20/06/2018
OS POLÍTICOS, ATÉ OS QUE ENTRARAM OUTRO DIA NESSE BAILE ANUNCIANDO QUE TOCARIAM MÚSICA NOVA, PRECISAM DE APLAUSOS FÁCEIS E SEM CONTRAPONTO.
A reprodução de um dos bate-bocas recente no Facebook entre o presidente da Câmara de Gaspar, Silvio Cleffi, PSC, e duas cidadãs quase não necessita de comentários à parte. Eles mesmos dizem muito sobre os nossos políticos, suas incoerências e jogadas pelo poder na base do grito e armadilhas. Deixa-me de alma lavada, mais uma vez, naquilo que escrevo, quase todos os dias.
A troca de farpas mostra três coisas: o político Silvio está mal assessorado; enxergou uma oportunidade e não mediu às consequências; e com o poder que lhe deram no jogo político para dar maioria à oposição na Câmara, ele claramente não está sabendo lidar com a pressão, o contraditório e o próprio poder.
Há poucos dias encontrei um político em Gaspar e sua esposa. E eles me contaram que determinado agente público não tinha a mínima noção do que fazia e repercutia na sociedade, apesar de vários avisos e até orientações. Eu lhes retruquei que isso é fruto da tal síndrome da percepção. O poder – e não o dinheiro, que vem por consequência na maioria dos casos -, cega os poderosos.
Muitas vezes os novos e os de sempre empoderados, mas sempre os que não se preparam, os que estão a reboque de causas, interesses e pessoas, acham que são a cocada predileta do tabuleiro. Mal sabem eles, que lhes sobra açúcar e isso em excesso, enjoa, estraga a percepção do doce do sabor.
Nós não somos aquilo que achamos ou queremos ser. Somos aquilo que os outros pensam de nós, tudo resultado do nosso comportamento, atitudes e resultados.
Ora o que deu ao vereador e presidente Silvio Cleffi em desafiar diretamente internautas – uma base que até ontem ele orgulhava tê-la e dominá-la aos milhares? Pior mesmo foi tentar enfrentar e ter que correr de quem ele disse não conhecer? E os internautas toparam o enfrentamento. Silvio teve que recuar. Já era tarde. E recuar significou que Silvio piscou, admitiu o que se lançou de dúvidas. Afinal, como ele mesmo disse, não é um “homem de aposta, mas de fazer”.
Silvio até agora só apostou, mas fez diferente da aposta. E isto é percepção. Senão vejamos.
Apostou em Kleber, mas o traiu e se uniu à oposição.
Apostou em dominar a Saúde, virou refém do seu próprio ego e erro em favor da corporação médica que deixou a Saúde Pública de Gaspar um desastre
Apostou num projeto chamado de Mais Saúde que “unia todos”, mas dividiu. Apenas deixou que essa união fosse de sete dos 13 vereadores.
Apostou em criar uma superestrutura cara de comissionados Câmara com o dinheiro dos pesados impostos dos gasparenses, apesar da manobra para acelerar esse processo teve que recuar diante da brutal repercussão negativa na sociedade.
A lista é longa e o espaço diminuto. Foi tudo isso somado que o minou, o desnudou, o enfraqueceu e agora o levou até a bater boca com internautas, logo num ambiente plural, cheio de armadilhas e onde se vangloriava de dominá-lo.
O gasparense quer sim melhorias na área de Saúde Pública, mas sabe porque foi esclarecido, que parte do desastre teve a mão do próprio Silvio. Então apostar na transferência de culpas, não foi uma grande ideia, ainda mais quando hoje temos as redes sociais tão abertas para a disseminação de fatos para o enfrentamento.
A imprensa veio a reboque, doutor Silvio. E por que? Porque não tinha alternativa. O elástico dela para diminuir impactos tem nova e menor medida ditada pelas redes sociais. Estava perdendo espaços para as redes sociais neste e outros assuntos sempre abordados aqui e que deixa inconformado .
E para encerrar a longa lista de apostas de Silvio Cleffi.
Apostou na construção do novo prédio da Câmara. Depois de tanto murro em ponto de faca, ainda há para ele a chance para iniciar o projeto e deixá-lo como marca do presidente Silvio para a cidade e a Câmara quando sair da presidência. E será muito, até porque gente que se diz competente, executiva e carimbada não conseguiu até hoje. Então é preciso focar, e como um bom médico, ouvir pacientemente os seus eleitores e eleitoras e não, enfrentá-los – em qualquer ambiente, ou ao menos em momentos inadequados só porque ser a cocada da vez.
