04/09/2019
Na coluna de sexta-feira e feita especialmente para a edição impressa do jornal Cruzeiro do Vale, mostrei no título geral que “o novo modelo do transporte coletivo de Gaspar é tão velho que passageiro será matéria de segunda para os políticos que dizem ser a voz do povo sofrido”. Na verdade, é uma carga. E não vou escrever que este setor é em todo o lugar uma caixinha de segredos, que quando abertas, revelam corrupção. O caso mais exemplar no Brasil é o do Rio de Janeiro.
Voltemos ao nosso mundinho. A concorrência que está na praça busca apenas dinheiro para os cofres da prefeitura, fantasia uma tarifa baixa que sequer o município e a empresa provisória não conseguem aplicar neste momento em favor da cidade e dos cidadãos, permite ônibus velhos, despreza o conforto, não olha para o futuro, a mobilidade, as interligações e segue à mesma cartilha que afastou a primeira empresa que fez este serviço por aqui, a Viação do Vale.
Então vamos repetir o problema.
E começo pelo óbvio: para se ter uma tarifa mais baixa – ou justa, ou sem subsídio governamental - é preciso, em primeiro lugar, de mais passageiros embarcados e circulando no sistema. É preciso linhas lucrativas para subsidiar outras sem lucro e horários deficitários.
É este o componente da planilha que prova o desajuste e o prejuízo na hora de se discutir as tarifas. E neste edital que está na praça pouco – ou nada - se fez para tornar o sistema de transporte coletivo de ônibus urbano atrativo, eficaz, rápido, confortável, confiável, rastreável e plugado às mudanças da mobilidade urbana e num ambiente conurbado da dita região metropolitana de Blumenau.
Exagero? Então vamos a um exemplo real da semana passada.
Uma manchete estadual trouxe este tipo real de problema à reflexão de todos, principalmente aos políticos que se dizem novos, mas insistem nas velhas práticas administrativas, os de encher às burras da prefeitura com o dinheiro dos pobres, trabalhadores, desempregados e estudantes e não entender que estão eles próprios criando problemas para a cidade, os cidadãos e para as suas avaliações como gestores públicos ou políticos em busca de votos para continuarem no poder.
PLANILHA PARA INGLÊS VER
Em Joinville, a Justiça mandou o governo de lá aumentar a tarifa dos ônibus coletivos: de R$4,40 – como se quer aqui – para R$4,80 – como está por aqui. Derrubou um “acordo” verbal, entre cavalheiros, amigos, que as próprias empresas tinham feito com o prefeito de lá, Udo Döhler, MDB, para mantê-las mais baixas do que indicavam – e obrigavam - as tais planilhas de reajustes.
E qual a justificativa para manter as tarifas mais baixas? O de estancar a perda de passageiros, que gera prejuízos, obriga à revisão dos contratos, faz a prefeitura receber menos, ou obriga as empresas espetar os supostos prejuízos nos bolsos dos passageiros, tudo para dar equilíbrio econômico à operação.
Primeiro: acordo verbal entre políticos com um Contrato de Concessão em vigor? Piada! Um dia a conta do descumprimento do contrato chega. É poupança esperta a favor das empresas concessionárias e contra os cidadãos que vão pagar mais tarde esta conta desta irresponsabilidade com os seus pesados impostos, mesmo que não sejam passageiros dos sistemas de ônibus coletivos urbanos.
Segundo: esta “boa intenção”, prova que essas tais planilhas são coisas para inglês ver. Quem, em sã, consciência, iria deixar de aplicar um aumento e aceitar um prejuízo operacional só para se manter na concessão? Ou há gordura que não se mostra na planilha ou a planilha não consegue mostrar claramente aos auditores as memórias de cálculo que só os empresários as possuem por dominarem esse assunto como poucos.
Terceira: perda de usuários no sistema? Este é o real problema a ser solucionado e que os políticos, gestores públicos e as empresas não estão dispostos à discussão, inovação e atualidade deste modal de transporte em favor da cidade e dos cidadãos, do meio ambiente, da qualidade de vida e não só de pobres, trabalhadores e estudantes.
