização legislativa prévia e só pode ser realizado por meio de uma licitação, por se tratar da perda de controle estatal. A transação envolve a alienação de 90% da transportadora de gás.

O ministro atendeu sindicatos de petroleiros, que pediam a cassação de uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que permitiu que a concorrência fosse levada adiante pela Petrobras, em janeiro.

O STJ havia derrubado uma decisão colegiada do TRF-5 (Tribunal Regional Federal) que barrou, em junho do ano passado, a venda da TAG por entender que o negócio deveria passar por um processo licitatório. Para o STJ, a suspensão teria grande impacto econômico negativo nos cofres públicos.

O TRF-5 levou em conta uma manifestação anterior do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, sobre a venda de participações da União.

Para Lewandowski, só poderia haver dispensa de licitação nos casos em que a venda de ações não implicar perda do controle de empresas públicas, sociedades de economia mista - caso da Petrobras?" ou de suas subsidiárias - situação da TAG.

Com o acórdão do STJ, a Petrobras conseguiu concretizar a transação com o consórcio formado pela Engie (maior geradora privada de energia) e pelo fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec.

O negócio prevê o pagamento de US$ 8,6 bilhões à Petrobras, incluindo dívidas da TAG com o BNDES.

A venda do ativo também obteve a aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no início deste mês. O órgão antitruste entendeu que o negócio não geraria risco de concentração de mercado.

Para Fachin, contudo, o STJ afrontou a determinação de Ricardo Lewandowski, "ainda que por vias oblíquas ou indiretas, ao permitir a continuidade do procedimento de venda de ativos sem a necessária e prévia licitação e sem a [...] autorização legislativa".

O tema deverá ser apreciado em plenário, mas ainda não entrou na pauta da corte, controlada pelo presidente Dias Toffoli.

A Petrobras afirmou que ainda não foi notificada sobre a decisão de Fachin.

A estatal disse ainda, em nota, que "avaliará a decisão e irá tomar as medidas cabíveis em prol dos seus interesses e de seus investidores" e que "reforça a importância dos desinvestimentos através da gestão de portfólio para a redução do seu nível de endividamento e geração de valor".

Para Leonardo Miranda, do escritório TozziniFreire, a necessidade de licitação para alienação de ativos é um tema controverso e depende da interpretação da Lei das Estatais. "Há na legislação um dispositivo que dispensa essa concorrência para compra e venda de ações", diz.

"A venda da TAG passou por um processo em que concorreram as principais empresas aptas a assumir o ativo."

Os demais processos de privatização não são afetados pela decisão, mas o plenário do Supremo poderá exigir que o Congresso autorize as vendas, segundo Miranda.

"Sociedades de economia mista, em tese, deveriam poder competir com empresas privadas em condições de igualdade, o que essa necessidade de aprovação [no Congresso] impediria", afirma.

Para Rafael Baleroni, sócio do escritório Cescon Barrieu, a decisão traz insegurança em processos licitatórios.

"A venda da TAG passou por um mecanismo de competição, com várias propostas. O investidor mobilizou tempo e recursos para participar. Essa incerteza sobre a venda não é boa, pode reduzir o interesse privado em processos similares."
Herculano
28/05/2019 08:01
LISTA DO MP AMEAÇA REFORMAS, Pedro Nery, no jornal O Estado de S. Paulo

Relação tende a transformar o novo procurador-geral no anti-Paulo Guedes

Em meio a uma árdua agenda de reformas, o novo procurador-geral da República tende a ser um antiPaulo Guedes. Ele questiona o déficit da Previdência, vê na reforma um corte radical de gastos e alerta que não deve se sustentar no Judiciário. Foi militante do auxílio-moradia, alega que o teto de gastos é inconstitucional e considera a reforma trabalhista grave retrocesso. Ele é um dos favoritos para vencer em junho a eleição para procurador-geral da República (PGR).

Ele é o procurador José Robalinho, candidato na lista tríplice para PGR organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) - presidida por ele próprio até o início do mês. O favoritismo decorre de o líder sindical fazer a mesma trajetória de outros vencedores.

Os últimos procuradores-gerais Rodrigo Janot e Roberto Gurgel também foram presidentes da ANPR antes de vencerem a sua eleição. Na última lista tríplice, venceu o ex-presidente Nicolao Dino (preterido no cargo pela vice, Raquel Dodge).

Poderia ser a vez de Robalinho, que nos últimos anos assinou um conjunto de notas contra qualquer esforço importante de reforma. Como PGR, opinará sobre todas as ações contra as reformas no STF e poderá ele próprio propor ações de inconstitucionalidade. A posição do PGR é altamente correlacionada com as decisões do Supremo.

Robalinho é contundente. Sobre a Previdência: "injustiça profunda contra servidores, não se sustentará perante o Judiciário, fique alerta o País disso", "agressão à Constituição e fonte inesgotável de judicialização", "comprometimentos de direitos sociais". Sobre a trabalhista: "maior projeto de retirada de direitos", "ataque", "irreparáveis inconstitucionalidades", "retrocessos de toda espécie". Sobre o teto: "INCONSTITUCIONAL porque viola cláusulas pétreas".

As justificativas das notas da ANPR flertam com o obscurantismo do WhatsApp, quando se sugere que o déficit da Previdência não existe, que metade da arrecadação vai para a dívida pública ou que ela nunca foi auditada.

É legítimo que uma liderança sindical adote essa pauta, porque trata das aposentadorias, salários e auxílios de seus associados. O impressionante é que esses associados possam escolher seus líderes sindicais como chefes do Ministério Público.

A principal qualidade apontada da lista tríplice é a escolha de um PGR independente. Mas independente de quem? Não dos eleitores. Na última eleição, candidatos chegaram a discutir como driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal para aumentar rendimentos e até como pagar auxílio-moradia para ex-procuradores. A reputação do MP, o fiscal da lei, se contamina com esse corporativismo tribal.

A candidatura Robalinho é emblemática, mas o problema da lista tríplice é mais amplo: a incompatibilidade de escolher o guardião dos interesses difusos por um interesse organizado. Mesmo o sóbrio Mário Bonsaglia, outro favorito e único remanescente da última lista, falou aos associados taxando a reforma da Previdência de muito drástica e assustadora: "restringe direito de milhões", entre outras falas.

A lista tende a transformar o procurador-geral da República no anti-Paulo Guedes. A árdua aprovação das reformas no Parlamento pode ser depois desperdiçada no 3.º tempo.

Entre as reformas cujo destino dependem do próximo PGR estão da Lei de Responsabilidade Fiscal (a redução da jornada de servidores que poderia ajudar a salvar Estados está suspensa por liminar há mais de dez anos, com apoio do MP) à carteira de trabalho verde e amarela, proposta de Guedes contra a chaga do desemprego jovem (a reforma trabalhista de 17 teve ferrenha oposição do MP do Trabalho e foi só em parte respaldada por Dodge: ainda pena com insegurança jurídica à espera do aval do STF).

