Quem vê a cidade de Gapar, assim, crescendo a cada dia ainda que de maneira não tão organizada e planejada, certamente se lembra de outros tempos e de outras histórias. Das estradas de barro, da população essencialmente rural, das pequenas propriedades com tijolos à vista e estilo enxaimel, da rodovia Jorge Lacerda cruzando a cidade, da construção da BR-470, do velho Vapor Blumenau.
Afinal, são 78 anos de histórias, se considerarmos sua emacipação política oficial, em 18 de março de 1934. Mas, desde a fundação da colônia, lá se vão outros 150 anos. Essas memórias fazem parte de nossas raízes e estão vivas nos livros, nos documentos, nas fotografias de diversas épocas.
Mas, e quem nasceu em Gaspar nos últimos 78 anos, e que precisou deixar a cidade, como vê hoje sua terra natal? Como Gaspar é vista a distância, ainda que acompanhada pelas redes sociais e pelas facilidades das novas tecnlogias da comunicação? Que lembranças têm os gasparenses que não residem mais na cidade? Como todos sonham com o futuro desta cidade e como a veem de onde estão? Esta edição especial, amigo leitor, busca responder estas e outras perguntas, que ficaram para trás no rastro de nossos 78 anos.
Domingo, 18 de março. Chegou o dia em que todos os moradores de Gaspar comemoram os 78 anos de emancipação da cidade. Para comemorar a especial data, uma variada programação foi preparada e vem sendo executada no município desde a última semana. São atrações para todos os gostos e idades.
A principal atração da programação aconteceu na noite deste sábado, dia 17, no Ginásio João dos Santos. Às 22h horas, a dupla Eric e Matheus subiu ao palco preparado para o show de aniversário da cidade e animou as centenas de pessoas que foram conferir de perto os sucessos cantados pela dupla. De acordo com o secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Dayro Bornhausen, a atração foi escolhida devido ao fato de o sertanejo universitário estar em alta e ter caído no gosto de todos.
Inaugurações de ruas, melhorias em escolas, casamento comunitário, sábado na praça especial. Esta e outras atrações foram preparadas para o mês de aniversário de cidade. Na próxima quinta-feira, dia 22, acontece a inauguração da ampliação nas dependências do Centro de Desenvolvimento Infantil Vovó Benta. Já no dia 27, terça-feira, é a vez da Escola de Educação Básica Zenaide Schmitt Costa receber diversas pessoas no educandário para a inauguração da climatização e da construção dos vestiários. A inauguração da construção e cobertura da quadra de esportes da Escola Ervino Venturi, programada para o sábado, dia 31, encerra o mês de aniversário.
A SEMANA
Diversas atrações em comemoração ao aniversário de Gaspar marcaram a semana que passou. Na segunda-feira, dia 12, os agricultores da cidade, junto de suas famílias, puderam participar do Primeiro Encontro da Família Rural Gasparense. Segundo o secretário de Agricultura, Alfonso Hostert, o evento superou as expectativas da comissão e reuniu um grande número de participantes.
Já na quinta-feira, dia 15, aconteceu o lançamento do primeiro livro de Karine Alves Ribeiro, intitulado de ?No outro lado do mar?. Na sexta, dia 16, os idosos tiveram uma atração destinados a eles. Neste dia, a Sociedade Canarinhos foi sede de um torneio, realizado pela Assessoria de Assuntos para a Terceira Idade.
Aqueles que sempre tiveram o sonho de oficializar a união e não tinham condições puderam participar do Casamento Comunitário, que aconteceu na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. A igreja de Gaspar também foi o local escolhido para a realização do concerto em homenagem ao município, que acontece hoje, às 20h.
A previsão de bom tempo na manhã deste domingo, 18, deve levar milhares de pessoas até a Rua Coronel Aristiliano Ramos, no centro de Gaspar, onde acontece o desfile em comemoração aos 78 anos da cidade. Adultos, idosos e crianças. Desde as 9h, quando o desfile tem início, todas as gerações poderão ser vistas no centro, desfilando ou prestigiando o evento.
Moto Clube, Conferência Vicentina, Pastoral da Saúde, Pinoco?s Cana e Grupo de Boi de Mamão. Estes são apenas cinco exemplos diversas empresas, entidades, grupos culturais e turísticos de Gaspar vão passar pela principal rua da cidade mostrando seus produtos e divulgando sua marca. Segundo o diretor adjunto de Cultura, Felipe Dias da Silva, cerca de 40 grupos devem participar do desfile, fazendo deste o ano com maior número de participantes.
José Carlos, sargento do Corpo de Bombeiros, vai desfilar com cerca de 20 pessoas no pelotão da entidade. Para ele, a oportunidade é muito boa para poder divulgar a instituição. ?Este é o 10º desfile que o Corpo de Bombeiros participa. Sempre vamos porque sabemos que a comunidade fica esperando o momento em que vamos passar?, declara.
A presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Gaspar, Erica da Silva, também concorda que o desfile é uma forma de divulgar os trabalhos desenvolvidos no município. ?A partir do momento em que se faz um trabalho no município, é preciso mostrar o que está sendo desenvolvido?. No pelotão da Rede Feminina, cerca de 15 mulheres vestidas de rosa estarão desfilando.
A atração principal da manhã de desfile foi a apresentação da Banda de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro. Segundo o Diretor Adjunto, 135 homens vieram até Gaspar apresentar seus trabalhos. ?O diferencial do desfile deste ano é este, ter a presença dos integrantes da banda de fuzileiros navais do Rio de Janeiro. Eles ficaram muito contentes em vir para cá, tanto é que, no sábado, deram uma entrevista à imprensa e divulgaram sua participação no desfile de hoje?, diz Felipe.
Como todos os anos, um palanque oficial foi montado ao lado da Praça Getúlio Vargas, na rua São Pedro. Dele, diversas autoridades municipais e estaduais vão assistir ao desfile em comemoração à emancipação político-administrativa da cidade.
Para saber um pouco mais sobre a Cidade Coração do Vale é necessário conhecer partes importantes de sua história. Os primeiros habitantes da região foram os índios Xoclengues, que vieram para cá em busca de um local para se proteger dos caçadores. Aos poucos, a tradição indígena foi perdendo sua força, e a partir do século XIX os índios começaram a perder seu território, dando cada vez mais lugar para o progresso que chegava na região Sul do país. Em 1835, os primeiros imigrantes apareceram e com eles trouxeram tradições da cultura européia. Entre os novos habitantes estavam colonos alemães, italianos e açorianos, que encontraram nessa região um solo fértil e um clima suave, iniciando assim seus plantios, além de darem os principais passos para uma nova fase da história de Gaspar.
