Morre Vilmar Schurmann, ex-presidente da Acig e da Antiga Ceval: "que seu exemplo continue nos inspirando" - Jornal Cruzeiro do Vale

Morre Vilmar Schurmann, ex-presidente da Acig e da antiga Ceval: "que seu exemplo continue nos inspirando"

14/03/2025

Morreu nesta sexta-feira, dia 14 de março, um homem que contribuiu muito com o desenvolvimento de Gaspar. Vilmar Schurmann faleceu nesta manhã, aos 82 anos. Ele lutou bravamente, por mais de uma década, contra uma doença degenerativa.

Vilmar deixa esposa, filhos, netos e muitos amigos. Seu corpo está sendo velado no salão de eventos do Hotel Vila do Farol, em Bombinhas. O velório segue até às 19h desta sexta.

Vilmar e Gaspar

Vilmar Schurmann foi um dos fundadores da antiga Ceval Alimentos (1973), que chegou a ser uma das maiores empresas do mundo no setor de óleo de soja e margarinas, com mais de 14 mil funcionários. A empresa ficava no bairro Poço Grande, em Gaspar, e, em 1997, foi comprada pela multinacional Bunge.

No mesmo período, em 1982, foi eleito primeiro presidente da Associação Comercial de Gaspar (mandato 1982 – 1984). A entidade emitiu um comunicado de pesar pela morte: “seu legado como líder e visionário foi fundamental para a construção do associativismo empresarial em Gaspar, deixando um impacto que perdura até hoje. Nossos sentimentos à família, amigos e a todos que tiveram o privilégio de compartilhar sua jornada. Que seu exemplo continue nos inspirando”.

História

Em 2011, o ex-deputado estadual Álvaro Correia (falecido em 12/10/2023) publicou o livro ‘Homens que fizeram a história’, onde contou a trajetória de prefeitos, vereadores, empresários, homens públicos, religiosos, profissionais e entidades. Vilmar Schurmann teve sua história publicada. Confira:

“Há quem diga que a história de Gaspar se divide em dois tempos: antes e depois da Ceval, hoje Bunge. Tal assertiva se deve à importância que essa empresa, aqui inaugurada em 1973, passou a representar para a economia, o progresso e o desenvolvimento do município. A sua existência se deve à Cia. Hering, de Blumenau, que na época procurava se fortalecer através da diversificação produtiva, criando a Cereais do Vale – Ceval, projeto acadêmico nascido na Furb, amadurecido nas mãos dos funcionários Ingo Muller, até chegar ao BRDE e aos olhos daquele que seria seu grande impulsionador, Vilmar Schurmann.

O pai de Vilmar, Wilhelm Theodoro Schurmann, era natural da Alemanha e veio para Florianópolis para jogar futebol. Ali casou-se com Avenina Oliveira, de cujo casamento nasceram seis filhos. Da Capital, Wilhelm transferiu-se para Blumenau, onde tornou-se empresário e um grande incentivador do esporte, tendo sido, inclusive, presidente e diretor do antigo Palmeiras E. C. Dos seus seis filhos, três alcançaram destaque: Beto foi jogador titular do Palmeiras e hoje é empresário bem-sucedido e Vilfredo ficou famoso por ter percorrido o mundo várias vezes com sua família a bordo de um pequeno veleiro. Quanto a Vilmar, nasceu em Florianópolis, em 22 de maio de 1942, fez os estudos básicos em Blumenau e depois seguiu para Curitiba, onde graduou-se em Engenharia Química pela Universidade Federal do Paraná. Casado três vezes, teve cinco filhos e seis netos. Profissionalmente, pode-se considerar um homem predestinado e bafejado pela sorte, dadas as circunstâncias e a coincidência dos fatos que lhe permitiram atingir as culminâncias em termos de realização pessoal e profissional.

Depois de formado foi para o Rio Grande do Sul, onde, no município de Esteio, trabalhou como estagiário e depois como gerente da saboaria da empresa Bunge. Quando o Bando de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul (BRDE) abriu curso para técnico, Vilmar inscreveu-se, foi aprovado e nomeado. Sua função como técnico do BRDE era analisar projetos de fomento agroindustrial. Como tinha conhecimento técnico na área de extração e óleos vegetais, produção de gorduras, sabões e farelos, Vilmar dedicou-se especificamente a este campo, incentivando e oferecendo todo o suporte técnico e orientação às iniciativas que surgiam neste setor.

