Pesquisa mostra números da obesidade infantil em Gaspar - Jornal Cruzeiro do Vale

Pesquisa mostra números da obesidade infantil em Gaspar

09/03/2012

Por Ana Carolina Bernardes

A infância é uma fase que envolve diversas transformações físicas e psicológicas. Por este motivo, é de tamanha importância que as crianças tenham uma alimentação balanceada e cuidados com o corpo para crescerem saudáveis e sem más recordações dessa época. Para acompanhar a saúde dos estudantes da rede municipal de ensino, a nutricionista da Secretaria de Educação, Karla Medeiros Luiz Lopez, coordenou uma pesquisa sobre o estado nutricional dos alunos, aplicada pela Secretaria de Educação, em parceria com os professores de Educação Física.

O projeto foi aplicado no segundo semestre de 2011 e o resultado não foi dos melhores. Das 3.845 crianças entrevistadas, 33% apresentaram obesidade ou sobrepeso. ?Eu realmente imaginei que haveria muitas crianças com obesidade e sobrepeso, pois infelizmente isso é uma realidade e não há previsão de reversão?.

Segundo a pesquisa, cerca de 538 crianças apresentaram estado de obesidade, 730 apresentaram sobrepeso, 2.460 estão no peso normal, 38 estão em estado de magreza e 76 não participaram. Entende-se por sobrepeso um excesso de peso que ainda não traz prejuízos para a saúde, mas pode virar obesidade. Os dados foram calculados com base no índice de massa corporal, que divide o peso da criança pela sua altura elevada ao quadrado, que variam de acordo com a idade.

Karla destaca a importância da pesquisa, que influenciará no futuro das crianças e da cidade. ?Nosso município está muito ligado a isso, já que se a obesidade infantil continuar crescendo, no futuro essas crianças terão mais despesas com médicos, hospitais, remédios etc, e a cidade vai precisar se preparar para esta demanda?, explica.

Os hábitos das crianças não foram avaliados na pesquisa, porém Karla garante que as escolas também estão muito preocupadas com a questão alimentar. ?Procuramos servir alimentos saudáveis e nutritivos para as crianças. Além das escolas, acompanhamos  as creches do município, e estamos de olho em toda a alimentação, ainda mais que essas crianças passam a maior parte do tempo na creche?, registra Karla.

Os professores de Educação Física são os responsáveis por fazer a avaliação nutricional das crianças. Karla ainda comenta que esses professores são indispensáveis na luta contra a obesidade infantil. ?O incentivo ao esporte é de extrema importância para manter a criança saudável?, finaliza.

Brasília mostra mobilização

O tema obesidade infantil vem atingindo todo o país, e é por isso que os ministérios da Saúde e da Educação realizam desde segunda-feira, 5, até esta sexta-feira, 9, a primeira edição da Semana de Mobilização Saúde na Escola. Mais de 5 milhões de alunos com idade entre 5 e 19 anos que frequentam escolas públicas em todo Brasil tiveram uma semana com programação diferenciada.
Profissionais que fazem parte da Estratégia Saúde da Família, coordenada pelo Ministério da Saúde, fizeram avaliações nutricionais em estudantes de mais de 22 mil escolas públicas em 1.938 municípios que aderiram à iniciativa de mobilização. Também foram reaziadas atividades e palestras envolvendo a comunidade escolar, alunos, profissionais e funcionários, e visitas das famílias dos estudantes às Unidades Básicas de Saúde localizadas próximo às escolas.

A Semana de Mobilização Saúde na Escola acontecerá todos os anos. Em 2012, o tema escolhido foi a prevenção da obesidade na infância e na adolescência. Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar, POF, realizada entre 2008/2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, uma em cada três crianças com idade entre cinco e nove anos estão com peso acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, e pelo Ministério da Saúde. Entre os jovens de 10 a 19 anos, um em cada cinco apresentam excesso de peso.

Pais estão cada vez mais preocupados

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Os cuidados com a alimentação são uma das maiores preocupações para muitos pais. Ficar de olho nos alimentos de que os filhos mais gostam, desde muito pequenos, é um passo importante e acaba se tornando um tipo de prevenção para a obesidade infantil.

A professora Jussara Darós dos Santos tem um filho de três anos. Para ela, hábitos alimentares saudáveis são uma das maiores preocupações, ainda mais porque seu filho já nasceu com problemas no intestino. ?Procuro não dar doçuras e besteiras para ele, e se deixo comer algo desse tipo é só no fim de semana mesmo, e também incentivo a comer frutas. Refrigerante, por exemplo, nunca entrou na alimentação dele e espero que nunca entre?, revela. A mãe coruja diz ainda que o filho corre e brinca bastante e destaca a importância de praticar alguma atividade física. ?Gosto que meu filho se movimente, corra pra lá e pra cá, pule... Tudo isso é muito importante para ele não se tornar uma criança sedentária?, fala Jussara.

