A sala de espera lotada revela a grande demanda da saúde pública em Gaspar. Sem o atendimento de urgência e emergência no Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar, a população se vê obrigada a buscar socorro no Centro de Acolhimento de Risco, CAR, que desde sexta-feira atende a comunidade 24 horas por dia.
Até as 13 horas desta segunda-feira, 20, mais de 170 pessoas já haviam sido atendidas no CAR. São casos de origem clínica, como cefaleias, diarreias, vômito, dor abdominal e curativos. Os casos de urgência, como suspeita de AVC, gestantes e infartos estão sendo encaminhados pela equipe médica aos hospitais de Blumenau. ?Na sexta-feira à noite os atendimentos estavam normalizados, mas no final de semana foi mais tumultuado?, revelam as enfermeiras Elisabeth Correa e Elisabete Cecília de Souza.
A notícia de que o Pronto Atendimento não estaria mais atendendo à comunidade já estava anunciada, mas foi confirmada na manhã de sexta-feira, 17, e pegou muitos usuários de surpresa. ?Eu fui até o Hospital, pois estava com dor de dente e quando cheguei lá me deparei com as portas fechadas. Não havia ninguém atendendo. Então vim aqui no CAR e fui atendida?, conta Regiane Wappler, 17 anos.
Assim como a moradora do bairro São Pedro, muitas pessoas ainda estão procurando o Pronto Atendimento do hospital. Nesta segunda-feira a procura foi além da esperada pela equipe que trabalhava no plantão. Apesar de não atender casos clínicos, as portas do PA permanecem abertas e a equipe garante que casos de extrema urgência estão sendo socorridos, porém, Bombeiros e Samu já foram avisados para não levar pacientes ao local.
Os casos de urgência e emergência atendidos pelo Samu e pelos Bombeiros estão sendo conduzidos ao Hospital Santo Antônio, em Blumenau. Segundo a assessoria de imprensa, no final de semana cerca de quatro gasparenses por dia foram atendidos no PA do Santo Antônio. O hospital está atendendo apenas pacientes conduzidos pelo Samu e Bombeiros. As pessoas que chegarem de carro ao local não serão atendidas. Estas pessoas devem procurar o CAR, em Gaspar, para receber socorro enquanto a situação do PA do Hospital de Gaspar não for solucionada.
Entenda o caso
Há cerca de 15 dias a diretoria administrativa do Hospital de Gaspar anunciou que, caso não conseguisse contratar especialistas e elaborar o Plano Operativo, fecharia o Pronto Atendimento.
A paralisação nos atendimentos de urgência e emergência foi anunciada na sexta-feira, 17, e desde então a população precisa buscar socorro no CAR, que foi reaberto pela Prefeitura para atender 24 horas. O atendimento de urgência e emergência é responsabilidade do Município, que pagava ao Hospital a quantia de R$175 mil por mês para prestar o serviço. O Hospital alega que o valor é insuficiente. A equipe da Secretaria de Saúde, por sua vez, garante que o valor é adequado e alega que não recebe prestação de contas dos administradores do Hospital pelos serviços prestados.
Edição 1363
____________________________________Hospital não atende mais urgências e emergências
A dificuldade de remunerar adequadamente os médicos que atendem no Pronto Atendimento foi apontada pelos administradores como a principal causa do fechamento dos serviços de urgência e emergência oferecidos no Hospital de Gaspar. Desde a manhã desta sexta-feira, 17, os pacientes que procuram a instituição estão sendo orientadas a procurar atendimento em outras cidades, dependendo da especificidade. Bombeiros e Serviço Móvel de Urgência, o SAMU, também foram orientados a não levar mais pacientes para a unidade de Gaspar.
De acordo com o diretor técnico do Hospital, o médico anestesista Humberto Fornari, não há condições técnicas de prestar este atendimento à população. ?Hoje não há condições mínimas de conseguirmos atender o paciente de urgência e emergência. Digo isso porque as escalas de sobreaviso, tanto na pediatria, ortopedia, obstetrícia e cirurgia geral, não conseguem atender à demanda. Todos os pacientes estão sendo encaminhados aos hospitais da região?, declarou em entrevista coletiva.