As primeiras localidades a serem habitadas foram a região do Belchior, que teve sua ocupação determinada pela exploração da madeira e a pequena agricultura, e teve como primeiro colonizador Antônio Bernardo Hanedchen, na década de 1860, e as regiões onde hoje ficam os bairros Bateias, Gasparinho e Gaspar Mirim, a partir de 1875. As regiões do Bateias e Alto Gasparinho foram habitadas em grande parte por imigrantes italianos que produziam farinha, açúcar, fubá, café e arroz. Já no Gaspar Mirim, se concentraram os colonizadores portugueses, produzindo farinha, açúcar, melado, cachaça e polvilho. Os descendentes de portugueses fixaram moradia no Gaspar Grande, onde investiram na produção da madeira.
CRESCIMENTO
Os Alemães e italianos viviam na região do Poço Grande, onde a extração da madeira era muito importante. A região do Arraial era pouco habitada, e apenas em 1930, com a descoberta do ouro e com o início do plantio do arroz, é que a região começou a prosperar. Na localidade da Garuba e Águas Negras prevalecia o plantio do café, aipim, cana e milho. As terras desta localidade foram requeridas por Henrique Klock, e Pedro Zimmermann.
Foi em 1880 que Gaspar, até então denominada Freguesia São Pedro Apóstolo, se uniu à Freguesia São Paulo Apóstolo, e juntas formaram um só município chamado Blumenau.
Antes de ser um município, Gaspar teve que passar por diversas situações complicadas e pertencer à cidade de Blumenau. Em 1880, Gaspar tornou-se segundo distrito, e era conhecido como simples povoado na zona rural de Blumenau. O Partido Conservador ficou muito forte em Blumenau, e por este motivo vários gasparenses solicitaram o desligamento do distrito de Gaspar do município de Blumenau, para voltar a pertencer ao município de Itajaí. Essa situação não durou muito tempo, e o fortalecimento do Partido Republicano, também em Blumenau, regularizou novamente a dependência de Gaspar para com o município.
Com o passar dos anos, cansados de fazerem parte de um segundo distrito, muitos gasparenses formaram lideranças políticas e empresariais e começaram a lutar pela independência político-administrativa. O desenvolvimento transformou a realidade de Gaspar, que havia crescido consideravelmente. A população e a produção agropecuária tinham se multiplicado, mas a qualidade de vida não estava acompanhando esse desenvolvimento. As estradas precisavam de soluções, não havia escolas suficientes, e os caminhos para o interior eram intransitáveis. A população pagava os impostos, mas não recebia o retorno.
Na década de 1930, já havia se passado meio século desde que Gaspar começou a ser administrado por Blumenau, e a situação ainda estava complicada. Foi então que, após a revolução de 1930, movimentos entre lideranças políticas começaram a ter como objetivo a emancipação de Gaspar, e finalmente se tornou município. A iniciativa partiu do Coronel Aristiliano Ramos que, em 1934, deu autonomia a diversos distritos blumenauenses, entre eles Gaspar.
No dia 18 de março de 1934, Gaspar foi oficialmente intitulado município e o primeiro prefeito foi o senhor Leopoldo Schramm. Gasparenses e autoridades de vários outros municípios vieram até Gaspar presenciar tal fato. Cerca de 80 pessoas assinaram a ata. A nova administração transformou a sede administrativa em um ambiente acolhedor, organizando a praça pública. Leopoldo Schramm também trouxe crescimento econômico e qualidade de vida ao povo gasparense. Foram construídas escolas, estradas, pontes e muitas empresas surgiram na cidade, que passou a crescer e tornou-se destaque no cenário catarinense. Leopoldo Schramm, ligado ao Partido Liberal, governou a cidade até 1947 e foi o prefeito com maior mandato na história da cidade.
Quem nasceu em Gaspar e por diversos motivos não vive mais na cidade, sempre tem uma história para contar. Os bons filhos, que voltam a casa vez ou outra, sempre que se reúnem, dividem memórias da infância, da adolescência ou do começo da juventude. São lembranças do tempo da escola, o primeiro filho, o primeiro caderno, a professora inesquecível, aquela escola com educação exemplar.
Muitas dessas histórias perdem-se no tempo. Ficam apenas no contato entre parentes e amigos, no dia a dia cotidiano ou em uma rápida estada nas férias. Muito do que é dito ou escrito sobre Gaspar nestes últimos 78 anos ? seja na imprensa, seja nos livros históricos escritos por diversos autores ? é fruto desse tipo de memória, muitas vezes negligenciada ou deixada de lado. Importantes fontes de construção de nossa História e lembrança do passado, as pessoas que aqui moram ou que deixaram Gaspar também têm muito para contar.
Nesta edição especial, vamos abrir espaço para que algumas dessas histórias apareçam. Pretendemos, ainda, ouvir o que os filhos desta terra têm a falar, mesmo de longe, e qual seu olhar sobre o crescimento e o atual momento por que passa nossa sociedade. Ao olhar para o passado, buscamos construir um novo futuro.
Francisco Graciola cresceu brincando pelas ruas do interior do bairro Gasparinho. Filho do plantador de arroz Artur Graciola, que recentemente comemorou 90 anos de vida, e de Tereza Wilbert Graciola, Chico é o terceiro de 12 irmãos. Desde pequeno, optou pelo trabalho na cidade, ao contrário do pai. Foi barbeiro em Blumenau, comerciante, até iniciar a carreira no ramo de imóveis, onde se encontrou. É proprietário da FG Empreendimentos, abriu outras duas incorporadoras e dois hotéis, entre eles o Fazzenda Park Hotel, em Gaspar.
Em Balneário Camboriú, onde reside e trabalha, pretende construir o maior prédio do Brasil, a torre Infinity Coast, projetada para ter 66 andares e quase 240 metros de altura. Além do Infinity, a FG planeja um outro edifício ainda maior, de 80 andares, cujo projeto está em elaboração. Da cidade litorânea conhecida como A Maravilha do Atlântico, Chico observa o crescimento da cidade como todo gasparense interessado pelo progresso de sua terra.
Mesmo longe do município há pelo menos 35 anos, o empresário se preocupa com os rumos que a cidade está tomando. Vê o crescimento de Gaspar a distância, mas sempre que pode acompanha pelo Jornal Cruzeiro do Vale e pelo que os amigos contam como a cidade se desenvolve e como projeta seu crescimento.
Fiel às raizesChico volta à cidade com bastante frequência. Como possui negócios aqui, não perde o vínculo com a economia da cidade, o que acaba se tornando um laço a mais, além da forte ligação com a família. ?Estou em Gaspar regularmente, pois tenho minha empresa hoteleira na cidade, o Fazzenda Park Hotel. Meus pais ainda residem no Gasparinho, local onde a família costuma se encontrar para relembrar as histórias e os velhos tempos de criança?, conta.
Para o empresário, Gaspar está crescendo e tem melhorado muito nos últimos anos. Entretanto, acredita que sua administração precisa focar na fonte natural e muito preciosa que o município oferece, o turismo. ?Mas para que isso aconteça precisa de mobilização local, regional e até nacional de recursos para que se possa direcionar um caminho para esta bela cidade turística?, projeta Chico.
