Por Rúbia Cristina Pereira, psicóloga
Segundo estudo divulgado em fevereiro de 2023 pelo consórcio de pesquisa Future Forum, os trabalhadores de diversos países estão mais exaustos. Mais de 40% das pessoas que trabalham em escritório se sentem esgotadas, o que representa uma alta em relação ao período mais agudo da pandemia. Foram entrevistados mais de 10 mil trabalhadores nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália, Alemanha e França. Após a pandemia da covid-19 vimos aumentar as discussões sobre saúde mental nos ambientes corporativos. Esse debate possibilitou identificar mais casos de burnout, transtorno que atingiu 38% das 15 mil pessoas ouvidas em um levantamento realizado pela empresa de recursos humanos LHH, do Grupo Adecco, ao longo de 2021.
O burnout é uma doença ocupacional gerada pelo esgotamento mental e físico provocado por situações desgastantes e estressantes oriundas do ambiente profissional, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Alguns sintomas da síndrome podem se assemelhar à depressão e ao estresse, porém o burnout apresenta quadros específicos que afetam a pessoa na relação com seu trabalho. Um desses quadros é definido pela sobrecarga física e mental, quando o profissional se sente fracassado e sem forças para seguir em frente. Seguem-se então estágios de despersonalização e apatia no ambiente laboral, uma vez que a pessoa fica distante, fria e indiferente às relações de trabalho. Já o terceiro estado e último, tem como característica a diminuição da realização pessoal, que resulta em sentimento de incapacidade. Neste nível o profissional acredita que seu trabalho não faz diferença.
Com o aumento das discussões sobre saúde mental e a evolução nos casos de burnout, cresce também a responsabilidade das empresas em adotarem medidas práticas de combate à síndrome. A saúde mental não deve ser apenas uma preocupação do profissional ou de sua família, mas precisa fazer parte das iniciativas em gestão de pessoas e bem-estar das organizações.
Promover um ambiente corporativo que tenha transparência na tomada de decisões, carga de trabalho adequada e metas atingíveis são pré-requisitos para garantir o bem-estar físico e mental dos trabalhadores. Além de criar um ambiente de trabalho mais saudável, é importante que as empresas promovam ações de incentivo para que seus funcionários cuidem de seu bem-estar físico e psicológico. Rodas de conversa e palestras sobre o tema são iniciativas que contribuem para uma maior conscientização em torno das causas e sintomas do burnout. Outra opção é oferecer acompanhamento psicológico para o funcionário e seus dependentes. O autoconhecimento é fundamental para prevenção não apenas de burnout, mas também da depressão e ansiedade.
Do lado dos profissionais, ter uma relação saudável com o trabalho, de modo que a carreira faça parte da sua vida e não seja a totalidade dela; ter a percepção de que as atividades exercidas se ajustam aos seus valores pessoais e morais e de que o trabalho realizado gera impacto na sociedade também contribuem para reduzir as chances de apresentar burnout.
Agir com empatia, observar como está o estado físico e mental de nossos colegas de trabalho e nos colocarmos à disposição para realizar mudanças e dar apoio, caso necessário, podem parecer pequenos atos, mas contribuem para a construção de um ambiente de trabalho saudável, com relações mais harmoniosas e respeitosas, menos suscetível a propagação de doenças ocupacionais e psicológicas.
A prática do bem-estar é uma agenda necessária e deve ser aplicada nas empresas. O custo da sobrecarga de trabalho e do desinteresse pela atividade é alto não apenas para o funcionário e para a organização, mas também para a sociedade. Buscar alternativas que contribuam para a construção de um ambiente de trabalho saudável e sustentável é urgente e deve fazer parte da estratégia de gestão das empresas.
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