Neste último fim de semana aconteceu o Campeonato Sul-Americano de Rugby Sevens, na sede do Flamengo, na Gávea. A modalidade é uma versão mais rápida da categoria, com sete jogadores e 15 minutos de duração. Recentemente, o esporte foi incluído no programa dos Jogos Olímpicos de 2016, que acontecerão no Rio de Janeiro.
Apesar do rugby ser muito popular pelo mundo, principalmente em países que tiveram forte influência inglesa, ele ainda busca espaço no Brasil. O evento, mesmo sendo o principal da modalidade na temporada, não contou com grande participação da torcida no primeiro dia de competição. O público que se manifestou na arquibancada, em sua maioria, era formado por familiares e amigos dos jogadores brasileiros. Já no segundo e último dia apareceram mais torcedores confiantes na vitória da seleção brasileira tanto no masculino quanto no feminino.
O esporte ainda passa por deficiências
Apesar de ser uma aposta para o futuro, atualmente os times de rugby ainda sofrem por falta de apoio, carência de infraestrutura e patrocínio. Segundo a mãe da Julia Sarda, capitã do time feminino brasileiro, Vânia Albino, no início da carreira da filha, ela e o time não tinham um local adequado para treinar e, muitas vezes, a alimentação era fornecida pelas famílias das jogadoras.
?Eu fazia bolo e torta fria para elas comerem aqui e não terem outros gastos. Elas que pagavam a passagem e tudo. Agora já é diferente, elas viajam de avião, têm uma estrutura, incluindo médicos, psicólogos, nutricionistas?, conta, deixando transparecer o orgulho que tem da filha que entrou para a seleção em apenas seis meses de treino e que pratica o esporte há sete anos.
As deficiências não terminam por aí. Produtos básicos que proporcionam uma condição mínima para treinamento não são facilmente encontrados. Até mesmo os uniformes são de melhor qualidade no exterior. Além disso, existe grande dificuldade em encontrar juízes brasileiros disponíveis, já que a maioria se especializa em esportes mais populares como futebol e vôlei.
A jogadora de rugby do Clube Guanabara, Ágatha Assis, conhece bem essas dificuldades. De acordo com ela, para conseguir uniformes para o seu time, foi preciso um atleta do time masculino fazer a compra em uma viagem à França. ?Na Europa, além do esporte ser mais popular e os produtos serem encontrados com facilidade, a qualidade é muito melhor?, diz.
Perguntada se sobreviveria do rugby, Ágatha, que também é professora de educação física, lamentou ao dizer que infelizmente não espera melhorias a ponto do esporte virar sua única profissão. ?Não largaria o meu trabalho garantido por algo incerto. Eu preciso sobreviver de alguma forma?.
A seleção brasileira feminina ganha espaço
Engana-se quem pensa que o rugby é um esporte tipicamente masculino. As jogadas que aparentam ser mais brutas que as do futebol, conseguiram conquistar as mulheres. Cansadas de somente assistirem aos jogos dos namorados, elas decidiram aprender e praticar o esporte.
Dedicaram-se tanto que, o que aconteceu? Superaram os homens. Neste domingo, conquistaram o Campeonato Sul-Americano pela oitava vez consecutiva.
Junto ao prestígio conquistado, melhorias em relação à infraestrutura. A seleção já é financiada em viagens, estadas, alimentação e em estrutura técnica. Bem diferente da realidade dos clubes, que ainda não possuem um lugar para treinamento. Muitas vezes os treinos acontecem em pracinhas de rua ou áreas cedidas temporariamente pela prefeitura dos municípios.
Segundo a capitã do time, Julia Sardá, tal investimento na seleção está atrelado ao fato de o Brasil ter ganhado visibilidade e sediar as Olimpíadas de 2016.
?Em termos de seleção, a melhoria foi de 1.000%. Nós temos um centro de treinamento que é simples, mas conseguimos fazer tudo. Antigamente a gente se reunia uma vez por ano para o Sul-Americano e esse ano já treinamos duas vezes por mês, com viagens e alimentação pagas. Antes, nós tirávamos do nosso bolso?, revela e continua: ?a Federação Internacional investe na gente porque o Brasil é o país-sede das Olimpíadas, e, além disso, a propaganda do fornecedor de material esportivo ajuda a tornar o rugby mais popular mesmo em um ponto de vista cômico?, afirmou ao se referir à propaganda que trata o esporte de maneira irônica, brincando com o fato de ser impopular.
Porém, nem tudo é festa. O time masculino ficou em quinto lugar na competição, enquanto a Argentina, favorita na competição, perdeu sua hegemonia para o Uruguai. O favoritismo dos argentinos é explicado pelo fato de que lá o esporte recebe grande atenção e investimento, o que torna sua seleção mais forte.
Segundo o integrante da comissão técnica, Gonzalo Garcia, na Argentina existe um suporte para treinar os atletas desde cedo. Eles começam quando ainda são crianças, diferente do que acontece no Brasil.
?A Argentina tem uma base da pirâmide para revelar jogadores, ou seja, cada clube tem uma estrutura para crianças, jovens e profissionais. Há torneios regionais em várias províncias, e assim surgem os jogadores, futuros ?Pumas??, explica e prossegue: ?a Argentina depois de 2007, quando ficou em terceiro lugar no Mundial da França, conquistou apoio político e econômico para desenvolver o rugby e torná-lo um esporte profissional. A grande diferença entre a estrutura dos campeonatos sediados no Brasil e na Argentina ocorre devido à tradição, cultura e ao Brasil ter começado no rugby um pouco mais tarde. O que falta para os brasileiros é o desenvolvimento do esporte desde a infância?.
Após a vitória, comemorações
O oitavo título das meninas da seleção brasileira de rugby é de extrema importância e tem uma simbologia especial, porque o Sul-Americano foi a primeira competição internacional que elas participaram. Além disso, as conquistas fazem crescer o interesse pelo esporte que já conta com trinta jogadoras treinando na seleção. Eleita a melhor jogadora do campeonato, Bruna Lotufo conta que a vitória faz surgir novas oportunidades: ?esse campeonato é classificatório para o Mundial, inclusive já estamos com viagens marcadas para jogar em Hong Kong e Londres?.
Entre a possibilidade de um futuro promissor e a incerteza gerada pela falta de visibilidade e infraestrutura dos clubes, o rugby brasileiro permanece buscando um lugar ao sol entre esportes já consagrados, para quem sabe um dia, ser grande no País.
Texto: AJEsportes Uerj'
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