Graciola tem boas recordações da cidade, principalmente do tempo da juventude. Fiel às suas raízes e orgulhoso do tempo de trabalho humilde na cidade, recorda do local onde aprendeu a profissão de barbeiro. ?Tenho boas recordações daquele local onde comecei a profissão, numa pequena barbearia que ficava no pé da escadaria da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. Ali cortava cabelo, inclusive dos padres. Também guardo ótimas lembranças do local onde nasci, que fica próximo ao Fazzenda Park Hotel, no Gasparinho?, recorda.
Desse tempo, muitas histórias ficaram marcadas na memória de Chico Graciola. ?Uma passagem que deixou impressões mais fortes é quando íamos para a escola e passávamos por um lindo morro de gramado. Nas folgas da escola descíamos a ladeira em cima de uma cachopa de coqueiro e principalmente nos dias de chuva, onde elas deslizavam com facilidade?, relata. Os tempos de infância na cidade ajudam a deixar vivo o carinho especial por Gaspar.
O empresário acredita que Gaspar tem um grande futuro, de crescimento, qualidade de vida e oportunidades. Questionado sobre o futuro, respondeu com extrema simplicidade, mas com muito bom senso: ?O que se espera do futuro de uma cidade é a cultura e o pensamento do seu povo, a visão empreendedora de pessoas que desejam ver sua cidade crescer e prosperar, o que não falta no município de Gaspar?. Como se vê, o otimismo é uma de suas marcas e, talvez por isso, sua vida profissional tem dado certo há bastante tempo. Como o futuro de nossa cidade.
QUEM É:
Francisco Graciola, mais conhecido como Chico
É casado, pai de três filhos
Empresário de sucesso da construção civil, é proprietário da FG Empreendimentos
Sua empresa vai construir o maior edifício do Brasil, o Infinity Coast está sendo projetada para ter 66 andares e quase 240 metros de altura
Tem saudade da infância saudável no Gasparinho
Talvez a marca de um cidadão gasparense não seja explicada apenas com sua longa trajetória ou com sua participação ativa na sociedade em que vive. É bem provável que esta marca também possa ser descrita como uma espécie de tatuagem, algo que não sai mais de nossa identidade, seja pela proximidade sentimental, seja pela necessidade de rever Gaspar a cada fim de semana ou pela identificação e carinho com a cidade.
Esta é exatamente a situação de Rodrigo Junkes. Morando em Curitiba há um ano e oito meses, para onde mudou-se por motivos profissionais, este filho de Gaspar jamais abandonou a terra natal. ?Tirando alguns fins de semana esporádicos em que trabalho em regime de sobreaviso, de resto estou sempre na cidade?, explica.
Rodrigo é um jovem ligado nas modernas tecnologias de comunicação, como internet, redes sociais e demais ambientes virtuais. O engenheiro de telecomunicações não só conhece a técnica como a utiliza para ficar sabendo das notícias de Gaspar, mesmo a distância. Acompanha o que acontece no município pelos portais de notícias da cidade e região, principalmente jornais e rádios. Além disso, tem contato direto com a população, já que praticamente todos os fins de semana está em Gaspar. ?Minha mãe às vezes até fica indignada comigo quando vem me contar alguma coisa que eu já estou sabendo?, conta com bom humor.
Com orgulho, salienta que adora Gaspar e tudo o que se encontra nela, mas principalmente pelas características que preserva até hoje, de ser uma cidade pacata e acolhedora. Rodrigo brinca que por incrível que pareça, todos os amigos em Curitiba sabem onde fica Gaspar. ?Quase todos meus amigos conhecem Gaspar, ao menos pela Cascanéia ou Fazzenda Park Hotel. Brinco com eles que moro onde eles passam as férias?, conta.
Força de vontadeUma cidade em franco crescimento, como Gaspar, corre o risco de ser assunto na mídia mais por seus problemas do que por suas virtudes ou pela superação de suas dificuldades. Todos os gasparenses têm consciência de que lutar pelos seus direitos e usar a mídia para acompanhar de perto o que o Executivo faz pela cidade é apenas parte do processo democrático que produz mais cidadania e igualdade para o povo.
Rodrigo Junkes compartilha da ideia de que as dificuldades podem ser superadas com muito trabalho. Por isso, é enfático ao responder sobre como vê isso: ?Problemas? Poderíamos há muito tempo ter bem encaminhados nossa ponte, anel de contorno, hospital forte... Não só em Gaspar, mas como em toda a região sul a população tem muita força de vontade e cria suas próprias oportunidades. Pegue pelo exemplo das enchentes, a população somente não pode produzir a infraestrutura da cidade. Acho que os interesses políticos sobressaem-se aos da cidade?, reflete.
Saudades? Nem tanto
Como visita regularmente a cidade, Rodrigo não tem tempo de sentir saudade dos locais de Gaspar, mas confessa que sente muita falta das experiências que passou em diversas épocas no passado. ?Passei minha infância na rua Brusque, estudei no Colégio São Francisco e por muitos finais de semana passava tardes jogando bola no Canarinhos ou então dando voltas de bicicleta pelos bairros da cidade. Esses são alguns exemplos de boas recordações que tenho de Gaspar?, relembra.
Talvez por ter Gaspar tão viva na memória e por viver intensamente a cidade ainda hoje em dia ? seja pela internet ou numa visita aos fins de semana ? Junkes não consegue resumir sua vida em Gaspar em apenas uma história. ?Criei-me em Gaspar e até hoje não perdi o vínculo com esta cidade. É aí que tenho toda minha família e amigos. Sempre digo que se pudesse escolher, não teria saído. Porém, por necessidades profissionais, tive que me ausentar. A atividade que exerço somente vou encontrar em grandes centros urbanos, mas Gaspar fica está sempre comigo?, conta.
Futuro
O gasparense que saiu da cidade mas não a deixou apenas na memória espera que no futuro Gaspar evolua sem perder suas origens. Que seja uma cidade próspera, cada vez mais unida e que atenda as necessidades e anseios de sua gente. ?Tirando algumas situações pontuais, acho que estamos no caminho certo?, completa. Como o que mais importa não é a velocidade, mas a direção certa a seguir, é bem provável que os filhos e netos de Rodrigo verão uma Gaspar bem mais humana no futuro.
QUEM É:
Rodrigo Junkes nasceu no bairro Coloninha
É solteiro, não tem filhos
Trabalha como engenheiro de telecomunicações em Curitiba
Acompanha notícias de Gaspar diariamente na internet
Sente falta das brincadeiras de infância pelas ruas da cidade
Aos 52 anos, os hábitos que Dom Jaime Spengler cultiva hoje em Gravataí, cidade metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, são bastante diferentes de quando brincava no mato atrás da propriedade da família, no bairro Poço Grande. Suas atividades profissionais, como bispo auxiliar na cidade de Porto Alegre e Vigário Episcopal para a região de Gravataí, com abrangência de mais ou menos 950 mil habitantes, são bem diferentes das rotina na produção da Linhas Círculo, no tempo de juventude. Mas o carinho com que fala de Gaspar revelam que a distância só aumentou o amor pela cidade.
