Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

Por Herculano Domício

20/10/2016

O LIXO DO LIXO I
Há muito que escrevo sobre esse fedor que está debaixo do nariz de todos nós há anos. É tão podre que sou sempre condenado pelos envolvidos quando nele escrevo. Mas, vira e mexe, prefeitos, administradores e empresas, estão na Justiça dando explicações, livrando-se de culpas que lhes são imputadas. E a população pagando caro e como nesta semana sem serviço por dias seguidos. E por que? Porque é um misto de incompetência, arrogância, enganação e falta de transparência naquilo que é público, essencial, inclusive para a saúde. Quando Pedro Celso Zuchi, PT, ganhou em 2008, cismou coma Recicle, de Brusque.

O LIXO DO LIXO II
O PT todo e Zuchi, principalmente, achavam que a Recicle tinha favorecido o prefeito que tentava a reeleição e perdia, Adilson Luiz Schmitt, na época no PPS. Zuchi foi à forra e à vingança. Inventou da noite para o dia a tal Say Muller, para a sua primeira emergência, que nem e caminhões e equipamentos para a coleta tinha. Bancou a nova empresa sob a proteção do Samae, de Lovídio Carlos Bertoldi, hoje o candidato de Zuchi derrotado nas eleições. Tudo foi torto. E essa forçada de barra rende até hoje cabeludos questionamentos na Justiça para todos e de todos os tipos. Vai desde o Adilson numa ação Civil Pública para se questionar os reajustes com a Recicle, chegando a Zuchi e ao Samae pelo Ministério Público que arrolam a Say Muller, Arnaldo Muller, Recicle, ou entre os que disputam esse filão fedido, como é o caso da liminar que deixou o lixo exposto nas ruas da cidade.

O LIXO DO LIXO III
Já escrevi aqui: o negócio do lixo ficou nas mãos de poucos. E por que? Devido às corretas exigências ambientais. Assim, poucos investiram e possuem depósitos manejáveis conforme a rigorosa legislação e fiscalização. E na região, praticamente, isso é da Recicle. O que se briga? É pela coleta e que até gente sem equipamento pode concorrer nos contratos emergenciais e até se especializar ( e se habilitar com o tempo), como aconteceu com a Say Muller. É briga de gente grande, ou usada de fachada, em um negócio que se sabe que é para poucos. E isso se pode ver no Projeto de Lei de Concessão que tramitou recentemente na Câmara de Gaspar. Coisa de pacote fechado com coleta e depósito juntos. Praticamente 40 anos para o vencedor. Às vésperas da campanha quando o assunto foi tratado entre os vereadores, tinha lobista político de Blumenau que afundou corredores por aqui num trabalho “suprapartidário”. Resumindo: não há inocentes.

O LIXO DO LIXO IV
E por que o PT de Zuchi que criou a Say Muller para afrontar o poder do passado, rejeita-a agora? Primeiro o tempo passa e as relações se refazem ou se desfazem nos múltiplos “interesses”. Segundo, houve uma separação familiar e Arnaldo Muller que se prestou ao serviço para o PT e Zuchi quando eles precisaram, já não está mais no comando da empresa. E a relação dos petistas com as sócias, não é de "confiança". E neste negócio, isso é fundamental. Depois, a própria a empresa Arnaldo Muller ME, deixou o PT vulnerável no caso dos cemitérios e a Ação de Improbidade é algo que pode ser altamente explosiva para Zuchi e o PT. Por último: o PT perdeu a eleição, está limpando o ambiente, está querendo dar lições e trocar de parceiros. Só isso. Ufa!

O LIXO DO LIXO V
Este é o retrato de Gaspar: lixo e mais lixo e não só o que se viu entulhado nas ruas. Faltará tapete aos governantes e seus amigos, para escondê-lo. Todos já desconfiavam da podridão pelo fedor. Eu não poderei dizer que estou de alma lavada, mas quem é leitor e leitora desta coluna sabe que isso sempre seria possível. Agora, o PT de Zuchi, José Amarildo Rampelotti, Antônio Carlos Dasóchio, Hamilton Graff, Mariluci Deschamps Rosa, Élcio Carlos de Souza, Lovídio Carlos Bertoldi e muitos outros está orgulhoso de que pode recolher lixo ao fim do governo, e só ao fim dele, por um preço bem menor. Então vamos fazer as contas de quanto Gaspar perdeu nesses anos todos com preço mais caro? Ou seja, no lixo também está os nossos pesados impostos. E a imprensa quietinha – ou fazendo piadinha - neste quesito esquisito. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

As redes sociais são canais de desinformações. Elas informavam que a Transsólidos apresentou a sua proposta depois do horário. Não é verdade, pois a Say Muller, não usou este evento, para conseguir a liminar. E se tivesse acontecido, anularia tudo de pronto.

As redes sociais informaram que a Say Muller tinha usado um juiz de Blumenau para enganar o judiciário daqui. Não é verdade. Protocolado digitalmente aqui, caiu no juiz de plantão, Jeferson Isodoro Mafra, que estava em Blumenau e que devolveu à Comarca de Gaspar o despacho.

Parecerias. A Transsólidos é de Curitiba. A Say Muller para iniciar emergencialmente os trabalhos em 2009 emprestou de Curitiba os equipamentos que não tinha.

Este assunto tem uma solução. Um lado teme. O outro hesita. A Say Muller vai ter que buscar novos mercados ou vai morrer. Já vinha fazendo isso (Ilhota, Bombinhas). Mas, é um ambiente pesado (como já relatei) e para poucos.

Resta à Say Muller, morrer silenciosamente ou atirando. Ficam os pepinos na Justiça que deverão andar por anos e interditando patrimônios, complicando em novas licitações etc. Outra é mudar de ramo.

Se escolher morrer atirando, poderá optar por uma delação premiada no Ministério Público e que cuida da moralidade pública. E ai a história dos bastidores político administrativo de Gaspar poderia ser reescrita.

O vereador José Hilário Melato, PSD, está cobrando a presidência do Samae que lhe foi prometida. Mas, há uma fila. Aliás, depois da vitória de Kleber Edson Wan Dall, PMDB, percebeu-se que há congestionamento diante das promessas feitas na campanha.

Ponte do Vale prefeito Dorval Rodolfo Pamplona. É isto que a Câmara está aprovando. Reflexo da teimosia do PT. Primeiro brigou pelo nome, fez reserva, quando o ex-prefeito quase centenário ainda estava vivo.

Depois apostou que o povo mudaria o nome da ponte por decreto. Não mudou. O nome ponte do Vale é anterior à construção da ponte, e do governo de Pedro Celso Zuchi, PT, em 2009. Ele nasceu na Acig, quando Samir Buhatem era presidente e fazia dobradinha com Ricardo Stodieck, na Acib, de Blumenau.

Eles lutavam por essa ponte no âmbito regional e a senadora Ideli Salvatti, PT, não a via com bons olhos. Favoreceria outros partidos - Adilson Luiz Schmitt era prefeito. A ex-senadora jogava contra a comunidade, até a volta de Zuchi, como voltou. E ai o projeto da ponte andou.

Os que lutavam pela ponte, sugeriram então que a ponte não fosse de Gaspar, como não será, mas do Vale, devido a sua interligação com a BR 470, Brusque e o Litoral. E eu testemunhei: a ex-senadora duvidava que esse nome pegasse. E pegou. E o nome Dorval Pamplona, não.

O PT é assim. Decreta e impõe. Diz que é do povo e ouvi-lo. Foi assim que aconteceu quando quis trocar o nome quase bicentenário do Belchior para prefeito Tarcísio Deschamps, na transformação em distrito.

 

Edição 1773

Comentários

Herculano
24/10/2016 16:30
COLUNA INÉDITA. ELA ESTÁ PRONTA. É EXCLUSIVA PARA OS LEITORES E LEITORAS DO PORTAL CRUZEIRO DO VALE.
Sidnei Luis Reinert
24/10/2016 12:39
Dia do Policial Legislativo

Brasil 24.10.16 11:11
O Antagonista soube que está pronto para ser votado na Comissão de Educação, Cultura e Esporte um projeto de lei que institui o "Dia do Policial Legislativo". O autor da proposta é o senador Dário Berger, do PMDB de Santa Catarina.

Ao defender a data comemorativa, Pedrão -- o chefe da Polícia Legislativa preso na última sexta-feira -- disse que o órgão "é um dos pilares da independência do Poder Legislativo, ao criar um ambiente tranquilo para o trabalho dos senadores, deputados e servidores".

Senador Dário Berger, está de pé o projeto?

http://www.oantagonista.com/posts/dia-do-policial-legislativo
Herculano
24/10/2016 10:07
PREÇO DO IMPEACHMENT É PAGO EM DEMOCRACIA, por Celso Rocha de Barros, sociólogo, no jornal Folha de S. Paulo

Em "Governando o Vazio", publicado postumamente em 2013, o cientista político irlandês Peter Mair identificou sinais preocupantes de esvaziamento da política de massas moderna. O comparecimento eleitoral e a identificação com partidos políticos (incluindo as filiações) diminuíram em vários países desenvolvidos. Alguns dos grupos que antes eram claramente representados por partidos ?"como o operariado industrial pelos partidos de esquerda?" se tornaram menores, ou mais complexos, tornando difícil até descobrir o que, exatamente, os partidos deveriam estar representando.

Enquanto o eleitorado se afastava dos políticos, os políticos também se afastavam do eleitorado. Uma série de decisões políticas cruciais foi afastada do jogo partidário, entregues a órgãos técnicos ou a organizações internacionais (FMI, União Europeia, etc.). Pode haver um ganho de eficiência nisso, mas há também perda de representatividade. Há o risco de nos vermos diante da escolha entre populistas que dizem nos representar e quadros técnicos que se dizem apolíticos.

Diante disso, Mair alerta para o risco da "Síndrome de Tocqueville". Segundo Alexis de Tocqueville, o desprezo pela nobreza na França pré-revolucionária se explicava pela sua perda de função: a nobreza, em um período anterior, desempenhara atividades ligadas à guerra, à administração da justiça etc. Mas, às vésperas da Revolução, já não tinha uma função prática muito evidente. Isso tornava seus privilégios muito menos toleráveis. Políticos que não fazem diferença podem gerar na população o mesmo sentimento.

Mair morreu em 2011. Nos anos mais recentes, efeitos ruins da crise de representatividade que identificou parecem evidentes. Houve uma ascensão de partidos populistas ao redor do mundo, inclusive nas democracias desenvolvidas, que pareciam imunes ao fenômeno. Há poucos anos, fenômenos como a candidatura Trump nos Estados Unidos, a vitória do Brexit ou o crescimento de Marine Le Pen na França seriam impensáveis. Houve viradas autoritárias na Hungria, na Polônia, e, mais dramaticamente, na Turquia e na Venezuela. Mesmo democracias periféricas robustas, como o Chile, experimentaram ondas de protestos e declínio do grau de identificação com os principais partidos.

Pensemos agora no Brasil, em quem você provavelmente já estava pensando desde o primeiro parágrafo. Desde 2014, houve um estelionato eleitoral e uma troca de presidente por manobra parlamentar, com a ascensão ao poder do grupo derrotado na eleição anterior. Isso não foi ilegal, mas está longe de ser o "business as usual" da democracia. Constitui, aliás, a diferença mais gritante do impeachment de 2016 com o de 1992: Itamar não aplicou uma versão radical do programa com que Lula perdeu em 1989.

Você tem todo direito de achar o processo em curso bom ou, ao menos, necessário, mas, mesmo se for o caso, é preciso reconhecer que um preço está sendo pago em democracia. Não conseguimos negociar um ajuste fiscal eleitoralmente aceitável: isto foi, indiscutivelmente, um fracasso.

Quanto aos políticos brasileiros, é bom que tomem cuidado com a "Síndrome de Tocqueville". Até porque, diga-se o que quiser da aristocracia francesa, ela não estava prestes a ser delatada pela Odebrecht em 1789.
Herculano
24/10/2016 10:04
CRIVELLA E SEUS DEMONIOS, por Ricardo Noblat, de O Globo

Mesmo em descompasso com a ocasião, o tom da voz continuará o mesmo - calmo, acolhedor e persuasivo, marca postiça de certos homens que se julgam eleitos por Deus para divulgar a sua palavra.

Quanto ao dono da voz, está disposto a trombetear sua ira com as denúncias que o atingem há uma semana e que poderão levá-lo a morrer na praia antes do domingo da salvação. Ou da desgraça. Que assim seja!

Foi com tal estado de espírito que Marcelo Crivella (PRB), bispo da Igreja Universal, denominação neopentecostal fundada a quase 40 anos, preparava-se, ontem à tarde, para gravar os programas de propaganda eleitoral no rádio e na televisão a irem ao ar nos próximos dias.

Antes, pela manhã, em caminhada pelos bairros de Ipanema e Leblon, ele antecipou parte do que dirá.

Crivella considera-se vítima de uma campanha movida por veículos de comunicação e demais interessados em impedi-lo de se eleger prefeito do Rio.

É a terceira vez que concorre ao cargo. Perdeu as anteriores. Acha que jamais esteve tão perto de vencer. Admite que dificilmente tenha outra chance. Para ele é ganhar ou ganhar. Sem essa de cavalo paraguaio que dispara na frente e chega atrás.

Às centenas de pessoas que o escutaram, Crivella desmentiu sua prisão há 26 anos por ter usado a força para desalojar invasores de um terreno comprado pela Universal.

Criticou a revista Veja que publicou em capa destinada unicamente a leitores do Rio duas fotos dele no ato de ser fichado na delegacia do Catete. E também o jornal O Globo e a TV Globo por darem espaço aos que o atacam.

O que a imprensa trata como prisão, Crivella prefere chamar de detenção relâmpago, que sequer durou 24 horas. É dele as duas versões que se conhece sobre o fato.

A primeira: "Estava revoltado. Acordei de manhã, peguei os caminhões que a gente tinha e fui pra lá. Arrebentei aquela cerca e comecei a tirar as coisas dos caras e botei em cima do caminhão. Mas não toquei nas pessoas".

A segunda versão: "O que aconteceu é que eu sou engenheiro e fui chamado para fazer uma inspeção em um muro velho, que podia cair e machucar as pessoas. Desci do carro para bater umas fotos do lado de dentro do terreno. Quando tentei entrar as pessoas me impediram, achando que eu estava ali para retirá-las, criaram uma confusão. Fomos para a delegacia, e o delegado fichou todo mundo".

Não houve processo, segundo Crivella. "Eu é que processei o delegado João Kepler Fontenelle por abuso de autoridade. Mais tarde ele me pediu desculpas, eu retirei o processo e perdoei".

Na última sexta-feira à noite, Crivella foi à caça do delegado. Queria que ele gravasse um depoimento para seu programa de propaganda eleitoral. Ficou sabendo que o delegado já morreu.

De fato, não houve processo, mas inquérito, sim, desaparecido até meados deste ano. Uma vez localizado numa espécie de arquivo morto de cartórios, passou a fazer parte de um dossiê montado pelo PMDB para servir à candidatura de Pedro Paulo, afilhado do atual prefeito Eduardo Paes.

Pedro Paulo imaginava enfrentar Crivella no segundo turno. Crivella preferia enfrentar Marcelo Freixo (PSOL).

O PMDB de Paes está empenhado em eleger Freixo prefeito. Conta com o fracasso da gestão dele para se fortalecer e disputar o governo do Estado daqui a dois anos.

Como não sabe o que ainda possa estar por vir, Crivella reage ao seu estilo, vigia e ora. Ainda não vê motivo para desespero.
Herculano
24/10/2016 07:38
O QUE FAZ A ESTABILIDADER E SINDICATO QUE PRESSIONA DIRETAMENTE OS POLÍTICOS EM BRASÍLIA, COM SUCESSIVAS GREVES EM SERVIÇOS ESSENCIAIS.A FARRA DOS SALÁRIOS E APOSENTADORIAS DOS SERVIDORES PÚBLICOS FAZ OS TRABALHADORES COMUNS SEREM DE CATEGORIA INFERIOR. MANCHETE DO JORNAL FOLHA DE S. PAULO DESTA SEGUNDA-FEIRA: "SERVIDOR APOSENTADO CUSTA O TRIPLO DE EMPREGADO PRIVADO". VERGONHOSA DISCRIMINAÇÃO COM QUEM A MAIOR PARTE DA CONTA DESTE DESEQUILÍBRIO COM OS PESADOS IMPOSTOS

Texto de Laís Alegretti, da sucursal de Brasília. Um funcionário público da União que se aposentar neste ano, aos 60 anos de idade e com expectativa de viver até os 80, custará R$ 3,34 milhões para os cofres do governo.

Esse é o valor médio, por servidor, que será desembolsado pela União para garantir o pagamento das aposentadorias ao funcionalismo, segundo cálculo da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.

Se esse servidor for um militar, o montante é ainda maior: R$ 4,92 milhões.

No caso dos empregados da iniciativa privada, que contribuem com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), o valor por pessoa apresenta um desequilíbrio menor, mas ainda assim tem impacto considerável para os cofres públicos.

Um trabalhador da área privada que se aposentar neste ano, com expectativa de mais 20 anos de vida, custará, em média, R$ 1,1 milhão aos cofres públicos.

Esse custo existe devido a desequilíbrios históricos dos regimes de Previdência no Brasil, que têm distorções e beneficiaram grupos específicos. Esse valor extra não deveria existir em nenhum caso, porque representa um desembolso além daquilo que o governo já paga à Previdência na condição de empregador.

"A sociedade já está pagando, por meio do empregador, a contribuição patronal. Então não era para ter de pagar mais nada depois", afirma o consultor de Orçamento da Câmara Leonardo Rolim.

Esse desequilíbrio é chamado tecnicamente de deficit atuarial dos regimes de Previdência e significa que, se fosse necessário pagar hoje todos os benefícios ?"atuais e futuros?", não haveria recursos suficientes, e o Tesouro seria obrigado a desembolsar esse montante.

O cálculo relativo ao regime geral foi feito pela Consultoria de Orçamento da Câmara a pedido da Folha.

Rolim esclarece que, como o regime geral prevê entrada de novas pessoas e tem avaliação atuarial só até 2060, o cálculo é aproximado e considera um deficit estável a partir de 2061.

ESTADOS

Para Estados e municípios, o deficit atuarial per capita também é menor que o da União. Nos Estados e no Distrito Federal, é de R$ 1,03 milhão. Nas capitais, é de R$ 161 mil, e, nos demais municípios, de R$ 97 mil.

Com a reforma da Previdência que o governo Michel Temer vai enviar ao Congresso, a ideia é criar uma regra única de aposentadoria ?"com idade mínima de 65 anos e tempo mínimo de contribuição de 25 anos?" para funcionários públicos e privados.

Embora afirme que os militares têm de ter regras diferentes, Rolim defende a necessidade de equiparar a contribuição deles, hoje em 7,5%, à dos civis, que é de 11%. Além disso, sugere a criação de idade mínima ?"atualmente, só é exigido tempo de contribuição, de 30 anos.

"Primeiro, a contribuição dos militares é menor. Segundo, o gasto com pensão é muito maior. Terceiro, eles se aposentam muito mais jovens. Juntando essas três coisas, dá essa bomba."

No caso dos civis, segundo Rolim, o problema são os privilégios concedidos no passado. "A Constituição criou um trem da alegria gigantesco. Ela trouxe para o Regime Jurídico Único [que abrange o funcionalismo] os funcionários das fundações federais, principalmente os das universidades", afirma.

Para a Consultoria de Orçamento da Câmara, a União tem o regime de Previdência "mais desestruturado", que não tem uma unidade gestora e tampouco um conselho gestor. Além disso, cada Poder tem o seu próprio sistema de pessoal e apenas envia informações uma vez por ano ao Ministério da Fazenda para elaboração da avaliação atuarial.

Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

Quem são eles
Trabalhadores do setor privado, empregados domésticos, autônomos, trabalhadores rurais e servidores públicos de 3.500 municípios

Quantos eles são
28,3 milhões

Quanto ganham (benefício médio mensal)
R$ 1.356

*

Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)

Quem são eles
Servidores públicos da União, dos Estados e dos municípios, com exceção dos que estão no INSS

Quantos eles são
4,2 milhões

Quanto ganham (benefício médio mensal)
R$ 5.108

*

COMO SE APOSENTAM

Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

Idade mínima

Homens
Por idade: 65
Por tempo de contribuição: não há

Mulheres
Por idade: 60
Por tempo de contribuição: não há

Tempo mínimo de contribuição

Homens
Por idade: 15
Por tempo de contribuição: 35

Mulheres
Por idade: 15
Por tempo de contribuição: 30

Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)

Idade mínima

Homens: 60
Mulheres: 55

Tempo mínimo de contribuição

Homens: 35
Mulheres: 30
Herculano
24/10/2016 07:30
OPORTUNISMO E URNAS MOSTRAM QUE MARCA "ESQUERDA" ESTÁ EM BAIXA, Joel Pinheiro da Fonseca, economista e filósofo, para o jornal Folha de S. Paulo

Em janeiro, Lula disse não ser esquerdista, e sim liberal. Marta Suplicy, ainda na campanha pela Prefeitura de São Paulo, foi na mesma linha: disse que jamais se colocara como de esquerda.

Até o candidato Marcelo Freixo declarou dias atrás que vai cortar secretarias para "enxugar a máquina pública" e já promete uma carta aberta para mostrar que não é tão de esquerda assim. Seu rival, Marcelo Crivella, antigo aliado de Dilma, hoje adere, ainda que com alguma inconsistência, ao discurso liberal, meritocrático e da austeridade.

O oportunismo de nossas figuras públicas demonstra, bem como o resultado das urnas, que a marca "esquerda" está em baixa. No lugar dela, entram os valores do liberalismo e da eficiência na gestão.

No entanto, é perigoso se entusiasmar. Valores e crenças por aqui costumam ser construções puramente retóricas para surfar a maré da opinião pública e manter tudo como está.

Mesmo assim, supondo que mesmo os puramente oportunistas farão concessões à opinião pública, veremos uma política menos presa à visão de mundo da esquerda.

E o que é ser de esquerda? É ver todo problema social como uma luta de classes. Se algum grupo sofre, é porque está sendo oprimido por algum outro, e a solução passa por tirar o privilégio injusto dos opressores malvados; um jogo de soma zero.

Ricos e pobres, patrões e funcionários, homens e mulheres, brancos e negros (mesmo num país em que a maioria não se define dentro dessa dicotomia); até o problema aparentemente técnico do transporte é transformado em uma luta de classes: carros opressores versus ônibus e bicicletas oprimidos.

A guerra está posta. Ser de esquerda é ler a realidade assim e adotar para si a defesa da parte mais fraca.

O que podemos chamar de velha direita acata essa leitura e, como reação, adota a defesa do lado mais forte: dos ricos trabalhadores contra a "gente diferenciada", do orgulho hétero, do machismo.

Esses jogam, involuntariamente, o jogo da esquerda, ao defender um lado antipático e em geral minoritário, incapaz de vencer democraticamente.

A resposta inteligente à esquerda é a negação das bases dessa leitura; justamente o que fazem os liberais.

A sociedade não é o embate entre opressores e oprimidos. Ninguém é apenas uma vítima esperando a ajuda que vem de cima. As pessoas são capazes de construir um futuro melhor para si e os demais.

Com regras claras, eficazes e iguais para todos, um Estado eficiente em atribuições essenciais e liberdade para criar valor a sociedade inteira ganha.

O dilema sobre qual classe ou grupo favorecer à custa dos demais é falso; ou todos progridem juntos, ou não haverá progresso. Se é muito caro contratar, perde a empresa que fica com menos funcionários e os trabalhadores que não acham emprego.

Ao invés do Estado como agente de redistribuição ?"que promove o improdutivo cabo de guerra de todos contra todos ?", ele entra para garantir um ambiente propício a trocas mutuamente benéficas.

Se, entre exageros e ilusões, a ascensão da direita servir para caminharmos nessa direção (oposta à dos últimos anos), terá cumprido seu papel.
Herculano
24/10/2016 07:26
GOVERNO TEME UMA "INUNDAÇÃO DE ARMAS" PROVENIENTES DA VENEZUELA E COLOMBIA, por Josias de Souza

?"rgãos de inteligência do governo federal receiam que ocorra uma elevação no volume do armamento que entra ilegalmente no Brasil. Avaliam que é grande o risco de o país sofrer o que um ministro chama de "inundação de armas". Elas passaram a chegar em maior quantidade de dois países vizinhos: Venezuela e Colômbia. E reforçam o arsenal do crime organizado, sobretudo no Rio e em São Paulo.

Relatórios sigilosos vinculam o incremento no comércio ilegal de armas a dois fenômenos: o derretimento do regime bolivariano na Venezuela e a desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Armadas pelo ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013, milícias pró-governo descobriram na venda de fuzis uma fonte de renda para enfrentar a crise na Venezuela. Guerrilheiros das Farc também levam suas armas ao balcão.

A elevação da oferta provoca um barateamento do produto. Em consequência, cresce o volume de vendas. São cada vez mais frequentes as apreensões de armas de fabricação Russa nas mãos de criminosos brasileiros. Suspeita-se que tenham sido originalmente importadas pelo governo de Hugo Chávez, que se dissolve nas mãos do sucessor Nicolás Maduro.

Outra grande preocupação do governo na área da segurança pública é a "nacionalização" das facções criminosas de São Paulo (Primeiro Comando da Capital, PCC) e do Rio de Janeiro (Comando Vermelho, CV). Elas já controlam os principais presídios do Norte e do Nordeste. Estiveram por trás dos surtos de violência que ocorreram recentemente no Maranhão, no Rio Grande do Norte, Roraima e Rondônia.

O expansão do PCC é a que mais inquieta o setor de inteligência. A organização criminosa paulista revela-se mais uniforme e dispõe de maior capacidade econômica do que sua congênere carioca. Já começou a operar no Paraguai, onde disputa território com quadrilhas locais. Avalia-se em Brasília que o PCC persegue o modelo do Cartel de Medellín ?"a rede de traficantes de drogas que surgiu na Colômbia na década de 1970 e se espalhou na década de 1980 por países como Bolívia, Peru, Honduras e até Estados Unidos.

As inquietações do setor de inteligência contrastam com a incapacidade que o Estado vem demonstrando no Brasil de lidar com o avanço da criminalidade. O crime é organizado porque os governos estaduais e a União revelam-se cada vez mais avacalhados. A penúria do Tesouro Nacional e a ruína dos cofres estaduais tendem a agravar o problema.
Herculano
24/10/2016 06:59
LULA E OS PEQUENOS FAVORES, por Valdo Cruz, para o jornal Folha de S. Paulo

Recentemente, antes do impeachment de Dilma Rousseff, conversava com dois petistas amigos de Lula sobre o futuro do ex-presidente. Garantiam que nada de corrupção seria provado contra ele.

Indagados sobre as investigações do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, os interlocutores de Lula, muito próximos a ele, disseram-me quase no mesmo tom: este foi o erro dele, aceitar pequenos favores de empresários, ele não achava errado.

Um deles, com certo ar de reprovação, afirmou: "O Lula tinha dinheiro para comprar aquele apartamento, fazer aquelas reformas no sítio, mas nada está no nome dele, não é dele, são pequenos favores que o mundo da política se permite".

Lembrei-me desta conversa ao ler a manchete deste domingo da Folha, do excelente jornalista Mario Cesar Carvalho: "Itaquerão foi presente para Lula, diz Emílio Odebrecht". Revelação do que vem por aí da delação da construtora baiana.

Conta que a construção do estádio do Corinthians, que custou R$ 1,2 bilhão, foi um presente para o corintiano Lula, apaixonado por futebol. Que torcedor no país não gostaria de dar a seu time de coração presente semelhante? Eu não daria.

Simplesmente, primeiro, por saber como são administrados os times de futebol no Brasil. Segundo, porque, se ganho um presente deste tamanho, é porque algo me será cobrado em idêntica proporção ou já estarei sendo recompensado.

Será que o Itaquerão entra na lista dos "pequenos favores" recebidos pelo ex-presidente Lula? Ele nega. Será que nada será provado contra ele? Até aqui, de fato, nada foi. Lula, porém, já é réu em três ações.

Um dado da reportagem de Mario Cesar levanta suspeita sobre os presentes - o sítio de Atibaia teve reformas bancadas pela construtora. O faturamento do grupo Odebrecht, nos governos do PT (2003 a 2015), saltou de R$ 17 bilhões para R$ 132 bilhões. Enfim, que venha a delação da Odebrecht. Para o bem do país.
Herculano
24/10/2016 06:54
PARA ACORDO, PGR EXIGIU CUNHA PRESO POR 15 ANOS, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Eduardo Cunha rechaçou, há dois meses, a primeira tratativa para um eventual acordo de delação premiada. A PGR (Procuradoria Geral da República) admitiu iniciar negociações, mas avisou que não abriria mão de ao menos 15 anos de prisão em regime fechado para o político. Ao ser informado da proposta dos procuradores, Cunha reagiu fortemente: "Não aceito um só dia de prisão!" Agora preso, talvez mude de ideia.

SAIRIA BARATO
A força-tarefa trabalha para obter uma condenação de 160 anos para Eduardo Cunha. Sairia barato para ele ficar "apenas" 15 anos preso.

SONDAGEM
A sondagem sobre eventual negociação de acordo de delação foi feita por uma advogada, aparentemente à revelia de Eduardo Cunha.

OPORTUNIDADE
Os procuradores acham que a advogada aproveitou um despacho sobre processos para sondá-los sobre o interesse em eventual acordo.

DALI NÃO SAI
A defesa aconselhou Cunha a se habituar à ideia de que, mesmo com acordo de delação, ele vai passar longa temporada na prisão

MP DE PORTUGAL APROFUNDA INVESTIGAÇÃO SOBRE LULA
O Ministério Público de Portugal avalia aprofundar as investigações do envolvimento do ex-presidente Lula no esquema de propina de negócio da Portugal Telecom. A investigação levou o ex-primeiro-ministro português José Sócrates à prisão. Condenado no mensalão, Marcos Valério disse em 2012 que Lula levou R$ 7 milhões de propina para o PT na intermediação da venda da brasileira Oi à Portugal Telecom.

AUTORIDADE PRESA
Ex-primeiro-ministro, José Sócrates foi preso por corrupção, fraude e "branqueamento" (lavagem de dinheiro). Aguarda julgamento.

ENCONTRO TEVE
Lula foi interrogado sobre suas reuniões com dirigentes da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo (que quebrou em 2015), sócios Oi.

PT PARA PT
Marcos Valério disse que Lula acertou a propina de R$ 7 milhões para o PT com o ex-presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa.

PÂNICO
A jornalista Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, tem enfrentado problemas de saúde. "Ela somatizou tudo de uma vez", diz uma amiga. Cláudia tem sofrido inclusive ataques de pânico.

GENRO NA RODA
Em depoimento à PF, o policial do Senado Geraldo Oliveira revelou que ele e os colegas realizaram varreduras de grampos na casa do genro do senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), em São Luís.

MENTIRAS OFICIAIS
Subordinados contaram à PF que receberam do diretor da Polícia do Senado, Pedro Carvalho, a orientação de mentir, atribuindo a varredura na casa de José Sarney, em São Luís, à proximidade de inexistente visita do presidente da Casa, Renan Calheiros, ao ex-presidente.

FALA, CUNHA
Preso, Eduardo Cunha parece ameaçador para aliados que temem sua língua e até para adversários. Chico Alencar (PSOL-RJ), por exemplo, crispa os olhos: espera que Cunha "revele seus muitos e venais elos".

INSULTAR NÃO PODE
Admiradores do ministro Teori Zavascki, do procurador-geral Rodrigo Janot e do juiz Sérgio Moro estão intrigados com a impunidade dos irmãos Ciro e Cid Gomes. Os dois insultaram as três autoridades publicamente, usando inclusive palavrões, e nada lhes aconteceu.

SO CADEIA RESOLVE
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse ser lamentável que a esquerda não tenha aprendido a separar o público do privado e trate os seus corruptos como heróis. "Talvez a cadeia os ensine", disse.

DIFÍCIL GEOGRAFIA
O ex-deputado Eduardo Cunha é réu em inquéritos no Paraná e no Rio de Janeiro, mas também é investigado em Brasília e no Rio Grande do Norte, além de sofrer duas outras investigações no âmbito do STF.

RECUO DE MEIO SÉCULO
No balcão de Sedex, nos Correios do Rio, funcionário pesa e mede a encomenda com fita métrica, e depois digita os dados em computador meia-boca. A gestão do PT devolveu a ECT aos anos 1950.

PENSANDO BEM...
...no Brasil da Lava Jato, Polícia prende polícia
Sidnei Luis Reinert
23/10/2016 20:00


Navios de guerra russos entram no Canal da Mancha e deixam ingleses em estado de alerta

Ministério da Defesa inglês confirmou que a frota russa está sendo seguida pela Marinha Real

http://noticias.r7.com/internacional/fotos/navios-de-guerra-russos-entram-no-canal-da-mancha-e-deixam-ingleses-em-estado-de-alerta-21102016#!/foto/1
Herculano
23/10/2016 16:15
COBRA QUE PERDEU O VENENO, por Deonísio da Silva

Jararacas e cascavéis se tornam inofensivas, distribuindo dentadas inócuas, humilhadas e furiosas na consciência da própria fragilidade", escreveu Luís Da Câmara Cascudo (1898-1986), acrescentando: "aplicam aos casos de irritação permanente, cólera recalcada, desajustamento notório".

Até parece que estava antecipando a definição que de si mesmo daria o ex-presidente Lula, quando disse que tinham mexido com "a jararaca", em comício feito logo após sua condução coercitiva para depoimento, por determinação do juiz Sérgio Moro, na manhã de 4 de março de 2016.

Advogado, antropólogo, historiador e jornalista, Câmara Cascudo é autor de extensa bibliografia sobre usos e costumes brasileiros, entre os quais o livro Locuções Tradicionais do Brasil: coisas que o povo diz.

Esta frase é invocada quando pessoas iradas nada podem fazer em situações de desespero.

A frase nasceu de crendice popular de que as cobras, para não sucumbirem ao próprio veneno, depositam-no em folhas quando precisam tomar água. Ao voltarem dos riachos, algumas acabam esquecendo-se de onde o puseram, metendo-se como loucas à procura de peçonha temporariamente dispensada.

Câmara Cascudo era potiguar, mas foi o escritor maranhense Henrique Maximiano Coelho Neto (1864-1934), autor de mais de cem livros e um dos membros-fundadores da Academia Brasileira de Letras, quem deu ares literários à frase famosa, registrando-a na peça A muralha, numa fala da personagem Ana que, incapaz de resistir ao jogo do bicho, comporta-se como cobra que perdeu o veneno.
Herculano
23/10/2016 15:07
COM REPATRIAÇÃO, EXECUTIVOS DE EIKE ESTÃO TRAZENDO SEU DINHEIRO DE VOLTA


Texto de Mauricio Lima, de Veja. Eike Batista transformou vários de seus executivos em milionários, alguns com o equivalente a três megassenas acumuladas de final de ano. Unida, a turma botou uma parte desse dinheiro lá fora. Agora, com a repatriação, estão trazendo esses recursos de volta
Herculano
23/10/2016 15:00
SETOR DE FIGURANTES DA PF ROUBOU (OPS!) A CENA, por Josias de Souza

Sergio Moro declarou no início do ano que a "Lava Jato não é seriado de TV, que tem que ter capítulo toda semana." Hoje, porém, a operação produz capítulos numa profusão típica de novela diária. A plateia, cada vez mais familiarizada com os personagens, aplaude o desempenho do juiz-protagonista e dos coadjuvantes do núcleo de investigação. Vibra com as prisões de Cunhas e Paloccis. E se diverte com o núcleo de figurantes da Polícia Federal, cujo papel parece ser o de injetar uma dose de comédia na tragédia.

Nos últimos dias, descobriu-se que Newton Ishii, o 'Japonês da Federal', livrou-se de sua tornozeleira eletrônica mais cedo do que o previsto. Tomado pela ficha funcional, Ishii está mais próximo dos vilões que escoltou até a carceragem de Curitiba do que do quadro de servidores da PF. Em 2003, foi preso por colegas acusado de facilitar a entrada de contrabando na fronteira com o Paraguai. Amargou dois meses de cana. Condenado, recorreu.

Ishii saiu da PF e reintegrou-se à instituição. Em março passado, o STJ confirmou sua condenação: quatro anos e dois meses de cadeia, no regime semiaberto. Ganhou tornozeleira. Mas não perdeu o emprego. Aliviou o tornozelo porque, a cada três dias de expediente na PF, subtraiu um dia com o adereço eletrônico.

No Carnaval, as máscaras de Ishii fizeram concorrência às de Sergio Moro. Depois da condenação, a diversão confundiu-se com avacalhação. Súbito, o departamento de figurantes da PF escalou outros agentes para conduzir os vilões da Lava Jato até a República de Curitiba. Nesta semana, irrompeu em cena Lucas Valença, uma mistura de 'hipster' com lenhador. Virou subcelebridade instantânea depois de conduzir Eduardo Cunha pelo braço. Bombou no Facebook e no Instagram, onde aparece de torso nu. O sucesso levou-o a veicular um vídeo neste sábado. Termina assim:

"Queria agradecer a todo mundo que está seguindo e mandando mensagem de apoio, de carinho, e dizer que, realmente, estou honrado de ter participado desse momento histórico. É isso aí. Valeu."

Pessoas que fazem história nem sempre têm uma sensibilidade à altura dos seus feitos. Ou têm, mas não conseguem expressá-la. Considerando-se a frequência com que o departamento de figurantes da PF vem roubando (ops!) a cena na Lava Jato, o comando da instituição deveria reservar uma verba para a contratação de dublês.

Assim como existem os dublês que substituem os atores nas cenas de perigo, deveria haver intelectuais para substituir os agentes da figuração na hora de expressar emoção. Eduardo Cunha está longe de ser o detento mais importante da novela. Prisões mais notáveis estão por vir.

No quesito aparência, o Lenhador da Federal cumpre bem o seu papel. Mas há momentos em que a boa frase é essencial. De duas, uma: ou a PF restabelece a compostura, devolvendo o setor de figurantes à insignificância de praxe, ou providencia alguém com menos tórax e mais reflexão para substituir o lenhador na hora em que ele tiver que se deslumbrar com os grandes momentos que estão por vir.
Herculano
23/10/2016 14:49
"ESTE NÃ?" É O COMEÇO DO FIM DE TEMER", por Márcio Jiliboni, de O Antagonista

Por ora, Christopher Garman, da Eurasia Group, não enxerga chances efetivas de Temer sair antes de 2018

Uma hecatombe parece próxima de Brasília, após a prisão de Eduardo Cunha e da Operação Métis, lançada na sexta pela Polícia Federal e que atinge diretamente Renan Calheiros. Há quem veja, nessa conjunção corrosiva de fatos, o começo da derrocada de Michel Temer.

Quem pensa assim está muito enganado. Esta é a avaliação do cientista político Christopher Garman, chefe da área de pesquisas da Eurasia Group, uma das mais respeitadas consultorias de risco político do mundo. Tanto que, durante a semana, a Eurasia cortou de 20% para 10% as chances de Temer não concluir seu mandato.