Os modelos em vigor são do século passado. E nasceram lá pelos anos de 1960, o que por si só mostram o tempo do atraso em que estamos metidos. A prefeitura quer dinheiro – em Gaspar é de R$174.220.653,73 em 20 anos - para resolver seus problemas, não exatamente de mobilidade urbana ou aperfeiçoamento, mas daquilo que não controla.
A conta é essa: Gaspar que R$174 milhões, quer que os empresários tenham ônibus novos e acessíveis que custam caro, querem que eles mantenham a frota e que custa caro, que se dê gratuidade para alguns, que sustentem cobradores que custam caro no sistema e quer ao mesmo tempo tarifa barata? Essa conta não fecha. Não fechou com a Viação do Vale.
Para começar, nada disso é discutido com a sociedade – ouvi-la nas queixas, nas ideias, nas necessidades – e tentar compor, esclarecer até para passar a conta. Foi o que aconteceu em Gaspar. O vereador Cicero Giovane Amaro, PSD, quer fazer isso. É tarde. Este diálogo teria que ser antes do edital que está na praça e que levou três anos, repito, três anos, para ser confeccionado, tudo às escondidas. E agora, ele vem de goela abaixo.
Quem ganhar, se ganhar, pois a tendência é permanecer o provisório, logo vai descobrir que não possui passageiros para a tarifa de R$4,40. E aí haverá uma briga para compensar a falta deles.
E como se dará isso? Na análise da planilha e na ameaça de romper o contrato e ir embora. Apostem! Mais manchetes e discursos.
Então haverá dois caminhos para essa compensação para um serviço velho no modelo e no respeito ao passageiro: aumentar a passagem e afastá-lo ainda mais do sistema, e que por conta disso se tornará mais deficitário e mais caro para ser mantido, ou então a prefeitura terá que abrir mão da milionária verba que ela quer para conceder o serviço. Adivinha o que acontecerá? Acorda, Gaspar!
No seu gabinete e sem a presença do vereador Rui Carlos Deschamps, PT (esquerda), que intermediava o processo há anos, prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, (à direita) disse aos investidores e empreendedores da Rua Vidal Flávio Dias que a prefeitura não tem mais dinheiro para cumprir a promessa que fez asfaltá-la num trecho de dois quilômetros até a BR-470, com a ajuda dos próprios investidores. E culpou por isso, a oposição.
O Belchior Baixo, no Distrito do Belchior, em Gaspar, pela proximidade da BR 470 e quando as terras ainda eram baratas por lá, tornou-se naturalmente um polo de atração e se formou ali “um distrito industrial” para investidores da região. As empresas que estão ou se instalando lá sem ajuda da prefeitura, geram ou vão gerar mais impostos e empregos para Gaspar.
Desde 2017, ou seja, dentro do governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, PP e do prefeito de fato, presidente MDB local e secretário de Fazenda e de Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira, MDB, os empreendedores vêm conversando para pelo menos pavimentar dois – dos quatro - quilômetros da Rua Vidal Flávio Dias, para interliga-la à BR 470 e livrar as empresas pelo menos da poeira.
E no pacto que realizaram, os empreendedores iriam contribuir com R$700 mil. De lá para cá, é só ver quanto os materiais encareceram e como mais uma vez, o poder público arrumou prejuízo para todos
Agora, a prefeitura diz que não tem dinheiro para cumprir a promessa num sinal claro a outros investidores de que por aqui, o acordado, não é cumprido.
A alegação é de que a minoritária oposição, e principalmente o vereador Cícero Giovane Amaro, PSD, que está cumprindo a sua obrigação de vereador em questionar os atos do governo de Kleber está atrapalhando o governo.
O vereador Rui Carlos Deschamps, PT, que vem acompanhando o caso desde o início está indignado. Para ele, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Acha que o governo Kçeber faz chantagem com algo e gente séria. Para o vereador, a dita oposição não está atrapalhando em nada o governo naquilo que é sua obrigação fazer e dentro da lei.
“Como pode estar atrapalhando se nós [oposição] aprovamos R$140 milhões de empréstimos para o governo Kleber fazer as suas obras? Se nesses R$140 milhões estavam o financiamento do Finisa – da Caixa Econômica - e que previa recursos para a pavimentação da Vidal Flávio Dias? O que os empresários que receberam sinal verde do prefeito em 2017 para os seus empreendimentos, têm a ver com uma briga particular do prefeito, do grupo político dele, com um vereador? Isto não é sério. É vingança. E contra Gaspar. Não contra o vereador e nem os empresários”, lembrou Rui no desabafo que fez na Câmara e nos bastidores.