A família mora até hoje em Gaspar, no Poço Grande, para onde este experiente e respeitado religioso vem a cada 60 dias pelo menos. Não chega a sentir saudade, mas faz de tudo para visitar os pais regularmente, mesmo já tendo vivido em Curitiba, Campo Largo (PR), Itália, Alemanha, Guaratinguetá (SP) e Israel. Está fora de Gaspar há 31 anos, mas nunca perdeu de fato o contato com a cidade ou com as pessoas que fizeram parte de sua vida.
Dom Jaime Spengler é religioso franciscano, presbítero e procura acompanhar a vida cotidiana da cidade através de meios eletrônicos, lendo notícias na Internet. De onde vive, observa que a cidade vem se desenvolvendo com rapidez. De um município marcado no passado pela atividade agrícola, Gaspar passou a se distinguir pela atividade industrial ? sem perder, é verdade, aquela.
Para o religioso, se no passado o município era marcado por uma população descendente de imigrantes, principalmente alemães e italianos, hoje ele se tornou casa de tantos que vem das mais diferentes regiões não só do estado de SC, mas do Brasil em busca de melhores condições de vida. ?Isto é o que podemos perceber do espírito de acolhida, da receptividade de seu povo. É um município que cresceu e se desenvolveu devido ao esforço e trabalho dedicado de tantos?, avalia.
Desenvolvimento e desafiosMas Dom Jaime não vê somente o lado romântico da modernidade. Acredita que o desenvolvimento e o crescimento do município trouxeram consigo desafios: a necessidade de maior segurança, educação com qualidade, atendimento à saúde para todos. ?É verdade que a população goza de qualidade de vida. No entanto, não se pode negar que existam desafios. Antes de tudo, vale ressaltar a questão do trânsito. A cidade cresceu, o município se desenvolveu, mas o transito está parando, senão já parado! Não bastam mais arranjos, desvios, etc. É urgente que se encontrem soluções para esse drama?, alerta Dom Jaime Spengler.
O religioso recorda-se que há anos se discute a questão. Segundo ele, falava-se inclusive de usar o antigo leito da estrada de ferro para ampliar a malha viária. A estrada de ferro foi desativada ? para a vantagem das transportadoras e empresas fabricantes de caminhões ?, ocupou-se o antigo leito, e hoje, se fica discutindo como facilitar a vida de quem precisa diariamente, ou nos finais de semana, atravessar a cidade.
?Quem pensa grande, ou seja, quem pensa a cidade nos próximos 15 ou vinte anos? Assim como o problema do trânsito está o impasse do Hospital. Hospital construído com esforço, dedicação, senão sacrifício de tantos, tendo à frente do projeto a figura de uma homem que pensava grande: Frei Godofredo Sieber.?, questiona Dom Jaime.
Com a autoridade de quem sabe o que está falando, a preocupação com a saúde pública de Gaspar toma um bom espaço da entrevista. Ele quer saber até quando o nosso povo precisará buscar auxílio em hospitais da região para as situações mais simples, mas que dizem respeito àquilo que participamos de melhor: a saúde.
Para Dom Jaime, a Constituição Federal garante atendimento à saúde para todos, mas no dia a dia a situação não é bem esta. ?Se pudéssemos deixar de lado partidarismos políticos que não levam a nada; se conseguíssemos eliminar a praga da corrupção presente em tantas situações da vida política e social, certamente não só Gaspar, mas tantos outros municípios poderiam gozar de uma boa casa de atendimento à saúde, onde médicos e enfermeiros bem renumerados atenderiam bem dispostos quem necessita de atendimento médico-hospitalar?, analisa.
Ele ainda ressalta um outro desafio, que diz respeito ao cuidado e preservação do meio ambiente. ?Temos montanhas, temos ainda matas; temos ribeirões, cascatas, rio. Tudo isso, as gerações que virão depois de nós poderão continuar contemplando a beleza e riqueza, se já hoje houver autêntico empenho pela preservação. Isso só será possível com boas políticas públicas e educação?, alerta.
A vida em Gaspar
Questionado sobre do que mais sente falta hoje, em Gaspar, Dom Jaime revela, saudosista: ?a mata que existia atrás do terreno onde ainda moram meus pais, e onde podíamos quando crianças apanhar tucum, guabiroba, maracujá; onde podíamos ouvir pássaros como aracuan, tié, canário, sabiá, azulão, saíra cantando... O rio onde podíamos nadar, podíamos dar banho nos cavalos?, recorda.
Quando foi instigado a contar uma história que o tenha marcado em seu passado, mesmo diante de tantas lembranças, certamente as que mais me marcaram foram as do tempo de estudos no Colégio Frei Godofredo, o tempo do grupo da JUFRA (Juventude Franciscana) e o tempo de trabalho nas Linhas Círculo, nos espaços onde viveu a juventude. ?Como filho mais velho de uma família de quatro irmãos, foi nas Linhas Círculo, trabalhando muitas vezes além das oito horas normais, que consegui o necessário para auxiliar a casa, meus irmãos, e uma pequena economia para manter-me no tempo de seminário?, conta.
O tempo de Colégio ajudou não só na formação cultural, mas também na própria determinação e disciplina pessoal. Era duro trabalhar de dia e estudar à noite; era duro ter de às vezes ir a pé para casa depois das aulas, pois não havia linhas de ônibus; era duro sair da fábrica e ir estudar a pé, ainda mais quando a estrada que conduzia até a sede atual do Colégio era de barro. E com certeza era ainda mais duro quando chovia.
Honestidade e determinação
Sobre o futuro, Dom Jaime projeta uma Gaspar mais humana. Espera que a cidade consiga crescer em qualidade de vida, que o município se torne sempre mais acolhedor, que a cidade se torne sempre mais bonita, harmoniosa, cuidada. ?Espero também que o povo não se deixe jamais levar por interesses políticos estreitos demais; que ele jamais perca a característica do trabalho, da honestidade, da determinação. Espero que nesse pedaço de chão a dignidade, a honra, a integridade, a humanidade de cada um de seus habitantes seja cultivada, alimentada e valorizada. Espero que cada visitante, cada transeunte possa depois dizer: ?estive num lugar que faço questão de um dia poder retornar??
QUEM É:
Dom Jaime Spengler, 52 anos, nascido em 06 de fevereiro de 1960
Está fora de Gaspar há 31 anos
Os pais residem até hoje no bairro Poço Grande
É religioso franciscano, presbítero e bispo auxiliar na cidade de Porto Alegre e Vigário Episcopal para a região de Gravataí, Rio Grande do Sul
Tem saudade de ouvir o canto dos pássaros na propriedade da família
Gaspar é uma cidade tão acolhedora e de raízes tão profundas que deixa marcas eternas mesmo em quem não nasceu na cidade. Muitas pessoas passaram por aqui e se consideram gasparenses de coração, porque viveram lembranças inesquecíveis em épocas importantes. É o caso do lageano Gustavo Arruda. Aos 33 anos, vive em Aracaju, capital sergipana, com a esposa. À espera do primeiro filho, Gustavo revelou-se mais gasparense do que lageano, já que viveu na cidade dos 5 aos 30 anos de idade.
