Por Fernanda Pereira
Os campos esverdeados situados às margens das estradas do interior de Gaspar revelam que a cultura do arroz ainda é a principal produção agrícola da cidade, porém, o cultivo do grão vem perdendo sua força ano após ano e transformando-se de agricultura familiar para uma agricultura envelhecida, mantida apenas pelo homem.
?As dificuldades encontradas no campo fizeram com que as mulheres e os filhos fossem procurar trabalho na indústria e no comércio e apenas o pai da família mantém as atividades agrícolas hoje em dia. Isso tornou nossa agricultura envelhecida e sem uma política agrícola justa não vamos conseguir atrair o jovem para o campo, o que fará com que aos poucos a produção perca sua força?, explica a presidente do sindicato dos produtores de arroz de Gaspar, Ivanilde Rampelotti.
Mas o envelhecimento da agricultura não é o único fator que vem enfraquecendo a produção na cidade. O endividamento do produtor, somado ao baixo preço da saca nos últimos anos e à baixa concorrência entre as beneficiadoras têm sido as principais causas da perda da força da produção do grão em Gaspar.
Há dois meses a única beneficiadora de arroz que ainda funcionava na cidade fechou suas portas. O Arroz Belchior foi comprado pela empresa Arroz Urbano, de Jaraguá do Sul, o que limitou ainda mais a concorrência local. ?Gaspar chegou a ter quatro beneficiadoras de arroz, a dos Krauss, dos Fachini, Pamplona e a Belchior. Hoje não tem mais nenhuma. Nossos rizicultores vendem para a Urbano e para a Cravil e esta pouca concorrência não ajuda a valorizar o produto?, lamenta Ivanilde.
Hoje, a saca do arroz é comercializada a R$25. O valor é bem superior ao do ano passado, quando as beneficiadoras pagavam pela saca apenas R$13. O aumento tem dado novo ânimo aos 300 produtores do grão na cidade, porém, ainda não é o ideal. Segundo Ivanilde, há uns cinco anos a saca era vendida a R$42 e foi nesta época que muitos produtores do grão investiram em maquinários para aperfeiçoar a produção, porém, no ano seguinte o valor da saca caiu e muitos ficaram endividados, sem ter como pagar os empréstimos bancários.
Dados do sindicato revelam que pelo menos 90% dos rizicultores estão endividados. ?O Estado está desenvolvendo uma campanha para renegociar as dívidas e dar novo crédito aos produtores, pois sem crédito é difícil conseguir adquirir os produtos para o plantio. Estamos incentivando nossos associados a fazer esta renegociação?, mostra a presidente do sindicato.
Apesar das propostas de renegociação da dívida e do aumento do valor da saca neste ano, Ivanilde não exita afirmar aquilo que muitos produtores temem em ouvir: a cultura do arroz diminui a cada dia e, caso nenhuma política pública seja criada para mudar esta realidade, a tendência é de que o plantio do grão diminua gradativamente e aos poucos deixe de compor o cenário das estradas do interior da cidade.
Arroz Urbano compra a gasparense Arroz Belchior
A notícia da venda da empresa de beneficiamento de Arroz Belchior para a empresa de Arroz Urbano, pegou muitos rizicultores de surpresa. Além de diminuir a concorrência, o novo negócio ainda diminui a oferta de emprego na cidade, pois mantém no local apenas os serviços de limpeza e armazenamento do grão. Atualmente, apenas oito pessoas trabalham no complexo industrial do bairro Belchior.
Mas a venda da empresa também trouxe pontos positivos. Os produtores de arroz de Gaspar e região que já vendiam para a Arroz Urbano e precisavam transportar o grão até Jaraguá, agora precisam apenas levar as cargas até o Belchior. ?Nossa expectativa é melhorar o relacionamento com estes clientes, pois agora estamos mais próximos. Além disso, estamos comprando dos rizicultores que antes vendiam para o Arroz Belchior e isso aumenta nossa matéria prima. Nossa produção industrial é maior que a produção do grão, o que faz com que tenhamos que comprar matéria prima de outros estados?, explica o diretor presidente da Arroz Urbano, Jaime Franzner.
A Arroz Urbano tem sede em Jaraguá do Sul e 13 filiais espalhadas pelo Brasil. A empresa beneficia e vende arroz para todos os estados brasileiros e também para o exterior. Em fevereiro deste ano, completou 52 anos.
Edição 1362
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).