Os interesses difusos de massas desorganizadas como os contribuintes, os herdeiros da dívida e os desempregados precisam especialmente da saída do nó fiscal. E esse é fundamentalmente um problema de folha de pagamento, em que as soluções colidem com os desejos da corporação que escolhe o PGR.

As reformas se beneficiariam muito de uma visão esclarecida e solidária do Ministério Público, nos moldes da importante atuação do órgão na área ambiental: contra grupos de interesses organizados no presente, em benefício de interesses difusos e futuros. Uma multidão de brasileiros precisa da força do órgão com a missão constitucional de defendê-los: não existe a associação nacional dos desalentados, a associação de pagadores do déficit da Previdência ou a associação de crianças excluídas do orçamento. O Ministério Público é grande demais para ser tão pequeno.
Herculano
28/05/2019 06:41
DINHEIRO ROUBADO É PÚBLICO, MAS CPI SERÁ SECRETA

No País onde investigados podem não responder a questões incômodas em comissões de inquérito, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou sessão secreta da CPI do BNDES, nesta quarta (29), para ouvir o ex-ministro Antonio Palocci. Continuará na mais absoluta ignorância o pagador de impostos cujo dinheiro foi roubado nos governos do PT para financiar a Odebrecht et caterva mundo afora.

PRESERVAR A DELAÇÃO

O STF alega, para decretar sigilo do depoimento, a preservação do acordo delação do corrupto confesso que foi ministro de Lula e Dilma.

DECISÃO INTRIGANTE

Já se conhece quase tudo dos três acordos de delação de Palocci com a PF e o MPF, o que torna o depoimento sigiloso ainda mais intrigante.

LADRõES ALIVIADOS

Os detalhes revelados por Palocci sobre o papel de Lula na ladroagem não devem ajudar no relaxamento da prisão do ilustre presidiário.

ERA PARA SER PÚBLICA

A deputada Paula Belmonte (Cida-DF), que requereu a convocação de Palocci para depor, queria sessão aberta da CPI do BNDES.

PSL FAZ APOSTA ARRISCADA PARA DAR O COAF A MORO

Alheio ao presidente Jair Bolsonaro, que prefere não mexer nesse assunto, o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), acha que o Senado "não pode se furtar da obrigação" de alterar de novo a reforma administrativa do seu governo. O senador desdenha do risco de reação da Câmara, deixando caducar a medida provisória sobre o tema. Na prática, isso representaria a recriação de dez ministérios extintos.

INCONFORMISMO

O senador Major Olímpio está mesmo inconformado com a decisão da Câmara, já absorvida por Bolsonaro, de alojar o Coaf no Ministério da Economia.

SENADO NÃO BASTA

Major Olímpio confia que o governo já tem maioria no Senado para garantir o Coaf no Ministério da Justiça de Sérgio Moro. Mas o Senado não basta.

INGENUIDADE

O líder do PSL também acredita, santa ingenuidade, que prevalecerá o "elevado espírito público" da Câmara para concordar com a alteração.

DURA DO CHEFE

Major Vitor Hugo (PSL-GO) tenta se manter como Líder do Governo na Câmara. O presidente Jair Bolsonaro deixou claro que para continuar na função ele precisa se acertar com Rodrigo Maia.

CHOQUE DE REALIDADE

A Petrobras tentava se livrar da subsidiária Transportadora Associada de Gás (TAG) sem licitação, vendendo-a por R$33 bilhões, porque a empresa não se acha estatal. Define-se como "S/A", portanto, privada. Até que o STF aplicou um choque de realidade, barrando a operação.

PREVIDÊNCIA AVANÇA

Na comissão especial de reforma da Previdência, esta semana, haverá o início do velório da proposta do governo de acabar o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Já são 42 emendas apresentadas.

BATALHANDO INVESTIMENTOS

O governador do DF, Ibaneis Rocha, conversa nesta terça, em Lisboa, com Tui Lin, presidente da UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa) e representante de Macau. Tui Lin pilota mais de US$6 bilhões de investimentos em países de língua portuguesa.

SOCORRO AOS RURALISTAS

O governo enviará, em junho, uma medida provisória para socorrer os produtores rurais endividados. Estudam-se a criação de um fundo e a possibilidade de divisão do patrimônio de acordo com o valor da dívida.

COMBATE À CORRUPÇÃO

Cotado para Itaipu, o ex-deputado Osmar Serraglio diz que a ministra Carmen Lúcia lhe afirmou não existir inquérito contra ele. "Meu combate à corrupção foi comprovado quando relator da CPI do Mensalão", afirma.

BULLYING CONTRA NEYMAR

Neymar ficou meses sem jogar, machucado, mas foi o brasileiro que mais marcou gols na temporada europeia. O britânico Spectator Index mostrou, dias atrás, que ele é mais valioso que Messi, perde só para Mbappe. Mas tentar destruir Neymar virou quase um esporte nacional.

INDÚSTRIA DA MULTA

Projeto de lei apresentado pelo deputado federal Milton Vieira (PRB-SP) pede o fim dos radares móveis. Ele critica o uso desses aparelhos de forma camuflada, que acaba alimentando "a indústria da multa".

PERGUNTA NA RALAÇÃO

Por que manifestações de "esquerda" nunca são feitas aos domingos?
Herculano
28/05/2019 06:33
O QUE EU VI NAS RUAS, por Joel Pinheiro da Fonseca, economista, mestre em filosofia pela USP, no jornal Folha de S. Paulo

Só se desfazendo de justificativas fáceis enterraremos a tentação autoritária

O grande risco para o governo Bolsonaro nos protestos que ocorreram no domingo (26) em diversas cidades é que fossem um fiasco. Sua estratégia de não dialogar e nem fazer pontes com nenhuma instituição e confiar apenas na pressão popular direta para impor sua vontade depende da capacidade de colocar pessoas na rua continuamente.

Pelo menos no Rio e em São Paulo, os protestos não foram um fiasco. Fui à avenida Paulista (apenas como observador!) e pude constatar em primeira mão que a rua estava cheia de gente. Os manifestantes não passaram vergonha.

Dito isso, as fotos aéreas e estimativas oficiais indicam que os protestos do dia 15 de maio, contra o governo, atraíram mais pessoas, assim como as marchas pelo "Ele Sim" em apoio ao então candidato Bolsonaro no ano passado. Ou seja: Bolsonaro ainda conta com milhares de pessoas dispostas a ir às ruas para defendê-lo, mas o número delas vem caindo.