A identificação com a cidade passa pela forma intensa com que viveu na cidade. Gustavo deixou Gaspar em 2011, depois do casamento com a gasparense Giselle Censi. Mudou-se para Blumenau, onde ficou três anos até mudar-se para Aracaju. ?Vivi Gaspar por 25 anos?, resume o gerente de Negócios da Superintendência do Banco do Brasil em Sergipe.
No Coração do Vale, morou por muito tempo na Margem Esquerda. ?Estudei na Escola Municipal Norma Mônica Sabel, de onde trago inúmeras lembranças, grandes amigos, gente que cultivo até os dias de hoje?, relembra. Na adolescência ainda residiu no bairro Sete de Setembro e, mais tarde, no Santa Terezinha. Três dos mais populosos bairros e em todos os amigos foram sua maior riqueza.
Ao ser questionado sobre as principais lembranças da cidade, a amizade é a primeira imagem que vem à mente. Mesmo nas relações profissionais (o primeiro emprego foi em Gaspar e foi na cidade que alcançou a primeira promoção no Banco do Brasil) os amigos estiveram presentes. ?O primeiro emprego formal, por exemplo, foi uma oportunidade de um amigo do peito. Era engraçado. De dia meu chefe, à noite companheiro de festas?, recorda com bom humor.
Ainda sobre isso, mais tarde, já como gerente de relacionamento do BB de Gaspar, vivia circunstâncias como a de ter clientes que participaram das traquinagens de infância, que jogavam futebol na várzea ou mesmo futebol de botão. Gustavo lembra de uma situação engraçada. ?Em visita a um empresário, ao lado de colegas de trabalho, o assunto profissional ficou de lado e deu lugar às minhas ?artes?. A reunião não terminou antes de muitas risadas?, confessa.
A ligação com o Tupi?Tenho um carinho todo especial pelo Tupi. Lembro do primeiro treino na escolinha do clube. Dado Schwartz era o treinador. Ele já via que eu não teria o mesmo molejo e habilidade que a família teve (pai, avô e dois tios foram atletas do clube) e por isso reservava um outro espaço no clube?. Em 2001, quando o Tupi disputou a Segundona, Arruda foi assessor de imprensa do time e o acompanhou em quase todos os jogos do Estadual. ?Anos depois, cheguei a participar da diretoria e fomos campeões amadores. Largava a família para ficar na bilheteria, fotografar, xingar árbitro no alambrado e, ao fim, contar o dinheiro para pagar o ?bicho?, conta.
Essas lembranças o marcaram muito. Como repórter dos jornais da cidade, o Tupi era pauta semanal. Gustavo criou tanto amor pelo clube que seus trabalhos acadêmicos de conclusão da graduação e da primeira Pós-graduação tiveram o Tupi como tema. Anos mais tarde estava jogando futebol de mesa pelo clube, disputando torneios importantes, atrás de patrocinadores e por espaço da modalidade. ?Vejo que hoje a equipe de futebol de botão continua e evoluiu muito. Saí por motivos óbvios. Três dos companheiros de futebol de botão eram velhos conhecidos?, salienta.
Qualidade de vida
?Eu e minha esposa estamos prestes a ter o primeiro filho. Ela está grávida de quatro meses. Tenho dúvidas sobre as oportunidades que ele terá quando for criança e adolescente comparadas às que tive ? no que diz respeito às condições de brincar na rua, jogar futebol na várzea, conversar na praça?, projeta.
Hoje, Gustavo acompanha Gaspar pela imprensa (portais dos veículos da cidade) e depoimentos de amigos e familiares, e acredita que a cidade não apresenta uma estrutura de lazer condizente com sua demanda. Segundo ele, as pessoas de uma condição financeira favorável podem se associar a clubes, viajar, dispor de recreação como o cinema, shows artísticos e afins. A população de menor renda, na sua visão, é quem sofre com a falta de opções.
?Existem muitas áreas sub-utilizadas, que poderiam servir de ponto de encontro e lazer de crianças. É de ambientes saudáveis como os campos de várzea, quadras de basquete, que nascem amizades para uma vida toda. Sem falar de aprendizados como a de que o esporte contribui para uma vida mais saudável e digna?, analisa. Na sua opinião, há tempos Gaspar esqueceu do esporte e as lideranças deveriam pensar mais sobre o assunto, já que segundo o que acompanha pela imprensa, ainda acreditam que realizar jogos escolares é promover a prática esportiva. ?É importante, porém muito pouco. Ao menos é assim que entendo?, completa.
Planejamento
De onde mora e do que se recorda de Gaspar, acredita que a cidade sofre da falta de planejamento. Não vê perspectiva na solução dos problemas de saúde e da falta de estradas para dar fluxo à demanda de veículos que passa pela cidade, pelo menos no curto ou médio prazo. A saída, segundo ele, começa com o primeiro passo, que deve ser dado pelos partidos políticos: ?todos querem fazer planos para vencer as eleições, mas ninguém faz um plano para administrar a cidade. A individualidade prevalece na hora de governar. As pessoas confundem opção partidária com amizade. Já fiz parte da atividade política e nem por isso tenho inimigos?, argumenta.
Gustavo Arruda esteve na cidade pela última vez em setembro de 2011. O motivo foi a presença no casamento de amigos. ?Visita de médico?, como se diz, mas o suficiente para dizer que Gaspar continua aconchegante, porém carente de mais atitude.
QUEM É:
Gustavo Arruda, 33 anos, nascido em Lages
Gerente de Negócios da Superintendência Estadual do BB em Sergipe
Mora há um ano em Aracaju. Antes disso, viveu três anos em Blumenau
Casado com Giselle Censi Arruda, à espera do primeiro filho
Residiu em Gaspar dos 5 aos 30 anos
Tem saudades do convívio com os amigos
Comunicação é o principal negócio de João Pedro Corrêa há mais de 50 anos. Trabalhou na Rádio Clube de Gaspar de 1958 a 1960, indo para a Rádio Nereu Ramos de Blumenau em 1960 desde então segue uma carreira profissional que passou por rádios e veículos de comunicação em Itajaí, Curitiba, Rio de Janeiro, Suíça, até montar sua própria empresa em 1992, na capital paranaense.
Em todo este tempo, acompanhou de perto o crescimento de Gaspar, onde nasceu. A família morava no centro da cidade, mais exatamente onde hoje fica a rua Izidoro Corrêa. Longe de Gaspar desde 1960, é consultor em comunicação empresarial, é casado e tem duas filhas. Mesmo residindo há tanto tempo fora da cidade, jamais perdeu o contato com as pessoas e com as notícias sobre Gaspar. ?Passo sistematicamente por Gaspar, paro ocasionalmente para visitar familiares que moram na cidade?, conta.