Sem convidar Rui, Kleber recentemente chamou os empresários ao seu gabinete. Explicou que sem o pregão 58, que autoriza um pregão genérico para obras de drenagem e que foi parar no Tribunal de Contas por estar supostamente errado, nenhum asfaltamento será feito na Rua Vidal Flávio Dias.
A denúncia sobre o pregão 58 – e que está suspenso - foi de Cícero. Segundo o relator do processo no Tribunal e a Lei das Licitações, o certo para esses casos seria o de se realizar concorrência pública, como é feita por exemplo com a Rua Bonifácio Haedchen. É que no modelo de concorrência, a verba precisa estar rubricada no Orçamento, e no caso do pregão, não. Vai se usando materiais e serviços da forma que se quer, o que não garante a realização completa de determinadas obras e muito menos, tem-se o controle de qualidade e financeiros delas.
O que a gestão de Kleber está fazendo? Esticando a corda, forçando, jogando e usando os empresários para que contenham Cícero, e com isso, revertam o problema criado pela própria prefeitura. O assunto, já está no tribunal e não há empresário e santo que o reverta. E a prefeitura sabe disso, tanto que para as obras que lhe interessam e possui dinheiro em caixa, já está fatiando o Pregão 58. Enquanto isso, de verdade, atrasa a cidade com o slogan marqueteiro Avança Gaspar. Acorda, Gaspar!
Sobrou para o Robin? Tão logo circulou nas redes sociais e aqui de que o comissionado Denilson Chechetto tinha acompanhado o funcionário do Samae, Gilberto Goedert, na ameaça pessoal que fez à Eder Muller como intimidação à publicação que fez no facebook sobre os estragos feitos por Gilberto como motorista de caminhão não habilitado, a portaria 76, do Samae exonerou Denilson do cargo de “chefe de frota” da autarquia.
A exoneração valeu a partir do dia primeiro de setembro. Quem pensou que se trata de uma punição ao servidor comissionado pode estar se enganando. Emprego político é do partido e de padrinhos. Nem Gilberto, nem Denilson foram sequer levados à uma sindicadência interna: um por dirigir sem habilitação específica e provocar acidente, e o outro por acompanhar o Gilberto numa ameaça a um gasparense pagador de impostos que publicou na sua rede social essa anomalia.
Denilson já está nomeado desde a segunda-feira, dia dois de setembro, oficialmente, como coordenador geral da diretoria geral administrativa. Falta publicar no Diário Oficial. Aparece apenas no Portal Transparência.Mas, perguntar não ofende: antes de exonerar, diante das denúncias públicas e do Boletim de Ocorrência registrado por Eder na Polícia não seria obrigação do presidente do Samae, o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, mandar abrir uma sindicância administrativa, para apurar isso tudo?
Uma comitiva de muitas pessoas, incluindo o prefeito eleito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o prefeito de fato, o secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira, presidente do MDB, está em Brasília para participar do Fórum das Transferências da União. Vão mostrar os programas Avança Gaspar, Gecom e Gaspar é Mais Saúde.
Perguntar não ofende. O que verdadeiramente Gaspar ganha com isso? O que isso melhora a vida dos gasparenses se os projetos marqueteiros do “Avança Gaspar” não avançam na prática, se o “Gestão Compartilhada” é um programa eleitoreiro de pequenas obras que apenas substituiu no nome o Orçamento Participativo do PT, e o “Gaspar é Mais Saúde” não resolveu o crônico problema de do Hospital que continua sob intervenção, há falta de médicos nos postinhos e as filas por lá são realidades permanentes.
Ah, mais isso pode ser usada como propaganda e melhorar a imagem do governo. É que ele está preocupado com as pesquisas e a sua reeleição, disse-me um próximo ao poder de plantão, o qual defende o gasto de dinheiro dos gasparenses para ir a São Paulo e criar mais esta espuma. Tancredo Neves já dizia, quando a esperteza é demais, ela come o dono. Acorda, Gaspar!
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