Domingo, 20 de Abril de 2025
Ele é a figurinha carimbada da maior festa alemã das Américas, a Oktoberfest de Blumenau. Já perdeu as contas de quantas edições participou, mas a expectativa é sempre muito grande a cada ano que passa. Leonardo Alvaro Schmitt, mais conhecido como o ‘seu Macuco Xente Boa’, tem 77 anos e esbanja vitalidade. Ele é sempre o primeiro a entrar na festa e o último a sair. Isso mesmo: ele chega às 17h e só retorna quando os portões são fechados.
O Xente Boa é uma atração para os turistas durante a Oktoberfest. Aliás, no ponto de ônibus onde aguarda o seu meio de transporte para a festa, ele já é motivo para boas risadas e fotografias. “O que eu mais gosto é das amizades que faço. Tem muito turista que a gente acaba conhecendo, conversando, aproveitando juntos e dançando também”.
Sua esposa, dona Rodolfina Schmitt, diz que não tem o mesmo entusiasmo para curtir a festa a noite toda e, por isso, deixa o marido ir sozinho. Mesmo assim, ela é a grande parceira para que ele vá e volte em segurança. Em todos os dias de Oktoberfest, ela leva o marido até o ponto de ônibus e já combina o local e horário para busca-lo. O segredo deste companheirismo? “Nunca faltei com o respeito. Vou, faço minha festa com muita alegria, mas nunca fiz nada de errado. Se eu fizer eu sei que ela vai cortar o meu barato, então eu não faço”.
Entre risadas, seu Macuco e Rodolfina lembram que, em uma de suas voltas da Oktoberfest, ele já aprontou. Mas, calma: o respeito sempre existiu. Apenas houve um pequeno desencontro no retorno e ele quase foi procurado pela polícia. “Marcamos o ponto de encontro, mas ele não apareceu. É que a Lanchonete Tomio estava aberta e ele foi tomar o café da manhã no bar. Eu rodei a cidade toda, liguei para os irmão pedindo que ligassem aos hospitais de Blumenau e até avisei a polícia. Naquele dia eu fiquei tão brava...”.
Seu Macuco lembra que o café da manhã, na verdade, era “um pouco mais de cervejinha: E foram apenas mais cinco de 600ml”. Às 11h da manhã ele chegou em casa, tirou o traje e ainda foi fazer a caminhada. “Na volta, tomei meu banho e fui comprar o almoço. Chegando lá, o frango ainda não estava pronto. Então bebi mais duas e voltei pra casa. Só dormi um pouquinho antes de voltar pra festa novamente”.
O maior festeiro da Oktoberfest não pode nem imaginar a dor que seria caso não pudesse mais participar. Em lágrimas, ele relembra o período de pandemia de Covid-19, quando a festa não aconteceu. “Era muita tristeza. Parecia que faltava alguma coisa em mim. A festa é a minha alegria de viver”.
O Xente Boa recebeu este apelido porque esta expressão sempre esteve acompanhada dos seus cumprimentos. O gasparense nasceu no bairro Macuco e trabalhou no meio rural, com a família, e também na empresa Momil, produzindo fubá. Uma nova oportunidade de vida chegou aos 24 anos e ele embarcou para uma experiência na Alemanha, onde ficou durante três anos e trabalhou como torneiro de cilindros, na Halberk, produzindo cilindros de automóveis e navios. “Foi uma oportunidade muito boa. Eu aprendi tudo lá e ainda tinha tempo para aproveitar as festas”. Quando retornou, passou a trabalhar como taxista e, na sequência, prestador serviços ao Tabelionato Santos, até a aposentadoria. Juntos, Leonardo e Rodolfina tiveram o Rodolfo, que hoje mora na França com a esposa Mariah e trabalha em uma cervejaria.
Na memória do casal estão vivas as lembranças das enchentes de 1983 e 1984, que deram origem à Oktoberfest. O casal perdeu tudo e precisou recomeçar a vida com doações da comunidade. A festa foi o grande alento para deixar este sentimento triste um pouco de lado. “Fomos logo na primeira edição que teve e, pra mim, nunca teve e nunca terá festa tão boa quanto a Oktoberfest de Blumenau”.
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).