Não se viam pedidos de fechar o Congresso ou o STF na avenida (talvez um ou outro isolado). Pediam-se reforma da Previdência, o pacote de Sergio Moro e a MP 870.

Curiosamente, os discursos dos carros de som não faziam referência quase nenhuma ao conteúdo dessas medidas. Elas funcionavam apenas como palavras de ordem. O foco dos discursos estava quase todo na denúncia dos supostos inimigos do governo: Congresso, centrão, STF, imprensa, universidades.

Ao que tudo indica, os protestos de rua, embora tenham evitado o fiasco, não foram grandes o bastante para amedrontar o Congresso. Se pensarmos que eles tendem a diminuir conforme o tempo passe e as fragilidades do governo se tornem mais evidentes, eles podem até ter o efeito contrário. Fora das redes sociais, o bolsonarismo não mete tanto medo assim.

O discurso que dominou as ruas não é tão diferente dos lugares-comuns que sempre ouvimos e repetimos, e que considerávamos verdades evidentes: o Congresso é corrupto, a classe política é o grande atraso do país, a imprensa está a serviço dos poderosos. Por muito tempo, essas crenças justificavam nosso desinteresse pela política. A coisa parecia tão suja que nem adiantava tentar, o jeito era se acostumar e levar a própria vida.

Desde junho de 2013, nos interessamos por política e queremos mudá-la. Também fui às ruas naqueles dias e partilhei do clima de esperança que preenchia o ar e nos levava a discutir propostas para o Brasil com estranhos na rua igualmente motivados. A diferença é que agora os velhos lugares-comuns, as simplificações e os bodes expiatórios que serviam para nos consolar diante dos descaminhos do país, se tornam operantes e, por isso, perigosos.

Há bons e maus políticos, assim como em qualquer profissão. O Congresso não é mais corrupto que o governo, e ambos são igualmente representantes dos interesses e crenças de milhões de brasileiros. Sequer é possível afirmar que o clã Bolsonaro, que surfa no discurso anticorrupção, seja mais ético ou mais competente que o parlamentar médio do centrão.

A negociação de interesses - desde que visando diferentes setores da população, e não os próprios partidos e parlamentares - não é um desvio e sim um dos principais motivos pelos quais temos um Congresso e pelo qual devemos mantê-lo.

Demorará um tempo até que esses fatos básicos sejam aprendidos pela maioria da população. Será doloroso se desfazer de justificativas fáceis e exteriores para os fracassos do país; mas só assim enterraremos de vez a tentação autoritária que sempre nos ronda.
Herculano
28/05/2019 06:24
GENERAL HELENO: "NOSSOS JOVENS NÃO TÊM O PAÍS NA CABEÇA.TÊM IDEOLOGIA, TÊM MANDAMENTO"

Conteúdo de O Antagonista.O general Augusto Heleno, em entrevista ao Valor, comparou a marcha bolsonarista ao protesto dos estudantes:

"Não vou carimbar ninguém não. É muita gente. Uma das coisas que ficaram demonstradas na manifestação é que existe uma grande parcela do povo brasileiro que foi para a rua com a bandeira do Brasil. Na manifestação dos estudantes havia pouquíssimas bandeiras do Brasil. Isso para mim é um absurdo, é fruto de toda essa doutrinação ideológica que foi feita nos últimos 20 anos. Então, nossos jovens não têm o país na cabeça. Têm ideologia, têm mandamento que botaram na cabeça deles, mas o Brasil não está na cabeça de boa parte da nossa juventude. Infelizmente, esse é um erro gravíssimo, eu acho que uma grande parte da nossa juventude acordou e participou ativamente da campanha e da eleição do nosso presidente. Mas uma grande parte continua contaminada pelo que ouviram nos colégios que frequentaram, nas universidades que frequentam."
Herculano
28/05/2019 06:03
O VOTO TEM CONSEQUÊNCIAS, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo

Sabemos desde Platão que o eleitorado é presa fácil para demagogos

Fica cada vez mais fundo o buraco em que o Reino Unido se meteu ao decidir pelo brexit. Com a renúncia de Theresa May, ampliam-se as chances de o país deixar a União Europeia sem nenhum tipo de acordo, o que seria desastroso para a economia.

Também fica maior a probabilidade de "remainers" encontrarem alguma brecha política ou jurídica para exigir um segundo plebiscito, que, na hipótese de produzir um resultado diferente daquele do primeiro, causaria danos para o mecanismo de consulta popular e, por extensão, para a própria democracia.

Como os britânicos puderam cair nessa armadilha? A triste verdade é que a democracia, em especial a democracia sem filtros, traz esses riscos. Nós sabemos desde Platão que o eleitorado é presa fácil para demagogos. O que a ciência política e a psicologia modernas fizeram foi descrever com minúcia os vieses pelos quais as pessoas se deixam levar, além das aporias irredutíveis de processos de decisão por maioria.

O curioso é que, apesar das possibilidades quase infinitas de a democracia dar errado, os países que a adotam estão no geral muito melhor do que os que a desprezam. Ao que tudo indica, ela funciona, mas não pelas razões que gostaríamos.

As virtudes da democracia não estão nas escolhas que ela gera, mas em efeitos secundários que vêm no pacote de produtos que costumam acompanhá-la. São itens como liberdades individuais, direito de propriedade, segurança jurídica e, também, a percepção de que a disputa pelo poder segue regras justas e que a parte derrotada não enfrentará ameaça existencial, podendo até vencer no próximo ciclo. Juntos, esses elementos costumam promover a moderação.

O problema do populismo é que, ao vender falsas soluções fáceis, ele desequilibra o jogo e pode colocar países em caminhos totalmente inadequados ou mesmo sem volta. Como os brasileiros estão descobrindo, o voto tem consequências.
Herculano
27/05/2019 17:41
da série: o Brasil à beira do precipício e os políticos não estão nem ai para o perigo

MANIFESTAÇõES PRó-BOLSONARO NÃO TERÃO IMPACTO NENHUM, DIZ CÉSAR MAIA

Conteúdo de O Antagonista. O ex-prefeito do Rio Cesar Maia, pai de Rodrigo, afirmou que as manifestações de ontem a favor do governo de Jair Bolsonaro não terão impacto nenhum, informa a Época.

"Semanas atrás houve outra maior e se diluiu em uma semana. Essa terá o mesmo caminho", declarou o ex-prefeito.

Ele afirmou ainda que os cartazes contra seu filho não são um problema. "São uma demonstração de força e crescimento político de Rodrigo, que passa a ser o contraponto."

Cesar Maia também se disse surpreso com o que chama de demora de Bolsonaro para entender que o país é "ingovernável fora de conchavos", como dizia texto recentemente compartilhado pelo presidente.