Sempre ligado no que acontece em Santa Catarina, acompanha as notícias pelo portal do Jornal Cruzeiro do Vale, que é uma fonte permanente, ?além dos contatos com familiares, particularmente com o Álvaro Correia, meu irmão, e meu informante mais usual?. Da capital dos paranaenses, vê Gaspar com um misto de torcida, de esperança e de frustração, ao mesmo tempo. Pela localização geográfica, pela passagem obrigatória que é para regiões importantes do Estado, Gaspar parece ter perdido boas oportunidades de se desenvolver mais. ?Contudo, se comparar a Gaspar que deixei nos anos 60 com a de hoje, certamente é possível observar o progresso. Creio, porém, que a cidade poderia ter tido outra qualidade de crescimento?, questiona o gasparense.
Saudade da educaçãoQuestionado sobre qual lugar da cidade lhe traz mais saudades e lembranças boas, afirma que ?certamente seria o local onde comecei a estudar: o Grupo Escolar Honório Miranda, onde tive meus primeiros anos de ensino e que tanto me ajudaram a continuar a luta pela vida. Com certeza é um local que me emociona cada vez que passo na frente?, reflete.
Uma passagem que marcou sua vida aconteceu em 1958, quando cursava o então Curso Normal Regional, no Honório Miranda, e surgiu uma oportunidade de trabalhar como operador de som da então Rádio Clube de Gaspar, ZYT27, ?a Sentinela do Vale?. Suas memórias sobre este tempo ainda permanecem bastante vivas: ?Lembro que a emissora entrava no ar às 6h50 com o programa ?O Calendário do dia? e às 7h15 transmitia a missa, direto da Igreja Matriz. Só que havia uma linha telefônica ligando a Rádio à Igreja que às vezes se rompia e era uma luta para descobrir o local da ruptura?, recorda.
João Pedro lembra que depois de alguns meses na rádio, Odemar Costa, principal locutor da rádio, lhe ofereceu a chance de mudar de lado, isto é, deixar de ser o operador e ser o apresentador do programa das 6h50. Foi aí que tudo começou. ?Naquele momento foram abertas as portas para minha carreira, jamais vou me esquecer?, recorda com saudosismo.
Potencial para o futuro
Muitas pessoas acreditam que o futuro de Gaspar passa por um bom planejamento e por uma organização, já que o potencial para crescimento é unanimidade. João Pedro Corrêa também acredita que Gaspar tem potencial para ser uma cidade muito boa para seus habitantes. Tem localização geográfica privilegiada, atributos naturais invejáveis além de condições de abrigar interessantes projetos em várias áreas, desde comerciais, industriais, agrícolas até mesmo outros setores em destaque hoje.
Entretanto, João Pedro lembra a necessidade de planejamento. ?Não vivo o dia a dia de Gaspar mas, de longe, me parece que falta à cidade um plano estratégico de longo prazo, que consiga mostrar com clareza o potencial da cidade nos diversos campos e que tenha capacidade de definir ações táticas de como atingi-lo?, reflete. E ainda acredita as pessoas são capazes de levar a cidade ao desenvolvimento. ?Tenho convicção de que Gaspar tem gente capacitada para fazer isto ou, no mínimo, buscar este conhecimento que está disponível nas redondezas. O tamanho do progresso de Gaspar será do tamanho da determinação da sua gente?.
QUEM É:
João Pedro Corrêa nasceu no centro de Gaspar, onde hoje é a rua Izidoro Corrêa
Está fora de Gaspar desde 1960
Consultor em comunicação empresarial, é autor do livro ?20 anos de lições de trânsito no Brasil? e está iniciando outro livro, ?Disseminando cultura de segurança no trânsito no Brasil?
É casado e tem duas filhas
O economista Maurílio Schmitt, natural do Belchior Alto, está fora de Gaspar há 44 anos. Mas isso não significa que perdeu os laços com o passado. Maurílio construiu sua família longe de Gaspar. Casado com Solange de Oliveira Schmitt, é pai de três filhos, Murilo, Leandro e Larissa, e avô de Miguel, Cecília e Elisa. Frequentemente visita a cidade, o que não o deixa sentir saudade de um lugar ou uma situação em específico. Como ele mesmo diz, pelo menos uma vez a cada trinta dias está na terra natal para ?beber água da mesma fonte?.
O gasparense reside em Curitiba, de onde vive o dia a dia de uma grande cidade sem perder o contato com o que acontece em Gaspar. Acompanha as principais informações a distância, o que é facilitado em tempo de comunicação digital e das maravilhas do mundo virtual. ?Com a tecnologia hoje disponível, o acesso a informações sobre Gaspar é quase em tempo real, muito simples, rápido?, explica.
Maurílio tem uma visão bastante crítica e realista a respeito do crescimento da cidade. Para ele, em razão de uma visão distorcida dos planejadores da Rodovia Jorge Lacerda, o centro de Gaspar sofre até hoje, por ter-se tornado corredor de todo o trânsito regional, mesmo com a implantação da Avenida das Comunidades e da BR-470.
No que diz respeito à economia, sua opinião é a de que houve por muito tempo a concentração da produção em três grandes grupos de contribuintes, o que se revela problemático, especialmente em momentos de crise. Mas vê boas alternativas de crescimento sustentável: ?Parece-me promissor o setor turístico, que inclui parque aquático, hotel fazenda, gastronomia, piscicultura e lazer, cervejaria, aeromodelismo, entre outros, e que mereceriam ações conjuntas de divulgação ? inclusive como opção do público frequentador da Oktoberfest de Blumenau e dos turistas que afluem para as praias de Santa Catarina em diferentes períodos do ano?, analisa.
Pelo perfil de sua população e por sua história, Maurílio acredita que Gaspar reúne muitas virtudes e se destaca por seus recursos e belezas naturais, que poderiam gerar muito mais emprego, renda, transformar-se em riqueza, desde que oferecidas condições de infraestrutura adequadas para acessá-los. ?Outra vocação que vem se destacando é a produção artesanal de doces e geleias, aguardentes e derivados (açúcar mascavo, melado), por produtores independentes ou organizados em cooperativas, bem como os frigoríficos produtores de derivados de suínos. Isso precisaria ser melhor valorizado?, defende.
Marcas da infânciaNa infância, a família possuía dois ônibus que faziam todos os dias o trajeto Belchior Alto/Blumenau. Em eventos especiais, ocorridos na sede do município de Gaspar, todos iam em caravana para deles participar. Deste tempo, destaca dois desses momentos: ?Primeiro a ida dos belchiorenses para participar, na Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo, da cerimônia de encerramento das Santas Missões, pregadas pelos padres Redentoristas ? além dos princípios e valores cristãos que nos eram infundidos, ficava eu especialmente embevecido com as melodias tocadas pela Banda São Pedro, que ecoavam do alto da colina?, lembra com saudade.
O segundo momento especial acontecia quando os alunos do curso primário das Escolas Reunidas Frei Policarpo dirigiam-se ao Colégio Honório Miranda para participar de concurso que elegia os melhores desenhos, trabalhos manuais desenvolvidos durante o ano pelos também alunos de diferentes escolas do Município. ? Eram instantes muito especiais de, mesmo em disputa por lauréis, congraçar toda a comunidade estudantil gasparense. Tenho muita saudade daquele tempo?, recorda Maurílio.
