04/07/2018
Quando do lock out – greve de patrões tanto que se enrolam em multas pesadas aplicadas pelo Supremo – das grandes empresas transportadoras usando os caminhoneiros autônomos de bucha de canhão, com amparo político dos que querem a volta da ditadura militar ou de um presidente autoritário vindo da caserna para facilitar o autoritarismo bandido já estava desenhado. Acha-se que tudo se poderá resolver por milagre. Sumiriam as nossas mazelas
Escrevi, na época, que essa farsa e os danos colaterais graves daquela “greve” trariam efeitos para a economia brasileira, à democracia e os próprios caminhoneiros autônomos, os usados na sua maioria e a parte mais fraca desse movimento.
Fui massacrado nas redes sociais. Houve explícita desmoralização como se eu tivesse traído alguma causa, que nunca defendi, aliás. Coisa de gente organizada (e cada vez mais perigosa). Nem original são. Repetem o que se retrata na série americana “Sobrevivente designado”, disponível na Netflix, onde se retrata na ficção a tal “Pax americana” de uma direita doentia de lá. Na linha de tiro não estive sozinho. Ainda bem que tudo isso – a greve, o desmascaramento e as graves consequências para a sociedade - aconteceu para que ainda se tivesse tempo para ser entendida e avaliada antes das eleições gerais de outubro.
Os resultados reais estão aí. Está no seu e no meu bolso. Pior: os que organizam tudo isso, estão pedindo mais sacrifícios a você, para as causas deles e que beiram ao crime. Querem o poder na marra, sem instituições, ou com elas submissas aos seus projetos e ideias, pois no convencimento, na razoabilidade e até no voto, se negam a tal caminho.
UM FUTURO INCERTO
Hoje não se sabe o que é mais danoso para o país, as pessoas e o futuro: a esquerda do atraso, os petistas e outros que delapidam o país e os brasileiros sem pudor algum, ou a direita xucra que destrói as instituições e até mesmo o Brasil, usando para seus objetivos os cansados de tantas sacanagens dos políticos e poderosos, os analfabetos, os ignorantes, os desinformados e os mansos (ou medrosos) para manobras e o seu jogo de poder pelo poder, onde o voto é algo desprezível.
A maioria dos políticos fingem que nada de grave está acontecendo há muito. A poeira daqueles dias da greve baixou. Entretanto, ela é tóxica e paira sobre todos nós e não se dissipará tão cedo.
Veja o que está acontecendo com o agronegócio de Santa Catarina (para não enumerar dezenas de outros), onde produtores rurais apoiaram esse movimento irresponsável como se nada tivesse nada com o resultado dele e agora amargam tempos difíceis que perdurarão por meses e até anos afio, na melhor hipótese. Pois poderá ser pior no final de tudo.
Algumas leitoras e leitores desta coluna se foram por conta disso; vieram, muitos outros. É do jogo. Ninguém é obrigado a ler o que escrevo, muito menos concordar comigo. É apenas uma opinião, que exponho. Não trato de verdades.
Houve quem cobrasse para que eu fizesse a escolha de um lado. Vergonhoso! O lado que tenho e já escrevi várias vezes aqui é o dos pagadores de pesados impostos, o lado dos que não conseguem o retorno do estado para aquilo que despejam nos cofres do governo, péssimo gestor. Mesmo assim, a proposta é a do debate e não do assalto, da mordaça... Santa Catarina é o sétimo estado arrecadador, mas é o quarto menos que recebe de volta naquilo que a União distribui...
Vejam esta.
Em Gaspar foram duas semanas de pura demagogia e chororô na tribuna da Câmara e até entrevistas nas rádios sem às devidas perguntas e contrapontos. Não houve uma só voz discordante: “todos somos caminhoneiros”, estufavam o peito os vereadores daqui. Teve gente que até acampou, fez festa, sustentou o movimento como informou nos discursos do heroísmo tosco.
Na verdade, essa gente esperta contava os votos para si. Não tinha causa, tinha oportunismo. Estava na carona, na onda. Todos tinham parentes caminhoneiros, sofridos. Alguns até tinham como a adolescente Franciele Daiane Back, PSDB, mas preferiram colocar outros bodes da sala para os radicais de direita nas suas causas, ao invés de serem estadistas e enfrentar o problema de frente que não nasceu naqueles dias, mas se criou por anos pela omissão dos próprios políticos, governo do PT e MDB, bem como e grave, das entidades de classe na defesa da livre iniciativa.
QUAL É O RESULTADO DA GREVE?