"Ele foi deputado por 28 anos. Só agora descobriu isso?"
Herculano
27/05/2019 17:32
DA SÉRIE, GENTE DOIDA

Entre muitas fotos das manifestações mostrando faixas e cartazes, pincei esta:

Os ignorantes defendem corruptos e partidos políticos! Os sábios defendem um a nação!

Volto. Alguém poderia me dizer como sem partidos políticos estruturados, numa democracia plena como quer ser a nossa, seria possível construir, gerenciar e defender uma nação? Çabios, espertos ou ditadores?

Numa sociedade plural, é preciso expurgar e punir os corruptos, esclarecer os ignorantes para que eles não sejam massa de manobras de sábios, oportunistas, totalitários e corruptos. Wake up, Brazil!
Herculano
27/05/2019 17:25
OS FANÁTICOS

Pesquei no twitter, de um tuiteiro identificado como Flávio, o colecionador:

Legal essa matéria do Fantástico com gente q é absurdamente fã de artistas de K-Pop, Sandy & Júnior, etc. Se sacrificam pelos ídolos, fazem qualquer coisa por eles.

Ok.

Mas faltou incluir gente q fica retardada por causa de políticos, né?
Herculano
27/05/2019 17:21
JUÍZES FEDERAIS DEFENDEM PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA NO PACOTE ANTICRIME

Conteúdo de O Antagonista. Texto de Renan Ramalho. A Associação dos Juízes Federais enviou à Câmara e ao Senado nota técnica de apoio à maior parte das propostas de Sergio Moro no pacote anticrime.

Sobre a prisão em segunda instância, a entidade diz que já defendia a medida antes mesmo de ser proposta em lei pelo atual governo.

"Somos favoráveis às propostas no sentido de que o cumprimento da pena pode ter início a partir da condenação imposta por acórdão. Ressalte-se que até 2009 esse era o entendimento do Supremo Tribunal Federal", diz a nota técnica.

"Sempre defendemos até antes do pacote ser apresentado. A execução a partir de segundo grau é compatível com a Constituição, perdurou por 22 anos no STF. Traz maior efetividade do sistema penal sem que implique violação de garantira de direito fundamental", acrescentou o presidente da Ajufe, Fernando Mendes, a O Antagonista.

Ele disse estar disponível para discutir o tema com deputados e senadores em audiências no Congresso.
Herculano
27/05/2019 11:17
OS FETICHES DO PORNô CULINÁRIO, por Marcos Nogueira, no jornal Folha de S. Paulo

Food porn ou, em português, pornografia gastronômica. São aquelas imagens de comida lânguidas e lascivas. Elas fazem o indivíduo salivar, seu estômago roncar, suas mãos buscarem a carteira para comprar uma porcaria qualquer no mercado ou no fast-food mais próximo.

A publicidade conhece bem o pornô gourmet. Fotógrafos especializados sabem todos os truques para fazer até o hambúrguer mais muxibento parecer delicioso.

Recentemente, a produção de sacanagem foi democratizada com as câmeras de smartphone e aplicativos como o Instagram. Qualquer zé-ruela pode fotografar o macarrão com salsicha que comeu no almoço e jogar na rede. "Amateur food porn", classificariam os "XVideos" da vida.

Ainda segundo os critérios da pornografia clássica, essa safadeza caseira fica nos domínios do softcore -erotismo sutil, quase inocente.

O pornozão pesado você encontra nos canais de vídeo especializados em receitas. Aqueles que têm uma câmera fixa que mostra do alto o preparo de uma comida qualquer. "Tastemade" é o Buttman da gastronomia; "Tasty Demais" é a Brasileirinhas.

Esses vídeos exploram alguns fetiches alimentares. Ovo é o mais conhecido. Gema mole leva o público ao êxtase. Se ela escorre no pão torrado, veja bem, eu não me responsabilizo mais pelos meus atos.

Queijo derretido é outro recurso certeiro para atiçar o voyeur de comida. As receitas desses canais usam quantidades indecentes de queijo. Quando querem chocar a sociedade conservadora, põem um brie inteiro para assar no forno.

Aí a cena final muda a perspectiva da câmera, com uma espátula que remove uma fatia da comida pronta e revela o queijo - que se estica em tiras elásticas e provocantes. É o clímax, o momento em que o internauta revira os olhinhos de puro prazer.

Qualquer coisa que derreta, escorra ou lambuze faz sucesso no pornô da gastronomia. Chocolate. Chantili. Leite condensado, ai, ai.

Assim como na pornografia sexual, a meleca é apenas insinuada. Tudo é limpo, organizado, parece fácil demais. Picar cebola não é sexy, mas é excitante ver cinco cebolas se desfazendo em um átimo pela magia da edição de vídeo.

A food porn prende a atenção, hipnotiza, desconcentra. Vicia. Antes que você perceba, já estará dependente. O dia de trabalho não rende mais. Você passa o expediente fantasiando lasanhas e bolos de carne, em vez de terminar a planilha que o chefe encomendou.

Há casos de gente infeliz que largou tudo e torrou as economias de uma vida numa faculdade de gastronomia. Para descobrir, lá adiante, que precisaria lavar a louça dessa lambança toda.

Pornografia não tem nada a ver com aquilo que a gente faz na vida real. Vale para o sexo e para a cozinha.
Herculano
27/05/2019 11:14
DISFARÇADO, VIÉS AUTORITÁRIO ESTEVE SUBJACENTE AOS ATOS, por Vera Magalhães, no jornal O Estado de S. Paulo

O cavalo de pau dos últimos dias nas pautas autoritárias e belicistas das manifestações deste domingo surtiu efeito de saneamento básico: em cima dos caminhões de som e por parte dos coordenadores (quando era possível identificá-los) não se ouviram palavras de ordem pelo fechamento do Congresso Nacional ou do Supremo Tribunal Federal.

Mas o germe havia sido plantado, e a intenção inicial de apresentar os demais Poderes como inimigos do governo Jair Bolsonaro esteve presente em faixas, pixulecos como o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cartazes e gritos de guerra no asfalto de Norte a Sul.

Na Paulista, epicentro desse e dos últimos grandes atos, havia muito menos gente que nas jornadas de 2013 e nas de 2015 e 2016, pelo impeachment de Dilma Rousseff. O número de pessoas foi próximo ao do ato do dia 15, contra os cortes na Educação (e, assim, antigoverno).

Mas o cálculo de participantes e a comparação com o dia 15 importam menos que o efeito das manifestações na relação entre governo e Congresso.

Os militantes foram levados a acreditar que sua presença nas ruas acuará o Centrão, em particular, e o Congresso, em geral, e os convencerá na marra a votar a reforma da Previdência, o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro e o que mais vier do Palácio do Planalto a toque de caixa.