Projetando o futuro, Maurílio acredita que Gaspar, como de resto a nação brasileira, precisa se empenhar em construir instituições fortes , principalmente a partir da família, pois a sua fragilidade, ou a ausência de maturidade de dos organismos sociais, não permite que se planeje o futuro da comunidade para além de uma eleição de seus representantes. ?Apenas a título ilustrativo e para efeito de comparação, o que hoje todos verificamos é o País sendo planejado até o horizonte da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Todavia, em 2022, celebramos data cívica das mais importantes ? o bicentenário de nossa Independência ? e não se esboça qualquer movimento para restaurar e inculcar nos brasileiros o sentido de Nação, indispensável para projetar o País que queremos em um futuro mais distante dos dias atuais?, questiona.
Neste mesmo contexto, Maurílio imagina ser de extrema importância planejar estrategicamente o município de Gaspar para a celebração de seu centenário (2035), que acontecerá num espaço de apenas uma geração. ?As ações empreendidas a partir de agora (ou a falta delas), com os ajustes e as correções que as circunstâncias imponham no decorrer do tempo, determinarão o desenvolvimento social e econômico que, então, se terá conquistado?, finaliza.
Necessidade de investimentos
O economista lembra que existem muitas indústrias de vestuário, inclusive sediadas em municípios vizinhos, que contratam facções para executar o trabalho de costura e de acabamento. Ou seja, há um potencial enorme em diversos segmentos, muitas vezes carentes de novos e importantes investimentos. A leitura que ele faz da realidade serve para se pensar no futuro: ?Pelo perfil de sua população e por sua história, Gaspar reúne muitas virtudes e se destaca por seus recursos e belezas naturais, que poderiam gerar muito mais emprego, renda, transformar-se em riqueza, desde que oferecidas condições de infraestrutura adequadas para acessá-los?, reflete.
QUEM É:
Maurílio Leopoldo Schmitt nasceu e viveu a infância no Belchior Alto.
É casado com Solange de Oliveira Schmitt, pai de três filhos e avô de três netos.
Há 44 anos morando longe, é economista e reside hoje em Curitiba.
Nunca abandonou a cidade, onde vem pelo menos a cada 30 dias.
Acredita que Gaspar precisa fortalecer as famílias para crescer enquanto sociedade.
O empresário João Pedro da Silva admite que é bairrista, daqueles que sempre pensam numa maneira de levar consigo o pedaço de chão onde nasceram. Exalta o que a cidade tem de melhor, é saudosista e acredita que a cidade é um excelente polo gerador de empregos, nos mais diversos segmentos da economia. Talvez por isso, mesmo distante do lugar onde deu os primeiros passos, jamais vai se esquecer dele: fez uma homenagem em forma de registro imaterial: todas as empresas que criou e administra até hoje levam o nome da cidade, como Gaspar Imobiliária, Gaspar Armazéns Gerais, Gaspar Indústria e Comércio de Cereais e Gaspar Radiodifusão.
Uma das mais destacadas é a Gaspar Empreendimentos Agropecuários, proprietária da marca Delicious Fish, que pertence ao Grupo Gaspar e tem sede em Sorriso, Mato Grosso. A empresa trabalha com toda a cadeia produtiva: desde a criação de peixes até a venda de pratos prontos em sistema de franquia. Destaque regional e estadual, a Delicious Fish foi pauta inclusive de programa especial do Globo Rural sobre a força da piscicultura na região Centro-Oeste.
Cidade pode se tornar bela e planejadaQuando João Pedro nasceu, sua família residia na localidade do Arraial, na antiga escola em frente à estrada que acessava a Serraria dos Bembens, a dez quilômetros do centro de Gaspar. Há 43 anos fora de Gaspar, admite que o saudosismo o transformou num bairrista. Ou vice-versa. ?Sempre admirei muito a minha cidade natal, sou muito bairrista e saudosista, fiz uma homenagem importante à cidade de Gaspar: atribuí a algumas empresas, das quais sou diretor, a denominação social iniciada pela palavra GASPAR?, revela com orgulho.
Sua última visita à cidade de Gaspar ocorreu há cerca de dois anos. Mas consegue acompanhar o que acontece de mais importante principalmente por amigos de longa data, como Osvaldo Scheineder, Paca, e pela irmã Alexandrina Clara, além das informações que são noticiadas na imprensa. Do Mato Grosso, em meio a todos os compromissos profissionais, acredita que a principal virtude da cidade, hoje, é a vasta geração de novos empregos, oriundos das centenas de empresas localizadas na cidade de Gaspar, o que para ele alavancou o aumento da renda dos cidadãos gasparenses.
Mas, do que especificamente um saudosista assumido sentiria mais falta? ?Do bar do senhor Ercílio, onde costumávamos tomar café com cuca, após as missas, aos domingos?, recorda. O empresário conta que saiu de Gaspar muito jovem, mas ainda assim guarda boas recordações em sua memória. ?Tenho saudosas lembranças da época em que frequentava o Grupo Escolar Honório Miranda, cuja diretora era a senhora Carminha, e as professoras senhoras Rosa e Ligia e a irmã Cecília?, relembra.
Sobre o futuro, João Pedro espera que Gaspar seja contemplada, nas próximas administrações, com prefeitos que possuam um perfil empreendedor, com capacidade para desenvolver projetos de urbanização planejada com o fim de organizar o intenso tráfego de automóveis, na cidade de Gaspar.
Pioneirismo
A primeira piscicultura de Sorriso nasceu em um tempo em que ninguém pensava em criar peixe profissionalmente onde os grãos sempre dominaram a atenção do produtor. Foram justamente esses grãos que ajudaram a trazer a atividade para a região. ?Começamos a piscicultura no estado em 1992. Éramos eficientes como produtores, produzíamos bem soja, milho, mas o frete para levar esse produto para o sul do país era muito caro.
Hoje, a Delicious Fish também fatura com o bom momento do setor. Nos últimos cinco anos, sua produção anual saltou de 1.000 para 3.000 toneladas de peixe. Há dois anos, ele abriu as portas da fazenda e se tornou parceiro do Aquabrasil, um programa coordenado pela Embrapa, que tem como objetivo promover um salto tecnológico na aquicultura brasileira.
QUEM É:
João Pedro da Silva é casado há 37 anos com a psicóloga Leila Cabral da Silva
Pai de duas filhas e avô de Nicholas, hoje com quatro anos
Empresário no ramo do Agronegócio, diretor geral do Grupo Gaspar, composto por várias empresas e fazendas
Sua família vivia na comunidade do Arraial.
A cidade de Buenos Aires é o centro cultural de maior importância da Argentina e um dos principais da América Latina. Considerada a mais europeia das capitais sul-americanas, é palco de museus, teatros e bibliotecas, sendo alguns deles os mais representativos do país. Sua vida acadêmica é destaque, já que algumas das universidades mais conceituadas do país ficam na capital. Em 2005, foi eleita pela Unesco como Cidade do Design.