Silvio prometeu música nova, mas está no descompasso. A música que se ouve no salão é da velha gafieira. E a nova Gaspar, feita de gente esclarecida, ou por jovens, está se negando aos aplausos fáceis. Só isso.
UM CAMINHO DE ERROS
Para rememorar, aos que não conhecem e não são daqui.
Silvio Cleffi, está ainda no PSC, partido onde nasceu politicamente e feito para e por evangélicos pentecostais. Silvio é cria do político mais experimentado do que ele, apesar de jovem, o evangélico da mesma igreja Assembleia de Deus onde funciona Kleber Edson Wan Dall, MDB, e sua família. Silvio é médico e por conta disso, é também funcionário público municipal atuando no postinho do Bela Vista, e na Policlínica como cardiologista – que agora, por incompatibilidade de horários e fiscalização para o cumprimento dele, desistiu.
Mais. Como médico, amigo, afilhado político e próximo de Kleber, como vereador fiel da balança na então estreita maioria de Kleber na Câmara, o paulista Silvio Cleffi interferiu como poucos na Saúde Pública de Gaspar em nome do que tinha como concepção de gestão e principalmente na defesa da corporação médica que representa.
A Saúde Pública virou o caos. E a má fama se alastrou e arrastou o governo, mas livrou Silvio que atuava nos bastidores. A administração do MDB e do PP ficou exposta. E para piorar, o aliado Silvio, em silêncio – não tão assim, pois muito antes do acontecido escrevi aqui, ouvindo fontes do MDB, de que ele era o plano B a Franciele Daiane Back, PSDB. E foi. Virou opositor.
Não que Franciele teria sido melhor na presidência da Câmara. Mas, isso é assunto para outra coluna que está no estoque. Franciele, e menos de dois anos já está na terceira assessora e isso revelador...
Voltando. Três secretários de Saúde, em menos de um ano e meio de governo Kleber, retratam claramente o erro na área da Saúde. Não há como contestar fato tão claro e crasso.
Há, contudo, uma tentativa de acerto, ou ao menos de quebra de paradigma para interromper intromissões, chantagens e improvisos, quando o prefeito de fato de Gaspar, o então secretário da Fazenda e Administração e Gestão, o advogado Carlos Roberto Pereira, MDB, foi parar por iniciativa dele mesmo, quando viu o barco afundando, como titular da secretaria de Saúde.
A missão dele foi a de estancar as interferências corporativas, reverter o quadro caótico e dar identidade mínima à secretaria para melhor ser percebida pelos gasparenses doentes e necessitados de médicos, atendimentos e remédios.
Essa manobra emergencial e fora do que estava combinado no próprio governo, deixou Silvio órfão em seus planos de interferência no setor.
Silvio tentou desmoralizar a decisão de Kleber e capacidade de Pereira. Foi surpreendido por medidas de impacto, mudanças que o tiraram do centro do embate. O jogo de forças foi se esvaziando nessa área.
Agora, restou a Silvio os questionamentos corporativos. Depois do diretor técnico que não se tinha desde que a exigência do Conselho Federal de Medicina estabelecida, vejam só, em 1932, a última foi o tal médico auditor para a secretaria da Saúde. Todos de interesses corporativos e Silvio teima dizer que não se trata disso. Como assim? Está à vista de todos.
Há uma semana Silvio sinalizou um bom caminho, como auditar custos na troca de médicos. É bom, mas está perdido novamente. Está defendendo apenas que está saindo e tinha 15 anos de trabalho por aqui no ambulatório. Não quer os novos. Não quer a suposta melhoria, pois o resultado ainda não pode ser medido. Fiscalizar os erros, os contratos cheios de truques e os altos custos, sim. Defender melhorias no atendimento da população sofrida, sim. Agora, defender o que não funcionava, aí já é tocar a mesma e velha música na gafieira.
Silvio calculou mal o seu salto quando foi para a oposição. Sonhou que com suas manobras teria os pés no governo Kleber e na oposição, como ele mesmo registrou no seu discurso depois da “surpreendente” vitória naquela sessão de meados de dezembro do ano passado. Agora, brinca com outro perigo: o de achar que os eleitores que frequentam a rede social estão errados e ele certo. Pode ser uma aposta equivocada. E ainda, apesar de tudo, há tempo para entender, absorver e corrigir o repertório. Acorda, Gaspar!
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