Nesta conversa com O Financista, Garman explica por quê:

Financista: Há quem diga que a prisão de Cunha representa o início do fim do governo Temer. A Eurásia, contudo, vê apenas 10% de chances de Temer não terminar o mandato. Por quê?

Christopher Garman: Discordamos da avaliação de que a prisão de Cunha, de fato, possa ser o início do fim do governo Temer. A derrubada de um presidente depende de vários fatores. Não provém só de uma acusação. O impeachment de Dilma, por exemplo, ocorreu não só por causa de acusações que vieram da Lava Jato e de burlar a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas por causa de uma tremenda crise econômica e social, e uma crise de confiança na sua liderança, tanto no setor privado, quanto na classe política. E a provável delação de Cunha acontece em um momento totalmente distinto. Temer conta com o apoio maciço do Congresso, que enxerga nele a única maneira de construir uma ponte até 2018. Quanto mais o tempo passar, sem que Temer sofra uma denúncia grave de corrupção, e quanto mais apoio que ele angariar, menores serão as chances de ele não terminar o mandato.

Financista: Mesmo se isso se somar à Operação Métis, que atinge diretamente Renan Calheiros?

Garman: Não, não abala. O fato é que teremos muitas denúncias pela frente. Mas, para derrubar esse governo, serão necessárias evidências muito fortes contra Temer, a ponto de ele perder as condições de governar.

Financista: A Eurásia afirma que o Congresso é o que corre mais riscos com a prisão de Cunha. Isso vai atrapalhar a tramitação das reformas?

Garman: A Lava Jato não vai impactar as reformas no curto prazo. Vemos isso como um risco mais para 2017. Primeiro, porque a investigação sobre políticos demora um pouco. Não só no julgamento no Supremo que está andando, mas também pelo tempo necessário de Cunha negociar uma delação premiada com os procuradores. Segundo, o próprio êxito de Temer nas reformas, que levaria a economia a voltar a crescer no ano que vem, deve diminuir o senso de urgência no Congresso. Logo, votar contra o governo em um ambiente de crescimento econômico carrega um peso menor.

Financista: Temer será capaz de aprovar a reforma da Previdência, uma pauta impopular, em um momento em que o Congresso teme a delação de Cunha?

Garman: Achamos que alguma versão da reforma da previdência deve ser aprovada, mas nossa convicção sobre esse resultado não é alta, e o governo terá que diluir boa parte de sua proposta. Existe um certo consenso no Congresso para estabelecer uma idade mínima, mas os congressistas terão receio de aprovar medidas com um impacto mais expressivo no curto prazo, quando deputados e senadores estarão mais de olho nas eleições de 2018. Significa que aprovar a desvinculação do mínimo será bem difícil. Negociar tudo isso em um contexto de lideranças sob investigação é ainda mais difícil.

Financista: Neste cenário, o que os brasileiros podem esperar, de fato, do governo Temer até 2018?

Garman: No fundo, o governo Temer vai representar uma agenda reformista bem importante, mas que será incompleta. Logo, quem for eleito em 2018, muito provavelmente, terá de continuar uma agenda de reformas nada fácil.
Cidadao Gasparense
23/10/2016 14:41
VAle a pena ficar de olho....

Mário Wilson da Cruz Mesquita
21/10/2016 09:43
GASPAR MERECE SABER A VERDADE ...

Bom dia Herculano. Sem sobra de dúvidas, a população gasparense merece saber da verdade. Certamente saberá pela própria instrução da Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa que está tramitando no Fórum local. Tratam-se dos autos 0900095-62.2015.8.24.0025 em que os vários acusados vão ter de explicar muita coisa "podre" e o segredo do lixo que virou luxo para alguns.
Não há milagre, não existem inocentes nesse negócio. A verdade real aparecerá com a delação premiada de algum desses ao Ministério Público.

Você está coberto de razão ao dizer: "(...) a história dos bastidores político administrativo de Gaspar poderia ser reescrita."

Também estou olhando a maré e aguardando a ser convidado a explicar o que eu e o Dr. Danilo Visconti já dissemos a Autoridade Policial, ao Ministério Público, ao Juízo de Direito e a própria Casa de Lei quando prestamos informações na CPI do Cemitério. Não há segredo de Justiça.
Toda a verdade está lá, depoimentos, documentos e gravações.

Alguns que se achavam estrelas, vislumbrados pela própria estrela maior, sofrerão com a tempestade que se aproxima. Tempos piores virão ...
Cada um colhe o que semeia, diz o ditado!
Sidnei Luis Reinert
23/10/2016 11:52
Temer deixará o Judiciário detonar Renan Calheiros?


Edição do Alerta Total ?" www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

A maior gestora de bônus do mundo, com US$ 1,5 trilhão em ativos, a Pimco, soltou na sexta-feira uma análise que combina otimismo econômico com cenário politicamente explosivo. Os analistas para mercados emergentes, Yacov Arnopolin e Lupin Rahman, em meio a toques irônicos, devem ter arrepiado a República de Curitiba. Os dois apontam a Lava Jato como "importante fator de risco, principalmente se envolver círculos mais próximos do governo".

Não precisa ser analista de rentista para constatar que o maridão da Marcela Temer tem problemas sérios. Ainda com baixa popularidade, "prestigiado com ceticismo" pelos deuses do mercado, Michel Temer teme pelos efeitos colaterais da Lava Jato. Eduardo Cunha, muito próximo a ele, já foi preso. As delações premiadas detonam outros aliados próximos da cúpula do PMDB, como Moreira Franco. Mas quem parece ser a bola da vez, depois da ação da Polícia Federal contra a Polícia Legislativa, é o presidente do senado, Renan Calheiros, um inimigo íntimo de Temer.

Renan é a ameaça mais concreta e perigosa à Lava Jato. Ele ficou pt da vida e chamou de "abusiva" a Operação Métis, que meteu em cana seu pessoal da Polícia Legislativa. O Presidente do Senado lidera a correria, com apoio do governo Temer, para aprovação da Lei de Abuso de Autoridade. O procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima, membro da Força Tarefa, já chamou a atenção para este risco. O juiz federal Sérgio Fernando Moro, em recente palestra no Tribunal de Justiça do Paraná, também advertiu que o objetivo imediato dos políticos corruptos é neutralizar a liberdade de atuação dos magistrados.

Renan agora pode se transformar em alvo imediato e preferencial do Judiciário ?" que sabe muito bem exercer seu corporativismo. Fica a impressão de que a guerra de todos contra todos, cujo lema é o "salva-se quem puder", começa a beneficiar a sociedade brasileira que precisa de mudanças estruturais ?" e não de meras reforminhas que nada mudam o quadro de desgovernança pelo crime institucionalizado.

A lógica é simples. O mundo não acabou quando tiraram a Presidenta. O mesmo não ocorreu quando se detonou e agora prendeu Eduardo Cunha. Por isso, nenhuma catástrofe ocorrerá se o judiciário pegar pesado contra Renan Calheiros e outros caciques do PMDB, antes da previsível e aguardada detonação contra Luiz Inácio Lula da Silva. Também nada ocorrerá de mal, muito pelo contrário, se alguns tucanos corruptos também forem incomodados...

Se o Presidente Michel Temer continuar se comportando, nos bastidores, como um educado refém-aliado de seus peemedebostas, terminará detonado igualzinho a Dilma Rousseff. Temer cai rapidinho se o Judiciário quiser. Basta que se acelere o tramite do processo sobre a chapa reeleitoral de 2014. O Imperador César Maia já está preparando seu filho Rodrigo para ser o sucessor-tampão, até a realização de uma eventual eleição indireta...

A hora de passar o Brasil a limpo já passou. Temer não será protegido pelos "deuses do mercado". Eles querem que a economia se resolva ?" não importa quem esteja na Presidência do Brasil. A única saída sensata para Temer seria romper com a bandidagem e detoná-la. Só o tamanho do rabo-preso poderia justificar uma inação temerária.

Renan Calheiros é a bola murcha da vez. O Judiciário já o colocou na marca do pênalti. Temer tem duas opções: ou ajuda na cobrança, ou será mandado para o banco de reservas da História. O risco, para todos, é encerrar a carreira política posando de craque do time mais concentrado do mundo: o de alguma penitenciária superlotada...

Eduardo Cunha, que é evangélico e não acredita em santo, já carrega sua cruz, além da bela esposa. Se Cunha falar, se Antônio Palocci fizer o mesmo, e se os empreiteiros continuarem no ritmo de delações, o sistema carcerário brasileiro ficará ainda mais superlotado...

Na guerra de todos contra todos, só não tomba quem já morreu de véspera...
Herculano
23/10/2016 10:58
da série: nada é diferente do que se passa aqui nos grotões

MEMORIAS, DE PC FARIAS A CUNHA, por Clóvis Rossi, para o jornal Folha de S. Paulo

Depois que Fernando Collor de Mello foi afastado profilaticamente da Presidência da República, PC Farias, o tesoureiro de seu esquema, obteve autorização judicial para viajar a Barcelona para investigar uma doença que se verificaria ser apneia do sono.

Era o final de 1992 e me tocou segui-lo na capital catalã. Recebeu-me no esplendoroso Hotel Ritz, num salão rococó, cheio de espelhos, lustres, cristais. Centrou a conversa nas queixas sobre os estragos que o escândalo à época batizado de Collorgate provocara nos seus negócios.

Ele percebeu que eu não estava levando a sério suas lamúrias, teve um acesso de total transparência e sinceridade, abriu os braços para mostrar os lustres, os cristais, o esplendor do Ritz e contra-perguntou: "Você acha que quem está mal de vida pode se hospedar num hotel como este?". Escrevi um texto mais tarde em que dizia que PC era trambiqueiro, mas transparente no trambique. Rememoro agora a conversa, a propósito da prisão de Eduardo Cunha, para lembrar que o ex-presidente da Câmara foi parte importante do esquema PC/Collor.

E exibiu, nesses meses todos em que esteve sob o foco dos holofotes, a mesma desfaçatez do ex-tesoureiro do esquema, morto em circunstância ainda hoje não perfeitamente esclarecidas.

Só falta a Cunha a sinceridade debochada de PC Farias.

O que me espanta é o fato de que todo o mundo político sabia (ou, ao menos, tinha a obrigação de saber) dos trambiques dos quais é acusado Eduardo Cunha e que acabaram por levá-lo à prisão. Não obstante, 267 dos 513 deputados federais - a maioria absoluta, portanto - votaram nele para presidir a Câmara.

É como se dissessem "Cunha me representa". Quando a maioria absoluta dos parlamentares escolhe alguém como Cunha como primus inter pares, é impossível não desconfiar que a podridão do sistema político brasileiro é ainda maior do que diz a sabedoria convencional.

Pedro Ladeira - 1°.fev.2015/Folhapress
Esquemas tipo PC/Cunha são antigos e só aumentaram a partir do instante em que o PT aderiu e passou a se lambuzar, para usar expressão de um de seus cardeais, o então ministro Jaques Wagner.

Corrijo-me: nada que venha do mundo político me espanta. Passei da idade das ilusões. Convivi com esse mundo, por obrigação profissional, tempo suficiente para esperar o pior dele, salvo em raros momentos. Na verdade, o que me espanta são os ataques à Operação Lava Jato. Não os que partem da classe política, porque, como Cunha bem avisou a propósito de sua cassação, qualquer um de seus pares poderia ser alcançado.

Logo, é natural que tentem se defender preventivamente, atacando seus presumíveis algozes.

O que me espanta, na verdade, são comentários de personalidades pelas quais cheguei a ter respeito e até admiração que se juntam ao que há de pior na política para tentar atacar a operação, quando ela começa a lancetar esse câncer que é a promiscuidade entre políticos e empreiteiras.

Criticar eventuais abusos é saudável, mas o ataque sistemático e desabrido soa como uma reabilitação póstuma de PC Farias e de seus sucessores.
Herculano
23/10/2016 10:47
GATO E RATO, por Eliane Cantanhede, para o jornal O Estado de S. Paulo

Uma coisa é a Polícia Legislativa fazer varredura contra grampos ilegais de inimigos ou até de criminosos; outra, bem diferente, é agir para desarmar investigações legais em residências privadas.

A ação da Polícia Federal contra a Polícia Legislativa não apenas evolui para um mal-estar entre Executivo e Legislativo como assume ares de literatura barata ou filme de espionagem bom de público e péssimo de crítica. Rocambolesca, a história tem o mérito de expor à opinião pública um aparato caro, inchado e pouco conhecido, mas deixa muitas dúvidas no ar. Num momento como este, dúvidas só aumentam a boataria e o nível de tensão.

A Polícia Federal não agiu no Senado por sua conta e risco, numa guerrinha de vaidades, mas sim por uma ordem judicial para apurar delações de "contraespionagem". Quer dizer que a Polícia Federal espiona Suas Excelências e a Polícia Legislativa corre atrás para desarmar a espionagem? De filme policial, desanda para pastelão.

É fato que a PF, como parte da força-tarefa da Lava Jato, investiga políticos a torto e a direito, inclusive do Senado. É fato também que a Polícia Legislativa existe exatamente para proteger os parlamentares de invasões, ameaças, grampos e chantagens, inclusive com varredura de gabinetes e de apartamentos funcionais ?" ou seja, de propriedade do próprio Congresso.

Há uns 20 anos, o então senador José Roberto Arruda, depois governador cassado do DF, suspeitou que seu gabinete estava grampeado pelo adversário Luiz Estevão, que dispunha de uma tropa particular de policiais. O que Arruda fez? Pediu uma varredura à Polícia Legislativa. Afora o detalhe de que Arruda e Estêvão se merecem, como a história iria mostrar, ninguém questionou a ação da polícia interna. Logo, essa prática vem de longe.

O que o distinto público não sabia até a última sexta-feira era que a tal Polícia Legislativa é um poder dentro do poder, com quase 160 homens, equipamentos sofisticadíssimos, cursos até na Swat americana, direito a salários altos, viagens e diárias e uma desenvoltura surpreendente. Nem que seu diretor, Pedro Ricardo Araújo, manda e desmanda.

O que torna diferente a varredura no gabinete de Arruda e a realizada em casas de José Sarney e Edison Lobão Filho (PMDB), Fernando Collor (PTC) e Gleisi Hoffman (PT)? Resposta simples: três são investigados e o quarto, Lobão Filho, é filho e suplente (o que já é estranho) do ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, alvo de quatro inquéritos no Supremo.

Uma coisa é a Polícia Legislativa fazer varredura contra grampos ilegais de inimigos ou até de criminosos. Outra, bem diferente, é agir para desarmar investigações legais em residências privadas até no Maranhão e no Paraná ?" em diligências, aliás, pagas com dinheiro público. É exatamente para separar o joio do trigo que a PF prendeu o diretor e três policiais legislativos.

Uma certeza a PF já tem: a Polícia Legislativa dispõe de dez "maletas" de alta sofisticação, suspeitas de serem capazes não só de detectar grampos, mas também de fazer grampos. Mas há dúvidas, por exemplo, quanto à versão de que o presidente Renan Calheiros afastou "Pedrão" da direção e o recolocou dias depois. Se verdadeira, por que Renan voltaria atrás? Qual o "poder de persuasão" de "Pedrão"? A Polícia Legislativa está a mando do Senado, ou o Senado está nas mãos dela?

Enquanto Renan cobrava "independência entre os Poderes", o ministro Alexandre de Moraes e o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, defendiam a legalidade da operação. De quebra, Moraes avaliou que os policiais legislativos "extrapolaram o que seria de sua competência". A questão, porém, é saber se quem extrapolou competências foi a Polícia Legislativa, que fez varreduras a favor dos senadores, ou a PF, que prendeu policiais legislativos por contraespionagem. Se há alguma conclusão, é que essa história continua muito confusa e ainda vai longe.
Herculano
23/10/2016 10:28
AO CONSIDERAR TEMER ILEGÍTIMO, MEU ESTIMADO SUPLICY PISOU NA BOLA, por Ferreira Gullar, escritor, no jornal Folha de S. Paulo

Sempre tive simpatia por Eduardo Suplicy, muito embora ele pertença ao Partido dos Trabalhadores. Mas também tive simpatia por esse partido. Muitos anos atrás, melhor dizendo, quando ele foi fundado, em 1980.

Naquela época, eu militava no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que não viu com bons olhos a criação do PT. Menos pelo partido do que por ter, como figura principal, Luiz Inácio Lula da Silva. Os dirigentes do PCB não confiavam nele por saber de sua atuação à frente do sindicato dos metalúrgicos do ABC.

Mas eu argumentava: se não conseguimos mobilizar a classe operária para a luta política, deixemos pelo menos que alguém o faça. Mais ou menos assim pensavam também Mário Pedrosa, Antonio Cândido, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros intelectuais de esquerda.

Alguns deles, anos depois, retirariam seu apoio ao PT, como foi o caso de Hélio Bicudo, que seria um dos autores do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff.

Essas deserções tiveram as mais diversas causas e aumentaram depois que Lula assumiu a Presidência da República, deixando claro seu propósito de fazer toda e qualquer concessão para permanecer indefinidamente no poder.

Já no que me diz respeito, bem antes disso já havia mudado de opinião quanto ao papel que Lula e seu partido desempenhariam na vida política brasileira. O PCB tinha razão quanto à figura de Lula e seu futuro desempenho à frente do PT e de seus propósitos chegando à chefia do governo.

Isso tornou-se evidente quando, em seu primeiro mandato, rejeitou a aliança com o PMDB ?"ao qual teria que fazer concessões?" para, em vez disso, comprar, com o mensalão, os deputados de partidos menores.

Tudo ficou claro com o escândalo do mensalão, que resultou na condenação, pelo Supremo Tribunal Federal, dos principais auxiliares de Lula: José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Lula fez que não sabia de nada e contou com a lealdade dos companheiros para escapar ileso da falcatrua.

Mas os escândalos maiores estavam por vir, conforme revelou a Operação Lava Jato.

Negociatas envolvendo bilhões de reais, grandes empreiteiras e políticos do PT e de outros partidos atingiriam profundamente o prestígio de Lula e de seu partido, como ficou patente, agora, com o resultado das eleições municipais.

Apesar de tudo isso, mantive minha simpatia por Eduardo Suplicy, talvez por ver nele um político idealista que, embora integrante do PT, nunca se envolveu em negociatas nem usufruiu das propinas que enriqueceram funcionários das estatais, políticos e partidos.

Ao contrário, Suplicy, durante toda a sua atuação, insistiu em defender os interesses da população menos favorecida. Até hoje ele batalha pela implantação da renda básica que beneficiaria milhões de trabalhadores. Não por acaso, enquanto seu partido, nas últimas eleições, caía para décimo lugar na quantidade de votos obtidos, ele, Suplicy, era o mais votado dos vereadores do país.

Ao saber disso, fiquei contente por ver que muitas vezes o eleitor vota com justiça e consciência. Mais uma razão para que me dispusesse a assistir a entrevista que Suplicy concedera a Roberto d'Avila. Foi quando o ouvi, mais uma vez, manifestar sua opinião sobre os problemas da sociedade e as medidas que propunha para resolvê-los ou atenuá-los. Mas eis que o entrevistador pede sua opinião sobre o governo de Michel Temer.

A resposta de Suplicy me desapontou, pois, embora sabendo-o petista, não esperava ouvir dele o que ouvia de todos os petistas: isso de que Temer é um presidente ilegítimo, pois não foi eleito!

Mal acreditei no que ouvi. Como Temer não foi eleito se quem votou em Dilma votou nele? Se ela obteve 54 milhões de votos, ele os teve também, pois a chapa era uma só. Fora isso, o vice existe para substituir o presidente, em caso de ausência ou impedimento. Logo a presença de Temer à frente do governo é indiscutivelmente constitucional.

