"Ninguém morre quando vive no coração de alguém!" - a morte na visão da igreja católica - Jornal Cruzeiro do Vale

"Ninguém morre quando vive no coração de alguém!" - a morte na visão da igreja católica

01/11/2023

Aceitar a partida de um ente querido é algo que, para muitas pessoas, demora para acontecer. Embora este seja um dos momentos mais delicados da caminhada humana, para os cristãos a morte não é o fim da existência, mas a passagem para uma vida plena e feliz.

Na semana do Dia dos Finados, o pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo de Gaspar, frei Pedro da Silva, fala sobre os mistérios da morte na visão da igreja católica. “Na partida de alguém, a melhor homenagem que podemos fazer àquela pessoa que tanto amávamos, é continuar a viver de cabeça erguida, no espírito de uma canção que diz: ‘pois seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar! Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar’”.


Como a igreja católica vê a morte?

Cada um de nós tem no coração um lugar muito especial para a lembrança daqueles que conviveram conosco e partiram antes de nós. A igreja apoia essa lembrança e abre espaço na Liturgia para que, ao mesmo tempo em que rezamos pelos mortos, nos lembremos da ressurreição deles e nossa. Ou seja, do destino eterno que tem a criatura humana. Somente a fé ilumina e confere sentido à realidade da morte. Segundo Santo Agostinho, a morte é o verdadeiro dia do Natal do ser humano. Morrer é o nascer para Deus. Neste sentido, os santos e santas são lembrados e celebrados na igreja no dia de sua morte, como o nascimento para uma vida nova.

A igreja expressa a fé no sentido da morte, como esse novo nascimento, numa de suas orações na liturgia dos mortos: “Em Jesus Cristo brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”.


Qual o significado da morte?

Nós temos origem divina. Se temos origem divina, temos também um destino eterno. A porta que abre a eternidade para nós é a morte. A ‘porta do encontro’ com aquele que nos criou: Deus, nosso Pai. Deveríamos passar a vida procurando a face de Deus, assim como reza o salmista: “Eu busco a tua face, Senhor!” (Sl 27,8). Ou ainda como diz o verso de uma canção: “O sentido de todo viver, eu encontro na fé e no amor. Cada passo que eu der, será buscando o meu Senhor”.

Na vida, todos somos hóspedes, estamos de passagem. Sabemos que, assim como chegamos, um dia vamos partir. A chegada costuma ser motivo de alegria, porque uma nova vida veio ao mundo. Somos recebidos, acolhidos e amados. A partida é mais difícil e inevitável, pois quem parte deixa para trás relações, trabalhos, sonhos e projetos, uma infinidade de tarefas. A convivência cria laços muito estreitos, que quando rompidos, causam extrema dor. Diante do mistério da morte, terminam as palavras, silencia o coração, mas fica a fé! Se somos hóspedes aqui, em Deus temos a nossa morada permanente.

É pela fé em Jesus Cristo ressuscitado que esperamos reencontrar-nos na glória da eternidade. Para nós, que ficamos, a partida de alguém que amamos é sempre apelo de aproveitar bem a nossa passagem neste mundo na prática do bem aos nossos semelhantes. Neste sentido nos diz Santo Antônio: “Deste mundo só levas o bem que fazes! O que não podes levar, não é teu!”


Quais as orientações para que as pessoas tenham mais serenidade neste processo de dor?

O primeiro e fundamental elemento é a fé em Cristo ressuscitado e na sua palavra. Jesus, estando para partir deste mundo, na última ceia, a ceia da sua despedida desse mundo, e ante a tristeza de seus discípulos pela sua partida, deixa palavras consoladoras, guardadas pelo evangelista São João, e que iluminam o lado sombrio que a morte nos traz: “Não perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14,1-3). Neste sentido diz o verso de um hino religioso: “Peregrinos nós somos aqui, construindo morada no céu. Quando Deus chamar a si, quem foi na terra amigo seu”.

O segundo elemento é a fé e certeza da nossa ressurreição, conforme o artigo do nosso Credo que vem desde os tempos dos Apóstolos: “Creio na ressurreição da carne, na vida eterna”. Esta é a fé que professamos na Igreja e com a Igreja, garantida por Jesus, e com a sua gloriosa ressurreição.

Um terceiro elemento é a certeza de que os que partem permanecem conosco, pois “Ninguém morre quando vive no coração de alguém!” A pessoa permanece no bem que fez; nas palavras que transmitiu, na vida que viveu, pois, o amor verdadeiro eterniza uma pessoa.

Finalmente, a morte é o caminho necessário de todos os viventes. Caminho que termina em Deus, de onde um dia saímos. Cristo conseguiu a vitória sobre a morte e levou a criatura humana a participar da vida feliz e eterna de Deus, como cantamos num refrão de uma canção religiosa: “Nós cremos na vida eterna e na feliz ressurreição. Quando de volta à casa paterna, com o Pai os filhos se encontrarão”.

 

 

Edição 2126
 

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