Não é bem assim. Embora seja verdade que, nos últimos anos, o escrutínio das ruas e das redes sociais tenha adquirido mais peso para os parlamentares, o Legislativo continua cioso de suas prerrogativas e não vai abrir mão delas em favor de um plebiscito permanente.

Se Bolsonaro achar que porque as pessoas foram às ruas ele poderá governar à revelia do Congresso, cometerá (mais) um erro crasso. É preciso que haja assessores que lhe digam que quem foi à rua é um contingente menor que o de seus próprios eleitores. Em número e em representatividade (basta ver as defecções na centro-direita).

O melhor, na verdade o único, caminho para a aprovação das iniciativas do governo continua sendo a democracia representativa. A conferir o estrago que a confrontação de ontem pode causar.
Herculano
27/05/2019 11:12
O CAMINHO DO MEIO NA POLÍTICA, por Fernando Gabeira, no jornal O Globo

Seria necessário um autêntico interesse pela produção dos parlamentares, uma noção de sua trajetória

Depois de um longo dia de trabalho em Oeiras, no centro-sul do Piauí, fui contemplar a lua cheia e vi um corpo brilhante sobre ela. Era Júpiter, que se aproxima todo mês, mas aparece claramente quando a lua é cheia. Fotografei com prazer aquela presença. Uma conjunção feliz, pois nos traz algo de novo ao alcance do olho nu.

Do meu posto de observação da história contemporânea do Brasil, conjunções são raras, desastres mais comuns, não é raro ver a vaca ir pro brejo.

O documento que Bolsonaro divulgou sobre as dificuldades de governar o país nos coloca diante de uma alternativa: governar com conchavos e perpetuar a corrupção ou usar a força popular para provocar mudanças, o que tende a desembocar no autoritarismo.

Existe um caminho do meio, uma nova forma de de se relacionar com o Congresso que ainda não foi experimentada amplamente. Não há garantia de êxito, mas certamente vale a pena tentar.

É uma ilusão supor que os congressistas sempre se curvam à maioria. Foram eleitos também, e para muitos a opinião de seus próprios eleitores pesa mais do que a da maioria.

Uma saída seria atrair o Congresso na execução do Orçamento, tornar políticos de uma região responsáveis também por uma série de obras programadas para ela. É uma parceria que não acaba com o fisiologismo. Mas pelo menos o isola um pouco, oferecendo aos envolvidos uma forma de superar o medo de que seus eleitores pensem que nada fazem por eles.

Pela experiência no Congresso, não considero apenas os fatores materiais. Há um grande muro simbólico a ser derrubado.

Os deputados e senadores seriam mais felizes se pudessem aprovar seus próprios projetos e não serem sufocados por medidas provisórias e pautas oriundas do governo. Há um desequilíbrio aí, e ele já existe há muitos anos.

Ainda num campo simbólico, a atenção de um presidente e uma palavra de apoio ao seu trabalho representam para um deputado mais que verbas. Não recomendo um expediente de relações públicas, como mandar um telegrama no dia do aniversário.

Seria necessário um autêntico interesse pela produção dos parlamentares, uma noção de sua trajetória, uma tentativa de impulsionar o que tem de melhor: jovens começando a carreira, veteranos especializados em alguns temas, todos amparados por um corpo técnico competente.

Pode ser bobagem o que vou dizer, mas os presidentes falharam de uma certa forma em buscar esse caminho e suas variantes.

De um modo geral, chegam ao governo depois de uma grande campanha eleitoral. Ao contrário de terem resolvido as ilusões do ego, eles aceleram a viagem e colocam-se num outro patamar: sabem mais que os outros, são acontecimentos inéditos na história, enviados de Deus. E há os mais distantes, como Collor e Dilma, que claramente não tinham esse dom.

O caminho do meio depende de um presidente que realmente leve a sério o Congresso. Isso não exclui que, em certos momentos, existam manifestações não a favor do governo, mas a favor de alguma bandeira que coincide com algo bem claro no jogo democrático.

Nesse caminho do meio não há avanços vertiginosos. Quem os espera se decepciona. Sem ilusões sobre o Congresso. Não se trata de fazer um avião decolar. Na verdade, trata-se de pôr em marcha uma geringonça.

Essa imagem não é depreciativa. Assim os portugueses chamam sua experiência relativamente exitosa. Comunistas? Nesse caso, Portugal seria o único país comunista a atrair tantos imigrantes, ricos e pobres.

A chance de superar o dilema corrupção ou autoritarismo não foi realmente tentada por Bolsonaro. Mas ainda está aberta para a virada da década.

Os candidatos sempre prometem alguma forma de resolver o impasse. Fica essa lembrança quando o tema voltar em 2020.

Há um caminho do meio. Quem sabe?

O problema é produzir políticas públicas que melhorem as condições reais de vida de milhões de pessoas. O resto são honrarias, condecorações, estátuas para pombo fazer cocô.

Prefiro acreditar que exista uma solução e contribuir para ela a continuar na velha história de que, no fundo, afirma o documento lançado pelo Bolsonaro, o Brasil não tem jeito. Como os estoicos, acham que tudo vai passar como os bárbaros por Roma, pois acabariam engolidos por ela.
Herculano
27/05/2019 11:10
ONDA AMARELA TEM O QUE DIZER, por Vinicius Mota, secretário de Redação do jornal Folha de S. Paulo

Manifestos merecem atenção e respeito desde que descartem autoritarismo

Desde 2013, acabou o monopólio vermelho nas manifestações de rua. Aqueles atos, que começaram jovens e encarnados, terminaram grisalhos e amarelados.

O padrão se repetiu nas agitações em torno da deposição de Dilma Rousseff e também depois, no pleito de 2018. Não há iniciativa de um lado que não estimule reação do outro.

Assim foram os protestos deste domingo (26): uma resposta às multidões que, no dia 15, haviam reclamado dos cortes na educação e da reforma da Previdência.


Outra novidade tem sido a violência. Foi praticada nos vandalismos associados a atos da esquerda em 2013. Tem sido invocada, como meio de intimidar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, nas concentrações da direita.

Nem todo amarelo é autoritário, no entanto. Perigoso, porque familiar ao presidente, o clube radical é, ainda assim, nanico no fenômeno que elegeu Jair Bolsonaro.

Os amarelos, como a maioria da sociedade, abominam a pompa aristocrática das autoridades. Quem deixou licitar as compras de lagosta e outros itens de luxo no STF não entendeu o que se passa no Brasil.

O grito amarelo se queixa da opressão da burocracia sobre quem empreende, da ineficiência do serviço público, do sequestro do debate sobre prioridades orçamentárias perpetrado por um punhado de oligarquias empresariais, corporativas e partidárias.