Lamento dizer que, desta vez, meu estimado Suplicy pisou na bola.
Herculano
23/10/2016 10:13
BONDINHO LEVA CARIOCA DA VAN CLEEF DE MONACO AO COLAPSO DO SERVIÇO PÚBLICO, por Elio Gaspari para os jornais O Globo e Folha de S. Paulo

A ruína do Rio de Janeiro deveria colocar o governo federal em estado de alerta. A cidade vive o colapso de seu aparelho de segurança e do sistema público de saúde. Só um milagre fiscal permitirá o pagamento do 13º salário aos servidores e há escolas fechadas, hospitais mutilados e delegacias sem luz elétrica. O teleférico do Alemão está parado. Era o símbolo do Brasil de Lula e da gestão modernizadora de Sérgio Cabral. As barcas cortaram viagens e a plutocracia dos ônibus não paga as multas que recebe. No meio desse caos, o empreiteiro Fernando Cavendish, queridinho do governo do Estado e da prefeitura, contou que, em 2009, pagou o equivalente a R$ 800 mil na joalheria Van Cleef de Mônaco para enfeitar madame Sérgio Cabral. (Madame Eduardo Cunha comprava seus enfeites na Tiffany de Nova York.)

O Rio sofre os efeitos de pelo menos cinco pragas.

1) Os dois governos de Sérgio Cabral e a chegada de Pezão.

2) O PMDB do Rio de Janeiro, partido de Cabral, Pezão, do prefeito Eduardo Paes, do deputado Jorge Picciani e de seu filho Leonardo, ministro de Michel Temer. Todos foram fiéis aliados de Eduardo Cunha.

3) A gastança irresponsável e clientelista que expandiu em 50% as despesas com servidores em apenas cinco anos. Gastaram o que não tinham e venderam a doce ilusão da Olimpíada do Rio. Da sua pira haveria de sair a candidatura de Eduardo Paes a governador ou, quem sabe, presidente da República.

4) A roubalheira nas licitações de obras públicas foi tamanha que, só em 2011, dois anos depois da compra do mimo para madame Cabral, a Delta de Fernando Cavendish ganhou R$ 137 milhões em obras, sem o estorvo das licitações. Sua carteira de negócios com o governo ia a R$ 1 bilhão.

5) A quinta praga chamou-se privataria. Cabral e Paes venderam a ideia segundo a qual uma nova forma de gestão mudaria a cara do Rio. Transferiram serviços públicos para empresas privadas. A operação do teleférico do Alemão ficou com a Odebrecht e acabou na empresa do filho do presidente do Tribunal de Contas da União. Privatizações não levam necessariamente a desastres, mas a gestão privatista do PMDB do Rio não podia acabar em outra coisa.

Da praça do Cassino, onde fica a Van Cleef de Monte Carlo, à praça das Nações, de Bonsucesso, onde fica a estação de partida do teleférico do Alemão, viaja-se num bondinho que mostra a mistificação e as roubalheiras que infelicitam a cidade.

HILLARY CLINTON E O MARIDO JÁ SOBREVIVERAM A TRÊS LAVA JATOS

Tudo bem, parece afastado o risco de Donald Trump vir a ser o próximo presidente dos Estados Unidos.

O problema é que será eleita a doutora Hillary Clinton.

Ela e o marido já sobreviveram a três operações Lava Jato. Pelo estilo do casal, a próxima estará a caminho.

Uma noite no Copa

O Ministério Público julga ter encontrado indícios de que o casamento da filha de Eduardo Cunha, em 2011, foi pago com a reciclagem de propinas.

Se o doutor resolver falar, poderá contar como organizou aquela esplêndida festa.

Cunha fechou todos os salões do Copacabana Palace e recebeu mil convidados. Festa parecida, só em 1985, com o casamento de Antônia Mayrink Veiga com Guilherme Frering, herdeiro do magnata Augusto Trajano de Azevedo Antunes.

A investigação achou despesas que somam uns R$ 300 mil. Isso não dá um décimo do custo real. Pelos R$ 44,6 mil da documentação, não se decora sequer o Golden Room.

Entre os convidados, testemunhas oculares do regabofe, o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Romero Jucá, atual presidente do PMDB.

CRIVELLA E HITLER

Numa construção acrobática, o doutor Marcelo Crivella associou a campanha de seu rival Marcelo Freixo à de Hitler. Ele tiraria proveito político da ansiedade dos desempregados e do recurso à violência.

A distância que separa Freixo de Hitler é a mesma que separa Crivella do pregador americano Jim Jones.

Ele levou seu rebanho para uma comunidade na Guiana e, em 1978, convenceu-o a tomar um suco de uva para ganhar o Reino dos Céus ?"918 pessoas morreram, inclusive 300 crianças.

EDUARDO CUNHA VAI FALAR, MAS RESTA SABER SE O MPF QUER OUVI-LO

De um sábio que conhece os corredores de Brasília, a carceragem de Curitiba e os gabinetes da Lava Jato:

"Falar, o Eduardo Cunha fala. A questão é saber se o Ministério Público tem interesse em ouvir o que ele quer contar. Ele precisa mostrar aos procuradores caminhos nunca antes percorridos".

DOIS MEDOS

Um curioso perguntou ao empreiteiro Fernando Cavendish:

- Você não tem medo de acabar preso?

- Não. O que eu tenho medo é de ficar pobre.

Negociando sua colaboração com a Viúva, Cavendish luta para se livrar do segundo pesadelo.

COISA DE POBRE

Na loja da Van Cleef onde Sérgio Cabral e Fernando Cavendish compraram o anel da madame, uma compra de US$ 200 mil é coisa de emergente. A verdadeira freguesia é de potentados árabes e de milionários europeus.

Nos anos 1970, depois de ter perdido algo como US$ 500 mil durante uma noite no casino de Monte Carlo, o milionário alemão Gunter Sachs, ex-marido de Brigitte Bardot, entrou na Van Cleef, comprou um anel de US$ 2 milhões para a namorada e explicou-se: "Infeliz no jogo, mas feliz no amor".

Cabral e Cavendish foram infelizes no jogo.

TRÊS LETRAS

Eremildo é um idiota, leu a carta que o juiz Sergio Moro escreveu condenando um artigo do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, e percebeu que ele se intitulou "ora magistrado".

O cretino deduziu que o "ora magistrado" poderá vir a ser outra coisa, inclusive candidato a cargo eletivo.

Com os candidatos cujos rostos estão na vitrine, o ora idiota Eremildo vota nele para qualquer cargo.


OS VESTIDOS DA CONDESSA QUE SABIA VIVER

Vai até o dia 7 de janeiro, no Fashion Institute of Technology de Nova York, uma finíssima exposição: "A Musa de Proust, a Condessa Greffulhe". A princesa Élisabeth de Caraman-Chimay (1860-1952) foi a principal inspiração do romancista Marcel Proust para a construção do personagem da Duquesa de Guermantes, uma aristocrata linda, elegante, dona dos salões de Paris.

No romance, o narrador tentava capturar a atenção da duquesa. Na vida real, Proust tentou mostrar sua admiração pela condessa e pediu-lhe uma fotografia. Não foi atendido, por vulgar. A exposição da condessa veio de Paris e inclui 40 peças do seu guarda-roupa.

Vestidos deslumbrantes de um tempo em que a ideia de caminhadas exibicionistas sobre um tapete vermelho aos olhos do mundo levariam as senhoras ao suicídio.

O "Vestido de Lírios", da Casa Worth, é uma obra de arte, como eram obras de arte as vidas de muitos aristocratas daquela época. Entre os protegidos da condessa estiveram o escultor Auguste Rodin e a cientista Marie Curie.

Elisabeth morreu na Suiça em 1952, aos 92 anos.

Serviço: o museu botou na rede uma boa amostra da exposição.
Herculano
23/10/2016 09:47
UM FANTASMA NA OPERA, por Dora Kramer, para o jornal O Estado de S. Paulo

Força demolidora de Cunha é uma suposição que contradiz o resultado da cassação

Eduardo Cunha não foi o primeiro nem será o último político de destaque a ser preso pela operação Lava Jato. Sequer pode ser apontado como aquele que maior poder e/ou volume de informações reuniu na República. As presenças de José Dirceu e Antônio Palocci em Curitiba - chefões da era em que o PT mandava (e principalmente desmandava) no País - dão por si tal testemunho.

Pode ser que ele venha a fazer uma delação devastadora que comprometa do baronato ao cardinalato da política? Pode ser que haja vida em Marte. No terreno das possibilidades criam-se, entre outras coisas, fantasmas. Tudo é possível embora nem tudo seja provável. Para dirimir quaisquer dúvidas, o melhor método é o exame das condições objetivas.

A principal delas esteve registrada no placar eletrônico da Câmara no dia 12 de setembro último, quando o então deputado afastado de suas funções legislativas pelo Supremo Tribunal Federal teve o mandato cassado por 450 votos a favor e 10 contra.

No início, quando o processo foi aberto no Conselho de Ética, a avaliação preponderante era a de que Eduardo Cunha sairia ileso. Segundo essa versão, teria poderes ilimitados para impedir o andamento dos trabalhos e um embornal de informações a respeito de seus pares tóxico o suficiente para garantir votos a favor da manutenção de seu mandato.

No campo da suposição, isso parecia fazer sentido. Mas a realidade tem componentes menos esquemáticos. No caso, a opinião pública, a revelação de novas e cada vez mais contundentes acusações, o comportamento excessivamente ousado de Cunha, a decisão do STF de afastá-lo do cargo, a impossibilidade de contar com ajuda do governo, o instinto de sobrevivência eleitoral dos deputados, uma série de fatores que desmontou a presunção inicial e produziu um resultado surpreendentemente desfavorável a ele.

A prisão menos de quarenta dias depois provocou alvoroço, não obstante fosse algo esperado, líquido e certo. Fez-se o silêncio em Brasília. Pudera, dizer o quê? Lamentar, comemorar? O governo e mundo político em geral não poderiam fazer uma coisa nem outra. Até o PT se manteve discreto, dada sua impossibilidade de falar de corda em casa de enforcado.

Enquanto na capital federal a palavra de ordem era não passar recibo, no restante do País estabeleceu-se a gritaria em torno dos presumidos efeitos de uma delação premiada. Por ora apenas um fantasma nessa ópera composta pela operação Lava Jato. Não que seja um equívoco supor que Cunha faça delação e provoque com ela uma devastação em massa. Mas é preciso medir e pesar as circunstâncias. E estas não lhe são necessariamente favoráveis.

Não é ele quem dita as regras muito menos o rumo dos acontecimentos como, de resto, já ficou demonstrado. A faca e o queijo estão nas mãos do Ministério Público e da Justiça. Ainda que o ex-deputado tenha disposição de delatar não significa que os procuradores se interessem pela contrapartida ou que as condições estabelecidas em lei para a obtenção de benefícios se apliquem a Eduardo Cunha.

A força tarefa da Lava Jato trabalha há mais de dois anos, período em que reuniu uma montanha de informações a respeito das quais seguramente o País ainda não sabe da missa a metade. De onde é possível que o ex-deputado não tenha dados que os investigadores considerem novos e/ou necessários ao esclarecimento dos fatos. Se não pôde controlar seu destino quando presidente da Câmara nem se utilizar do arsenal intimidador de maneira eficiente, não será preso que Eduardo Cunha terá êxito no manejo da figura de assombração.

Ademais, terá de ter muito cuidado com o que disser para não piorar sua já sofrível situação.
Herculano
23/10/2016 09:45
VAMOS FAZER DE CONTA QUE ESTÁ TUDO BEM?, por Marcos Lisboa, economista, para o jornal Folha de S. Paulo

A Secretaria do Tesouro Nacional divulgou, nesta semana, um relatório que revela a gravidade da crise fiscal nos Estados.

As despesas com pessoal, ativos e inativos, correspondem a mais de 50% da receita corrente líquida em todos os Estados e chegam a 78% no caso de Minas Gerais.

A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece que essas despesas não podem superar 60% da receita. Segundo o trabalho do Tesouro, porém, oito Estados estão acima do limite e a maioria está acima de 55%.

A crise fiscal não deve surpreender. Nos últimos anos, os gastos estaduais cresceram significativamente.

As despesas com pessoal, por exemplo, cresceram mais de 40% acima da inflação em dez Estados, entre 2009 e 2016. Esses aumentos foram em parte financiados com receitas temporárias, como royalties de petróleo e novos empréstimos concedidos com apoio do governo federal.

Os dados reportados pelo Tesouro divergem, em alguns casos significativamente, dos apresentados pelos Estados. A divergência decorre das metodologias adotadas.

Em muitos Estados, o cálculo das despesas com pessoal não inclui gastos com terceirizados, os auxílios pagos aos servidores (como para moradia), o deficit da Previdência e, em alguns casos, até mesmo o imposto de renda pago pelos servidores.

A criatividade na contabilidade não foi exclusiva do governo federal nos últimos anos e resultou na subestimação das despesas com pessoal, permitindo expandir o gasto sem, formalmente, descumprir o limite previsto pela LRF.

O Rio de Janeiro, por exemplo, reporta que os gastos com pessoal, em 2015, corresponderam a 41,77% da receita líquida. Segundo a metodologia do Tesouro, que inclui todas as despesas com pessoal, o percentual correto é 62,84%.

Alguns Estados mais pobres do que o Rio de Janeiro têm enfrentado o desafio fiscal, caso de Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Pernambuco.

Outros optaram pela contabilidade criativa e medidas oportunistas, como utilizar depósitos judiciais para financiar os seus gastos.

Espera-se do setor público a prestação transparente das suas contas, demonstrando a sustentabilidade das obrigações assumidas, como as despesas com pessoal e aposentados.

Os critérios adotados por diversos Estados, com o aval dos Tribunais de Contas, tornaram opacas as contas públicas, permitindo um forte aumento da despesa sem a contrapartida de receitas permanentes para financiá-las.

O resultado é uma crise que está apenas no começo e vai comprometer serviços públicos essenciais.

Para que mesmo servem os Tribunais de Contas estaduais?
Herculano
23/10/2016 09:40
ACOSTUMA-TE À LAMA QUE TE ESPERA, por Carlos Brickmann

Eduardo Cunha, planejador meticuloso, sabia que ser preso era seu destino. Deve estar pronto para suportar o período atrás das grades. Mas, para ele, esta prisão era aceitável, fazia parte do jogo. O que o magoou muito foi a atitude de seus aliados, que o entregaram a Sérgio Moro.

Fique claro que, sem o trator Cunha no comando da Câmara, o impeachment seria só uma proposta, Dilma estaria no Poder, e Temer não. Temer deve seu posto a Cunha; a oposição e os governistas que mudaram de lado devem seu poder e seus cargos atuais a Eduardo Cunha. Mas não hesitaram em condená-lo no conselho de Ética (faltou apenas um deputado que virasse o voto!) e em cassar seu mandato, entregando-o à mão severa de Moro. Cunha queria só adiar um pouco a votação, para que as festas natalinas jogassem o problema para fevereiro ou março, dando-lhe uma chance de manobra. Com ajuda de Temer, adiar-se-ia a decisão para 2017. Isso é o que lhe dói: a ingratidão de quem se beneficiou com seu trabalho.

Cunha é um planejador detalhista, estudioso; como o diabo, sabe mais pela experiência que por seus outros atributos. Mas não imaginava que quem se beneficiou com seu trabalho quisesse tudo, menos tê-lo a seu lado. É sabido demais para não ser perigoso. Liquidado, é mais seguro. E não conhecia a frase definitiva do sábio general De Gaulle: "A ingratidão é uma das maiores virtudes de que deve ser dotado um estadista".

A MÃO QUE AFAGA

Os dois títulos destas duas notas estão num poema notável, Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos, obrigatório para quem pensa em política:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável/ enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera - / Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável/ Mora, entre feras, sente inevitável/ Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!/ O beijo, amigo, é a véspera do escarro,/ A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,/Apedreja essa mão vil que te afaga,/ Escarra nessa boca que te beija!

FOLHA CORRIDA

É um perigo esquecer os bons resultados da ingratidão. Mas é um perigo, também, esquecer a força de retaliação de um aliado ferido.

Cunha se candidatou à Presidência da Câmara pelo PMDB, partido aliado a Dilma. Ela tentou derrubá-lo, ele reagiu: fez passar algumas medidas de alto custo, às quais Dilma se opunha. Quiseram cassá-lo, e ele deixou claro que, se o PT votasse por sua cassação, ele movimentaria o pedido de impeachment que estava parado em sua mesa. O PT votou contra ele, ele liberou o impeachment.

Dilma e Cunha caíram juntos.

A MÃO QUE APREDEJA

Segundo o jornal Valor, Cunha disse a seus advogados que quer falar. Um dos advogados, Marlus Arns, já intermediou processos de delação premiada. OK, ele pode deixar mal vários deputados do baixo clero, mas isso não lhe daria o que quer: que os promotores esqueçam sua mulher e sua filha.

Já o colar de alho, a estaca de madeira, a água benta e a terra consagrada que liquidariam Michel Temer, já isso vale muito mais.

PASSARINHO COME PEDRA

O noticiário de hoje em dia fala do medo que muitos parlamentares têm de eventual delação de Cunha. Que é que esse povo andou fazendo para ter tanto medo de um deputado que foi deposto, cassado e está preso?

ANEL DE BRILHANTES

Lembra de Fernando Cavendish, da empreiteira Delta, primeiro-amigo do governador fluminense Sérgio Cabral? Agora é ele que delata. Dizem que atinge PMDB e PSDB, cita-se o senador Aloysio Nunes e o governador goiano Marconi Perillo. Mas a melhor história é de Sérgio Cabral. Conta Cavendish que Cabral e ele passeavam por Monte Carlo quando Cabral parou em frente a uma joalheria finíssima, Van Cleef &Arpels.

"Amanhã", disse Cabral, "é aniversário de Adriana [sua esposa, Adriana Ancelmo] e preciso ver um presente". Entraram e uma funcionária trouxe, já embalado, um anel de ouro branco e brilhantes. E ficou claro que quem pagaria a conta, uns R$ 800 mil, seria Cavendish. Ilustrando a história, foto de Adriana Ancelmo com o anel, recibo e nota em nome da Delta.

Arrasador.

BOA NOTÍCIA

A artista plástica brasileira Renata Barros acaba de expor no Museu de Arte de Hangzhou, na China. É um prolongamento cultural e artístico da reunião do G20. A "2016 - China Hangzhou G20 International Art Exchange Exhibition" reúne 40 artistas desde o dia 11 até hoje. Foi a primeira vez que o encontro diplomático teve extensão artística.
Herculano
23/10/2016 08:30
MAIS PRESSA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

A recuperação do crescimento econômico perdido desde 2014 depende muito de um plano de aumento de investimentos incentivados pelo setor público.

A aceleração das obras em infraestrutura, porém, não poderá contar com recursos do governo federal. Na melhor das hipóteses, o montante reservado para investimento será igual ao deste ano.

É necessário, pois, apressar o programa de concessões de obras de infraestrutura e de privatizações em geral. Dado o cronograma de leilões, apenas com muito otimismo algumas das obras em aeroportos, rodovias e ferrovias começarão antes do final de 2017 -e mesmo esse calendário corre risco.

Não é tarefa fácil reavivar a confiança de investidores, reorganizar a regulação e encontrar fontes de financiamento, grande obstáculo para o momento. Tudo é terra arrasada depois da administração de Dilma Rousseff (PT).

O problema é que não há alternativa a dedicar-se de modo emergencial; são raros os meios de recolocar a economia em movimento.

Primeira tarefa, o governo de Michel Temer (PMDB) tem de resolver logo o problema das concessões que fracassaram por falta de crédito ou por envolvimento de atores centrais em escândalos.

