Cultura do arroz perde força em Gaspar - Jornal Cruzeiro do Vale

Cultura do arroz perde força em Gaspar

17/02/2012

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Por Fernanda Pereira

Os campos esverdeados situados às margens das estradas do interior de Gaspar revelam que a cultura do arroz ainda é a principal produção agrícola da cidade, porém, o cultivo do grão vem perdendo sua força ano após ano e transformando-se de agricultura familiar para uma agricultura envelhecida, mantida apenas pelo homem.

?As dificuldades encontradas no campo fizeram com que as mulheres e os filhos fossem procurar trabalho na indústria e no comércio e apenas o pai da família mantém as atividades agrícolas hoje em dia. Isso tornou nossa agricultura envelhecida e sem uma política agrícola justa não vamos conseguir atrair o jovem para o campo, o que fará com que aos poucos a produção perca sua força?, explica a presidente do sindicato dos produtores de arroz de Gaspar, Ivanilde Rampelotti.

Mas o envelhecimento da agricultura não é o único fator que vem enfraquecendo a produção na cidade. O endividamento do produtor, somado ao baixo preço da saca nos últimos anos e à baixa concorrência entre as beneficiadoras têm sido as principais causas da perda da força da produção do grão em Gaspar.

Há dois meses a única beneficiadora de arroz que ainda funcionava na cidade fechou suas portas. O Arroz Belchior foi comprado pela empresa Arroz Urbano, de Jaraguá do Sul, o que limitou ainda mais a concorrência local. ?Gaspar chegou a ter quatro beneficiadoras de arroz, a dos Krauss, dos Fachini, Pamplona e a Belchior. Hoje não tem mais nenhuma. Nossos rizicultores vendem para a Urbano e para a Cravil e esta pouca concorrência não ajuda a valorizar o produto?, lamenta Ivanilde.

Hoje, a saca do arroz é comercializada a R$25. O valor é bem superior ao do ano passado, quando as beneficiadoras pagavam pela saca apenas R$13. O aumento tem dado novo ânimo aos 300 produtores do grão na cidade, porém, ainda não é o ideal. Segundo Ivanilde, há uns cinco anos a saca era vendida a R$42 e foi nesta época que muitos produtores do grão investiram em maquinários para aperfeiçoar a produção, porém, no ano seguinte o valor da saca caiu e muitos ficaram endividados, sem ter como pagar os empréstimos bancários.

Dados do sindicato revelam que pelo menos 90% dos rizicultores estão endividados. ?O Estado está desenvolvendo uma campanha para renegociar as dívidas e dar novo crédito aos produtores, pois sem crédito é difícil conseguir adquirir os produtos para o plantio. Estamos incentivando nossos associados a fazer esta renegociação?, mostra a presidente do sindicato.

Apesar das propostas de renegociação da dívida e do aumento do valor da saca neste ano, Ivanilde não exita afirmar aquilo que muitos produtores temem em ouvir: a cultura do arroz diminui a cada dia e, caso nenhuma política pública seja criada para mudar esta realidade, a tendência é de que o plantio do grão diminua gradativamente e aos poucos deixe de compor o cenário das estradas do interior da cidade.

Arroz Urbano compra a gasparense Arroz Belchior

A notícia da venda da empresa de beneficiamento de Arroz Belchior para a empresa de Arroz Urbano, pegou muitos rizicultores de surpresa. Além de diminuir a concorrência, o novo negócio ainda diminui a oferta de emprego na cidade, pois mantém no local apenas os serviços de limpeza e armazenamento do grão. Atualmente, apenas oito pessoas trabalham no complexo industrial do bairro Belchior.

Mas a venda da empresa também trouxe pontos positivos. Os produtores de arroz de Gaspar e região que já vendiam para a Arroz Urbano e precisavam transportar o grão até Jaraguá, agora precisam apenas levar as cargas até o Belchior. ?Nossa expectativa é melhorar o relacionamento com estes clientes, pois agora estamos mais próximos. Além disso, estamos comprando dos rizicultores que antes vendiam para o Arroz Belchior e isso aumenta nossa matéria prima. Nossa produção industrial é maior que a produção do grão, o que faz com que tenhamos que comprar matéria prima de outros estados?, explica o diretor presidente da Arroz Urbano, Jaime Franzner.

A Arroz Urbano tem sede em Jaraguá do Sul e 13 filiais espalhadas pelo Brasil. A empresa beneficia e vende arroz para todos os estados brasileiros e também para o exterior. Em fevereiro deste ano, completou 52 anos.

Edição 1362

Comentários

rafael morgado
17/02/2012 18:42
Essa crise não é temporaria, a agricultura familiar da região entrou em colapso e nao tem volta. O modelo de pequeno produtor ja era, faliu. nao encaixa mais na atual realidade. A tendencia é o latifundio de grande produçao com alta tecnologia e custo reduzido. As terras de cultivo que nao passarem para o latifundio serao loteadas e urbanizadas, nao se iludam. É o "progresso".
Paulo
17/02/2012 17:08
Inacreditável...

O arroz chegou a quase R$ 50,00 a saca e hoje em dia é vendido a R$13,00.

O valor da saca caindo e o preço de agrotóxicos, fertilizantes e etc...que produtores tem que comprar.. ou seja o produtor no fim das contas esta pagando para trabalhar. e ainda por cima tem que rezar para nao bater uma praga para acabar com todo o investimento e cultivo e grandes esforços..
Lampson Mor
17/02/2012 15:44
No mundo de Hoje, os jovens estão partindo para novos meios deixando assim o campo, sem contar que o incentivo do governo é muito pequeno, mas por outro lado essas terras que são usadas para plantar arroz podem ser aterradas e virar loteamento eliminando a mafia imobiliária, no qual ninguém consegue comprar nada, por culpa de valores absurdos, tem mais que acaba mesmo... terra para todos.... todos querem um pedacinho....
Lord EPS
17/02/2012 09:39
Quero parabenizar os trabalhadores rurais. Tem muita importancia para a população. E essa crise é temporária, pois aqui na região, o arroz é indispensável!!

Boa sorte!

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