A gestão das universidades federais, que produziu descalabros como a destruição do Museu Nacional, não é maravilhosa. O erário despender com um universitário quatro vezes o que gasta com um aluno do ensino básico não deixou de ser anomalia.

O desejo de que a lei penal valha para todos é um manifesto de inclusão cidadã. O clamor por segurança nada tem de ilegítimo em meio à criminalidade alarmante.

Desde que o joio autoritário seja isolado e descartado, várias mensagens implícitas na onda amarela merecem atenção e respeito.
Herculano
27/05/2019 11:06
da série: o discurso certo, mas a prática contraditória. A lei tem sido letra morta para a maioria dos julgadores que preferem a Justiça que lhes parece justa ou de oportunidade

O STF E O EXECUTIVO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

Toffoli usou cautelosamente as palavras, mas suas observações foram um recado claro dirigido ao Executivo

Em evento promovido pela International Bar Association sobre segurança jurídica e os riscos de insolvência na economia globalizada, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, fez duas observações importantes sobre o papel do Judiciário e suas relações com o Executivo.

A primeira observação foi sobre as relações entre o direito e a economia, principalmente num cenário de emaranhado de leis. Segundo ele, a ideia de que "a economia deve conduzir o direito" causa preocupação no âmbito da Justiça, uma vez que seus membros têm de decidir com base na racionalidade lógico-formal do sistema jurídico, e não com base na racionalidade funcional do sistema econômico. É por isso que os tribunais devem ter a "frieza" de fazer valer os contratos e de preservar atos juridicamente perfeitos, desempenhando assim suas atribuições constitucionais, afirmou Toffoli.

A segunda observação foi no sentido de que, ao julgar litígios, os juízes devem prender-se mais às normas, cuja redação é objetiva, do que aos princípios jurídicos, que são expressos por conceitos indeterminados. Magistrados querem "fazer justiça em caso concreto, em vez de aplicar a lei. A função dos tribunais é aplicar a Constituição e as leis. É garantir que as normas jurídicas e as regras do jogo político sejam cumpridas como foram estabelecidas", disse ele.

O pronunciamento do presidente do Supremo Tribunal Federal ocorreu três dias depois que o presidente Jair Bolsonaro divulgou um texto que acusa o Legislativo e o Judiciário de impedi-lo de governar e praticamente às vésperas de manifestações de grupos que apoiam o Executivo contra os outros Poderes. O discurso também foi feito no mesmo dia em que os jornais mostravam que, em apenas 135 dias de gestão, cerca de 30 medidas adotadas pelo governo Bolsonaro estavam sendo questionadas na mais alta Corte do País. Entre as normas cuja constitucionalidade está sendo contestada estão o decreto que determinou o contingenciamento das verbas das universidades federais, o decreto que ampliou o direito de porte e posse de armas e a medida provisória que proíbe desconto de contribuição sindical em folha de pagamento.

Toffoli usou cautelosamente as palavras, mas suas observações foram um recado claro dirigido ao Executivo. Na primeira observação, ele deixou claro que, se a Constituição e as regras do processo legislativo não forem devidamente observadas na votação de Propostas de Emenda Constitucional, o STF não hesitará em declarar sua inconstitucionalidade. Em outras palavras, por mais importante que seja a reforma previdenciária para a contenção da crise fiscal, os argumentos jurídicos dos 11 ministros da Corte prevalecerão sobre os argumentos econômicos do governo. E por mais urgentes que sejam as medidas destinadas a conter a crise fiscal, o Supremo não aceitará que elas passem por cima de atos juridicamente perfeitos.

Em sua segunda observação, Toffoli também demonstrou habilidade. Ele sabe claramente que parte das críticas que a Justiça tem sofrido decorre da opção de determinados magistrados por interpretações extensivas do direito, muitas vezes com a intenção de proteger o que supõem ser a parte mais fraca nos litígios, o que torna as decisões judiciais imprevisíveis e dissemina a insegurança do direito. Assim, ao recomendar enfaticamente aos juízes que deixem de lado, em seus julgamentos, a "ponderação de princípios" e levem em conta o que a lei diz, o presidente do STF antecipou-se a uma crítica que era esperada nas manifestações de domingo.

A tensão entre o Executivo e o Judiciário só está ocorrendo por causa de dois equívocos cometidos pelo presidente da República. O primeiro é o expediente de usar decretos e medidas provisórias para tratar de matérias que teriam de passar pelo Congresso sob a forma de projetos de lei ou de Propostas de Emenda Constitucional. O segundo é desprezar os órgãos técnicos responsáveis pela qualidade da elaboração legislativa. As consequências desses erros são imprevisíveis e podem custar caro ao governo e ao País.
Herculano
27/05/2019 11:00
da série: o alvo errado. Quem colocou o Brasil no lixo foi o PT, a esquerda do atraso, que comprou o Centrão na corrupção bilionária e que desempregou 14 milhões de pessoas. O Centrão é um problema, mas o cerne dele é outro, está passando ileso e se fortalecendo. O PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB agradecem. O Centrão também.

NA PAULISTA, MANIFESTANTES ESQUECERAM O PT E ESCANCARAM O RACHA DA DIREITA, por Fábio Zanini, no jornal Folha de S. Paulo

Até podiam ser vistos alguns Pixulecos na avenida Paulista, e de vez em quando alguém puxava um coro de "a nossa bandeira jamais será vermelha".
A manifestação de apoiadores do governo, no entanto, tinha outros inimigos. Eram os "traidores".

O centrão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os ministros do STF e o MBL (Movimento Brasil Livre) tomaram o lugar que durante muito tempo foi ocupado por Lula, Fernando Haddad ou Gleisi Hoffmann.

Um desavisado que aparecesse por ali com uma camiseta do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), líder do MBL, correria tanto risco quanto alguém que usasse uma do PT.

Um exemplo dessa mudança de alvos ocorreu no carro de som do grupo Direita SP, quando foram lidos os nomes dos deputados federais paulistas do centrão que votaram contra a permanência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) com Sergio Moro (Justiça).

Um a um foram vaiados parlamentares de DEM, PP, MDB, PRB e outros, com destaque para Paulinho da Força (SD-SP), chamado de "maldito".

Os do PT e PSOL foram ignorados, porque, como justificou o locutor, destas legendas nunca se esperou apoio para as pautas do governo. Era como se tivessem sido rebaixadas a uma Série B do antibolsonarismo.

Já a direita não-alinhada ao governo foi tratada como uma inimiga muito mais forte, o que revela uma disputa de espaço no conservadorismo.

O MBL apanhou muito, algo sintomático dado que era um protesto de direita. Foi chamado de "tchutchuca do centrão" e "Movimento Bumbum Livre". Num rap improvisado, o MC Reaça mandou o movimento para a "Cuba que o pariu", sob intensos aplausos.