E foi assim que conheceu o projeto Ceval, que a Hering encaminhara para ser analisado. O projeto, inicialmente, visava beneficiar agricultores de Gaspar, que se ressentiam do impacto causado pelo encerramento das atividades da Usina São Pedro. Quando Vilmar tomou conhecimento do projeto, tudo mudou. Convenceu o seu colega de escola, Ivo Hering, que depois obteve sinal verde do seu pai Ingo Hering, para transformar a Cereais do Vale num projeto mais ousado e abrangente, através de uma linha de trabalho de processamento de grãos até então não explorada.

Aceita a sugestão pela Hering, no dia 4 de janeiro de 1972 nascia oficialmente a Ceval em Gaspar, cujo parque fabril foi inaugurado e passou a funcionar a partir de outubro de 1973, em terreno doado pela prefeitura. Ivo Hering assumiu a presidência e Vilmar Schurmann o cargo de diretor geral da empresa. Como a soja era a bola da vez, a Ceval dirigiu todo o seu potencial no processamento e aproveitamento dos derivados desse tipo de grão, na produção de óleos vegetais, margarinas e outros. O sucesso colhido pela empresa nos primeiros anos de funcionamento foi magnífico, muito além do esperado, e a expansão pelo Estado e o país foi uma consequência natural. Com o apoio e o incentivo da Ceval, o plantio e o cultivo da soja passaram a dominar grandes áreas do Oeste catarinense, bem como dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba, Tocantins, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. Sob o comando e firme direção de Vilmar, agora na presidência, a Ceval avançou cada vez mais, sendo que, depois da compra da Seara, passou a liderar o mercado, com os óleos Soya, Ville e Milleto, lançando a seguir as margarinas Bonna, All Day e Milleto, e depois a maioneses. Com tão estupenda atuação, a Ceval surpreendeu o mercado e a concorrência, dando exemplos de como captar recursos no mercado. Expandir para o exterior foi o próximo passo e as fábricas da Ceval foram implantadas na Argentina e na Índia. Aí aconteceu a venda da empresa para a Bunge, que é um conglomerado mundial nascido na Holanda há quase 200 anos. Ao se despedir da presidência da Ceval, em 2002, Vilmar Schurmann não escondia o seu orgulho de ter construído uma empresa de referencia nacional, cujo faturamento anual atingiu a marca expressiva de 3.200 bilhões de dólares.

Dividiu tal sucesso com sua equipe de diretores, formada por Manoel Peixoto, Francisco Mastella, Hélio Tomazelli e Polidoro Ferreira, todos já falecidos, e ainda Antônio Carlos da Silva e seu sucessor Sérgio Roberto Waldrich. Homem atencioso, carismático, muito franco e direto, sem medo de contrariar, do novo, do risco e de pensar diferente e principalmente, grande, foram essas qualidades que embasaram as ações de Vilmar na presidência da Ceval, levando-o a tão estrondoso sucesso.

Sucesso que não lhe subiu à cabeça e nem o fez esquecer do município e do povo que tão bem o acolheu, oferecendo as condições necessárias para a instalação da empresa que soube conduzir com tantra maestria, a ponto de torná-la um orgulho dos gasparenses e dos catarinenses. Aliás, Vilmar Schurmann teve uma relação muito forte com Gaspar, de cujo povo e autoridades soube ser um parceiro de todas as horas na luta pelo engrandecimento da cidade. Ao longo dos últimos 30 anos, o espírito construtivo e solidário, e dedo doador de Vilmar e sua Ceval estiveram presentes praticamente em todas as iniciativas e atividades comunitárias de Gaspar; na ajuda às sociedades e aos clubes, nas melhorias e pinturas de igrejas e capelas, na referência do Tupi, na exemplar escola de tênis que criou Guga no Bela Vista, na Apae, na Rede Feminina, nas escolas, nas festas populares, no calçamento de Belchior Alto, na estação de água do Bela Vista, no carro pipa para molhar as ruas, nos empregos gerados, nas oportunidades geradas para os filhos da terra ocuparem postos de comando da empresa, em várias partes do Brasil e do mundo, na manutenção do sempre doente Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, nos tributos que permitiram aos prefeitos realizarem obras para o desenvolvimento do município, e muitos e muitos outros que o espaço não nos permite alinhar.

Vilmar Schurmann deixou a Ceval e Gaspar, mas deixou também o exemplo do quanto um homem capacitado, empreendedor e desprendido pode fazer por uma empresa, por uma cidade e pelos seus habitantes. Gaspar é testemunha disso e, como município beneficiário, já agradeceu outorgando-lhe o título de ‘Cidadão Gasparense’ e colocando o seu nome na galeria de honra ao lado dos precursores do nosso progresso e desenvolvimento. Vilmar Schurmann atua hoje no ramo do turismo, sendo proprietário de uma rede de hotéis na nossa orla marítima” texto de Álvaro Correia, publicado em 2011.

 

 

Edição 2193

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