O que aconteceu de lá para cá? O Brasil piorou, naquilo que já não ia bem, por conta de um governo fraco que herdou numa economia feita por populistas, por políticos chantagistas em vender falsas maiorias no parlamento, pela volúpia e loteamento para ocupar cabides de empregos para seus cabos eleitorais na cara máquina estatal, na corrupção desenfreada contra os pesados impostos que pagamos.
Enfim, somos herdeiros do caos, de partidos e governo cheio de manchas, coisa própria não apenas do presidente de plantão Michel Temer, mas do MDB, que até trocou de nome, para tentar se limpar, como se isso fosse possível nos dias de hoje onde a Lava Jato expõe as mazelas dos poderosos de todos os tipos no ambiente público e privado.
No Brasil, somente 30 por cento dos caminhoneiros são autônomos. E desses, 70 por cento são “empresas” individuais, ou seja, “funcionários” disfarçados das grandes empresas transportadores. Elas, sim, ludibriam o governo (e os caminhoneiros “autônomos”) para não lhes pagar os direitos trabalhistas e tributos decorrentes dessa prática permitida na lei.
São elas, com o lobby, caminhos, organização, relacionamento e poderio que conseguem os contratos de transportes e os sublocam, lucrando em cima dos autônomos – a parte mais frágil desse processo. São elas que fazem, ou leiloam o preço do frete para lhes garantir esse lucro. Está na cara de todo mundo. E não é de hoje. Conheço desse assunto há pelo menos 40 anos. E os motoristas, caminhoneiros de Gaspar, também. Eles daqui, povoaram o Centro-Oeste.
Numa economia de mercado, tudo se equilibra. Primeiro, o PT enganou os caminhoneiros: com a crise econômica criada exclusivamente no desastrado governo de Dilma Vana Rousseff; com a crise, a disponibilidade de frete diminuiu e isso fez aumentar, naturalmente, a concorrência e por consequência, os preços do frete cairam.
Segundo. Com a crise econômica e para dar emprego aos metalúrgicos – o nicho do populismo de resultado sindical no Sudeste -, o PT inventou e incentivou à venda de caminhões novos. Tudo com financiamentos a juros subsidiados por todos os brasileiros via o Tesouro e de longo prazo pelo BNDEs. E os caminhoneiros, e até empresas caíram em mais essa armadilha, de quem não governa, mas engana.
Terceiro. Sem fretes, os caminhoneiros, ficaram com as prestações dos seus caminhões novos E para não perder o caminhão, tiveram que trabalhar por longas e desumanas jornadas, com margens mais apertadas ou até prejuízos.
Quarto e para complicar tudo. Nesse ambiente de desalinho logístico e macroeconômico, aumentou-se ainda mais à disponibilidade de caminhões e à concorrência onde os fretes já estavam escassos. E aí, a conjuntura no livre comércio não perdoa quem não é previdente e comeu a isca de político malandro (Dilma e PT).
O aumento internacional do preço do petróleo e a desvalorização do Real (melhoria da economia dos Estados Unidos, associadas com as políticas protecionistas de Donald Trump), fez de uma situação que já era ruim, mais explosiva ainda. Somou-se à omissão de governo fraco sob forte questionamento de legitimidade e o lava-mãos dos próprios políticos – de todos os partidos, incluindo os do PSDB - na busca de soluções pós desastre PT para a economia no Congresso Nacional. Vergonhoso.
E os intervencionistas enxergaram a oportunidade nesse caos. E contra o país.
OS APROVEITADORES DE SEMPRE NÃO PERDOARAM
Resumo desse quadro de desastre: de um lado a esquerda do atraso querendo ver o circo pegar fogo para levar vantagem eleitoral sobre Temer e a própria direita. Do outro, a direta xucra, querendo mostrar serviço com a sua peculiar truculência física, amparada numa suposta moral para “varrer” a esquerda do atraso, como se isso fosse bom e possível. E para tal, mostrou a pior forma possível.
Resultado: assustou a todos, antes mesmo de ser poder.
Ainda bem. Que tudo está mais claro. Estou de alma lavada, mais uma vez. E há tempo para tudo se esclarecer até outubro para uma parcela ponderável que estão sendo levado ao erro, por outra parcela de fanáticos, até então não bem conhecidos nestes tempos de democracia, mas que aparecem com suas loucuras que hipnotizam milhares, como por exemplo ao que se diz ter sido médico em Blumenau, Benjamim Farias, e hoje alega ser empresário no Nordeste.
Resultado: a economia se desorganizou. Se o diesel baixou de preço na marra e estamos subsidiando para se ter esse valor menor valor nas bombas brasileiras com o que não temos no nosso bolso, a gasolina aumentou.
As passagens de ônibus para os trabalhadores com diesel mais barato continuaram no mesmo preço de ontem.
