Morre aos 103 anos Felício Bittencourt, um dos moradores mais antigos de Ilhota - Jornal Cruzeiro do Vale

Morre aos 103 anos Felício Bittencourt, um dos moradores mais antigos de Ilhota

14/06/2024
Morre aos 103 anos Felício Bittencourt, um dos moradores mais antigos de Ilhota

Ilhota acaba de perder uma parte da sua história. Seu Felício José Bittencourt, morador do bairro Pedra de Amolar, faleceu aos 103 anos. Ele estava na casa de uma filha, em Navegantes, e foi encontrado sem vida na manhã desta sexta-feira, dia 14 de junho.

Seu corpo está sendo velado no salão da Igreja São Francisco de Assis. O sepultamento vai acontecer às 8h30 de sábado, dia 15.

Seu Felício é membro imortal da Academia de Letras do Brasil – seccional de Ilhota. Ele tomou posse em novembro de 2008 e ocupava a cadeira número 2. “Seu Felício fará muita falta como companheiro na literatura catarinense. Agradecemos pelos bons momentos vivenciados e celebramos suas obras e ensinamentos”, escreveu a Academia de Letras nas redes sociais.

Em fevereiro de 2021, seu Felício recebeu a equipe do Cruzeiro do Vale em casa e contou um pouco da sua história. Ele segurou orgulhoso um álbum de fotos com as recordações da sua festa de 100 anos.

Leia a matéria publicada em 2021:

Felício Bittencourt: a história do homem centenário destaque de Ilhota

Com um lindo álbum de fotos nas mãos, Felício José Bittencourt recebeu a reportagem do Cruzeiro do Vale em sua casa, no bairro Pedra de Amolar, em Ilhota, para relembrar um momento especial em família: a comemoração que marcou os seus 100 anos de idade. Emocionado e muito feliz com a união dos filhos, netos, bisnetos e trinetos, ele garante que o sorriso que estampa seu rosto é resultado de uma vida inteira de realizações.

Seu Felício nasceu em 13 de dezembro de 1920, da união entre José Geraldinho Bittencourt e Maria Clara Bittencourt. Filho do meio, teve sete irmãos e cursou até o quarto ano primário. “Naquela época, Ilhota pertencia ao município de Itajaí. A localidade Pedra de Amolar, no início, era habitada por cerca de quatro famílias. Nasci, me criei e moro até hoje nesse lugar que me enche de orgulho. Vi esse bairro se desenvolver. Que alegria”.

O centenário afirma que seu pai foi um homem muito trabalhador e visionário. “Ele fundou a primeira escola do bairro. Era particular e, inicialmente, tinha cerca de 15 alunos. Algumas crianças vinham de Luiz Alves estudar aqui”.

Foi nessa escola que seu Felício e seus irmãos aprenderam a ler e escrever. “Um tempo difícil. A gente não tinha a tecnologia que existe hoje, mas já éramos muito felizes e gratos por tudo”.

Ainda na infância, seu Felício aprendeu a importância do trabalho. “Desde muito novos, eu e meus irmãos ajudávamos nosso pai. Até os meus 23 anos, trabalhei na olaria da família. Fazíamos tijolos e telhas, antes de vender a fábrica”, relembra.

Já na idade adulta, começou a plantar cana de açúcar e, em seguida, comprou uma serraria: “Passei 14 anos com o novo empreendimento. E aí vendi o terreno para a usina. Voltei a trabalhar com agricultura, na arrozeira”.

Apaixonado por sua amada Alice, casou-se aos 25 anos. Com ela, teve oito filhos: Maria Donzilia, Marlene, Terezinha, Luiz Gonzaga, Alice de Cássia, Verônica, Mario Cesar e Francisco. Todos receberam uma educação exemplar e muito afeto dos pais. Em 2005, a família se despediu da matriarca e até hoje convive com a saudade de uma mulher forte e inspiradora.

Falar da família é sinônimo de felicidade para o centenário. “Tudo para mim. Apesar de ser muito bom com palavras, é difícil descrever o quanto os membros da minha família são importantes. Imagine só, viver mais de 100 anos... Eu acompanhei cada passo dos meus amados filhos, que me deram netos maravilhosos, que me deram bisnetos incríveis, que me deram trinetos lindos”.

Ao todo, a família de seu Felício tem mais de 100 pessoas. Dos oito filhos, um já faleceu. No total, são 23 netos, 28 bisnetos e cinco trinetos, além de agregados que são também muito amados pelo centenário. “Falar do meu núcleo familiar me faz lembrar da minha falecida esposa, Alice, e meu falecido filho, Luiz Gonzaga. Saudade eterna!”.

 

 

Na política

Em 1958, ano em que se formou a primeira legislatura de Ilhota, Felício José Bittencourt foi eleito vereador. “Não éramos remunerados pela função. Mas trabalhei muito para ver a cidade se desenvolver. Contei com a ajuda de muitas pessoas nessa luta. Inclusive, me candidatei para uma segunda gestão na Câmara e novamente fui escolhido pelo povo para representá-lo”.

Religião

Quando questionado sobre a importância da religião em sua vida, seu Felício é enfático: “Graças a Deus, tenho essa força até hoje”. Católico, sempre foi muito atuante na igreja. Em 1980, se tornou ministro extraordinário da comunhão e, até hoje em dia, segue os caminhos do Salvador. Em virtude da pandemia e por conta da sua dificuldade para andar, o centenário não frequenta mais os encontros presenciais na igreja, mas continua com a mesma fé e devoção de sempre.

O dom da poesia e artesanato

Com a partida da esposa Alice, seu Felício começou a colocar no papel o sentimento que carrega no peito. Assim, deu início a uma trajetória artística admirável. Ao todo, o centenário publicou oito livros de poesias. “Escrevo com o coração. Falo sobre política, meio ambiente, comportamento, religião e fatos do dia a dia”, explica.

Apesar de investir tempo e dinheiro em suas obras, ele não cobra por elas. “Vocês não imaginam o prazer que é presentear pessoas queridas com o meu talento. É uma forma de passar para frente a minha vivência, exteriorizar meus pensamentos. De certa forma, quando alguém vai embora após me visitar, me leva junto por meio dos meus poemas”.

Assim como a escrita, o centenário também se dedica ao artesanato. Das folhas de jornais, cria verdadeiras obras de arte. Porta-canetas e descansos de panelas são os itens que ele faz com mais frequência.

Academia de Letras do Brasil

Em novembro de 2018, os primeiros membros da Academia de Letras do Brasil – seccional de Ilhota tomaram posse. Entre eles estava seu Felício, um artista que serve como inspiração para toda a comunidade. Foi nesse momento que a história do centenário se cruzou com a do proprietário e diretor do Cruzeiro do Vale, Gilberto Schmitt, também membro imortal da academia.

Schmitt destaca que sente muito orgulho de ocupar uma cadeira ao lado de seu Felício. “Um exemplo a ser seguido. Ele sempre será uma das referências aos ilhotenses, gasparenses e moradores da região, um grande exemplo de sabedoria e vontade de viver. Desejo a ele muitos anos e ainda mais livros nesse acervo. Suas obras são escritas com o coração”.

Desde sua fundação, a seccional de Ilhota vem conquistando grandes feitos. Um deles é a publicação do livro ‘Fios de Poesias e Pontos de Lembranças”, escrito pelas mãos dos integrantes da academia.

 

 

Edição 2157

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