Faltam menos de dois meses para o ano acabar e você se sente sobrecarregado? Tem a sensação de que ‘o mundo vai acabar’ se não conseguir concluir todas as tarefas planejadas até o dia 31 de dezembro? Não se preocupe, você não está sozinho.
Além da correria do dia a dia, muitas pessoas colocam em suas vidas ‘objetivos extras’ a serem concluídos antes do fim do ano. Pode ser a conclusão de uma obra, a reforma de um espaço, a finalização de um grande projeto ou qualquer outra tarefa que exija muito do seu tempo e, inclusive, do tempo de outras pessoas. As adversidades existem e a tensão toma conta quando percebemos que o fim do ano está batendo na porta e pode ser que o objetivo tenha que ser prorrogado. E é nesse momento que temos a falsa sensação de que somos obrigados a concluir tudo. Mas, estamos enganados.
Segundo o Parapsicólogo Clínico, Daniel Pereira Sauza, essa sensação é explicada pela sobrecarga física e mental que esta época do ano traz:
No fim do ano, a sensação que temos é de sobrecarga. Por que isso acontece?
Posso falar com base nos meus atendimentos que a ansiedade está contribuindo muito com essa sobrecarga de maneira geral. No entanto, cada ano tem particularidades que contribuem mais. A ansiedade está associada ao medo de não dar conta, de não conseguir pagar as dívidas e de não conseguir algo. O processo é simples: a pessoa gera um estado desejado e, em seguida, dispara a expectativa, que em sua maioria gera frustação. As pessoas estavam em uma estabilidade ou uma crescente econômica e, nos últimos anos, a realidade mudou e essa sobrecarga aumentou. De maneira geral, a sobrecarga acontece por falta de tirar um tempo para si mesmo para relaxar, descansar e aliviar os pensamentos. Eu costumo dizer que a vida é simplesmente leve. O que torna ela difícil, pesada e complicada são os pensamentos ansiosos e cheios de expectativas.
A maioria das pessoas deixa muita coisa acumular nos últimos meses do ano. Como ‘dar conta’ de tudo?
Isso acontece com muita frequência, principalmente envolvendo pessoas com dificuldades de organização. Mas, vamos voltar a lembrar que 2023 tem suas particularidades e as queixas em consultório são recorrentes na dificuldade financeira. Muitos desses acúmulos são resultados de concentrar atenção somente nos problemas... e quando a pessoa acorda, já está com os pés em novembro. É preciso concentrar o foco em como resolver os problemas ou afazeres. Temos que abrir as cortinas da mente e enxergar a vida com mais amplitude e de maneira realista, com os pés no chão. Colocar tudo o que tem que fazer em uma lista no papel e depois, separar em três blocos: os fáceis de serem resolvidos, os intermediários e os mais complexos. Muitas pessoas têm dificuldades em organizar a sua vida porque criaram um hábito de começar e não terminar as coisas. Comece pelo mais fácil e coloque prazo para iniciar e terminar as tarefas. É muito importante entender que a vida, assim como toda a natureza, é linear. Seja realista nos prazos e assuma a responsabilidade emocional sobre sua desorganização.
Muitas pessoas têm a sensação de que tudo precisa ser solucionado até o fim do ano. Como minimizar esta ideia de que após o fim do ano não se pode resolver o que ficou pendente?
A sensação de que não se pode deixar coisas para resolver no ano que vem é positiva para as pessoas que são mais organizadas. Mas, em outro grupo de pessoas, a ansiedade vai a mil e a sensação de frustação é grande. Para minimizar, é preciso olhar pelo ponto de vista de que, no próximo ano, podemos ser mais organizados. Coloque em seus objetivos para 2024 ser mais comprometido, mas de forma realista. Fica uma reflexão: segundo Albert Einstein e Carlos Roselli, para não citar outros grandes nomes, ‘o tempo é uma ilusão de nossa própria mente’. Afinal, 31 de dezembro é apenas mais um dia de muitos que vamos completar em nossa vida.
Quais as melhores maneiras de trabalhar com a boa administração do tempo para não sofrer com ansiedade?
A melhor administração do tempo começa pelo olhar de si mesmo. Buscar se respeitar, conhecer e compreender todas as qualidades e ser mais realista consigo. Hoje, olhamos muito para o outro e desejamos coisas além da nossa capacidade atual. A procrastinação se alimenta dessas distrações. E quanto mais você foge de olhar para si mesmo, mais você se aproxima de uma realidade não pertencente ao tempo presente. E nesses casos existe ansiedade que pode contribuir para o agravamento de uma possível depressão. Outro ponto é a necessidade do ‘ter’. Vivemos em um mundo muito capitalista, onde as pessoas passam mais tempo nas redes, comparando e desejando ‘ter’ e fugido do ‘ser’. Algumas pessoas acreditam que só vão ser aceitas ou felizes quando tiverem determinada coisa. Digo novamente: tudo isso apenas gera distração e faz a mente fugir do presente, onde realmente você pode mudar sua realidade. Para uma boa administração do tempo, é preciso ter uma visão ampla da sua realidade. No lazer, é preciso deixar programado pequenos passeios durante o mês e, se possível, pelo menos uma viagem de férias por ano. Na saúde, deixe programado os exames de rotinas e tenha uma alimentação saudável para um bom rendimento mental. As atividades físicas são importantes também no controle da ansiedade e até mesmo da depressão. No profissional, é preciso entender que você está no trabalho e não em um clube de amigos. O grande objetivo é o resultado ou o salário: não confunda trabalho com família ou uma sociedade filantrópica. Assuma suas responsabilidades e, com a diminuição das distrações, vai sobrar mais tempo para se organizar. Na família, o olhar precisa ser outro, afinal é o seu berço, a base, os pilares de sustentação, por isso é de extrema importância estar em harmonia. Sua casa precisa ser o melhor lugar do mundo para estar.
As mulheres são, na maioria das vezes, as mais afetadas com a sobrecarga mental e física?
Fato: as mulheres são mais afetadas com a sobrecarga mental e física por algumas características. Elas têm uma mente mais dinâmica que a mente do homem. Costumo falar que a mente de uma mulher é uma máquina de pensar e resolver. Enquanto o homem está resolvendo um problema, a mulher resolve três. Algumas ainda têm a responsabilidade sobre seus filhos. Então, é um conjunto de coisas que fazem a mulher ter mais sobrecarga mental e física em relação ao homem, tanto é que 80% dos atendimentos no meu consultório são de mulheres. A dica que eu daria é com certeza fazer terapia. Por que a sobrecarga mental e física em muitos casos está relacionada a baixa autoestima, falta de confiança, insegurança, amar mais os outros do que a si mesma e por aí vai. A terapia vai gerar uma qualidade mental e logo física para mulher, sem perder as suas capacidades de pensar e o dinamismo. Já no homem, a sobrecarga mental e física, na maioria das vezes, está relacionada ao estresse, preocupação, término de relacionamento, falta de dinheiro e ansiedade.
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