Houve o desabastecimento de produtos, aumentou a inflação, o PIB e o consumo caíram, diminuiu-se a arrecadação de impostos para a máquina voraz do estado e então piorou os serviços, o desemprego aumentou e tenderá crescer ainda mais. Tempos piores virão, quando havia a previsão de estabilidade mínima. Incrível!
Os investidores correram do perigo chamado Brasil com a esquerda e agora com a direita irresponsável, que não respeita regras, acordos e instituições. Os investidores estrangeiros e nacionais entenderam que a direta é tão perigosa quanto a esquerda para a economia e principalmente o futuro.
E a tabela do frete não se sabe se existe – ou ao menos é praticada de tão impraticável que é -, e quando exigida e aplicada, fez com que os caminhoneiros, razão da greve, ficassem sem cargas, sem trabalho, sem ganhos para pagar os prejuízos dos dias parados à força e desses dias em que estão parados porque o mercado piorou e se desregulou. Parece uma praga.
Agora há diesel mais barato, na marra, tabelado, subsidiado pelos brasileiros que para subsidiá-lo, o governo para isso retirou as verbas da saúde, segurança, obras e educação que atingem os mais vulneráveis, os mais pobres. Inacreditável. E os políticos caladinhos.
Os que manobraram os cansados de tantas injustiças aos longos dos anos, os analfabetos, ignorantes e desinformados continuam aí, mas diante do que deu tanto errado, estão mudando o discurso. E para enganar ainda mais a favor das suas causas radicais. Os “novos” líderes desses movimentos irresponsáveis, agora, diante de tantos erros, culpam a imprensa. O que eles temem mesmo, são as redes sociais que usaram a seu favor e começam a desnudá-los. E isso não tem e terá controle.
O mesmo efeito manada que alimentou falsamente a “greve” aos interesses de poderosos e intervencionistas, está de forma contrária, desnudando esse movimento.
O SILÊNCIO, A OMISSÃO, A NEGAÇÃO DO DEBATE SÃO TÃO PERIGOSOS QUANTO A DITADURA.
Naquele e nestes dias ainda, nas redes sociais circularam argumentações, impossíveis de serem compreendidas num mundo civilizado ocidental do século 21 e dito como democrático.
Escolhi uma entre centenas de mensagens que coletei naqueles dias sombrios e que teimam se prolongar. Ela abre este artigo. Impressionante, como alguém que se diz esclarecido pode conduzir uma manada sem que essa manada questione à razão pela qual e para quem está sendo usada e encalacrada no brete a espera do abate?
Como alguém quer ser governo e diz ter solução, se prega a “desobediência civil?” Ora, negar-se à negociação, é coisa de totalitário, ditador. Como pode-se negar a voz a quem possui o direito ao mínimo, que é o de discordar? Como essa gente vai ser governo, se prega a desobediência em qualquer circunstância? Os adversários terão o mesmo direito e então está feita a guerra do vale tudo, inclusive a vida.
O medo e a fragilidade de argumentos são tão grandes nesse tipo de gente e movimento, que o perigo nem é mesmo os supostos adversários, mas, segundo eles, é a mídia que poderá de alguma forma esclarecer o que querem sob as trevas permanente. Vou repetir: a mídia um esteio da liberdade expressão e da democracia. As redes sociais, que os intervencionistas usaram exaustivamente, são o verdadeiro perigo de hoje.
Engraçado, que neste item, tanto a esquerda do atraso quanto a direita xucra são iguais. Não querem imprensa. Essa unanimidade dá a verdadeira dimensão do perigo, censura e totalitarismo de ambos. Todas as ditaduras, a primeira coisa que faz é calar a imprensa e ter os seus jornalistas para a propaganda e esconder seus erros, incompetência e crimes.
“Resista, até com a falta de alimentos”, pedem.
Ou seja, para essa nova elite intelectual e retrógada que quer o poder na marra, pede e quer o sacrifício dos outros, não fazem a parte deles, tanto que, com o movimento grevista dos caminhoneiros, deixaram um legado que atrasou ainda mais o país que já estava no fundo do poço, deixado por gente da esquerda tão parecida nos métodos com os que dizem ser a nova direita.
Vamos viver, segundo essa gente por milagre, com orações e missas públicas, ao invés de trabalho, obediência às leis, aos poderes instituídos da República (que devem ser depurados, sim. Nunca extintos). Incrível!
E essa gente diz ter candidato. Mas, deve ser blefe. Pois pelo que prega, eleição não faz parte do vocabulário dela. Estamos prestes a embarcar num bonde chamado agonia. Wake up, Brazil!
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