Sobraram petardos também para as deputadas Janaina Paschoal (PSL), que criticou as manifestações, e Carla Zambelli (PSL), vista como titubeante na defesa dos atos.

"Eu tenho vergonha de ter votado na Janaina e ver que ela chegou lá e em cinco minutos nos esqueceu", disse uma liderança do Direita SP no microfone.

Muitas das pessoas ali presentes apoiavam as reformas propostas por Moro e Paulo Guedes (Economia) até com mais força do que defendiam o próprio presidente Jair Bolsonaro.

Contraditoriamente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um dos principais defensores da reforma da Previdência, era criticado em cartazes e palavras de ordem. Seu pecado: tentar roubar o protagonismo de Bolsonaro.

"Ele teve 67 mil votos [na verdade, 74.232] e o Bolsonaro teve 57 milhões, não dá para comparar", disse a empresária Milcia Ghilardi, que estava com um grupo que carregava uma faixa contra o "golpe" do parlamentarismo. "Nós votamos no Bolsonaro, é ele quem deve governar, não o Rodrigo Maia", afirmou.

Corretor de seguros, José Alexandre Acre afirmou que "Maia usa sua inteligência para o mal". "Ele se elegeu a duras penas, não gosta do Sergio Moro e agora se aliou ao centrão".

Outrora idolatrado em manifestações do tipo, que incluíam até o maior símbolo de prestígio da direita ?"seu próprio boneco inflável?", o vice-presidente, general Hamilton Mourão, foi outro a receber críticas, embora em escala menor do que a destinada ao odiado centrão.

"Ele é traíra. Tudo que o Bolsonaro fala ele é contra. É a favor do aborto, contra porte de armas, defende a Venezuela", disse João de Andrade, bancário aposentado que veio de Araras (SP) para a manifestação.

Apesar da virulência de alguns discursos, eles ficaram no limiar da defesa da ruptura institucional, mas sem cruzar essa linha vermelha, no que parece ter sido uma orientação dos movimentos de evitar qualquer posicionamento que pudesse ser classificado como antidemocrático.

Vaias a ministros do STF, pedidos de impeachment de integrantes da corte como Dias Toffoli e Gilmar Mendes (outro que já foi visto como aliado dos que estavam na Paulista) estiveram por todo lado.

Mas, excetuando-se manifestações isoladas de pessoas mais exaltadas, não se ouviu a defesa do fim do Supremo ou do Congresso Nacional.

Ninguém lembrou, por exemplo, do cabo e do soldado mencionados por Eduardo Bolsonaro como suficientes para fechar o STF.

O máximo a que se chegava eram faixas como "A Justiça se perde com esses togados do STF". Ou o muito aplaudido discurso de um sargento, completo com sua farda do Exército, que defendeu a mudança na forma como os ministros são escolhidos, com obrigatoriedade de serem juízes de carreira.

A Paulista estava cheia, embora não intransitável. Havia muitos empresários, profissionais liberais e estudantes universitários que defendiam as reformas. Um deles, Ericon Matheus, segurava um cartaz que dizia: "Larga esse ódio e venha amar o Guedes".

Mas também participaram muitos desempregados e moradores de bairros periféricos, todos defendendo uma reforma que vai, em última análise, reduzir direitos, o que não deixa de ser uma demonstração de força do governo.

"Vim pelo pacote do Moro, a reforma da Previdência e contra os ministros do STF. Bolsonaro está tentando governar, mas tem a interferência do Parlamento", afirmou José Carlos de Oliveira, 21, ajudante de pedreiro em Guarulhos (SP).

Não se perdeu totalmente o clima de domingão na Paulista. Crianças tiravam fotos em cima de um caminhão do Exército estacionado (propriedade de um colecionador). Ambulantes vendiam camisetas de Bolsonaro a R$ 10.

Bastões de plástico branco eram distribuídos. Mas neste domingo, não eram bonecos de Lula preso, como em outras manifestações. Tinham a frase "Congresso corrupto", com ratos passeando pelas letras.
Herculano
27/05/2019 10:52
GOVERNO COMEÇA A 'LIMPAR' A ADMINISTRAÇÃO DE PETISTAS, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Somente agora, cinco meses após a posse, o governo poderá começar a "limpar" os cargos de petistas que os "aparelham" desde os tempos de Lula e Dilma. São militantes que trabalharam contra a candidatura de Jair Bolsonaro, são até suspeitos de sabotar a gestão, mas não largam as boquinhas. "São mais de 110 mil cargos de confiança e funções gratificadas", confirma o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Ele disse que acabou o tempo de nomeações sem qualquer critério.

NOVIDADE COMPLICOU

A dificuldade foi o critério inédito do presidente Bolsonaro de ocupar os cargos tecnicamente, sem indicações políticas, inclusive nos Estados.

PRIMEIRO, OS CHEFES

A prioridade do governo foram os cargos de comando, de primeiro e segundo escalões, além de estatais, para depois preencher o restante.

Já foram mais os cargos de confiança e funções gratificadas. Após a extinção de 21 mil, ainda sobram 110 mil, em Brasília e nos Estados.

FILTRO DE CANDIDATOS

O candidato a cargos passará por um filtro (informações cadastrais) e depois submetido ao ministro e ao dirigente de estatal ou autarquia.

UNB DESPENCA NO RANKING DE RELEVÂNCIA ACADÊMICA

Nascida do sonho de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira com destino de centro de excelência, a Universidade de Brasília (UnB) enfrenta uma decadência constrangedora. Em apenas seis anos, entre os governos Lula e Temer, despencou do 6º para 17º lugar entre as universidades brasileiras no ranking Lieden, que mede a importância acadêmica das universidades. O número de trabalhos acadêmicos até cresceu 57%, mas a qualidade da UnB caiu de 769ª para 854ª na classificação geral.

MENOS É MAIS

Das 16 universidades brasileiras à frente da UnB, nesse ranking, metade teve menos publicações, mas de qualidade bastante superior.

AS CINCO MELHORES

As universidades brasileiras de importância acadêmica mais relevante são a UFCE, UFBA, a federal de São Carlos (SP), UFSC e Unicamp.

UNB NÃO ADMITE

A assessoria da UnB desdenha do ranking Lieden. Cita a ferramenta Scival e o Times Higher Education apontando "justamente o contrário".

DESMONTE DA ARROGÂNCIA

As ONGs que mandavam no Ministério do Meio Ambiente estão indóceis com a perda de poder, boquinhas e sobretudo de dinheiro. Um grupo de 40 ONGs vai à Câmara, nesta terça, "denunciar o desmonte dos objetivos" que definiram, quanta arrogância, para o Brasil.

