Quem explodiu o cofre da prefeitura? - Jornal Cruzeiro do Vale

Quem explodiu o cofre da prefeitura?

29/09/2017

Por Geraldo Genovez

 

Fogo no estopim. A madrugada foi explosiva na Prefeitura Municipal de Gaspar. Criminosos arrombaram um cofre para roubar o dinheiro que seria utilizado na conclusão da Ponte Hercílio Deeke. A ação foi rápida e, surpreendentemente, silenciosa. Ninguém notou a movimentação. Os bandidos fugiram do local sem deixar pistas e ainda não foram encontrados.

Você, leitor do Cruzeiro do Vale, deve estar se perguntando como isso tudo aconteceu. Mas, calma! A história que aqui será contada é verdadeira, mas não recente. Portanto, não estamos falando da gestão de Kleber Wan-Dall e Luis Carlos Spengler Filho. Muito menos da Ponte do Vale. O arrombamento ao cofre aconteceu na época em que Dorval Rodolfo Pamplona administrava a cidade pela União Democrática Nacional (UDN) e acompanhava a construção da Ponte Hercílio Deeke, no Centro de Gaspar.

Voltamos aos anos de 1960, com as memórias do gasparense Sany Donald da Silva. Ele vivenciou os acontecimentos e hoje divide a experiência com o veículo de comunicação impresso mais antigo da cidade e seus fiéis leitores.

Sany lembra que a ação criminosa aconteceu durante a noite e, naquela dia, o assunto que corria na cidade era a ida do prefeito à Florianópolis para buscar 8 mil cruzeiros em espécie utiliza dos para pagar a segunda metade da obra da ponte. O valor seria entregue diretamente pelas mãos de Hercílio Deeke, político responsável pela Secretaria da Fazenda do Estado de Santa Catarina no governo de Heriberto Hulse, substituto de Jorge Lacerda. O que ninguém imaginava, porém, é que bandidos tentariam roubar o valor vindo para a obra.

Naquela noite, bandidos entraram na prefeitura e estouraram o cofre que guardaria todo o dinheiro recebido. “Eles puseram fogo no estopim, um cordão banhado a combustível ligado em uma dinamite. Depois da explosão, usaram picaretas para terminar de arrombar a porta”. Conforme lembra Sany, o material utilizado na explosão do cofre estava na prefeitura, na sala do então fiscal Leopoldo Schramm, que se localizava ao lado da sala do cofre. “Os bandidos sabiam que os explosivos eram guardados lá e para eles era mais conveniente usar o que já estava dentro da prefeitura”.

O cofre tinha cerca de dois metros de altura e era feito de material duro e acinzentado. Sua porta era grossa e possuía uma grande fechadura, com duas barras de ferro entrelaçadas. “Foi perca total. Não deu para recuperar o cofre”, afirma Sany.

Os bandidos abriram o cofre com a certeza de que lá encontrariam grande quantia em dinheiro. Porém, uma surpresa ao abri-lo: nele estavam guardados apenas alguns trocados, que foram queimados durante a explosão.

Sany conta que a iniciativa de não guardar o dinheiro da ponte no próprio cofre da prefeitura partiu do prefeito Dorval Pamplona. “Ele estava ciente de uns comentários que assolavam Gaspar e se preveniu: depositou todo o valor no Banco Inco (localizado no atual endereço do Bradesco, no Centro de Gaspar), que na época era gerenciado por Antônio Venhorst. Como ele voltou de Florianópolis tarde, ninguém imaginou que ele guardaria o valor em outro lugar”.

A ação dos bandidos que tentaram roubar o dinheiro da conclusão da Ponte Hercílio Deeke aconteceu no final dos anos de 1950, quando a obra estava praticamente 50% concluída. Até hoje, ninguém sabe a identidade dos ladrões.

Prefeitura na época

Há cerca de 60 anos, a configuração do quadro funcional da prefeitura era bastante diferente da atual. Na administração de Dorval Rodolfo Pamplona, haviam mais cerca de dez funcionários efetivos: secretários, tesoureiros, contadores e fiscais geral e de tributos. Além disso, aproximadamente 20 profissionais exerciam funções de operários braçais, em serviços externos. 

Sany

Natural de Gaspar, Sany Donald da Silva tem 85 anos. Sempre foi participativo nos assuntos do município, desempenhando importante papel como cidadão. Iniciou sua carreira no Tabelionato Santos, onde permaneceu por 20 anos. Além disso, trabalhou por mais 20 anos na Prefeitura Municipal de Gaspar. Atualmente, ele mora no Centro.

História da Ponte Hercílio Deeke

Dorval Rodolfo Pamplona é o prefeito responsável pela construção da Ponte Hercílio Deeke e faleceu em 2014, aos 92 anos, de morte natural. Dois anos antes de sua morte, ele concedeu uma entrevista à equipe de reportagem do Cruzeiro do Vale e falou sobre a sua ligação com o desenvolvimento de Gaspar, a construção da Ponte Hercílio Deeke e o trânsito da área urbana da cidade.

Durante a entrevista, Dorval afirmou que a ideia de construir uma passagem sobre o rio Itajaí-Açu surgiu da necessidade da comunidade em atravessar com urgência para ir ao hospital, por exemplo. Antes da estrutura, o povo gasparense utilizava de um balseiro, o famoso ‘Bananeira’, que nem sempre estava a postos para realizar as travessias.

Para construir a ponte, veio para Gaspar uma empreiteira do Rio de Janeiro, a ‘Cumplido Santiago’, de donos portugueses. A companhia faliu quando a estrutura estava na metade. Diante da situação, a prefeitura assumiu a obra com o apoio dos funcionários portugueses que permaneceram em Gaspar e do engenheiro blumenauense Egon Stein. Na época, não eram utilizadas máquinas na construção. Tudo foi feito à mão.

Os detalhes mais importantes da obra estão arquivados em um diário, escrito por Dorval durante sua gestão, entre 1955 e 1960. As páginas, sempre iniciadas com ‘Todos bem, graças a Deus’, relata os fatos ocorridos durante sua vida pública. No documento, considerado de valor histórico intangível, consta que a ponte começou a ser construída em novembro de 1957 e foi concluída em 1960.

Porém, a prefeitura optou em abrir a ponte para passagem do povo um ano antes de ficar pronta, quando também foi instalada a iluminação. A ponte custou 14,5 mil cruzeiros, sendo que 9 mil cruzeiros foram provenientes de verba estadual e 5,5 mil cruzeiros da municipal. Sua estrutura tem 163 metros de comprimento e 9 metros de largura.

Apesar dos contratempos que toda obra pública passa, ao final da construção a prefeitura informou a sobra de dinheiro vindo para a obra da ponte. Com a sobra, foi construída uma sala na Escola Frei Policarpo, no bairro Belchior Alto. Mesmo assim, 110 cruzeiros continuaram sobrando e o valor foi devolvido para Laércio Ramos Vieira, que sucedeu o cargo de secretário da Fazenda no lugar de Hercílio Deeke.

 

Edição 1820
 

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