O dólar disparou nesta quinta-feira (18) depois de denúncias envolvendo o presidente Michel Temer que alimentaram percepções de que as reformas serão afetadas e, consequentemente, a recuperação da economia, destaca a Reuters.
Às 14h29, a moeda norte-americana subia 7,25%, cotada a R$ 3,3608 na venda, após chegar a operar a R$ 3,43 mais cedo. Veja a cotação do dólar hoje.
A alta desta quinta-feira supera os picos de nervosismos da crise de 2008 e é a maior desde 31 de julho de 2002, quando a moeda chegou a subir mais de 9%, segundo o Valoe Online. Naquela época, o quadro político também era o responsável pela incerteza do mercado, meses antes da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência.
A quinta-feira nos mercados de câmbio e juros do Brasil é típica de momentos de pânico, e nas mesas de operações predomina um clima de incerteza, pois o mercado não precificava tamanha crise política no país e, diante de uma reversão do cenário doméstico, os agentes financeiros buscam zerar suas posições no câmbio.
Os negócios no mercado à vista demoraram a acontecer pela manhã, com os investidores evitando tomar posições. Diante disso, o Banco Central anunciou nova intervenção no mercado, com 2 leilões de contratos de swaps tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, e que não eram voltados para rolagem de contratos já existentes.
Além da intervenção no mercado, o BC manteve ainda a oferta de até 8 mil swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda futura de moedas) para rolagem do vencimento de junho.
A autoridade anunciou que também fará oferta de até 40 mil contratos com vencimentos em 1/8/2017, 2/10/2017 e 2/1/2018, além de outro lote de 15.325 contratos com vencimentos para as mesmas datas.
Em novembro do ano passado, o Banco Central também havia feito oferta adicional de swap para tentar conter a volatilidade do mercado após a vitória de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.
Mais cedo, o Tesouro Nacional e o BC publicaram notas afirmando que estão atentos ao mercado e que atuarão para manter sua plena funcionalidade. O Tesouro suspendeu o leilão de venda de LTN e LFT programado para esta sessão.
O dólar futuro atingiu o limite máximo permitido de R$ 3,3235 para este pregão. Os temores eram tão grandes que as negociações do dólar à vista demoraram para acontecer, com os investidores optando por não tomar posições no início do dia.
O dólar futuro é um produto negociado em bolsa (um derivativo) que representa o quanto as instituições financeiras acreditam que a moeda norte-americana estaria valendo no futuro. O que está sendo negociado nesta quinta-feira tem vencimento para 1º de junho.
Esses contratos têm um alto volume de negociação e, por isso, acabam sendo referência para definir quanto o dólar está valendo hoje. Porém, para evitar oscilações excessivas, a bolsa estipula um limite diário para variação do dólar futuro. Para hoje, esse limite está em 5,63%, (R$ 3,32), segundo a B3.
"As negociações feitas hoje atingiram esse limite máximo, mas o mercado acredita que a oscilação deveria ter sido maior e os bancos não sabem precificar quanto. Como os bancos perderam a referência de quanto deve estar valendo esse dólar para 1º de junho, também acabaram perdendo a referência de quanto vale o dólar hoje, então ninguém vende”, explicou ao G1 o economista Alexandre Cabral.
"Quem é que vai vender dólar a R$ 3,20 se amanhã ele pode estar a R$ 3,90?", afirmou à Reuters o superindente de câmbio do Banco Ourinvest, Ralph Bigio.
Na véspera, o dólar avançou 1,23%, a R$ 3,1337 na venda, depois de ceder 3,14% em 6 pregões. Na máxima da sessão, a moeda norte-americana atingiu R$ 3,1357.
Na noite passada, o jornal O Globo noticiou que Joesley Batista, um dos controladres do frigorífico JBS, gravou Temer concordando com pagamentos para manter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso.
Assim que a notícia chegou ao Congresso, a oposição não perdeu tempo para pedir o impeachment de Temer, enquanto líderes governistas, pegos de surpresa, pediam cautela com a informação, evitando fazer defesas mais taxativas.
Especialistas afirmaram à Reuters que o governo foi fortemente abalado e, assim, as reformas consideradas essenciais, sobretudo a da Previdência, para recuperar a economia serão afetadas.
Até então, os mercados financeiros estavam vivendo uma espécies de lua de mel com o governo Temer, apostando que ele conseguiria angariar votos suficientes para aprovar as reformas no Congresso Nacional. O dólar, nesta semana, chegou a fechar abaixo do patamar de R$ 3,10.
Além disso, a economia vinha dando alguns sinais de recuperação, depois de dois anos seguidos de forte recessão. A inflação também vinha perdendo fôlego e possibilitando que o BC fizesse reduções importantes na taxa básica de juros, o que tem potencial para estimular o consumo.
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