TESTE DE QUALIDADE

O ex-ministro Alexandre Baldy, que por enquanto não cogita voltar para Brasília, adotou o metrô para ir e voltar da Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo. O governador João Dória aprovou.

OUTRA MP PENDURADA

A medida provisória 872 precisa ser aprovada até o dia 3 ou caducará. Atribui à AGU (Advocacia-Geral da União) o encargo de defender policiais federais investigados ou processados.

ESCREVEU, NÃO LEU...

Alguns deputados do Novo começam a fazer reparos ao estilo gaúcho de Marcel Van Hatten, líder do partido na Câmara. Ele é intransigente em questões de princípio, às vezes duro. E isso tem incomodado.

POSSÍVEL NOMEAÇÃO

Funcionários de Itaipu se dizem assustados com a possível nomeação para uma diretoria da empresa do ex-deputado e ex-ministro Osmar Serraglio. Ele foi citado na operação Carne Fraca da Polícia Federal.

DEMORA INEXPLICÁVEL

Até hoje, cinco anos depois, o Tribunal de Contas do DF ainda não julgou as contas do último ano do governo Agnelo Queiroz (PT), que foi governador de 2011 a 2014. A Câmara Legislativa pode interpelar o ativo conselheiro Paulo Tadeu, ex-supersecretário do governo petista.

AUDITORES NO MAKSOUD

Os ministros Paulo Guedes (Economia) e Luís Roberto Barroso (STF) irão participar, no dia 17, em São Paulo, do 4º Congresso Luso-Brasileiro de auditores fiscais. Será realizado no Maksoud Plaza Hotel.

PIOR NÃO FICA?

O PSL na Câmara lançou ofensiva em apoio ao Líder do Governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO). A bancada prefere o Líder inoperante a um deputado do centrão, José Rocha (PR-BA).

PENSANDO BEM...

...o Brasil criou 126 mil empregos em abril, melhor índice para o mês em seis anos, mas as manchetes estavam reservadas.
Herculano
27/05/2019 10:41
'WORLD PEACE', por Luiz Felipe Pondé, filósofo e ensaísta, no jornal Folha de S. Paulo

Os jovens são, desde os anos 1960, um fetiche da burguesia e dos mais óbvios

Pergunto-me: de onde vem a paixão louca pela série "Game of Thrones" ("GoT" para os íntimos)? A resposta deve ser longa. Não quero respondê-la aqui.

Espanta-me que pessoas tão preocupadas em serem boas (como as contemporâneas, cheias de causas do "bem") podem gozar com uma produção (nada de pessoal contra a série, inclusive porque não me incluo entre as pessoas que querem ser boas) tão violenta ?"tanto no nível explicitamente físico quanto no político e no psicológico. É evidente que a velha pulsão de morte freudiana encontra em exemplos como essa série seu parque temático do mal.

Essa questão me serve de gancho para pensar uma outra, esta sim, que me ocupa há algum tempo. Por que mentimos tanto sobre os jovens hoje em dia? Outra, relacionada à anterior: por que eles mentem tanto sobre si mesmos e tantos de nós batemos palma para esse espetáculo de "mortos-vivos"?

Um parêntese. O título acima, "World peace" (paz mundial), era a resposta que as candidatas ao concurso de Miss Universo davam à pergunta "o que você mais deseja na vida?". Esta questão vinha acompanha por outra: "Qual é seu livro de cabeceira?". A resposta: "O Pequeno Príncipe". Afora a ingenuidade aparente dessas respostas, lembro-me bem desses concursos porque era uma delícia ver tantas gostosas num programa só, e de tantos países diferentes. Sei. Hoje em dia achar uma mulher gostosa é "masculinidade tóxica".

Explicado o título, voltemos às duas questões enunciadas anteriormente sobre os jovens. Numa pesquisa recente de um desses institutos com credibilidade que saiu na grande mídia, os jovens latino-americanos, inclusive os brasileiros, revelaram ter o mesmo humor depressivo mostrado em pesquisas com jovens americanos.

Depressão, medo do futuro, falta de expectativas, dificuldades nos relacionamentos afetivos, queda de esperança no cotidiano. Nada de novo no fronte desde meados dos anos 2000, quando começaram a aparecer pesquisas de comportamento nos Estados Unidos com os chamados "millennials". E as escolas, as universidades e as famílias continuam na sua batida mentirosa e marqueteira sobre como os jovens estão "evoluídos".

O que chamou minha atenção especificamente nessa pesquisa não foi o estado de humor dos jovens latino-americanos. Como costumo dizer, atuando em graduação há mais de 20 anos, podemos constatar, no mínimo, duas coisas.

A primeira é que, a cada ano, nós, professores, estamos mais velhos, enquanto os alunos têm sempre a mesma idade.

A segunda é que podemos perceber, claramente, que o humor dos jovens está a cada ano mais depressivo. Os jovens estão piores, e não melhores.

O que chamou minha atenção especificamente foram as respostas desses jovens, que a pesquisa trouxe, como causas para esse humor depressivo: a preocupação com o aquecimento global, a violência contra os animais e os direitos humanos e a perseguição à liberdade de expressão.

Perdoe-me a sinceridade: essas "causas" são mentira e marketing. Não acredito nessas "causas". Não que os temas não sejam preocupantes, mas não creio que elas sejam as verdadeiras causas do humor depressivo entre os jovens. Acho que elas são respostas prontas que mostra no que transformamos os jovens. Eles são, desde os anos 1960, um fetiche da burguesia. E dos mais óbvios. Pais e escolas adoram esse fetiche porque ele os faz parecer geradores de um futuro melhor. Porém, o que ocorre é que esse fetiche aumenta a distância entre a realidade (psíquica, social e política) desses jovens e a projeção que o marketing de comportamento faz deles.

A maioria esmagadora da população não liga para liberdade de expressão. Só quem liga para ela são jornalistas, professores, artistas ou intelectuais em geral. A menos que a repressão sobre a liberdade de expressão torne seu jantar impossível, ela que se dane. Quanto às outras "causas", elas estão bem distantes do dia a dia concreto da maioria esmagadora desses jovens. Mas muita gente acredita mesmo que esses deprimidos estejam assim porque "querem um mundo melhor". Mas essas respostas são como a resposta "world peace", dada pelas gostosas no concurso de Miss Universo. Puras "fake news" com aprovação de todos.

Creio mais que as causas sejam famílias disfuncionais, mercado de trabalho em transformação monstruosa, instabilidade afetiva, insegurança identitária, desconfiança epidêmica. Dizer que estão deprimidos por causa de questões políticas e sociais é mais fácil do que enfrentar o quarto desarrumado e o banheiro sujo.

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