A reflexão sobre desigualdade racial em tempos natalinos pode servir como uma fronteira para uma mudança de postura a partir de 2016.
Com efeitos positivos, de forma geral, a ação reflexiva entre famílias gasparenses poderia redundar em uma maior inserção dos negros em diversos segmentos da sociedade gasparense, segundo o integrante do grupo de Gaspar Afro Raízes do Vale, Luis Carlos Rodrigues do Santos. “Somos 1.315 negros em Gaspar. Ainda existe um racismo velado e banalizado. Perante o papel da Constituição Brasileira, somos todos iguais, mas na prática as palavras não comprovam as ações de muitos cidadãos brancos. Não adianta fazer uma menção à população negra no Natal se durante o ano esse mesmo povo vive à distância dos olhos das demais etnias”, escancara Luiz.
Como sintomas de uma sociedade ainda a evoluir em relação à integração e maior respeito à comunidade negra, Luis relata que em Gaspar não existem estágios do gênero na prefeitura de Gaspar. “Nos atendimentos médicos percebo preconceito, além de amigos relatarem a mesma coisa. Quem deve mais em bancos? São 95% de brancos que são inadimplentes. Há também uma permanente banalização do racismo, no sentido de apontarem erros na sociedade como coisa de negro, ou serviço de preto”, relata.
Morador da localidade Sertão Verde e agente de saúde que combate as doenças de endemia, como dengue, Luis Carlos diz que houve avanço nas últimas décadas, porém ainda distante do que seria minimamente suficiente. “Nos grandes centros do país observamos os negros em destaque e aqui mesmo na região, em Itajaí, tivemos recentemente uma palestra do juiz Joaquim Barbosa que contou com uma ótima presença de público”, conta Luis.
O grupo Afro Raízes do Vale tem levantado dados históricos da participação dos negros na formação e construção de Gaspar. Uma das missões do grupo é trazer autoestima aos mais de 5 mil negros e pardos gasparenses.
Cícero Amaro, suplente de vereador na Câmara, ressalta que a data natalina serve para frisar que os negros ainda necessitam alcançar condições igualitárias em relação às outras etnias. “A data traz reflexão. Porém, é preciso lembrar que os negros em Gaspar, em sua maioria, por motivos de segregação e não de racismo, às vezes acaba ficando isolada dos demais grupos étnicos”, analisa.
De acordo com Cícero, a população negra procura nesta época do ano se voltar para o real sentido natalino, que é o nascimento de Cristo e a troca de generosidade entre os familiares, por meio de festas singelas, porém cheias de alegria e paz. “É necessário continuar lutando e se posicionando não somente no Natal em relação a como os negros estão se relacionando com a sociedade, mas buscar um trampolim de relação social entre as etnias durante o transcorrer do ano”, reitera Cícero.
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