Segundo, é preciso criar forças-tarefas a fim de acelerar a elaboração de projetos e editais, além de uma espécie de comitê de crise para repensar o financiamento, com envolvimento do BNDES.

Terceiro, é preciso estipular um prazo de solução dos nós regulatórios que impedem investimentos em, por exemplo, telecomunicações e mineração, tarefa que depende também do Congresso.

Quarto, é preciso dar celeridade a leilões nas áreas de energia e petróleo, fracassados ou paralisados por anos de desgoverno.

O mesmo empenho que se viu no encaminhamento do problema macroeconômico central -o deficit- deveria ser observado nos ministérios e agências responsáveis pela infraestrutura.

Trata-se o assunto, porém, como se este fosse um país organizado, em crescimento estável. Falta competência técnica e sentido de urgência para lidar com a crise.

Do mesmo modo que o governo estabeleceu metas de elaboração de projetos de lei e de tramitação de projetos no Parlamento para o problema fiscal, é preciso estipular prazos para a aprovação de nova ou reformada regulação.

Verdade que leis importantes foram aprovadas nos últimos meses. Ocorre que o descalabro exige atitude mais enérgica, um plano em várias frentes para antecipar investimentos e indicar um horizonte de planejamento e oportunidades para as empresas.
Herculano
23/10/2016 08:29
MESMO "DELATADO", TEMER NÃO SERIA PROCESSADO, por Cláudio Humberto na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Com a prisão de Eduardo Cunha, a atual oposição ficou excitada com o suposto risco de o presidente Michel Temer virar alvo da Lava Jato e acabar destituído do cargo por decisão judicial. Mas, ainda que os fatos confirmassem a fantasia, Temer não seria processado: o art. 86 parágrafo 4º da Constituição protege o presidente da República de investigações de fatos ocorridos anteriormente ao seu mandato.

SUPENSÃO

Na prática, qualquer alegação contra o presidente da República fica suspensa até que se conclua o seu mandato.

A VEZ DE DILMA

A ex-presidente Dilma ficou de fora do petrolão porque a Lava Jato investiga roubo à Petrobras ocorrido durante a presidência de Lula.

AGORA, VAI

Investigadores confirmaram que a Lava Jato se aproxima de Dilma, no caso da compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos EUA.

ESCAPOU

Se tivesse sido denunciado no mensalão, Lula não poderia se esconder no art. 86 da Constituição: os fatos ocorreram durante sua presidência.

PRESSÃO DE GASTADORES CONTRA PEC 241 VIRA PIADA

Cartas-padrão têm sido enviadas a parlamentares por sindicalistas adoradores de gastos públicos, protestando contra a PEC 241, que limita esse tipo de despesa. Sindicatos se locupletam dos gastos públicos, porque custam mais de R$ 3 bilhões por ano ao Tesouro Nacional. Mas, em vez de surtir efeito, a carta da pelegada contra a PEC 241 virou motivo de gozação: os textos são absolutamente iguais.

NEM O REMENTENTE LEU

Além dos textos idênticos, a carta da pelegada nem sequer mostra preenchido o campo onde o remetente deveria ser identificado.

ANTAS NÃO ESCREVEM

Na carta, onde se lê "STR......", as antas só precisavam preencher o nome do próprio sindicato nas linhas pontilhadas, mas não o fizeram.

SINDICATOS BILIONÁRIOS

O imposto sindical renderá R$ 3,5 bilhões à pelegada, em 2016. Tudo pago exclusivamente pelos contribuintes de carteira assinada.

LONGE DE CASA

O policial do Senado Geraldo Oliveira revelou em seu depoimento que Gleisi Hoffmann (PT) avisou que não voltaria para casa sem varredura. Ela achava que a PF havia "plantado" escutas em sua casa, após a operação que prendeu seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.

LOROTA FOR EXPORT

A coisa anda tão ruim que nas redes sociais o PT agora usa frases em inglês (#standwithlula, algo como "junto com Lula"), para exortar os estrangeiros a acreditar na lorota de "perseguição" ao ex-presidente.

SALÁRIOS DE JUÍZES

O estudo "Justiça em Números", do Conselho Nacional de Justiça, revela que a média de salários de juízes da Justiça Estadual é de R$ 49 mil por mês. A média de juízes federais é de R$ 38 mil mensais.

ELES VIAJAM, A GENTE PAGA

Humberto Costa (PT-PE) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) usaram cota de passagens, pagas pelo contribuinte, para paparicar Lula, o réu, logo após a denúncia apresentada contra ele da Lava Jato.

QUESTÃO ÉTICA

O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) está convencido de que a proposta que limita os gastos públicos passará com folga no Senado. "Equilibrar as contas publicas é antes de tudo questão ética", afirma.

ASPIRAÇÕES POLÍTICAS

No bate-boca do impeachment, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) recomendou exame antidoping do colega Lindbergh Farias (PT-RJ), que parecia muito excitado. Ao ser denunciado por isso ao Conselho de Ética, Caiado não perdeu a verve: "Isso não está cheirando bem..."

MÁ HORA

No Rio Grande do Norte, fracassou a candidatura a vereador de Rochinha, namorado de Dani Cunha, filha do ex-deputado cassado Eduardo Cunha. O rapaz não chegou nem a 3 mil votos.

DIFICULDADES

Ex-ministro de Lula condenado duas vezes por roubar o País, José Dirceu alegou ao juiz Sérgio Moro que sua família enfrenta dificuldades financeiras. É de se imaginar a situação das pobres vítimas do afano...

PERGUNTA FOLIÃ

O que vai vender mais, no Carnaval, máscaras do juiz Sérgio Moro ou do "policial hipster" que prendeu Eduardo Cunha?
Herculano
23/10/2016 08:20
DESMONTAR OS PRIVILÉGIOS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

O governo de Michel Temer tem-se mostrado disposto a desmontar o tratamento privilegiado que os governos petistas deram a alguns movimentos sociais. Foram anunciadas, por exemplo, mudanças no programa de reforma agrária. É preciso, porém, que tal esforço não se restrinja ao campo. Semelhante situação ocorre nas cidades, em especial com o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) Entidades.

Entre as alterações prometidas pelo governo federal no programa de reforma agrária está a exclusão de intermediários no processo de seleção das famílias a serem beneficiadas pelo programa social. Mais do que simplesmente estabelecer um novo procedimento burocrático, a medida interrompe a prática, muito estendida nos governos petistas, de dar a alguns movimentos sociais o controle do acesso a políticas sociais e, assim, fortalecê-los.

Quase todas essas organizações têm claro viés político-ideológico, o que, além de pôr em dúvida seu caráter social, as desqualifica para o trabalho de seleção de possíveis beneficiários da reforma agrária. Em muitos casos, para usufruir do benefício público, a família interessada precisava, por exemplo, associar-se ao MST.

A atuação dos movimentos sociais no programa de reforma agrária também serviu de instrumento para repassar verbas públicas a essas organizações. Ou seja, era um sistema que desrespeita princípios da administração pública definidos na Constituição, ao utilizar um programa social para conferir privilégios a grupos amigos do lulopetismo.

Distorção semelhante ocorre nas políticas habitacionais. E de forma ainda mais institucionalizada, já que, em 2009, o governo Lula criou a modalidade Entidades dentro do MCMV, com o objetivo de "tornar a moradia acessível às famílias organizadas por meio de cooperativas habitacionais, associações e demais entidades privadas sem fins lucrativos".

Da mesma forma como anunciou que irá fazer com a reforma agrária, é preciso que o atual governo desmonte o sistema de custeio e fortalecimento de movimentos sociais por meio das políticas de habitação. Num Estado Democrático de Direito, não cabem privilégios a determinados grupos. Não cabe, portanto, um programa com o feitio do MCMV Entidades.

Deve-se reconhecer que o novo governo já tomou algumas medidas de contenção de danos na área habitacional. Por exemplo, em junho passado, o Ministério das Cidades publicou a Portaria 258, dando à Caixa Econômica Federal a incumbência de selecionar e contratar as propostas de financiamento feitas por associações e movimentos para a construção de conjuntos habitacionais. Com isso, tem-se maior garantia de que os projetos serão selecionados com base em critérios técnicos, e não político-ideológicos. Segundo o ministro das Cidades, Bruno Araújo, "mudamos a portaria para democratizar o atendimento, para que não ficasse restrito a entidades ligadas a A ou a B".

Além de representar uma apropriação das políticas sociais por alguns grupos e movimentos ?" o que por si só já aconselharia o fechamento do programa ?", o MCMV Entidades é altamente ineficiente.

Na primeira fase, de 2009 a 2011, o programa habitacional na modalidade Entidades entregou menos da metade das casas contratadas. De acordo com o Ministério das Cidades, foram contratadas 8.024 casas em todo o País, mas somente 3.454 unidades (43%) foram entregues. No período, o governo transferiu R$ 76,8 milhões às entidades e movimentos sociais para a construção das moradias populares.

Na segunda fase do programa, o porcentual de entrega foi ainda menor. As entidades e movimentos sociais entregaram apenas 8,9% das moradias. Foram contratadas 45.858 moradias, mas apenas 4.094 unidades foram entregues. No período, o governo federal desembolsou R$ 1,083 bilhão para as entidades.

Tanto pela ineficiência, como pelo tratamento privilegiado que comporta, o MCMV Entidades não merece sobrevida.
Herculano
23/10/2016 08:18
O RETRATO DE QUE O PT E SEUS S?"CIOS - PCdoB, PDT, PMDB, PP, PSD, PR, PRB E OUTROS - SO USAM OS POBRES,FRACOS, ACUADOS, ANALFABETOS, IGNORANTES, DESINFORMADOS E FANÁTICOS PARA SE LEGITIMAR NO PODER E BENEFICIAR UNS POUCOS COM OS QUAIS SE IDENTIFICA, INCLUSIVE NA LADROAGEM DOS PESADOS IMPOSTOS DE TODOS

O DISCURSO SOCIAL E DISTRITUIÇÃO DE RENDA É UMA MENTIRA DESLAVADA. AGORA COM O ACHATAMENTO SALARIAL E O DESEMPREGO DE MILHÕES SEM ESTABILIDADE DOS ALTOS SALÁRIOS PÚBLICOS, A CUT E OUTROS SINDICATOS DO PT E DA ESQUERDA ESTÃO COM A PAUTA DA LEGITIMIDADE DO GOVERNO QUE SUCEDEU O GOVERNO LADRÃO E NÃO NA BUSCA DA ESTABILIDADE ECON?"MICA PARA A RECUPERAÇÃO DE EMPREGOS, SALÁRIOS E BENEFÍCIOS SOCIAIS AMEAÇADOS.

MANCHETE DO JORNAL FOLHA DE S. PAULO DESTE DOMINGO REVELA QUE ELE QUANDO NO PODER SE LAMBUZA COM OS RICOS, OS PODEROSOS E PREFERE OS EMPRESÁRIOS PARA AS MARACUTAIAS: ARENA DO CORÍNTHIANS FOI PRESENTE PARA LULA, DIZ PATRIARCA DA ODEBRECHT

Texto de Mário César Carvalho. A Lava Jato vai chegar ao Corinthians. Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração do grupo que leva o seu sobrenome, afirmou em acordo de delação, em fase de negociação, que o estádio construído pela empreiteira foi uma espécie de presente ao ex-presidente Lula, torcedor do time.

O agrado, na versão de Emílio, foi uma retribuição à suposta ajuda de Lula ao grupo nos oito anos em que o petista comandou o país, de 2003 a 2010.

Sob governos do PT, de 2003 a 2015, o faturamento do grupo Odebrecht multiplicou-se por sete, de R$ 17,3 bilhões para R$ 132 bilhões, em valores nominais (a inflação do período foi de 102%).

Emílio é pai de Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 e condenado a 19 anos de prisão. Por pressão do patriarca, ele e cerca de 80 executivos do grupo decidiram buscar um acordo de delação premiada.

Os relatos, que indicam suborno, ainda terão de ser homologados pela Justiça.

Emílio passou a integrar o acordo porque era o principal interlocutor de Lula.

Foi o mais ardoroso defensor da delação, vista por ele como a única saída para salvar o grupo da falência.

Após a prisão de Marcelo, a Odebrecht passou a ter problemas de crédito com bancos e acumula dívidas de R$ 110 bilhões.

Conhecida como Itaquerão, a arena do Corinthians, na zona leste de São Paulo, foi construída pela empreiteira de 2011 a 2014, quando foi palco da abertura da Copa do Mundo. Custou R$ 1,2 bilhão, quase 50% acima da estimativa inicial do projeto, de R$ 820 milhões.

A obra foi financiada por recursos do BNDES (R$ 400 milhões), títulos autorizados pela Prefeitura de São Paulo (de até R$ 420 milhões) e empréstimos em bancos privados. Na época, o prefeito era Gilberto Kassab (PSD).

A ideia de construir o Itaquerão partiu do então presidente Lula, que atribuía os maus resultados do Corinthians à falta de um estádio, segundo relatos colhidos pela Folha.

Em 2010, o último ano de Lula à frente da Presidência, o clube ficou em quinto lugar no Campeonato Paulista, terceiro no Brasileiro e nono na Libertadores. Em 2007, havia sido rebaixado.

O presidente do clube à época, o atual deputado Andrés Sanchez (PT-SP), já havia dito em 2011 à revista "Época" que Emílio participara do projeto financeiro da arena: "Quem fez o estádio fomos eu e o Lula. Garanto que vai custar mais de R$ 1 bilhão. Ponto. A parte financeira ninguém mexeu. Só eu, o Lula e o Emílio Odebrecht".

O resultado da equação financeira montada foi desastroso. Dos R$ 420 milhões de títulos com emissão autorizada pela prefeitura, que poderiam ser usados para quitar dívidas municipais, foram vendidos R$ 25 milhões.

O Corinthians não tem pago as parcelas mensais de R$ 5,7 milhões ao BNDES, com o consentimento da Caixa, que intermediou o empréstimo, porque negocia uma carência maior.

A arena deveria ter arrecadado R$ 112 milhões no ano passado, mas conseguiu R$ 90 milhões. Se o desempenho se repetir nos próximos anos, o Corinthians pode perder o estádio para a Odebrecht, segundo contrato do clube e um fundo que cuida do empreendimento.

REUNIÕES

Além do caso do estádio, Emílio relata na proposta de acordo de delação que tinha reuniões com Lula, muitas vezes com frequência mensal.

Nesses encontros, Emílio pediu e obteve o aval de Lula para ajudar a empreiteira a se expandir por América Latina e África.

O petista é réu numa ação que tramita em Brasília, sob acusação de ter ajudado a Odebrecht a conquistar contratos em Angola.

Lula preferia tratar dessas questões com Emílio, segundo executivos ouvidos pela Folha sob condição de anonimato, porque não gosta do estilo seco de Marcelo. Tinha afinidade com o modo descontraído do baiano Emílio.

Nos encontros entre Lula e Emílio, não eram mencionados pagamentos de suborno, ainda na narrativa dele.

As questões práticas de como o PT seria beneficiado pela ajuda à Odebrecht seriam tratadas entre Marcelo e o ex-ministro Antonio Palocci.

O ex-ministro aparece com o codinome de "Italiano" em documentos apreendidos pela Polícia Federal no que seria o "departamento de propina" da Odebrecht, mantido em Salvador, segundo os procuradores da Operação Lava Jato e a ex-secretária da empresa Maria Lúcia Tavares, que fez um acordo de delação.

OUTRO LADO

O advogado Cristiano Zanin Martins, que cuida da defesa do ex-presidente Lula, desqualificou o conteúdo das delações negociadas na Operação Lava Jato, como a de Emílio Odebrecht, executivo do grupo que leva seu nome.

"A Lava Jato não conseguiu apresentar qualquer prova sobre suas acusações contra Lula. Na ausência de provas, trabalha-se com especulações de delações. Se a delação já não serve para provar qualquer fato, a especulação de delação é um nada e não merece qualquer comentário", disse o advogado em nota enviada à Folha.

A Odebrecht, o Corinthians e o deputado Andrés Sanchez não quiseram comentar o relato de que o estádio do time seria um presente para Lula pela suposta ajuda ao grupo.

O advogado José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro Antonio Palocci, diz que a afirmação de que o seu cliente tratava de suborno com Marcelo Odebrecht não tem fundamento.

"Causa surpresa essa versão de que o Palocci tinha mais contato com o Marcelo do que com o Emílio Odebrecht. Porque há uma amizade muito antiga entre Palocci e Emílio. Ele consultava muito o Palocci sobre a economia nacional e global. Já a relação entre Palocci e Marcelo era quase zero."

O defensor rebate a interpretação dos procuradores da Lava Jato e da Polícia Federal de que o ex-ministro seja o "Italiano" citado em planilhas da Odebrecht. Segundo ele, as próprias mensagens trocadas por executivos mostram que Palocci jamais poderia ser o beneficiário dos supostos subornos.
Herculano
23/10/2016 07:44
TEMER ALISTA SEU GOVERNO NA INFANTARIA DE RENAN, por Josias de Souza

Às favas a lógica com o caso da Polícia Legislativa do Senado. Sob Renan Calheiros, montou-se nos porões do Poder Legislativo um departamento de bisbilhotagem. Com verba pública, adquiriram-se equipamentos de inteligência capazes de fazer e desfazer grampos e escutas ambientais. Às custas do contribuinte, policiais legislativos foram mobilizados para proteger senadores suspeitos de assaltar o Estado. Realizaram-se varreduras de escutas em gabinetes, residências funcionais e imóveis particulares - em Brasília e alhures. E Renan, em vez de ficar constrangido, está irritado.

Pilhado numa investigação de mostruário ?"nascida de uma delação, executada pela Polícia Federal, sob supervisão do Ministério Público Federal e com a anuência do Poder Judiciário?", o Senado reagiu com uma nota oficial assinada por seu presidente. Nela, Renan Calheiros defende as ações de quatro policiais legislativos presos e demarca o seu terreno: "As instituições, assim como o Senado Federal, devem guardar os limites de suas atribuições legais." Beleza. Mas faltou responder: quem zelará pelo interesse público quando o Senado for utilizado como biombo para ilegalidades?

Depois de emitir a nota, Renan dedicou-se a uma de suas especialidades: a retaliação. Borrifou ameaças no ar. Fez saber ao Planalto que não gostou da entrevista na qual o ministro Alexandre Moraes (Justiça) justificou a operação montada para deter as extrapolações dos policiais legislativos. E voltou a brandir o projeto que pune os chamados abusos de autoridade. Renan faz dessa proposta uma espécie de espada multiuso. Ora espeta os procuradores da força-tarefa da Lava Jato ora cutuca Sergio Moro. Revela-se capaz de tudo, menos de um autoexame que o faça enxergar seus próprios abusos.

De repente, numa subversão da lógica, o Planalto deflagrou uma articulação para acalmar Renan. Coordenador político do governo, o ministro Geddel Vieira Lima tocou o telefone para o senador. O próprio Michel Temer adulou Renan com um telefonema. Antes, enquadrou o ministro da Justiça, convocando-o em pleno sábado para prestar informações sobre a operação em que a Polícia Federal, munida de cinco mandados judiciais de busca e apreensão e quatro ordens de prisão, recolheu equipamentos de espionagem do Senado e prendeu quatro policiais legislativos, entre eles o diretor da Polícia do Senado, Paulo Ivo Bosco Silva, homem de confiança de Renan.

Num par de telefonemas, o governo Michel Temer atravessou a Praça dos Três Poderes para se alistar na infantaria que, sob Renan Calheiros, é acusada de obstruir investigações que alvejam personagens como Fernando Collor, José Sarney, Edison Lobão Filho e Gleisi Hoffmann. O Planalto reforça seu alinhamento com Renan num instante em que a Lava Jato arromba o principal armário do imperador de Alagoas: a Transpetro.