Josiane Zermiani Bastos também fica de olho na alimentação da filha de quase quatro aninhos. ?Durante a semana, ela não come nada de besteiras, e aos fins de semana come poucas guloseimas. É importante cuidar agora, porque a gente não sabe como ela pode ficar daqui alguns anos, por mais magrinha que ela seja hoje?, conta. Josiane diz também que pretende colocar a filha nas aulas de natação.

Situação difícil

Perceber que a situação fugiu do controle e que o filho está perto da obesidade infantil é uma situação triste para uma mãe. Maria* tem um filho de 13 anos e está passando por esse problema. Aos cinco anos de idade o menino ficou doente e teve que tomar muitos medicamentos. Desde então, seu peso só aumentou. ?Hoje ele tem quase 80 kg. Fizemos vários tratamentos com nutricionistas, coloquei ele na academia... Sempre tentei mudar essa situação?, destaca.

A mãe fala que o filho gosta muito de pão, mas ela evita que ele coma muito. ?Eu sou vegetariana, então lá em casa tem muita salada e frutas, e ele come bastante. Nós quase nunca compramos chocolate e tomamos muito suco de frutas, sem refrigerante?, garante. O sobrepeso do filho é algo que deixa esta jovem mãe triste, mas ela afirma que o menino não se incomoda com isso. ?Ele nunca me disse nada sobre alguém que riu dele, ou algo parecido. O que incomoda é ir à praia, pois sente muita vergonha de ficar sem camisa?, registra.

Uma das escolas com maior índice de crianças acima do peso é a Zenaide Schmitt Costa. A diretora Sandra Zimmermann Fernandes Spengler comenta que hábitos alimentares saudáveis devem vir de casa e a escola deve fazer o seu papel, que é oferecer uma alimentação balanceada, e incentivar as crianças a praticarem exercícios físicos. ?Saúde é fundamental, por isso não permitimos que nossos alunos entrem na escola com guloseimas e refrigerantes?, afirma. A diretora diz ainda que há alguns casos de obesidade infantil na escola, mas garante que o educandário procura frisar a importância de se alimentar corretamente, promovendo palestras e reuniões para pais e alunos.

*O nome foi trocado para preservar a identidade da entrevistada.

Doença pode causar traumas

Ter um filho com traumas psicológicos, fruto de uma infância difícil, não é o sonho de nenhum pai ou nenhuma mãe. A obesidade infantil vem aumentando de forma alarmante, e junto com ela os traumas físicos e psicológicos intencionais, conhecido como bullying.

Fernanda Spengler, psicóloga infantil, explica que a obesidade influencia diretamente na autoestima, principalmente na pré-adolescência e adolescência, e às vezes resulta no preconceito. ?Quando não tratada de forma adequada, a obesidade pode ocasionar adultos inseguros, intolerantes, frustrados ou com algum transtorno alimentar, como bulimia ou anorexia?, explica.

A especialista diz ainda que as crianças e adolescentes começam a comer de forma errada e pouco saudável devido a correria do dia-a-dia. ?As crianças aprendem o que vivenciam. Uma alimentação fora de hora, em frente à televisão, ou com guloseimas, acaba instigando ainda mais a vontade de continuar comendo, o que resulta em excessos. Questões afetivas também podem influenciar no exagero alimentar, como ansiedade, autoestima reduzida, carência afetiva, dificuldade de se relacionar ou interagir etc. Sendo assim, é necessário avaliar cada caso para identificar as causas e procurar um especialista o quanto antes?, completa.

Apoio da família

Se um pai não seleciona os alimentos que seu filho ingere, ou não acha importante que ele pratique alguma atividade física, é preciso ter cuidado. Mesmo sem perceber, pode estar dando motivos para que o filho se torne uma criança obesa. ?O primeiro passo deve partir da família. A dica é: quanto mais caseiro e saudável o alimento, melhor. É preciso evitar almoços em restaurante todos os dias, sucos de caixinha, lanches prontos e industrializados?, informa a especialista, ressaltando a importância de a família incentivar a criança na luta contra a obesidade. ?Preparar um prato saudável e pedir que a criança participe é importante. Elas adoram ajudar e serve como incentivo na hora de comer frutas e saladas. Utilizar pratos criativos, formando desenhos com pedaços de frutas ou saladas também é bastante positivo?, finaliza a psicóloga.

Edição 1368

Comentários

Rosete
10/03/2012 11:02
O que me intriga é que os pais pelo menos na escola de meus filhos sequer foram informados a respeito dessa pesquisa e muito menos orientados. Não seríamos nós os primeiros a ser chamados na escola? Pois é na família que esses habitos começam.

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