O diretor alegou que chegaram a essa decisão em virtude de uma responsabilidade técnica. Estamos enfrentando todo esse problema desde outubro, que se iniciou na obstetrícia e desencadeou posteriormente para a ortopedia, pediatria e assim por diante?, lembrou Humberto. Segundo ele, o município e o Estado sabem desde esta data que a situação chegaria ao limite e, sem novos repasses além dos R$ 175 mil mensais que eram destinados pela Prefeitura até dezembro, não há como pagar os profissionais.
A diretora administrativa Maria Bernardete Tomazini ainda ressaltou que há falta principalmente de pediatras, que exigem pelo menos R$ 100 a hora do plantão presencial. ?Isso causa um efeito cascata, já que todos os outros profissionais precisam ter a mesma remuneração. Para um plantão de sobreaviso, por exemplo, a indicação é que o profissional receba 1/3 dos valores do plantão presencial, o que elevaria os valores para R$ 33/hora. Hoje, estamos com dificuldade para negociar estes valores a R$ 17, então fica realmente impraticável?, sustentou a diretora.
Administração oferece atendimento alternativo
Tão logo tomou conhecimento do fechamento dos serviços de urgência e emergência do Pronto Atendimento, a Administração municipal, por intermédio da Secretaria de Saúde, publicou no site da Prefeitura como vai dar conta da demanda, em pleno período de Carnaval. Segundo nota oficial, a Unidade Central de Saúde (Posto Saúde Centro), localizado na rua Vereador Augusto Beduschi, será aberto 24h até que a situação se normalize.
Em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira, a secretária de Saúde Honorina da Silva, em companhia da vice-prefeita Mariluci Deschamps Rosa, reforçou que já entrou em contato com cidades vizinhas, SAMU e Corpo de Bombeiros para informar que os casos mais graves devem ser encaminhados para os hospitais Santo Antônio e Santa Isabel, em Blumenau. ?Não estamos nos isentando de nossa responsabilidade, mas neste momento o atendimentos era feito desta maneira, já providenciamos uma medida alternativa até que a situação se normalize, comunicamos inclusive o secretário estadual de Saúde sobre a peculiaridade de nossa situação?, garantiu a secretária.
Questionada sobre a suspensão do repasse ao Hospital de Gaspar, a secretária alega que a diretoria precisa apresentar a prestação de contas para com o município. E que o valor repassado serve para cumprir um acordo que determina um montante de serviços a serem prestados, o que não vinha acontecendo. ?Pediatria e obstetrícia fazem parte de um conjunto das quatro clínicas básicas, uma vez que este é um hospital geral, e tem co-responsabilidade na contratação pelo Sistema Único de Saúde de oferecer este serviço?, respondeu.
A secretária ainda alegou que o valor de R$ 175 mil é significativo e suficiente para prestar os serviços acordados com o Hospital, levando em consideração o tamanho do município, as demandas e o perfil epidemiológico da comunidade e os demais trabalhos que o município desenvolve nas Unidades de Saúde. De acordo com um documento elaborado pelo Conselho de Administração do Hospital, o valor total necessário é de R$342 mil por mês. Honorina voltou a lembrar a falta de serviços acordados e a não apresentação da prestação de contas.
Direção descarta fechamento do Hospital
O diretor técnico Humberto Fornari descartou, entretanto, o fechamento do Hospital como um todo. Salientou que torce para que esta situação de não oferecer o atendimento de urgência e emergência seja temporária, e que vê boas probabilidades de solução a médio prazo, inclusive. Para ele, basta que a prefeitura acene com um valor mais alto e que os profissionais aceitem trabalhar pelos salários oferecidos pelo Hospital.
Bernardete completa, lembrando que somente duas especialidades, como pediatria e obstetrícia, têm um custo aproximado de R$ 140 mil com profissionais, o que inviabiliza qualquer nova contratação.
O presidente do Conselho de Administração do Hospital, Celso de Oliveira, também esteve na entrevista coletiva, mas limitou-se a acompanhar e a apoiar a decisão da diretoria. A responsabilidade pelo oferecimento dos serviços de urgência e emergência é do município, que repassa hoje um valor de R$ 175 mil, valor insuficiente para cobrir os gastoscom salários e demais custos envolvidos no Pronto Atendimento.
SERVIÇO: O Posto de Saúde Central do município de Gaspar estará atendendo 24 horas durante todo o Carnaval e após este período novas definições devem ser divulgadas à comunidade pelos órgãos de imprensa.
Edição 1362
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