01/12/2009
Desastre I
Em Gaspar, teima-se em esconder os desastres anunciados. Alguns já se incorporam, infelizmente, à nossa rotina. Mas, a população quando não encontra eco nas nossas autoridades para voz, temor, clamor, procura os canais fora. E ai a verdade crua que se nega, estrutura-se e se estabelece, reverbera, aparece e se emenda por ai em paliativos, desculpas e culpados. Veja o que aconteceu na semana passada. Três cenas me chamaram a atenção.
Desastre II
A primeira delas foi uma reportagem na TV RBS de Blumenau. Uma mulher moradora entre o Bela Vista e o Figueiras, pedia socorro: para ir e voltar do trabalho. Ela estava apavorada, sem segurança. Cenas testemunhadas e gravadas do tráfico, não apenas da queixa, da denúncia, da palavra, mas na ação delinquente e impiedosa. Aquela área virou uma terra sem lei, sob domínio dos traficantes e passadores de drogas. A maior parte, oriunda da invasão, a qual virou favela da Marinha e hoje semi-urbanizada é chamada de Jardim Primavera; bem como da "rua" Vila Nova, fruto da recente invasão política e organizada ao terreno do ex-Banco Econômico, assunto que se rola no Tribunal de Justiça para o despejo por estes dias.
Desastre III
A segunda cena foi a da Polícia. O delegado Paulo Norberto Koerich fez o óbvio. Não deu sopa para o azar. Foi lá e prendeu quem se achava dono do pedaço na fartura das drogas, negócios, no aliciamento de menores para a venda, na desestruturação social e familiar e no ato de amendrontar cidadãos, cidadãs, trabalhadores, trabalhadoras, de aniquilar à qualidade de vida e à segurança de toda uma comunidade. Paliativo, também. Solução, nenhuma. E se há, nunca será a policial.
Desastre IV
A terceira cena é ver a total omissão do poder público como se isto não fosse um problema seu. Pior, neste caso, causado por ele próprio. Terrível ainda é saber que o poder público de Gaspar quer ver multiplicado este modelo do caos por toda a cidade. A invasão das terras chamadas de Marinha é obra exclusiva de políticos na omissão e na esperteza de ver aquela miséria e ilegalidade transformada em votos fáceis e sob o disfarce criminoso de bandeira social, inclusive com amparo judicial. Danem-se as vidas, as pessoas, o bairro, a qualidade de vida, a cidadania e o futuro. O da "rua" Vila Nova, com casas organizadamente bem construídas da noite para o dia e à maioria delas com carros na "garagem", tem o mesmo cheiro político e vindo de Blumenau.
Desastre V
Este sim é um caso de polícia. Antes o Delegado deveria ir prender esses políticos que criam ou facilitam o caos intencional e anunciado para os outros, protegidos na ignorância, na fraqueza, na manipulação, na desordem, na omissão e numa falsa percepção de dívida social, para a partir de então, sensibilizar, comunicar e obter vantagens eleitorais no curto prazo.
Desastre VI
De onde veio o veneno que pode dar até a cassação de mandatos a políticos eleitos em Gaspar e que está sendo apurado pela Polícia Federal? Do Jardim Primavera. De onde veio o assassino de Sônia Gioconda Beduschi Buzzi? Do Jardim Primavera. Quem teve que se mudar por perder a qualidade, a tranqüilidade de se viver num lugar que escolheram para esquecer o horror da fatídica lembrança? Os Beduschi e os Buzzi.
Desastre VII
Outros usando uma falsa, errônea e temporária influência política, tentam se prevenir: erguem muros na rua para se "isolar" dos possíveis problemas de segurança. E os exemplos se multiplicam na nossa cidade. Basta dar uma olhada nas estatísticas policiais e até compará-las nos últimos quatro anos. De quem é a culpa? Da polícia? Não. Dos governantes e da nossa criminosa omissão. Se já somos dormitório de Blumenau. Agora, somos para alguns, também o esconderijo do Vale.
Desastre VIII
Quando a comunidade do Poço Grande resiste em aceitar 540 apartamentos populares de 30m2, incluindo a área comum (uma vergonha), patrocinados pela Caixa Econômica Federal para os lucros de uma construtora do Paraná, numa única rua, sem qualquer infra-estrutura, ao arrepio da lei; ao jogo das espertezas e sem qualquer diálogo com a comunidade, são acusados pelos petistas, pelo prefeito Pedro Celso Zuchi, sua vice Mariluci Deschamps Rosa, o secretário Soly Waltrick , o chefe de Gabinete Doraci Vanz, o procurador do município Mário Mesquita, os vereadores como José Amarildo Rampelotti e Antônio Carlos Dalsóchio (cunhado do prefeito) e nunhum deles identificados com o bairro, e até parte da imprensa, como um ato discriminação social e preconceito.
Desastre IX
Os líderes do Poço Grande já aprenderam a lição. Conhecem a lábia fácil e falsa dos políticos. Segundo pessoal do Poço Grande, ninguém é contra a ida de novos moradores (e de classe social classificada como pobre). O que o Poço Grande quer evitar é o que acontece hoje com o Bela Vista, o Jardim Primavera e a tal "rua" Vila Nova. Só isso. Querem discutir a qualidade de vida para os novos que vêm e para os que já estão lá. Querem a aplicação da lei, do Estatuto da Cidade, o Plano Diretor, o Impacto de Vizinhança e as audiências públicas obrigatórias. Não querem dar trabalho ao delegado que está sem efetivo e o prefeito não está nem ai para ajudá-lo na busca de mais policiais. Pois para os políticos, quanto pior, melhor. Mais discursos, culpados e promessas de soluções que nunca chegam. Acorda, Gaspar.
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