Às vezes, a indecisão não está em qual roupa vestir no carnaval, mas a qual filme assistir. Num feriadão de carnaval, as opções – então! – são imensas. Comédia, sci-fi, documentário, romance, drama ou talvez apenas um stand-up para conseguir rir um pouco mais do seu cotidiano? Ou refletir, claro!?
A seguir, confira as sugestões de Andrey Lehnemann de filmes que estão a um clique no Netflix para uma boa passagem de carnaval dentro de casa.
No romance, o clássico dirigido por Nora Ephron, com Tom Hanks e Meg Ryan, é um encanto e um sopro de otimismo quanto ao amor à primeira vista. Inacreditável que a química dos dois esteja apenas num simples olhar, quando dividem uma única cena.
Caso haja algo que a vida nos ensine é que a maioria de nossos sonhos não irá se concretizar. E isso não é necessariamente algo ruim, se pensarmos que muitos dos nossos devaneios juvenis são, bem, juvenis. Desconhecemos o pessimismo dos dias que virão e ignoramos os obstáculos que são reflexos de nossas escolhas. Seus amigos do colegial dificilmente ganharão um nobel, escreverão livros de sucesso ou serão referências em suas áreas. Dentro desse panorama, o diretor Paulo Morelli nos apresenta o retrato de uma juventude que se move por esse princípio: que pensa que, de alguma forma, somos especiais. E somos, obviamente. Cada um à sua maneira; contagiando alguém próximo com sua essência, compartilhando-se. O brasileiro Entre Nós é uma narrativa que constrói esse sentimento como raros filmes conseguem: quem seremos amanhã? Estaremos aqui? Seremos alguém nesse imenso mundo em que todos querem ser alguém? O que perderemos neste percurso? Quem perderemos?
Apresenta-se como comédia romântica, mas é um inteligente manifesto feminista que satiriza a própria indústria para chegar ao marcante: "quem está pronta para ser ouvida?".
No documentário sobre Barry Crimmins, é como se entrássemos na mente de um comediante ideológico e compreendêssemos cada um de seus passos.
Continuando no caminho particular da comédia, onde a graça é pontual e muito mais inteligente do que hilária, o comediante Neal Brennan se desnuda completamente nesse especial, que entrou esse ano no Netflix. É a exposição completa de um artista em três atos, três microfones e três facetas. Brilhante.
Nada convencional, Bo Burnham quer se manter relevante num cenário que muitas vezes é burocrático em sua forma: comedia em pé. O jovem comediante faz de tudo num especial que cresce sintomaticamente até render uma sequencia lindíssima e uma confidência crua sobre o trabalho de um artista que a única coisa possível a se fazer é bater palmas ao final do espetáculo.
É compreensível que muitos considerem Paolo Sorrentino como um ególatra descabido que procura ostentar seus artifícios como autor em suas narrativas. Mas é igualmente válido, nesta perspectiva, encontrarmos na figura do escritor Jep Gambardella um reflexo preciso para ele. Alguém que vaga pelo mundo, no meio de prestígio e fama, tentando buscar uma novidade que o mova, que o inspire e que o faça querer se auto-descobrir novamente. Um sujeito que, apesar de achar o caminho escolhido pragmático, quer encontrar um significado para tudo isso. A Grande Beleza é a obra-prima do italiano.
Há três filmes do genial Sidney Lumet em catálogo. O melhor deles é esse Sob Suspeita, estrelado por um cômico Vin Diesel, que decide abrir mão de ter um advogado e assumir sua própria defesa, em um julgamento americano contra a Máfia.
No cinema particular de James Gray, uma trama simples sobre escolhas vira um retrato visceral sobre um homem que se encontra tão sem vida quanto suas fotografias em P&B.
Na cinebiografia sobre a juventude de Barack Obama, Devon Terrell é uma revelação na pele de um jovem que tenta compreender qual seu lugar na sociedade e seu papel na história.
Utilizando um clima documental que se encaixa numa história envolvente, o diretor Ryan Coogler aproveita a atuação multifacetada de um expressivo Michael B. Jordan.
Escrito e dirigido por Michel Franco, a narrativa acompanha a história de Alejandra e Roberto que, depois da morte de Lúcia, tentam reencontrar a paz em outra cidade e redescobrir seu relacionamento, deixando de lado a rotina triste dos dois. Após se matricular em um novo colégio, porém, Alejandra encontra uma realidade muito mais nociva e a dificuldade de se relacionar com seus colegas, que depois de divulgarem um vídeo contendo a menina fazendo sexo com outro jovem, passa a sofrer abusos físicos e emocionais.
Nesta visão documental progressista e otimista do mundo, Michael Moore expõe o que de melhor o nosso mundo tem e quais ideias deveríamos apropriar.
Sempre argumentei que Colin Ferrell tem um timing cômico muito bom. A argumentação está toda exposta em Na Mira do Chefe, um exemplar engraçadíssimo sobre o crime (des)organizado.
É dificílimo definir por completo a personalidade de Günther Bachmann (um dos últimos trabalhos de Phillip Seymour Hoffman). Enquanto analisamos seu comportamento considerável e preocupado com as mulheres que o cercam, por exemplo, mostrando um ódio ao machismo escancarado numa cena passada em um bar; logo depois, o mesmo personagem praticamente joga uma advogada contra uma cadeira para buscar a informação que necessita. Da mesma forma, a sua atitude controladora, firme, prepotente, irônica, difere-se de sua curvatura, mãos no bolso, olhar cabisbaixo e a forma como caminha, denunciando quase uma temerosidade quanto ao fato de estar sendo encarado ou julgado. É uma figura paradoxal. E é nesta ¿falta de respostas¿ de Corbijn e na soberba atuação de Philip Seymour Hoffman que O Homem Mais Procurado se torna uma obra tão relevante e inesquecível.
Um dos três filmes do Michael Mann (os outros são Inimigos Públicos e Fogo Contra Fogo) no catálogo da Netflix. Em um dos melhores papéis de sua carreira, Tom Cruise interpreta um assassino que paga a uma taxista para dirigir para ele durante a noite. Filmaço.
No sci-fi, sustentando com firmeza seus paradoxos temporais, O Predestinado acaba sendo uma ficção profundamente existencial, além de inteligente e bem executada, ao encarar a viagem do tempo como coadjuvante da narrativa. Nunca como protagonista.
Dá para supor que o longa-metragem caia no mesmo limbo de produções sci-fi subestimadas, como O Homem Duplo, ainda que seja um brilhante estudo metalinguístico de Ari Folman. No entanto, isso não importa, pois a experiência é garantidamente única. Na história, uma atriz concorda em ter sua imagem digital gravada para uso em filmes futuros.
Uma equipe de policiais da Indonésia entra num prédio dominado por um dos chefões do crime. Encurralados e sem ajuda, eles não têm outra opção a não ser lutar pela sobrevivência. Um dos melhores exemplares de ação de todos os tempos. E não tenho medo algum de dizer isso.
Um dos melhores filmes do ano passado, o novo filme de John Carney (dos igualmente belos Apenas uma Vez e Mesmo Se Nada Der Certo) narra o instante exato de um adolescente com uma musa e o amor.
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