É nesta imponente cidade que mora hoje o gasparense Victor José Caglioni. Natural do Belchior Alto, reside há um ano oito meses na capital argentina. O sociólogo trabalha atualmente como analista de mercado em uma empresa de consultoria. Sua passagem mais recente pela cidade aconteceu em março de 2011, quando encerrou suas últimas férias de estudos.
De Buenos Aires segue o portal de notícias do Cruzeiro do Vale na internet, às vezes acessa o site oficial da cidade, e muitas vezes discute com amigos suas impressões sobre Gaspar nas redes sociais, em conversas entre amigos e familiares on-line.
Victor tem uma opinião formada sobre Gaspar. Vê na cidade uma boa tendência ao desenvolvimento, que pode ser levado de forma sustentável e equilibrada. ?Eu acredito nisso, é difícil sob qualquer aspecto, mas o fato de contar com muita gente bacana, e que se esforça para estudar, desenvolver uma carreira, com dedicação, (nunca se generaliza obviamente) torna um lugar que, a meu ver, deveria inclusive receber mais investimentos?, pondera o sociólogo.
Para dar um exemplo sobre o potencial de desenvolvimento, destacaria a tendência à criação de produtos de valor agregado, que vão de móveis, químicos, moda, tecnologia, turismo e serviços enfim, são características que segundo ele deveriam ser valorizadas. ?Não podemos esquecer de mencionar que também temos artistas e esportistas, às vezes com pouco incentivos, ou só apenas contando com a moral de seus familiares e amigos, mas que nitidamente têm talento para com o que se dedicam, entre outras características da nossa diversidade?, revela.
LembrançasEle lembra que em Gaspar se encontra muita gente com uma capacidade incrível de criação e entusiasmo, o que falta realmente é espaço para a experimentação. Segundo Victor, existem bons casos de pessoas, nascidos ou não em Gaspar, que puderam crescer com a cidade, tiveram sua oportunidade de desenvolvimento. ?Vejo que ainda é possível conquistar um espaço de forma honesta, que proporcione um aval de profissional. Modestamente, creio que entre muitos exemplos meu pai e minha mãe são reflexos disso?, salienta.
Outro ponto que Victor Caglioni evidencia é que Gaspar tem uma relação controversa com a Natureza. Segundo ele, ?ela já nos proporcionou algumas perdas difíceis, mas acredito que os parques aquáticos e investimentos grandiosos em áreas rurais, apontam que devemos e podemos preservar nossa natureza que é espetacular. E com ela mesma podemos nos proporcionar também melhorias em outros âmbitos, tratando de manter nosso meio ambiente cada vez mais limpo?.
Problemas comuns
Na sua visão, os problemas de Gaspar são comuns a muitas cidades brasileiras, o que não tira a responsabilidade coletiva de exigir e de proporcionar mudanças pontuais. ?O grande choque quando se observa desde aqui, é que falta lazer, somos carentes de praças, temos dificuldades com o acesso à cultura (não que não a temos, mas numa proporção e acessibilidade que hoje me assusta mais, ao ter a possibilidade de ver um outro lado deste tema)?, avalia.
Ainda assinala que Gaspar enfrenta contratempos em caminhos e estradas não adequados ao fluxo diário, inexistentes políticas de transporte público, propagação turística que ainda está por se desenvolver sua capacidade ideal, entre outros problemas. Entretanto, lembra que essa não é uma crítica pela crítica, com objetivo de atacar alguém ou algum grupo, visto que é uma série de situações que não são fáceis de resolver.
Saudade peculiar
Questionado sobre qual o lugar lhe trazia mais saudade, buscou na memória para relatar um ambiente bastante peculiar. ?Talvez, para muitos, existam lugares mais bonitos, mas há uma pequena cachoeira, na rua José Schmidt Sobrinho, caminho para a casa de um tio e uma tia e que por anos também levava à casa de minha ?oma? (avó materna) Adélia Oeschler, que lamentavelmente já não está presente fisicamente. Essa cachoeira sempre me fascina, desde criança, não sei bem o motivo, mas acho que foi porque certa vez minha mãe me levou até a casa da oma, quando ela trabalhava em Blumenau e me contou como era no tempo em que ela ia à escola e que comia goiaba por esse caminho por onde passava?, recorda.
?Eu tinha nove ou dez anos creio, isso faz uns dezoito ou dezessete anos; numa tarde de um dia muito quente, fomos nos banhar naquelas águas, estávamos meu irmão, um amigo do meu irmão que hoje mora em Maringá (PR) e eu. As coisas eram um pouco diferentes, não causávamos mal nenhum mesmo ao invadir uma propriedade privada para nos banharmos, a não ser o perigo de cair e se machucar, que é inerente a toda infância?, brinca Victor.
Quase todas as vezes que saía de casa de bicicleta, passava pelo local, para ver como estava. Ele relembra que naquele tempo havia um volume de água muito mais intenso, sem contar que era transparente. Não se recorda se era totalmente limpa, mas era fresca e até onde lembra não havia lixo ao redor. ?Houve um tempo, creio que no final da década de noventa que era possível encontrar turistas que paravam o carro na beira da estrada que faziam o mesmo?, completa.
Sobre as histórias que viveu em Gaspar e gostaria de contar, Victor lembra de um passeio de Jipe com um tio que ficou marcado para sempre na memória. Passou por várias localidades pelo interior da cidade, pôde ver locais jamais visitados. Aproveita para ressaltar como foi importante para cidade, em especial na região do Belchior, nos momentos mais difíceis de 2008, que esse tipo de conhecimento prático, desses ?jipeiros? foi essencial e que na hora H provaram ser algumas vezes mais conscientes de suas responsabilidades, do que outras pessoas que precisariam dar o exemplo.
QUEM É:
Victor José Caglioni é solteiro e vive há um ano e oito meses em Buenos Aires, Argentina
Sociólogo, atualmente é analista de mercado em uma empresa de consultoria
A última vez que esteve na cidade foi em março de 2011, quando encerrou as últimas férias de estudos
É fascinado por uma pequena cachoeira, existente na rua José Schmidt Sobrinho.
Deixar a terra natal para conquistar novos sonhos longe da família e dos amigos de infância nem sempre é uma escolha fácil. Os bons momentos vividos na casa dos pais e dos avós, as recordações da época de escola, da adolescência e até mesmo da vida adulta, ajudam a manter vivas as lembranças da cidade que ficou para trás.
Enquanto muitos gasparenses decidiram deixar suas raízes para construir uma nova vida em outras cidades, estados e até países, muitas pessoas deixaram a terra natal para vir morar em Gaspar.
Atraídas pela localização, pela beleza natural, pelos negócios, pela oferta de empregos ou mesmo pelos vínculos de amizade, estas pessoas investiram suas vidas em Gaspar. Elas fizeram o caminho inverso da trajetória de vida narrada nas primeiras páginas deste
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