Desde janeiro deste ano, a rotina da pequena Letícia Piazza, 10 anos, moradora do bairro Santa Terezinha, ficou incompleta. As tardes antes dedicadas aos ensaios de dança agora são vivenciadas em casa, distantes das coreografias. “Até o ano passado, como não havia cobrança de mensalidade, ela continuou no grupo, mas a partir deste ano, com as mudanças que aconteceram, ela e muitas outras precisaram parar com a dança”, conta a irmã Larissa.
Problemas envolvendo o poder público municipal interromperam os trabalhos do grupo de dança do Departamento de Cultura, que representava a cidade em festivais por todo o país. Com isso, a Associação Amigos da Dança de Gaspar, Assag, criou um novo grupo, mas que para manter as atividades precisa cobrar mensalidade e buscar patrocínios externos. A mudança fez com que 30 dos 52 dançarinos que integravam o projeto tivessem que deixar o grupo.
Até o final do ano passado, três professores pagos pelo município dividiam uma carga horária de 55 horas/aula de ensaios com o grupo de dança de Departamento de Cultura de Gaspar. Os contratos foram interrompidos e, segundo a Secretaria de Educação, não houve interessados no edital lançado no início do ano. A prefeitura também custeava parte do aluguel da sala em que o grupo do Departamento de Cultura ensaiava, mas o acordo foi rescindido em fevereiro. O município oferecia ainda ajuda de custo para figurino e participações em festivais, mas, como o grupo não teve continuidade até este mês, não chegaram a ser repassados em 2016.
Fora do Festival
O impasse prejudicou até mesmo a participação do grupo de dança de Gaspar no Festival de Dança de Joinville, o maior do mundo. Campeão da categoria Danças Populares em 2015, o elenco tinha vaga garantida no palco principal deste ano, mas como o grupo está parado e a inscrição não foi feita até o dia 10 de março, o projeto ficará de fora do festival. Gaspar só não estará totalmente de fora porque a Assag conseguiu negociar com a organização e inscrever coreografias de seus grupos particulares. No entanto, eles precisarão passar pelas seletivas para tentar chegar à mostra competitiva.
“Considero um absurdo. A gente tinha um projeto de cinco anos, com grande resultado, servia de incentivo para muitas crianças procurarem a modalidade. Em uma reunião no ano passado, a Secretaria de Educação chegou a garantir que nada mudaria. A prefeitura deveria sentir orgulho de nos ajudar, mas por questões políticas e por não aceitarmos algumas imposições, provocaram esse rompimento”, critica a professora Giovana Hostert, responsável pelo grupo até o fim do ano passado.
Mesmo com a saída dos professores e o corte no auxílio do aluguel, o responsável pela área de Cultura da Secretaria de Educação, Gabriel Corrêa, garante que o grupo não acabou, foi apenas interrompido. “Esta semana foi aprovada uma lei que permite a contratação de professores não formados. Com isso, vamos abrir um novo edital na semana que vem. Esperamos que até o início de maio três profissionais sejam contratados”, projeta. Um deles, com jornada de 40h, deve ser destinado ao novo grupo de dança municipal.
Segundo Gabriel, somente após as contratações será definido o novo local de ensaio do grupo e quantas crianças serão envolvidas. Até mesmo o nome deve mudar, já que o Departamento de Cultura, que o grupo representava, foi extinto na reforma administrativa da prefeitura, em fevereiro. Atualmente, além do grupo de dança, nove unidades de ensino também estão sem professor de dança. Outras 17 estão sendo atendidas por três professores. “A participação no Festival de Dança de Joinville ficou comprometida porque a organização de lá está antecipando cada vez mais o prazo (de inscrições). Como não tínhamos professor, ficamos sem participar. Todo trabalho que tem uma pausa sempre sofre alguma interferência, mas acreditamos que a partir de maio, com o novo professor, será iniciado um novo ciclo”, afirma Gabriel. Ao que tudo indica, um ciclo que será distante da associação de amigos da dança do município.
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