O delator Felipe Rocha Parente, que se apresenta como entregador de propinas, revela aos investigadores os caminhos que a verba suja percorreu para migrar da subsidiária da Petrobras para os bolsos de pajés do PMDB. Estima-se que escoaram por esse duto pelo menos R$ 100 milhões em 12 anos. Desse total, Renam apropriou-se R$ 32 milhões, informou outro delator, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Compreende-se a irritação de Renan. Ele tem 32 milhões de motivos para espumar de raiva. Quem conhece o senador sabe: é nos instantes em que está for a de si que ele mostra o que tem por dentro. O que parece incompreensível é o esforço que o governo empreende para demonstrar que é parte do problema. Não há governabilidade que justifique o erro político de reforçar a impressão de que Renan manda porque pode e o presidente da República obedece porque tem juízo. Dilma Rousseff mantinha com Lula um relacionamento do mesmo tipo. Deu em Michel Temer.
Herculano
22/10/2016 07:53
ESQUERDA DELINQUENTE GEROU CRISE, por Ronaldo Caiado, senador, DEM-GO, no jornal Folha de S. Paulo
A esquerda, PT à frente, não se cansa de plagiar a si mesma, colocando-se sempre na contramão de qualquer iniciativa que tenha como meta sanear e dar racionalidade à economia.

Assim como, no passado, se opôs ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal ?"e à própria Constituição de 1988, que não quis assinar?", hoje se opõe à proposta de emenda constitucional (PEC) 241, que estabelece um teto para os gastos públicos.

A alegação é que a PEC 241 vai impor cortes em programas sociais, sobretudo em educação e saúde, o que não é verdade.

Os cortes começaram bem antes, no próprio governo Dilma Rousseff, pelo simples fato de que não havia, como não há, mais dinheiro. Gastou-se ?"e muito mal?" o que se tinha e o que não se tinha. E foi por essa razão que o atual governo se viu premido a pôr um freio de arrumação nas contas públicas, proposto por essa PEC.

Caso não o fizesse, o país caminharia para a insolvência, restando-lhe o calote da dívida (que afastaria de vez os investimentos), o descontrole inflacionário (com emissão sem lastro de moeda para pagar obrigações) ou o aumento de impostos, algo impensável num país que exibe uma das maiores cargas tributárias de todo o planeta.

Mas a militância esquerdista omite essa realidade e o que a ocasionou: a tal "nova matriz econômica", insensatez concebida no governo Dilma, que, entre outras trágicas consequências, impôs um corte de R$ 10,2 bilhões na educação e suprimiu 24 mil leitos do SUS. A bagunça desembocou num Orçamento negativo, com um deficit de inéditos R$ 170 bilhões.

Sem reconhecer sua responsabilidade na ruína econômica do país, a esquerda tenta difundir a ideia de que tudo não passa de perversidade da "direita", que não se conformaria com as conquistas sociais dos pobres, proporcionadas pelos governos petistas.

Bem, essas "conquistas sociais" estão também condensadas em números: 12 milhões de desempregados, milhares de empresas fechadas em todo o país, além de estatais saqueadas, como a Petrobras, e aposentados lesados pela delinquência partidária.

A PEC 241 não propõe cortes ou congelamento dos gastos sociais. Limita a correção da despesa primária do governo à inflação do ano anterior. Educação e saúde podem ter seus gastos ajustados até acima da inflação, desde que haja redução em outras rubricas.

A isso, se chama estabelecer prioridades. Gestão. Se educação e saúde o são ?"e o governo Temer assegura que sim?", haverá meios de demonstrá-lo a partir dos procedimentos estabelecidos pela PEC e do manejo orçamentário.

Há experiências análogas e bem-sucedidas em países que adotaram o mesmo caminho, como Austrália e Peru, que, a partir de um retorno à aritmética elementar, em que dois mais dois serão sempre quatro, conseguiram recuperar suas economias.

Essa PEC não esgota o universo de providências necessárias ao rearranjo da economia nacional. Mas é o primeiro e indispensável passo.

A natureza meramente predadora dos protestos oposicionistas se revelou no comportamento que o PT e seus satélites (PSOL, Rede, PCdoB) adotaram nesta semana ao obstruir a votação de duas propostas que injetaram R$ 1,1 bilhão para a educação, sendo mais de R$ 700 milhões para o Fies, medida que beneficiará 2 milhões de estudantes. A mesma esquerda que acusa a PEC 241 de retirar verbas da educação.

Como explicar essa contradição? Simples: não se explica. Apenas reconstitui o padrão histórico do PT, que investe no caos para dele emergir como força redentora. Só que o povo, escaldado pela crise e pelos escândalos, não cai mais nessa retórica golpista.
Herculano
22/10/2016 07:50
DELATOR DETALHA COMO E ONDE RENAN RECEBIA PROPINA DO PETROLÃO

Conteúdo da revista Veja, que já está nas bancas. Texto de Thiago Bronzatto. O encontro era quase sempre marcado em um hotel discreto no Rio de Janeiro. Uma funcionária do Senado aparecia no horário combinado, identificava-se por meio de uma senha previamente acertada e recebia a coisa - às vezes em envelopes, às vezes em bolsas, quase sempre em malas cheias, conforme o valor da propina acertado para o dia. Valores que variavam de 250 000 a 1 milhão de reais. Era assim, sem nenhuma sofisticação, que parte do dinheiro desviado da Petrobras chegava às mãos do senador Renan Calheiros, presidente do Congresso. Transações que somaram milhões de reais se repetiram por mais de uma década sem que ninguém suspeitasse, financiaram campanhas políticas do PMDB e, agora, fornecem pistas sobre a origem da fortuna acumulada pelo presidente do Congresso.

São esses detalhes, contados por um dos delatores da Lava-Jato em depoimentos sigilosos prestados à Procuradoria-Geral da República, que podem levar Renan a percorrer uma trilha semelhante à de Eduardo Cunha.
Herculano
22/10/2016 07:43
O ESPÍRITO PÚBLICO DO SENADO, por Leandro Colon, para o jornal Folha de S. Paulo

A prisão de policiais legislativos acusados de proteger senadores da Lava Jato não surpreende quem viu de perto escândalos passados no Senado.

Apesar de reveses de alguns anos para cá, um grupo de servidores continua mandando e desmandando.

É a mesma ala que atuou lá atrás na edição dos atos secretos, na criação de 30 diretorias e no pagamento de hora extra a fantasmas.

Por exemplo, o Senado acaba de torrar R$ 120 mil para imprimir dois luxuosos livros sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Ao menos 33 pessoas editaram o material.

É tudo de primeira, do papel couchê à capa dura. Um livro tem 348 páginas e reproduz a sessão que afastou Dilma do cargo no dia 12 de maio. Ao todo, 1.000 edições foram impressas ao custo de R$ 34 mil.

Com 664 páginas, o segundo, sob o título "Impeachment", traz a íntegra do julgamento de sete dias da petista, realizado em agosto.

Para este, foram produzidos 1.500 exemplares por R$ 86,3 mil. Os livros foram distribuídos a autoridades, senadores, bibliotecas e dezenas de jornalistas.

Recebi um exemplar do "Impeachment", acompanhado de bilhete assinado pelo presidente Renan Calheiros. Outros sete livros iguais foram enviados à Folha em Brasília.

Diz Renan na introdução que a publicação representa "ampliação da transparência e o aumento do controle público". Transparência desnecessária porque qualquer um pode ler as íntegras das sessões de agosto e de maio no site do Senado. Além disso, os dois livros estão abertos na internet.

A assessoria de imprensa do Senado diz que não houve pagamento a terceiros - como se esse fosse o problema. Nenhum dos 81 senadores pode reclamar, afinal todos saíram muito bem na foto da contracapa do livro "Impeachment".

E a obra sobre a sessão de maio tem um capítulo à parte, imperdível: "Renan Calheiros, Serenidade e Espírito Público".
Herculano
22/10/2016 07:24
MORO E A MOROSIDADE DA JUSTIÇA, por Vlady Oliver

Fosse eu governo, daria um pouco mais de atenção aos indicadores econômicos do trimestre em que Michel Temer assumiu o comando do navio. Eles mostram claramente que a sociedade ainda está muito refratária ao tal "clima" de melhorias anunciadas pelo governo, como reduções de tarifas que não chegam ao consumidor ou alívios que não aliviam nada. Apesar da sinalização quase despercebida de que demos um cavalo-de-pau na rota de colisão em que nos encontrávamos, não parece que a economia tupi-guaraná tenha finalmente saído do atoleiro em que se encontra já há tanto tempo. A meu ver, a razão é simples. Não basta sinalizar o caminho; é necessário começar a percorrê-lo.

Não duvido que haja em setores do governo - e também da sociedade ?"? gente que acha que um bom final para essa novelinha bolivariana é que a Famiglia Lula vá se exilar na terra dos cassinos e nos deixe em paz, para trabalharmos feito burros de carga para o próximo bando de ladrões que se apresentar na cédula eleitoral em 2018. Não faltam gangues no horizonte formado por 35 partidos de plástico que ostentamos por aqui, todos prontos para dar forma e substância para mais um golpe da esquerda marreta e seus comensais do erário, todos ávidos por voltarem a "uma boquinha pública e uma bandeirinha enfiada na cueca" que tanto os delicia na vida.

Nessa toada, o governo será governo se enfrentar esses escombros do socialismo pilantra e suas raízes na coisa pública. A sociedade vem deixando isso bem claro ao surrar o candidato mineiro e consagrar o paulista na campanha municipal onde os tucanos têm poleiros. Estamos todos fartos de sustentar picaretas. O sinal de que precisamos para saber que este país ainda tem justiça, leis e hierarquias que vale a pena defender é o fim da morosidade generalizada com que os entes públicos atacam o problema. Mirem-se no exemplo do juiz Sergio Moro, meus caros. Mirem-se no exemplo do próprio Temer. Há uma montanha de escombros à frente. Vamos arregaçar as mangas e fazer valer o carguinho público em que cada um está sentado?
Herculano
22/10/2016 07:20
POLÍCIA DA CÂMARA TAMBÉM TENTOU COMPRAR MALETAS ANTIGRAMPOS, PEÇA CENTRAL DA OPERAÇÃO NO SENADO, por Natuza Nery, na coluna Pianel, do jornal Folha de S.Paulo

Inspetor Bugiganga
Peça central de um sistema de contrainteligência que levou quatro policiais do Senado à prisão nesta sexta-feira (21), as maletas antigrampo também despertaram o interesse de agentes da Câmara. A Polícia Legislativa da Casa chegou a pedir à primeira-secretaria, em 2015, a compra de equipamentos semelhantes, sob o argumento de que a coirmã do tapete azul havia adquirido os materiais "ultramodernos". O pleito dos agentes, no entanto, acabou barrado pelos dirigentes.

Ação e reação
A operação no Senado foi vista entre peemedebistas como uma resposta de Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal às novas movimentações do presidente da Casa, Renan Calheiros, e aliados para desengavetar o projeto sobre abuso de autoridade.

Tantas emoções
Primeiro-secretário do Senado na época da aquisição das maletas de R$ 400 mil, Flexa Ribeiro (PSDB-AM) disse não se lembrar da compra. "Passa tanta coisa por aqui. Deve ter sido algum pedido da área de segurança", desconversou.

Linha direta
Ao levantar o processo da compra das maletas, de janeiro de 2015, o senador tucano afirmou que apenas ratificou solicitação da diretoria-geral do Senado, com base no regulamento que define as atribuições da Polícia Legislativa.
Herculano
22/10/2016 07:13
"DEIXA EU RESPONDER EM LIBERDADE", PEDE DIRCEU, por Josias de Souza

Em novo depoimento ao juiz Sérgio Moro, nesta sexta-feira (21), o grão-petista José Dirceu pediu para sair da cadeia: "Deixa eu responder em liberdade". Disse que precisa "tocar a vida". Invocou razões familiares: ''Eu preciso sair para trabalhar, para sustentar minha filha que tem seis anos de idade." O pedido de liberdade foi feito no final da audiência.

Dirceu já foi condenado por Moro a 23 anos de cadeia. E ainda responde a duas ações penais em Curitiba. Acha, porém, que tem "direito" à liberdade, já que ainda não foi condenado na segunda instância do Judiciário. "Não é crível que alguém acredite que eu vou fugir, que eu vou obstruir a Justiça, na situação que eu estou."

O juiz da Lava Jato não se deu por achado. Moro recordou a Dirceu que já deliberou sobre a matéria. Lembrou também ao depoente que ele recebeu propina no escândalo do petrolão quando ainda estava sendo julgado no processo do mensalão. Ao final, aconselhou Dirceu a se valer dos seus "bons advogados" para pleitear a liberdade nos tribunais.
Herculano
22/10/2016 07:01
ENCONTRAR O LIMITE ENTRE VIGOR E ARBITRARIEDADE, por André Singer, ex-assessor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no jornal Folha de S. Paulo

A prisão do ex-deputado Eduardo Cunha coloca problema difícil para a opinião pública brasileira. Por constituir personagem politicamente nefasto, cujas reiteradas atitudes de escárnio conseguiram a proeza de unificar centro, esquerda e direita contra si, há comemoração pela medida decretada pelo juiz Sergio Moro.

De outra parte, o momento em que ela ocorre exige reflexão crítica, sob pena de coonestar o que parece uma escalada autoritária, ainda que sob o disfarce de rigor legal. O farol amarelo foi ligado quando Moro prendeu e soltou o ex-ministro Guido Mantega no espaço de algumas horas um mês atrás. Embora diversos precedentes tenham ocorrido, o episódio do ex-titular da Fazenda, pelo que teve de evidentemente arbitrário, despertou uma consciência mais ampla a respeito do risco que correm os direitos civis fundamentais no país.

Não obstante, Moro duplicou a aposta, mandando prender outro ex-ministro da Fazenda do PT, Antonio Palocci, poucos dias antes da eleição municipal. Talvez o histórico de problemas com os quais Palocci se envolveu no passado explique o silêncio que se seguiu à sua detenção.

Mas persistiu a percepção de que há autoritarismo em Curitiba. Cito, a propósito, o editorial da última edição de "Veja". Insuspeita de proteger Lula, como certamente se dirá da presente coluna, a revista mostra que Moro gostaria de voltar a uma época em que determinado ponto de vista só podia ser publicado após passar por censura prévia.

Para relembrar: em 11/10, o físico Rogério Cerqueira Leite publicou na Folha o artigo "Desvendando Moro", com uma visão negativa do juiz. No dia seguinte, o magistrado afirmava que a publicação de opiniões como a do conhecido professor "deveriam ser evitadas". Reparem: ele não queria o direito de discutir a análise do cientista, mas sim alertar o jornal para não voltar a editar manifestações como aquela.

Ao decretar a prisão preventiva de Cunha, Moro, cujo timing de ações é pautado, entre outros motivos, pela política e pela relação com a mídia, voltou a ganhar apoio que periclitava. O editorial da Folha a respeito evitou entrar na discussão sobre se havia necessidade técnica de prender o ex-presidente da Câmara. Já "O Globo" apoiou abertamente a decisão.

Moro sabe o que está em jogo. Afirma que "ninguém está propondo uma espécie de solução autoritária", mas sim uma "aplicação vigorosa da lei", devido ao quadro de "corrupção sistêmica" existente no Brasil. Encontrar o limite que separa arbitrariedade de aplicação vigorosa da lei é decisivo para manter o Estado de Direito. Oxalá a opinião pública consiga fazê-lo e, assim, preservar a liberdade que custou tanto construir.
Herculano
22/10/2016 06:53
CUNHA PODE SER CONDENADO A 160 ANOS DE PRISÃO, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou hoje nos jornais brasileiros

Juntando todos os processos em que é acusado, Eduardo Cunha está sujeito à sentença recorde de 160 anos de cadeia. Se depender do desejo da força-tarefa da Lava Jato, será a maior condenação da História, no Brasil, de um político suspeito de crimes de corrupção. Cunha não tem alternativa senão tentar um acordo de delação premiada, para reduzir o tempo de cárcere. Ou vai mofar na cadeia.

PRIMEIRO PROCESSO
Cunha havia sido denunciado pelo Ministério Público em agosto por ter recebido US$ 5 milhões por contratos de navios-sonda da Petrobras.

QUE MARAVILHA
Um dos inquéritos contra Cunha acusa o ex-deputado de ter recebido R$ 52 milhões em propina por obras do Porto Maravilha, no Rio.

DE PROCESSO, SABE
Na Câmara, o processo de cassação de Eduardo Cunha durou onze meses. Foi o mais longo da História.

PIONEIRISMO
Cunha foi o primeiro parlamentar a virar réu na Lava Jato, em março deste ano. Responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

"POLICIAIS LEGISLATIVOS" GANHAM O DOBRO DA PF
Ao contrário de quando eram tratados por "seguranças", denominação adequada ao trabalho que realizam, os atuais "policiais legislativos" do Congresso têm pose e salários de fazer inveja a qualquer policial federal que os investiga na Operação Métis, deflagrada ontem. Os "policiais legislativos" têm nível médio e remuneração inicial de R$ 16.014,16, o dobro do salário inicial de agente da PF, de R$ 8.702,00, de quem se exige nível superior para participar de concurso público.

PRIVILÉGIOS
Os salários iniciais de policiais legislativos alcançam R$ 19.173,75 na classe especial, sem contar os muitos penduricalhos e vantagens.

OLHA QUEM MANDA
São hierarquicamente superiores ao diretor da Polícia Legislativa o diretor-geral do Senado ou da Câmara, e os respectivos presidentes.

DECISÃO
Se o diretor da Polícia Legislativa agiu por conta própria, ordenando varreduras nas residências de senadores, ele está mesmo no sal.

OBJETIVO É A DELAÇÃO
A esperança de procuradores é que, sujeitos a penas de até 14 anos de prisão, os "policiais legislativos" do Senado contem, em delação premiada, quem ordenou a suposta tentativa de obstruir a investigação.

NO MESMO BALAIO
Estão sujeitos à mesma pena dos investigados por organização criminosa, segundo o Ministério Público Federal no DF, os quatro "policiais" do Senado presos nesta sexta-feira.

ACERTO DE CONTAS
A versão mais difundida nos bastidores do Senado é que a Operação Métis, de ontem, seria um "acerto de contas" em razão das dificuldades que "policiais legislativos" sempre criam à atuação da Polícia Federal.

OBJETIVO É O CRIME
O MPF explicou que não é crime fazer varredura à procura de grampos e microfones, mas usar equipamentos e pessoal do Senado, sim. Ainda mais, como acreditam procuradores, para "embaraçar a investigação".

FALAVA MUITO
Nos três últimos meses antes de ser afastado do mandato, Eduardo Cunha gastou, sem piedade, R$38,6 mil em ligações de seus telefones. Mas a conta quem pagou foi o contribuinte.

É S?" TORCIDA
A oposição aposta em delação premiada de Eduardo Cunha porque sonha com denúncias que fragilizem o presidente Michel Temer. Mas o Palácio do Planalto garante que não há esse risco.

CARTILHA DO MEIRELLES
O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) oferece jantar, nesta semana, para o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) explicar aos senadores do seu partido a necessidade de limitar os gastos públicos.

MUDANÇA DE RUMO
O deputado Efraim Filho (DEM-PB) acredita que a economia caminha para mudança de rumo. "Estamos convencidos de que as medidas econômicas do (Henrique) Meirelles são o melhor para o Brasil", diz.

