Nutricionista fala sobre a importância da alimentação saudável na infância

30/08/2024

Muito se fala sobre a importância da nutrição para adultos, mas muitas vezes esquecemos que os hábitos alimentares na infância desempenham um papel fundamental na saúde ao longo da vida. É durante os primeiros anos das crianças que o paladar, as preferências alimentares e os padrões de consumo são formados. Ensinar as crianças a escolher alimentos saudáveis e equilibrados desde cedo não só contribui para o crescimento e o desenvolvimento adequados, mas também cria a base para mais qualidade de vida no futuro.

Além de impactar diretamente o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, uma alimentação saudável na infância também influencia aspectos emocionais e comportamentais. Estudos mostram que uma dieta rica em nutrientes essenciais pode melhorar a capacidade de concentração, o desempenho escolar e até mesmo o humor dos pequenos. Por outro lado, a deficiência de nutrientes, como ferro e vitaminas, pode levar a problemas como fadiga, irritabilidade e dificuldades de aprendizagem.

Portanto, a formação de hábitos alimentares saudáveis deve ser uma prioridade não apenas para garantir um crescimento adequado, mas também para promover um desenvolvimento integral, abrangendo corpo e mente. Ao cultivar uma relação positiva com a alimentação desde cedo, as crianças aprendem a valorizar a importância dos alimentos, desenvolvendo autonomia e responsabilidade na escolha do que consomem, o que pode refletir em uma vida adulta mais saudável e equilibrada.

Na véspera do Dia do Nutricionista, comemorado neste sábado, 31 de agosto, a reportagem do Cruzeiro do Vale entrevistou a nutricionista infantil (CRN 4105) e terapeuta alimentar Claudia Helena Jasper, quem pode falar sobre o assunto com propriedade e ajudar você, leitor, a encontrar os melhores caminhos para uma alimentação balanceada e de qualidade aos seus filhos.

Entrevista

Cruzeiro do Vale: Quais são os principais desafios que os pais dizem enfrentar ao tentar estabelecer hábitos alimentares saudáveis para seus filhos?

Claudia Jasper: Com certeza, o que mais ouço no consultório é a dificuldade em fazer a criança provar o alimento novo. Muitas vezes, ela nunca comeu mas não aceita nem provar para saber se vai gostar.

CV: Como lidar com a recusa das crianças em experimentar novos alimentos? Existem técnicas eficazes para isso?

Claudia Jasper: Sim, existem! E a primeira delas é: leveza. Os pais precisam tirar a pressão da criança na hora da refeição. Precisamos nos conectar com a criança e deixar o momento leve. Em geral, trocar a palavra experimentar por algo mais relacionado ao alimento, por exemplo: “você acha que está doce ou salgado?” Ou ainda “será que você consegue gostar desse brócolis igual ao Hulk?”. O lúdico dilui a preocupação da criança frente ao alimento e aí temos maiores chances dela provar.

CV: Qual a importância do exemplo dos pais na formação dos hábitos alimentares das crianças?

Claudia Jasper: Os pais precisam entender que a criança aprende muito mais com exemplos do que com palavras. Portanto, sim, precisam comer os alimentos que querem que os filhos comam. Compartilhar a “hora da fruta” é uma ideia. Chamar a criança para ajudar a preparar os alimentos (um suco, bolo, salada) já serve, não precisa ser nada elaborado. Também ajuda a aproximar a criança dos alimentos e assim aumentar as chances dela comer.

CV: Como evitar que as crianças desenvolvam uma relação negativa com a comida, especialmente em relação a doces e alimentos ultraprocessados?

Claudia Jasper: Primeiro, evitando o excesso desses alimentos. Deixar os alimentos ultraprocessados para exceções e ajudar as crianças a compreenderem o motivo disso. Podemos explicar que existem alimentos que são gostosos e fazem bem pra nossa saúde e alguns alimentos só são gostosos, mas não tem nenhuma vitamina por exemplo, então não são alimentos de comer todos os dias. As crianças são muito inteligentes e respondem bem quando conversamos e explicamos.

CV: Quais são os erros mais comuns que os pais cometem ao tentar controlar a alimentação dos filhos?

Claudia Jasper: Forçar o filho a comer é um erro comum que faz o pequeno ter mais aversão ainda aos alimentos. Pressão na hora de comer como briga, chantagem também não funcionam. A criança precisa criar relação positiva com o alimento. Outro erro relativamente comum é deixar de oferecer o alimento que a criança rejeita. Isso faz com que o alimento fique cada vez mais distante da criança e as chances dela voltar a comer vão diminuindo. É importante também a gente garantir refeições a mesa e sem telas, para que a criança estabeleça relação com o alimento que vai ingerir. E de novo, se os pais não conseguem fazer nada disso, precisam buscar ajuda, um nutri infantil pode ajudar com certeza.

CV: É possível dizer que a alimentação pode impactar no desenvolvimento cognitivo e físico de uma criança?

Claudia Jasper: Totalmente. Uma boa alimentação reflete diretamente no desenvolvimento e crescimento saudável dos pequenos. Uma criança que se alimenta bem é uma criança que fica menos doente, quando fica, se recupera de forma mais rápida. As vitaminas e minerais presentes nas frutas e vegetais, por exemplo, são importantes para garantir essa boa imunidade. Além disso, alimentos ultraprocessados como salgadinhos, biscoitos recheados, etc, são ricos em açúcares e aditivos alimentares que vão deixar essa criança mais agitada, mais propensa a desenvolver alergias alimentares e doenças como diabetes e obesidade que sabemos que podem trazer danos à saúde já na infância.

CV: De que forma os nutricionistas podem ajudar na personalização de dietas para crianças com necessidades alimentares especiais, como alergias ou intolerâncias?

Claudia Jasper: Os pais que têm filhos com alergias alimentares precisam consultar com um nutricionista infantil. Ele vai garantir que a criança tenha acesso a uma alimentação segura e de qualidade, garantindo todos os nutrientes necessários para o crescimento saudável. O nutri vai ensinar aos pais, inclusive, como devem ficar de olho nos rótulos dos alimentos para evitar contaminação.