Hoje é dia 18 de setembro de 2020. Há exatos seis meses (em 18 de março, data do aniversário de Gaspar), a pandemia de coronavírus causou as primeiras alterações na rotina da população. No ritmo das paralisações nacionais, o comércio fechou as portas, trabalhadores foram impedidos de fazerem dos serviços, alunos foram dispensados das salas de aula e as ruas ficaram desertas.
Com o passar dos meses, o número de casos foi diminuindo. Em meio a máscara, distanciamento e muito álcool em gel, a maioria das pessoas voltou à rotina normal. Porém, em alguns segmentos, a falta de autorização para retomar o trabalho segue lado a lado com a dificuldade.
Enquanto muitos pais abominam a retomada das aulas presenciais em 2020, outros torcem pela abertura para terem onde deixar as crianças no momento de trabalhar. Entre a divisão de opinião dos pais, uma terceira versão chama a atenção: a dos proprietários de unidades particulares, que sobrevivem exclusivamente da renda gerada pela frequência dos alunos.
Quem vive na pele as consequências financeiras da pandemia é Zilda Giacomoni, responsável pelo Centro Educacional Infantil Recanto Feliz, localizado no bairro Coloninha, em Gaspar. “A creche é a minha única fonte de renda. Todo o sustento da minha casa vem da creche. São seis meses lutando para oferecer o mínimo à minha família”, resume.
Devido à situação, ela precisou demitir seus funcionários e tem medo de perder a locação do espaço onde a escola está instalada. “Estamos sem chão. No final do ano passado, minha casa foi completamente destruída por um incêndio. Começamos o ano cheios de esperanças e veio a pandemia. Todo mês atrasamos o aluguel e acumulamos contas. Sinto que Deus está no nosso lado, mas a preocupação é gigante”.
Zilda tinha cinco colaboradores, entre professoras e auxiliares. Sua creche era responsável por 45 crianças, na faixa etária de zero a 12 anos. O número caiu bastante, já que a maior parte dos pais matriculou seus filhos em CDIs da rede pública, nas vagas abertas no período de pandemia.
No dia 1º de setembro, a Câmara de Gaspar aprovou o Projeto de Lei 33/2020, que autoriza creches privadas a atuarem com atividades recreativas, sejam elas esportivas, culturais ou de entretenimento. A proposta, de autoria do vereador Francisco Hostins Junior, determinava a curta hospedagem das crianças e representou um respiro aos profissionais que atuam nessa área.
O PL foi sancionado pelo prefeito Kleber Wan-Dall em 8 de setembro. A partir dessa data, as creches estavam autorizadas a voltar a funcionar com essa determinação e seguindo todas as medidas de segurança. Porém, tudo mudou no último fim de semana, quando a Vara da Família, Infância e Juventude concedeu uma liminar suspendendo imediatamente a abertura.
A reviravolta desanimou a classe de empresários do ramo. Com o objetivo de pedir maior compreensão das autoridades, proprietários de creches particulares fizeram uma manifestação pacífica em frente ao Fórum da cidade na segunda-feira, 14 de setembro. A atitude rendeu uma reunião virtual entre a juíza Camila Pavani e representantes do grupo.
Renato Isensee, proprietário da Escola de Educação Infantil Pintando o Sete, localizada no bairro Margem Esquerda, participou da reunião online. “Fomos bem atendidos. Mas, basicamente, foi nos dito que os decretos estaduais são maiores que os municipais e, por esse motivo, derruba a lei recém-aprovada em Gaspar”.
A previsão é de que as aulas presenciais sejam retomadas em 12 de outubro. “Enquanto isso, não temos o que fazer. Estamos de mãos atadas. Os pais precisam trabalhar e estão deixando os alunos em algum lugar. Então, por que não deixá-los nas instituições que sempre confiaram e que, inclusive, se adaptaram para recebe-los?”.
Isensee reforça que ele, assim como os demais colegas, cumpre todas as exigências sanitárias. “Compramos tapetes, termômetros e máscaras para todos. Nos organizamos para receber os alunos da forma mais segura. A gente precisa do retorno financeiro que eles proporcionam, mas também prezamos pela saúde de cada um”.
Na tarde de quinta-feira, 17 de setembro, o grupo de proprietários de educandários particulares se reuniu com o prefeito Kleber Wan-Dall para pedir que a administração pública adiasse todos os impostos de 2020 para o ano que vem, sem cobrança de juros.
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).