Histórias dos centenários que moram em Gaspar - Jornal Cruzeiro do Vale

Histórias dos centenários que moram em Gaspar

18/03/2024

Envelhecer é um privilégio. Ter saúde para chegar à terceira idade é o sonho de boa parte das pessoas. Muitos desejam vivenciar experiências, viver a vida por longos anos e, sobretudo, ter muita história para contar. O envelhecimento é um testemunho da resiliência e da sabedoria humana. Cada ruga e cada fio de cabelo branco devem ser enxergados como presentes que a vida tem para nos dar.

Agora, imagine ultrapassar a marca de 100 anos de vida. Uma verdadeira dádiva, não é mesmo? Para evidenciar a relevância dos centenários de Gaspar, temos a história de três pessoas muito queridas pela comunidade gasparense: Pedro João de Souza, seu Cobrinha; dona Ilka Ferreira Schmitt; e dona Anna Duemamm Koehler. Eles são exemplos de cidadãos que contribuíram com o crescimento do município.

Gaspar sempre foi, mesmo antes de sua emancipação político-administrativa, uma terra acolhedora. Por aqui, encontramos os chamados ‘nativos’, mas também muitos moradores que escolheram Gaspar como cidade do coração. Os três centenários que protagonizam essa reportagem vieram morar em Gaspar na juventude e acompanharam o desenvolvimento urbano de um lugar que segue crescendo exponencialmente.

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Anna Duemamm Koehler

Em 8 de novembro de 1923, nasceu Anna Duemamm Koehler, uma menina doce e gentil, no município de Braço do Norte. Ela não pôde estudar, mas sempre ajudou os pais nas tarefas domésticas e no cuidado com os irmãos. Aos 17 anos, casou com o amor da sua vida: Lorenzo Koehler. Eles foram morar em Rio do Campo, onde tiveram sete filhos. Por lá, a igreja católica mais próxima ficava a 30 quilômetros. Como a família era muito devota, decidiu se mudar em 1958 para Gaspar, município que já era conhecido pelas igrejas. E, aqui, tiveram mais 6 filhos.

Na vida adulta, Anna se dedicou à criação dos filhos, nos afazeres domésticos e no trabalho rural. A família que formara tinha plantações de cana de açúcar, milho, batata e arroz. Anna sempre foi reconhecida pela bondade, o capricho com a casa e a grande alegria de viver. O tempo passou, seus filhos cresceram e formaram novas famílias. Seu marido, Lorenzo, faleceu em 1983. A partir daí, a rotina de Anna mudou, mas seguiu saudável e com foco no amor pela vida.

Atualmente, dona Anna mora com uma das filhas, Rosana Koehler. “Eu sou muito grata por ter a minha mãe comigo até hoje. Tenho muito orgulho dela, da história que ela escreveu nesses 100 anos e como levou a vida. Ela me passou todos os valores que tenho, principalmente a honestidade, a bondade e o amor ao próximo. Todo mundo que a conhece, adora ela”, destaca.

De acordo com Rosana, a mãe acorda por volta das 6h para tomar seu café da manhã, depois toma banho e, em seguida, ajuda a virar as peças na facção. “Temos uma rotina que não sobrecarrega ela. Apesar de já ter 100 anos, ela gosta muito de acordar cedo e trabalhar. Vamos até 10h, fazemos uma pausa para o almoço e descanso. Depois votamos e vamos até 15h. Quando chega o fim de semana, ela pergunta porque não vamos costurar. E isso prova o quantoé prazeroso pra ela ajudar e estar ativa”, conta.

Rosana explica que dona Anna está saudável e, apesar de não ter mais a vitalidade da juventude, ainda expressa seus gostos e vontades. “Minha mãe não toma nenhum remédio, graças a Deus. Nem para diabetes, pressão alta, etc. Ela é forte e seu único problema é o joelho que às vezes dói e dificulta sua locomoção. E sua alimentação é bem reforçada. Ela gosta de feijão, arroz, aipim, carne... comidas pesadas mesmo. E eu amo vê-la comer. Dá gosto!”.