PENSANDO BEM...
...se um grupo de forró comportado conseguiu sonegar meio milhão de reais, imaginem um safadão.
Herculano
22/10/2016 06:47
PROFISSÃO CORRUPTO, por Helio Schwartsman, para o jornal Folha de S. Paulo

Quando você pergunta a uma criança o que ela quer ser quando crescer, dificilmente ouve um "corrupto" como resposta. Não obstante, a corrupção está aí e é invariavelmente praticada por pessoas que já foram crianças que acalentavam outros sonhos profissionais. Como alguém se torna corrupto?

Acaba de sair na "Nature Neuroscience" um artigo de Neil Garrett, Stephanie Lazzaro, Dan Ariely e Tali Sharot que oferece um modelo para compreender essa trajetória. O interessante desse trabalho é que ele mistura um experimento psicológico com técnicas de imagem, o que permite não só levantar evidências empíricas mas também arriscar um mecanismo biológico para explicá-las.

No experimento, a cobaia deveria fazer uma estimativa sobre a quantidade de dinheiro contida num jarro. Tinha a oportunidade de ser desonesto beneficiando a si próprio e prejudicando a um parceiro, beneficiando a si próprio e ao parceiro, beneficiando ao parceiro e prejudicando a si próprio e beneficiando a si próprio sem prejudicar ao parceiro.

O que os pesquisadores constataram é que a desonestidade aumentava com a repetição dos exercícios, o que é compatível com a famosa teoria das janelas quebradas, segundo a qual pequenas transgressões degeneram em crimes mais graves. Igualmente interessante, isso só ocorria quando o participante se beneficiava pessoalmente do ato de desonestidade. Quando ele "roubava" para outros, a escalada não acontecia.

Como uma parte das cobaias realizou o experimento numa máquina de ressonância magnética funcional, deu para ver que a amígdala, uma estrutura do cérebro ligada a emoções negativas, incluindo a repulsa moral, estava envolvida no processo. Ao que parece, ela reage com menos intensidade a cada repetição do ato desonesto. Literalmente, o corrupto vai se acostumando com essa condição, até que já não a sinta mais como algo condenável. E aí, liberou geral.
Herculano
21/10/2016 18:52
MEDO EM BRASÍLIA É QUE EDUARDO CUNHA CUMPRA AMEAÇA DE "DERRUBAR DOIS PRESIDENTE", por Maurício Lima, de Veja

A prisão de Eduardo Cunha esta semana causou uma escalada de tensão em Brasília. E o pânico alastrado entre políticos tem sua razão de ser. Em frase dita por Eduardo Cunha e publicada no Radar em julho, ele afirmou: "Ficarei conhecido por derrubar dois presidentes do Brasil". Embora sua defesa negue, existe uma possibilidade muito grande de que o ex-deputado faça uma delação premiada.
Herculano
21/10/2016 18:49
A LAVA JATO É A FIADORA DA ESTABILIDADE, por Mario Sabino, de O Antagonista

Um dia depois da prisão de Eduardo Cunha, o presidente Michel Temer deu uma declaração sobre o assunto, por meio do seu porta-voz.

Disse o porta-voz: "A agenda política, de recuperação e reconstrução do Brasil, não se confunde com investigações levadas adiante pela Justiça. Na Operação Lava-Jato, relacionada à Justiça, o Executivo jamais interferirá em suas decisões."

Michel Temer, que estava no Japão, antecipou a sua volta ao Brasil por causa da prisão de Eduardo Cunha, prova maior de que a agenda política confunde-se, sim, com a Lava Jato. Aliás, a Lava Jato é A agenda política do Brasil. O futuro de PMDB, PT, PP e PSDB, assim como o de próceres seus, depende do que virá das delações e investigações em andamento.

Ou seja, a nota não traduz a verdade. E ao misturar na mesma frase "recuperação e reconstrução do Brasil" com Lava Jato, para implicitamente colocar-se como fiador da estabilidade, Michel Temer deixou os medrosos do mercado ainda mais sobressaltados. Resultado: lá está a Standard & Poor's soltando gritinhos como um porquinho assustado com o Lobo Mau. Quem confundiu tudo foi o presidente.

Os medrosos do mercado precisam entender que, neste momento, nenhum político pode afirmar que é fiador de nada. E que, se há chance de o Brasil sair do atoleiro, é porque existe Lava Jato. Com o apoio dos cidadãos de bem, ela está derrubando um a um os maiores corruptos da nossa história ?" fator essencial para que o capitalismo de verdade substitua as espúrias relações de compadrio que infeccionam a nossa economia. Como já escrevemos no site, se Michel Temer tiver de cair, ele cairá, porque se tornou incompatível com um país que nutre a esperança de adentrar a modernidade.

A nota presidencial apenas deveria ter dito que "Na Operação Lava Jato, o Executivo jamais interferirá em suas decisões".

A Lava Jato é a fiadora da estabilidade.
Herculano
21/10/2016 14:25
PT DEIXOU DE APLICAR 136 BILHÕES DE REAIS NA SAÚDE, APONTA VICE-LÍDER DO PSDB, por Severino Motta ? -

O vice-líder do PSDB na Câmara Betinho Gomes tem andando pela Casa com uma planilha do Siafi nas mãos.

Nela, ele compara o volume de recursos autorizados pelo Congresso para serem aplicados na Saúde e o que efetivamente foi pago pelo governo Federal entre 2003 e 2015.

De acordo com os cálculos, o Congresso autorizou via dotação orçamentária a aplicação de 1,225 trilhão de reais no período.

Do montante, o governo do PT deixou de pagar 136,6 bilhões de reais.

Os números estão sendo usados na disputa da PEC do teto de gastos.
Sujiro Fuji
21/10/2016 12:49
"RENAN CALHEIROS, PMDB-AL, MANOBRA, TANTO QUANTO EDUARDO CUNHA PMDB-RJ. E ESTÁ SENDO POUPADO.ATÉ QUANDO?"

Ele será o próximo!
Herculano
21/10/2016 12:04
RENAN CALHEIROS, PMDB-AL, MANOBRA, TANTO QUANTO EDUARDO CUNHA PMDB-RJ. E ESTÁ SENDO POUPADO.ATÉ QUANDO?
Herculano
21/10/2016 12:02
OPERAÇÃO NO SENADO EXPÕE LADO OBSCURO DA POLÍCIA LEGISLATIVA

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto de Leandro Colon, diretor da sucursal de Brasília. A Polícia Federal não prendeu nesta sexta-feira (21) um policial legislativo qualquer. Prendeu o diretor do órgão no Senado, Pedro Carvalho, homem de extrema confiança do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Carvalho é também muito próximo do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Nos bastidores, é apontado como uma espécie de "pau-mandado" dos senadores.

Um servidor com extremos poderes, designado para agir sempre a favor dos parlamentares e do Senado em qualquer circunstância, mesmo que, para tanto, tenha que atrapalhar investigações externas.

Não é nova a suspeita de atuação de policiais legislativos para obstruir trabalho da Polícia Federal. Em 2006, a Polícia do Senado foi acusada de sabotar a Operação Mão-de-Obra, que desbaratou uma quadrilha que fraudava contratos milionários de terceirização no Senado.

Na época, o Ministério Público Federal protestou contra uma possível intervenção do Senado para retirar documentos na madrugada de 15 de julho daquele ano e, depois, esconder as câmeras de vigilância. Na ocasião, o presidente também era Renan Calheiros.

A "operação abafa" teria sido comandada pelo mesmo Pedro Carvalho, já diretor à época, e pelo então diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, este um dos alvos daquela ação. As gravações do circuito interno jamais apareceram.

A operação deflagrada nesta sexta, que levou à prisão de Carvalho e de outros três policiais, parece ser tão ou muito mais grave do que o episódio de dez anos atrás.

Segundo a PF, sob ordens do diretor da polícia, um grupo atuou para "criar embaraços" à investigação contra senadores e ex-senadores. "Utilizando-se de equipamentos de inteligência", diz nota da instituição.

A prisão de Carvalho representa um duro golpe para Renan e seus aliados dentro do Senado e ao mesmo tempo pode expor e, quem sabe, mudar de vez um lado obscuro da história da Casa.
Herculano
21/10/2016 11:35
O BRASIL PODRE SUSTENTADO POR POLÍTICOS COM PRÁTICAS CRIMINOSAS REITERADAS. MANCHETE DESTA MANHÃ: POLÍCIA FEDERAL PRENDE QUATRO POLICIAIS DO SENADO ACUSADOS DE ATRAPALHAR A LAVA JATO

Conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo. Texto do portal Uol. A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira (21) quatro policiais legislativos do Senado suspeitos de atrapalhar investigações da Operação Lava Jato. Segundo as investigações, eles são suspeitos de localizar e destruir escutas telefônicas autorizadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na casa de senadores.

O chefe da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, é um dos presos. Os demais são: Geraldo Cesar de Deus Oliveira, Everton Taborda e Antonio Tavares. A ação, que conta com o apoio do Ministério Público Federal, foi pedida pela Procuradoria-Geral da República.

Estão sendo cumpridos nove mandados judiciais, todos em Brasília, sendo quatro de prisão temporária e cinco de busca e apreensão, um deles nas dependências da Polícia do Senado. Os mandados foram expedidos pela 10º Vara Federal do Distrito Federal.

A Justiça Federal determinou ainda a suspensão do exercício da função pública dos policiais do Senado envolvidos. A Polícia Federal esclareceu que não está cumprindo mandados em residências ou gabinetes de parlamentares.

Segundo o MPF-DF (Ministério Público Federal do Distrito Federal), as irregularidades são apuradas em um inquérito policial instaurado a partir de informações reveladas na delação premiada de um policial legislativo.

"O agente afirmou aos investigadores que, em quatro ocasiões, servidores públicos - utilizando equipamentos do Senado - fizeram varreduras em imóveis particulares e funcionais ligados a três senadores e um ex-parlamentar investigados na Operação Lava Jato", diz nota.

O MPF não informa que seriam os senadores, mas diz que "em pelo menos duas ocasiões, os agentes públicos se deslocaram até a cidade de São Luís e Curitiba para executar as tarefas [localizar e destruir as escutas]".

Atualmente, os três senadores do Estado do Maranhão são Edison Lobão (PMDB), João Alberto Souza (PMDB) e Pinto Itamaraty (PSDB). Já os do Paraná são Alvaro Dias (PV), Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB). Deles, Lobão e Gleisi são investigados nos inquéritos da Lava Jato. No entanto, nem a PF nem o MPF confirmam a identidade dos senadores que teriam sido beneficiados pela ação dos policiais.

Segundo a PF, em pelo menos um dos casos, a ordem para a atividade ilegal partiu de Carvalho.

Ao pedir a prisão, o MPF afirma que a realização de varreduras em ambientes, por si só, não constitui crime. "No entanto, duas especificidades deste caso tornam a prática ilegal: o fato de endereços que passaram pela vistoria estarem vinculados a pessoas investigadas no âmbito do Supremo Tribunal Federal (pela prerrogativa de foro) e a utilização de recursos públicos na empreitada".

O pedido diz que "a deliberada utilização de um equipamento sofisticado, de propriedade do Senado Federal, utilizando recursos públicos, passagens aéreas custeadas pelo erário e servidores concursados, em escritórios ou residências particulares, não possui outro objetivo senão o de embaraçar a investigação de infração penal que envolve organização criminosa".

Os investigados responderão por associação criminosa armada, corrupção privilegiada e embaraço à investigação de infração penal que envolva organização criminosa. Somadas, as penas podem chegar a 14 anos e seis meses de prisão, além de multa.

Por volta das 11h, agentes da PF deixaram o prédio do Congresso com algumas maletas, que foram colocadas em um veículo utilitário. Os agentes não falaram com os jornalistas.

A operação foi batizada de Métis, uma referência à deusa da proteção, com a capacidade de antever acontecimentos.
Miguel José Teixeira
21/10/2016 09:44
Senhores,

A esquerda é muito maior que o PT

Não só no Brasil, mas em todo o mundo democrático, vivemos um momento de ebulição no campo das forças de esquerda, com uma profunda discussão em torno do papel dos partidos que compõem esse espectro ideológico e os seus desafios nos dias de hoje. No caso brasileiro, é evidente que o retumbante fracasso moral dos governos de Lula e Dilma Rousseff gerou um forte impacto sobre os grupos mais progressistas, como se a esquerda se resumisse ao PT e seus aliados. Trata-se, evidentemente, de uma tese falaciosa e desprovida de qualquer sentido.

O desastre lulopetista, que chegou ao fim por meio do impeachment da ex-presidente da República, deixou marcas indeléveis no PT, no país e nas esquerdas ?" associadas, indistintamente, ao desmantelo e à corrupção que afundaram o Brasil. O que temos acompanhado, com tristeza e preocupação, é um sentimento crescente de repulsa em relação aos políticos e partidos que possuem uma visão mais igualitária, humanista e voltada ao social, enquanto, por outro lado, se fortalecem discursos de ódio, intolerância, preconceito ou de conteúdo xenófobo e até mesmo fascista em determinados momentos, frutos de um reacionarismo cada vez mais exacerbado.

Uma das consequências desse fenômeno é o retorno de um anticomunismo anacrônico e descabido, como se ainda fizesse sentido se manifestar contra algo que é página virada na história. Basta conhecer minimamente a política brasileira para constatar, sem muito esforço, que o PT não é e nunca foi comunista. As raríssimas experiências comunistas que ainda se mantêm em pé, entre as quais Cuba e Coreia do Norte, não significam nada de relevante nem oferecem qualquer perspectiva de futuro ?" o regime norte-coreano, comandado por um bizarro ditador, se assemelha a uma dinastia imperial. Há também a China, que mantém um sistema político ditatorial, mas há muito tempo abriu sua economia para o capitalismo.

Do início ao fim, os governos de Lula e Dilma sempre estiveram afinados com os interesses da banca financeira, que nunca obteve lucros tão fabulosos quanto no período lulopetista. Nos últimos 13 anos, a educação e a saúde continuaram sofrendo com um declínio de qualidade vergonhoso. As famílias brasileiras se endividaram em decorrência do incentivo desenfreado ao consumo. Como resultado de tamanha irresponsabilidade e de uma série de equívocos cometidos na política econômica, o Brasil amarga uma recessão de proporções nunca antes vistas em nossa história, com mais de 12 milhões de desempregados. Como se tudo isso não bastasse, a tão prometida reforma agrária não saiu do papel e o déficit habitacional só se agravou. É a população mais pobre, fundamentalmente, quem mais sofre com o descalabro produzido pelo PT ?" cuja cartilha seguida enquanto governo nada teve a ver com uma política minimamente de esquerda.

É importante entender que o campo ideológico progressista no Brasil, formado por um amplo leque de partidos com visões de mundo distintas, não se restringe ao próprio PT. Isso ficou evidenciado no processo de impeachment de Dilma, em que as legendas que representam a esquerda democrática brasileira ?" o Partido Popular Socialista (PPS), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Verde (PV) ?" votaram unidas pelo afastamento da então presidente.

A esquerda mais avançada, conectada ao século XXI e ao mundo do futuro, defende, neste exato momento, o ajuste econômico e a responsabilidade fiscal propostos pelo governo de Michel Temer para tirar o Brasil do buraco. Apoiar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, que busca racionalizar os gastos públicos, não é uma bandeira empunhada por esquerda ou direita ?" mas por todos os que temos compromisso com um país mais justo, sustentável e digno para os seus cidadãos. E esse é apenas um dos exemplos que evidenciam a diferença entre uma esquerda autoritária, arcaica e dogmática e aquela mais democrática, dinâmica e plural.

Essa esquerda tem história, dignidade, honradez e jamais se enxovalhou com a corrupção desenfreada de mensalões ou petrolões. Essa esquerda oferece ao país não um projeto de poder, mas um projeto de desenvolvimento para todos os brasileiros.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Mário Wilson da Cruz Mesquita
21/10/2016 09:43
GASPAR MERECE SABER A VERDADE ...

Bom dia Herculano. Sem sobra de dúvidas, a população gasparense merece saber da verdade. Certamente saberá pela própria instrução da Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa que está tramitando no Fórum local. Tratam-se dos autos 0900095-62.2015.8.24.0025 em que os vários acusados vão ter de explicar muita coisa "podre" e o segredo do lixo que virou luxo para alguns.
Não há milagre, não existem inocentes nesse negócio. A verdade real aparecerá com a delação premiada de algum desses ao Ministério Público.

Você está coberto de razão ao dizer: "(...) a história dos bastidores político administrativo de Gaspar poderia ser reescrita."

Também estou olhando a maré e aguardando a ser convidado a explicar o que eu e o Dr. Danilo Visconti já dissemos a Autoridade Policial, ao Ministério Público, ao Juízo de Direito e a própria Casa de Lei quando prestamos informações na CPI do Cemitério. Não há segredo de Justiça.
Toda a verdade está lá, depoimentos, documentos e gravações.

Alguns que se achavam estrelas, vislumbrados pela própria estrela maior, sofrerão com a tempestade que se aproxima. Tempos piores virão ...
Cada um colhe o que semeia, diz o ditado!
Herculano
21/10/2016 08:55
DESCAMBOU

A campanha eleitoral em Blumenau vinha até bem comportada, e se comparada com a de Gaspar.

Do nada, neste final de segundo turno, ela descambou. Quem ouve rádio, que assiste teve, que olha os portais e acessa a Justiça Eleitoral, já percebeu.

Normalmente, quem usa da agressão está atrás. Como lá não há pesquisa pública divulgada, fica a dúvida.
Herculano
21/10/2016 08:50
ERREI

Na coluna de hoje mencionei que o vereador José Hilário Melato é do PSD. Errei feio. Traído por pelos pensamentos. Todos sabem - inclusive eu - que ele sempre foi do PP e os partidos que o antecederam.
Herculano
21/10/2016 07:04
A esquerda do atraso no Brasil feita na burocracia diretiva de gente sabida e instruída, é contra a religião no governo. Está certa. Mas, quando em campanha, e foi ao poder com o PT, aceitou a igreja católica pela CNBB e a instrumentalização dos grotões via as pastorais. Depois fez pacto com as evangélicas. Como agora, perde a mão da evangélicas, que não tem limites para o poder, se diz contra a teologia no governo.

A VOLTA DO PODER TEOLOGICO-POLÍTICO NÃO É RISCO APENAS EM PAÍSES MULÇUMANOS, por Vladimir Saflate, professor de filosofia na USP, no jornal Folha de S. Paulo

A consolidação de um poder teológico-político a comandar o Estado não é algo que seja um risco apenas em certos países muçulmanos ou na Polônia.

Ele é um fato cada vez mais evidente no Brasil com seus pastores-deputados aliados de saudosos da ditadura militar. Tal consolidação do poder teológico-político alcançará um grau inaudito caso o pastor Marcelo Crivella seja eleito prefeito da segunda maior cidade do país.

Crivella tentou se vender como um político "normal", mesmo relatando lei que obriga bibliotecas a terem uma Bíblia e pune funcionários que desrespeitem tal privilégio (por que não obrigá-las a terem também um Corão, a "Ilíada" ou o "Tratado Teológico-Político", de Spinoza?).

No entanto, ele é, na verdade, o principal representante político de um megaempreendimento religioso chamado Igreja Universal do Reino de Deus, comandado por seu tio, o arquiconhecido Edir Macedo. Sua eleição significa que a cidade mais emblemática do Brasil será governada pela Igreja Universal.

Alguém poderia perguntar qual o problema com o fato de um igreja governar o Rio de Janeiro. Afinal, Genebra foi governada por Calvino. Mas a Universal tem suas peculiaridades. Seu líder, cuja fortuna foi estimada pela revista "Forbes", em 2013, em R$ 2 bilhões, foi preso nos anos 1990 por charlatanismo, estelionato e curandeirismo.

Marcelo Cipis/Marcelo Cipis/Editoria de Arte/Folhapress
Ilustração de Marcelo Cipis


Posteriormente, foi denunciado várias vezes pelo Ministério Público por crimes que vão de importação fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Crivella é o representante maior dessa associação com condutas, no mínimo, passíveis de questionamento judicial.

