A pandemia de coronavírus que toma conta do Brasil está fazendo com que a rotina da população mude drasticamente. No caso das pessoas infectadas pela doença, essa realidade é ainda mais cruel. A gasparense Johana Ignês Pereira, de 23 anos, é a prova disso. Do dia para a noite, seu dia a dia ficou restrito a um espaço que, até então, poderia não ser tão valorizado quanto neste momento: o quarto.
Entre os dias 11 e 14 de março, Johana esteve em São Paulo a trabalho. Lá, ela participou de uma feira de acabamentos e aproveitou para passear por diversos locais públicos. Em algum desses lugares, ela teve contato com uma pessoa infectada e contraiu o coronavírus.
Johana chegou em casa no sábado e já no dia seguinte, domingo, 15 de março, teve os primeiros sintomas: uma forte dor de cabeça. Porém, foi na segunda-feira que a doença se manifestou com mais intensidade. A dor de cabeça aumentou e chegou acompanhada de muita dor no corpo e febre alta.
O teste para saber se realmente estava com coronavírus foi feito no dia 18, a quarta-feira de aniversário de Gaspar. Devido à grande demanda do único laboratório credenciado a realizar o teste de forma oficial, o resultado chegou na segunda-feira, dia 23. No papel, a palavra ‘positivo’ fez com que tudo mudasse para valer.
Passados quase 10 dias desde que o primeiro sintoma se manifestou, a dor de cabeça continua incessante. A febre e a dor no corpo agora fazem parte da lista de sintomas junto com a fraqueza, tonturas, perda do apetite, falta de ar e o gosto metalizado na boca. Tudo isso resultou ainda em uma pequena pneumonia.
Johana mora no bairro Coloninha, em Gaspar, com os pais e dois irmãos. Mas, é como se morasse sozinha. Isso porque o contato com eles é o mínimo possível. E, quando acontece, cuidados essenciais que envolvem uso de máscara, luvas e álcool em gel impedem que a situação seja confortada pelo abraço em família.
Praticamente 24 horas por dia Johana fica dentro do quarto. Ela acorda por volta das 9h e já encontra, na porta, um café da manhã deixado pela mãe. “Apesar de não conseguir comer muito bem, me esforço”, garante.
A rotina após o café da manhã varia conforme sua disposição. “Geralmente logo me dá febre e fraqueza, daí fico deitada na cama ou vou tomar banho. Varia muito: às vezes fico mais fraca, às vezes dou uma boa acordada”.
Ao meio dia, o apetite geralmente não aparece. Então, ela pula uma refeição. “À tarde, se continuo fraca, eu durmo. Mas, se estou boa, tento trabalhar ou fazer meu TCC, o que consegui fazer poucas vezes. No fim da tarde, tomo banho e tomo os remédios. É nessa hora que, além de estar fraca, tenho picos de falta de ar. Então aproveito para meditar e fazer minhas orações. Logo eu durmo. Durante a madrugada, acordo direto com febre alta”, detalha.
Todos os dias, os pais de Johana recebem ligações do poder público, que pede informações detalhadas sobre a rotina da jovem. Isso para que a evolução da doença seja monitorada adequadamente.
Nesta terça-feira, dia 24 de março, Johana acordou um pouco melhor. “Às vezes me pego pensando: ‘poxa, eu realmente estou com coronavírus’. Meus sentimentos variam. Tem vezes que bate o medo, o desespero e a angústia. E outras vezes me consolo pensando que sou jovem, que logo tudo vai passar e que estou passando por esse momento tão delicado por algum motivo”, reflete.
Diante de uma situação tão delicada, Johana deixa um apelo. “A ignorância dura até surgir um caso na família. Depois disso, as piadas perdem a graça. Deixo um apelo a todas as pessoas que ainda duvidam ou não estão acreditando na seriedade do coronavírus. Se eu sou jovem, saudável, fora do grupo de risco e estou com todos esses sintomas, imaginem quem é mais vulnerável e está no grupo de risco?”.
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