Há alguns anos, dona Anna deixou de frequentar a igreja por conta da mobilidade, mas sua fé segue intacta. “Ela sempre foi muito católica e devota. Nós frequentamos por muitos anos a Igreja Matriz São Pedro Apóstolo, onde ela fez muitos amigos e era querida por todos. Atualmente, membros da comunidade nos fazem visitas mensais para trazer o Santíssimo”, enfatiza a filha Rosana.

Ao todo, dona Anna teve 13 filhos. Hoje, ela tem 42 netos, 62 bisnetos e 16 trinetos.

Homenagem

No dia 21 de novembro de 2023, dia após completar 100 anos de idade, dona Anna Duemamm Koehler foi homenageada na Câmara de Vereadores de Gaspar. Ela recebeu uma moção de aplausos e reconhecimento através da Moção N. 39/2023, de autoria do vereador André Pasqual Waltrick.

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Pedro João de Souza

Pedro João de Souza, popularmente conhecido como ‘seu Cobrinha’, completa 105 em 2024. Ele é mais um centenário querido por toda comunidade gasparense. Apesar de morar há muitos anos na cidade Coração do Vale, é natural de Biguaçu. Mas foi aqui que constituiu família e fez história.

Seu Cobrinha foi casado com Cídia Maria Becker de Souza, com quem teve três filhos: Elcio, Ênio e Lenir.

Em entrevista ao Jornal Cruzeiro do Vale, seu Cobrinha conta que quando chegou em Gaspar, aos 18 anos de idade, as estradas eram todas de barro. “Sou de uma época em que havia apenas quatro carros em todo o município. Não tinha quase nada por aqui. Vivenciei todas as mudanças. As primeiras ruas calçadas, os estabelecimentos comerciais que iam se instalando, as trocas de prefeitos... Hoje está aí, tão grande, cheia de empresas, uma população que já nem faço ideia do tamanho. É uma história linda”.

Diante de mais um aniversário de Gaspar, ele afirma que, se pudesse, viveria tudo de novo nesta cidade. “Eu acompanhei o crescimento de Gaspar. Me considero gasparense de alma. Tenho um carinho imensurável por esse município”.

Moção de Aplausos

Em agosto de 2023, seu Cobrinha protagonizou uma moção de aplausos e reconhecimento de autoria do vereador Ciro André Quintino.

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Ilka Ferreira Schmitt

A mais recente centenária de Gaspar é dona Ilka Ferreira Schmitt, moradora do Centro. Ela celebrou 100 lindos anos de vida no dia 17 de janeiro. A comemoração da data foi do jeitinho que ela merece: linda decoração, deliciosos pratos doces e salgados, além de muito amor e carinho da família e amigos.

Natural de Três Barras, aos seis anos iniciou os estudos em um internato localizado em Canoinhas. Pela distância, via os pais apenas duas vezes ao ano. Desde muito nova apresentava facilidade em aprender as disciplinas e demonstrava amar os estudos. A leitura sempre foi uma grande paixão. Com excelentes notas e um comportamento exemplar, foi se destacando e percebendo que essa era a área de atuação que gostaria de seguir profissionalmente quando adulta.

Veio para Gaspar ainda muito nova com o sonho de trabalhar com a Educação. Pelo excelente histórico, foi admitida na Escola Professor Honório Miranda, onde lecionou ao Primário até se aposentar. Também trabalhou por dez anos na Escola Frei Godofredo, onde deu aulas de Geografia, além de Educação Moral e Cívica. Ainda foi professora nas chamadas escolas isoladas, localizadas em regiões mais afastadas da cidade. Até os dias de hoje é lembrada pela grande sabedoria.

Centenária, dona Ilka não tem mais a mesma disposição da juventude, mas segue saudável. Ela tem uma rotina tranquila ao lado de suas cuidadoras Lúcia e Terezinha, além das filhas, sempre presentes e amorosas com a matriarca da família. As visitas dos netos e bisnetos também é frequente, afinal, amor de vó é tudo de bom. Apesar dos movimentos limitados, dona Ilka segue exercendo a mente. Ela adora caça-palavras e se anima quando vê alguém próximo com um livro em mãos.

 

 

 

Edição 2144

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