Mas não é só a obscuridade ética que ronda a Igreja Universal. Detentora de redes de televisão e emissoras de rádio, a igreja se consolidou, sob os governos Lula e Dilma, como um poder político terreno incontornável. Um poder que procura cada vez mais impor sua agenda ao país e que nada tem a ver com a ideia de uma república laica, plural e radicalmente tolerante.

Os trechos de livros de Crivella, nos quais outras religiões são tratadas como "demoníacas" e os homossexuais são definidos como portadores de "conduta maligna", podem ser vistos não como opiniões de um "jovem" que "amadureceu", mas como o núcleo duro de crenças alimentadas por sua igreja, momentaneamente caladas em situação eleitoral e que voltarão à tona quando esta se sentir mais forte.

Por outro lado, mesmo crescendo sob as hostes do lulismo, mesmo sendo ministro da Pesca de Dilma, Crivella resolveu ultimamente abraçar o neoliberalismo e defender o Estado mínimo. Ele gosta de perguntar a seu oponente, Marcelo Freixo, de onde sairá o dinheiro para que o adversário implemente seus programas de justiça social e defesa de serviços públicos.

Bem, valeria a pena lembrar ao pastor que certamente a Prefeitura do Rio de Janeiro teria muito mais dinheiro para ações de justiça social se sua igreja fizesse como eu e você e simplesmente pagasse IPTU.

Acho que eles tomaram um pouco ao pé da letra a afirmação de que a Igreja Universal não é terrena, mas celestial, e resolveram acreditar que uma instituição celestial não deve pagar impostos territoriais.

Entretanto, para alguns, é no mínimo cinismo o representante de uma instituição que tem tamanha benesse pública sair a público e defender cortes nos gastos, afetando diretamente educação e saúde.

Se a prefeitura não tem dinheiro é porque, entre outras razões, sua igreja com megaempreendimentos imobiliários não tem o mesmo tratamento a que eu e você somos submetidos.

Na verdade, esse desmonte final da capacidade de assistência do Estado brasileiro faz parte de um projeto claro de poder. Pois, assim, igrejas como a dele serão, ao final, as únicas responsáveis pela assistência social, criando uma relação perversa de dependência de populações carentes que se verão diante de um Estado cuja única função será deixar os ricos cada vez mais ricos.

PS: Há alguns dias, Alexandre Schwartsman resolveu desqualificar "opiniões" sobre a PEC 241, como a minha. Alguns acham que, por terem feito curso de economia, são os únicos que sabem fazer conta. De toda forma, suas colocações sobre os gastos com educação se esquecem que a comparação do Brasil com outros países da OCDE deve levar em conta a disparidade entre o tamanho dos desafios brasileiros e a situação já consolidada dos países da Europa e América do Norte.

Já a falácia de que a PEC não implicará limitação real dos gastos com educação e saúde é primária e será desmontada nos próximos anos.

Mas creio que sua maior preocupação não é com a educação nacional, mas sim com a garantia dos rendimentos de seus amigos banqueiros.
Herculano
21/10/2016 06:46
O FIM DA PICADA

EVANGÉLICOS PEDEM AJUDA DO GOVERNO PARA CONSEGUIR FINANCIAR CONSTRUÇÕES DE TEMPLOS, por Natuza Nery, da coluna Painel, para o jornal Folha de S. Paulo

Em nome da fé Líderes evangélicos pediram que o governo Temer faça a interlocução com bancos públicos e privados para que as igrejas consigam linhas de financiamento para a construção de templos. "Queremos ser tratadas como clientes comuns, sem preconceitos nem privilégios", diz o bispo Robson Rodovalho, presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil e fundador da Sara Nossa Terra. Hoje, diz, quando tentam pegar empréstimos, as instituições não aceitam.

Aqui se paga
A demanda de Rodovalho é que o governo ajude na articulação com os conselhos de administração dos bancos. "Ainda não se tem confiança na igreja como cliente. Apresentamos nosso patrimônio como garantia e não aceitam."

Confessionário
O bispo da Sara Nossa Terra, que tem cerca de 3 milhões de fiéis, discutiu o pleito com o presidente Michel Temer e com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), em julho, ainda durante o governo interino.
Herculano
21/10/2016 06:42
DEFESA DE CUNHA JÁ ANALISA HIPOTESE DE DELAÇÃO, por Josias de Souza

Em público, a defesa de Eduardo Cunha descarta a hipótese de delação. Em privado, um dos advogados que integram a equipe admitiu que o baralho de Cunha já inclui a carta da colaboração judicial. Abriu o jogo em conversa com um colega que atua noutro processo da Lava Jato.

O advogado que conversou com o defensor de Cunha ficou com a impressão de que o ex-deputado pode propor um acordo à força tarefa da Lava Jato mais cedo do que se imagina. Antes, deve recorrer contra a ordem de prisão expedida por Sergio Moro, para testar a higidez da peça.

Cunha incorporou ao seu time de defensores mais um especialista em delação: Marlus Arns de Oliveira. Que declarou o seguinte sobre delação: ''Esse assunto não foi discutido, não está em pauta.''

Cunha também dizia que jamais renunciaria à presidência da Câmara. Quase um ano depois de ser denunciado pela Procuradoria ao Supremo Tribunal Federal, ele mostrou que mentia. Renunciou à poltrona de presidente numa manobra tardia para salvar o mandato de deputado. Não colou. Cassado, caiu nas mãos de Sergio Moro.
Herculano
21/10/2016 06:40
A PARTIR DE CERTO PONTO, A DELAÇÃO VIRA O OUTRO NOME DA IMPUNIDADE, por Reinaldo Azevedo, para o jornal Folha de S. Paulo

É preciso estabelecer um marco temporal para as delações. Antes que comecemos a ser personagens secundários de um enredo surrealista, de final aberto, que está sendo escrito lá em Curitiba. Explico, claro!

Eduardo Cunha está preso, e há quem espere que opte pela delação premiada. Existe a mesma expectativa em relação a Antonio Palocci. O ex-deputado, especula-se, pode alvejar a cúpula do governo Temer e, quem sabe?, arranhar o próprio presidente. Se arrastá-lo para o olho do furacão, melhor. "Melhor para quem?" Os esquerdistas ainda não sabem, mas estão na fase da vingança moral, quando o desejo de retaliação fala mais alto do que qualquer apelo racional. No que respeita ao ex-ministro petista, a aposta é óbvia: se ele falar, e se a força-tarefa considerar satisfatório o que diz, então Lula se encontraria, finalmente, com o seu destino.

Mas esperem. Só por hipótese, vamos seguir nessa trilha. Digamos que Cunha se livre de uma pena pesada porque entrega uma penca de parlamentares, de ministros e o próprio presidente da República. Nada impede que estes também optem pela... delação premiada, ora bolas! A menos que se parta do pressuposto de que os alvos de Cunha, todos certamente menores e menos poderosos do que ele próprio, eram os chefes. Seria uma tolice. Ou alguém supõe que, mesmo na condição de vice-presidente da República e presidente do PMDB, Temer chegou a ser mais influente do que Cunha nesse estranho mundo? Ora...

E se Palocci entregar Lula e mais alguns companheiros? Poderá o próprio ex-presidente colaborar, então, com a investigação em nome da redução de uma eventual pena? E quem o chefão petista poderia delatar? Talvez o Azevedo... Aquele a quem encomendava esfirras quando estava no sítio de Atibaia.

Notem que a lógica da delação premiada, como está sendo aplicada por aqui, supõe existência de um "cérebro" a ser descoberto e denunciado, que seria a razão última das coisas. E não adianta o antipetista fanático gritar que esse centro irradiador é "Lula" porque, por óbvio, alguém como Cunha, por exemplo, não lhe devia vassalagem. E nem o próprio deputado cassado poderia ser o "cérebro" de sua turma, ou não faria sentido especular sobre sua delação premiada.

Ou se estabelece um marco temporal para as delações da Lava Jato, ou ainda veremos Sergio Moro e Deltan Dallagnol a convocar uma entrevista coletiva para anunciar, daqui a uns 50 anos (muitos de vocês verão, quero dizer, eu não!), a "causa não-causada" da corrupção no Brasil, o próprio capeta, o Mal Primitivo. Três das 10 medidas contra a corrupção já carregam certo sotaque de paladino e de cruzado, apelando a um furor de purificação que só os eleitos pela Divina Força sentem lhe queimar no peito.

Cunha delate, se achar melhor, quem bem entender. Quem ele pode denunciar acima de si mesmo em sua área de influência? Ou o modelo moralizador em curso lhe daria benefícios para que acusasse gente menor do que ele próprio? Mais: é razoável que decida agora, depois de tudo o que já sabe que os outros sabem, submeter a narrativa a torções que seriam obviamente de seu interesse?

A Lava Jato não tem de parar de investigar. Mas é evidente que o ciclo de benefícios para delatores tem de chegar ao fim. Concedê-los a Cunha já me parece essencialmente imoral. Se fez o que o MPF diz que fez, que pague. Ou a operação ainda acaba sendo o reino da impunidade dos graúdos.
Herculano
21/10/2016 06:34
LAVA JATO QUER CUNHA PRESO POR MUITO TEMPO, por Cláudio Humberto, na coluna que publicou nos jornais brasileiros

A força-tarefa não tem interesse em negociar acordo de delação premiada com Eduardo Cunha, segundo fontes ligadas à investigação, porque o ex-deputado é um dos "alvos finais" e principalmente porque representa um dos maiores "troféus" na caçada aos corruptos, iniciada há dois anos pela operação. A Lava Jato não vai colaborar para relaxar a prisão de Cunha. Ao contrário, quer garanti-la por muitos anos.

CHANCES REMOTAS
Cunha teria de entregar bem mais que políticos já encrencados, para emplacar delação: a mulher, a filha e amigos como Henrique Alves.

NÃO TEM PAPO
A Lava Jato não quer papo, nem acordo, com Cunha. Sua prisão foi muito festejada na força-tarefa, que espera sentenças rigorosas.

UM ESPECIALISTA
Se decidir mesmo negociar delação, Eduardo Cunha usará o advogado paranaense Marlus Heriberto Arns. É um especialista na matéria.

FALA, PALOCCI
Ao contrário de Cunha, Antonio Palocci tem chances de fechar acordo de delação, caso ajude com revelações sobre outro alvo final: Lula.

DROGAS INVADEM QUARTÉIS DAS FORÇAS ARMADAS
Levantamento do Superior Tribunal Militar (STM) mostra que os casos de uso, tráfico e porte de drogas nas Forças Armadas aumentaram 337,5% nos últimos 12 anos. Cerca de 95% dos flagrados são soldados e recrutas de 18 anos. Os principais envolvidos são cabos e soldados com até 21 anos, solteiros e com baixa escolaridade, que alegam em juízo ser "esporádico" o uso da droga e/ou se declararam viciados.

O CRACK AVANÇA
O tráfico de crack nos quartéis é maior que o de maconha, o que é ainda mais preocupante. Devastadora, o crack é a "droga sem volta".

NÚMERO CRESCENTE
Em uma sessão do STM, esta semana, metade das 16 ações julgadas era de uso e tráfico de drogas em quartéis das Forças Armadas.

STM NÃO PEGA LEVE
É rígida a jurisprudência do STM sobre drogas em quartéis. Nunca é aceito o princípio da insignificância, adotada em outros tribunais.

DEVOLVE, PT
Escorraçado nas urnas, o PT está entre as "entidades sem fins lucrativos" que mais levam dinheiro do governo: R$ 61,7 milhões só em 2016. Mais que todo o custo do programa de cisternas para o Nordeste.

JOGADA INFANTIL
No Planalto, os profissionais da política já manjaram que a fofoca sobre "delação premiada" de Eduardo Cunha é só tentativa infantil de fabricar uma crise para tentar atrapalhar votações do ajuste fiscal.

OPORTUNISTA
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que jamais reclamou dos seguidos aumentos das taxas de juros, agora considerou "tímida" a redução de 14,25% para 14% ao ano.

LOTERIA
Desempregado, Rodolfo Almeida, ex-parceiro de um "ET", ganhou na loteria Justiça do Trabalho, uma indenização milionária do SBT. Em 29 de abril, a sentença foi confirmada pelo TST, mas o SBT tem recorrido.

INDÚSTRIA DA ESPERTEZA
Em 2016, até agora, já são 125 mil ações trabalhistas nos Estados Unidos, 75 mil na França, 5 mil no Japão e... 3 milhões no Brasil. Eis por que se fala tanto na "indústria" alimentada pela Justiça do Trabalho.

MELANCIAS SE AGITAM
O senador Hélio José (PMDB-DF) mede forças com políticos do centro-oeste pelo controle da Sudeco, órgão regional de desenvolvimento. A dúvida é se indicará uma melancia, que ele diz ser capaz de nomear.

VAGA ABERTA
Abriu no dia 6 a vaga do advogado Emmanoel Campelo Pereira como representantes da Câmara no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Dois nomes a disputam: Felipe Cascais e Renato Ramos.

AINDA NA OPOSIÇÃO
O deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) diz que votou favorável à PEC 241, que limita gastos públicos, porque "sempre defendi o ajuste fiscal". Diz que fará oposição ao governo Michel Temer até seu último dia.

AMOR NÃO É TUDO
Após a prisão de Eduardo Cunha, a classe política descobriu que não é o amor que dá aquela sensação de paz e felicidade, mas sim o rivotril, poderoso tranquilizante.
Herculano
20/10/2016 20:12
SUPREMO NEGA PEDIDO DE DILMA PARA ANULAR PROCESSO DE IMPEACHMENT

Conteúdo do jornal Folha de S. Paulo. Texto de Gabriel Mascarenhas, da sucursal de Brasília. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki negou nesta quinta (20) o pedido da ex-presidente Dilma Rousseff para anular o processo de impeachment no Senado.

Num mandado de segurança protocolado em 30 de setembro, a defesa da petista fez seu último movimento no Supremo para tentar suspender os efeitos da votação no Senado, realizada no dia 31 de agosto.

Relator do caso na corte, Teori argumentou que não cabe ao tribunal interferir numa decisão política do Legislativo, a menos que o resultado representasse uma indiscutível ameaça às instituições brasileiras, o que, na avaliação do ministro, não ocorreu.

"Somente uma cabal demonstração da indispensabilidade de prevenir gravíssimos danos às instituições, ou à democracia ou, enfim, ao estado de direito é que poderia justificar um imediato juízo sobre as questões postas na demanda, notadamente para o efeito de antecipar qualquer dos provimentos antecipatórios requeridos. Os argumentos deduzidos na inicial, todavia, não possuem tal aptidão", afirma o relator.

Em seu despacho, o ministro aborda também os impactos de uma eventual anulação do afastamento de Dilma. Ele diz que o país vive um momento "dramático".

"É preciso considerar que [...] dúvidas não há sobre as avassaladoras consequências que uma intervenção judicial volúvel poderia gerar no ambiente institucional do país, que atravessa momentos já tão dramáticos do seu destino coletivo. Seriam também enormes as implicações para a credibilidade das instituições brasileiras no cenário mundial promover, mais uma vez ?"e agora por via judicial?" alteração substantiva e brusca no comando da Nação", escreveu.

Teori afasta ainda o argumento da defesa de que o atual presidente, Michel Temer, não recebeu um voto sequer, já que foi candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma. Por isso, de acordo com a peça, ele não teria legitimidade para ocupar a principal cadeira do Palácio do Planalto.

"Tais alegações encontram contradita imediata no próprio texto constitucional, que consagra regime presidencialista em que a eleição do presidente implica automaticamente a do vice-presidente com ele registrado), e em que este último tem legitimidade constitucional para suceder o presidente, em caso de vacância", sustenta o relator.

ARGUMENTOS

O mandado de segurança, com 481 páginas, centrou-se na suposta ausência de pressupostos jurídicos para a decisão de retirar Dilma do cargo. Ao contestar o mérito da acusação, o advogado dela, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo afirma, que não houve crime de responsabilidade, principal acusação contra a petista.

"No âmbito do sistema presidencialista adotado pela nossa lei maior, não se pode ter por admissível que uma maioria parlamentar, mesmo que expressiva, possa vir a decidir o impeachment de um presidente da República, sem a invocação plausível e minimamente demonstrada da real ocorrência de um crime de responsabilidade, ou sem que se respeite os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Foi, porém, o que ocorreu", afirma o mandado de segurança.

O texto do documento resgata as declarações de Cardozo ao longo do processo e fala em criação de "pretextos" para aprovar o impeachment. "As acusações apresentadas na denúncia por crime de responsabilidade julgada procedente pelo Senado Federal não passam de meros pretextos retóricos invocados para se dar 'aparência de legitimidade' à decisão arbitrária de se cassar o mandado de uma Presidenta da República legitimamente eleita".

Cardozo também diz no pedido de anulação que o presidente Michel Temer, à época vice-presidente, articulou a condenação da petista pelo Congresso, primeiro na Câmara e, em seguida, no Senado.

"A negociação foi comandada diretamente pelo sr. vice-presidente da República, Michel Temer, desde o processamento do impeachment na Câmara dos Deputados. Não foram articulações mascaradas ou cautelosas. Foram abertas e despudoradas".

Cardozo argumenta que a articulação para retirar Dilma da Presidência da República se deu pelos "derrotados na eleição de 2014", que "chegavam ao poder mesmo sem ter os votos que legitimariam essa condição".

A peça menciona ainda a atuação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no processo de impeachment. O deputado cassado é chamado de "juiz-algoz" de Dilma. "Foi, sem sombra de dúvida, a 'mão visível' que conduziu, durante um largo período, todo este abusivo e ilegítimo processo de impeachment".

No mandado de segurança, com pedido de liminar, o advogado solicita que o processo seja relatado pelo ministro Teori Zavascki, "por prevenção".
Herculano
20/10/2016 19:51
da série: o juiz Sérgio Morro não conhece os grotões. Ele está no holofote porque está cercando e pegando os tubarões. Mas, milhares, mas bota milhares de sardinhas, tainhas e barracudas profissionais agindo no nos partidos, nos estados e municípios. Houve descarado uso do caixa dois nas últimas eleições e práticas de compras de votos. Quantos estão punidos?

MORO: CONTRA CORRUPTO PROFISSIONAL, O VIGOR DA LEI

Sergio Moro fez uma palestra para magistrados e servidores da Justiça do Paraná nesta quinta-feira, um dia depois da prisão de Eduardo Cunha. Falou sobre um tema que ele mesmo sugeriu: "Corrupção sistêmica e Justiça criminal". Sem mencionar o nome do ex-mandarim da Câmara, o juiz da Lava Jato referiu-se claramente ao novo hóspede do sistema carcerário de Curitiba.

Moro disse que há no Brasil um cenário de "corrupção sistêmica". Para combater a roubalheira generalizada, sugere a "aplicação vigorosa da lei". A certa altura, declarou: "Nossos processos não podem ser um faz de conta."

Mencionou os casos em que a corrupção se torna uma prática "serial, profissional e reiterada" - os mesmos termos que havia anotado na ordem de prisão de Eduardo Cunha. Ensinou: "Quando a regra do jogo é a corrupção, não admitir o risco de reiteração criminosa [um dos fundamentos para a prisão preventiva] me parece incorreto."

Para o juiz da Lava Jato, em matéria de combate à corrupção, o Brasil se encontra "numa encruzilhada". Dirigindo-se ao pedaço da plateia que veste toga, Moro fez algo muito parecido com uma conclamação: "Que tenhamos sensibilidade para as necessidades do contexto. E isso significa, a meu ver, uma aplicação rigorosa da lei em relação à corrupção sistêmica."

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